Cada zebra têm um conjunto de riscas únicas, funcionando como as nossas impressões digitais
Macaco Verde
Lagarto das Palmeiras
Jibóia
A pequena Rã Flecha
Uma divertida Tartaruga Pinguim parece voar à medida que nada no seu habitat
A entrada para o Zoo da Maia
A entrada para o Zoo da Maia
A entrada para o Zoo da Maia
00 – Calcutá – “O que acontece hoje em Calcutá, acontece amanhã na Índia!” – é desta maneira que é conhecida a segunda maior cidade indiana, a mais poluída, dizem, aquela onde vivem os maiores intelectuais, a capital do antigo império britânico no país, a cidade pela qual Madre Teresa, uma albanesa chegada aqui, ficou conhecida, uma cidade que fascina, não porque tem muita coisa onde o turista possa perder o seu tempo, mas porque podemos ali ficar anos sem que nunca nos cansemos, sem nos sentirmos obrigados a nada, deambulando apenas pelas ruas, observando! Calcutá é uma cidade para se observar! De todas as grandes cidades indianas, cansativas, poluídas, saturantes, Calcutá é diferente!
01 – Adeus Índia! – Confesso que foi com um sorriso, um grande sorriso de orelha a orelha que vi as nossas bicicletas empacotadas, as nossas malas “aviadas” e nós preparados para deixar o país. Não tentámos disfarçar sequer o sorriso. Estávamos contentes por deixar a Índia, por dizer Adeus! Nestes quatro meses neste imenso continente, conhecemos pessoas que vão ficar para sempre dentro de nós, vimos monumentos, mausuléus, castelos, fortes, mesquitas, igrejas de uma beleza impressionante, mas este país não é para bicicletas. Voltar à Índia, com toda a certeza, depois de um descanso, mas de bicicleta, nunca mais! É tudo muito, aqui. Muita gente, muita falta de privacidade, muita poluição, muito trânsito, muita falta de respeito, muita desorganização. Quando na estrada, pedalando durante seis ou sete horas, não há paciência para aturar 100 pessoas que se aglomeram à nossa volta tocando, perguntando, mexendo em tudo, rindo, gritando. Não há. De mochila às costas, tudo é muito mais fácil. Voltaremos, um dia, para fazer as pazes!
02 – Ko Jum – Voámos para a Tailândia e depois de um primeiro grande choque com sorrisos – que já não viamos há algum tempo – e muitas mini-saias, calções às flores, tops, cerveja na mão e festa no ar – que tudo isto, então, já não víamos há imenso tempo – deixámos as bicicletas a descansar na Embaixada Portuguesa em Bangkok e apanhámos primeiro um comboio, depois um autocarro e mais tarde um barco e depois outro, que nos levaram a Ko Jum, uma ilha paradisíaca, para turistas em família e reformados, que nos maravilhou. Silêncio, paz, beleza e comida deliciosa. À nossa frente, lá ao longe, as famosas ilhas Phi-Phi, um dos postais da Tailândia, onde a festa não pára nunca. Em Ko Jum ficámos seis longos dias, alguns deles acompanhados por dois casais: um inglês, com quem já havíamos pedalado em quatro países diferentes (www.odycycle.com) e outro português, de mochila às costas, na sua segunda semana de volta ao mundo com a sua filha de 4 anos (www.pikitim.com).
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03 – Bangkok Chinatown – A chinatown de Bangkok é uma das maiores e mais antigas do mundo. Diz a história que remonta ao século XVIII. Para os 2numundo, foi todo um mundo de bijuteria, comida, artigos que não servem para nada, misturados com muita cor, balõezinhos, trânsito caótico, pessoas aos milhares, caracteres indecifráveis e delírio! Passámos mais de uma semana em Bangkok e adorámos e a chinatown foi um dos sítios a que regressámos uma e outra vez, sem nunca nos cansarmos e sem que tivéssemos saído dali dizendo que tínhamos visto tudo. Bangkok foi “a cidade de 10 milhões de habitantes” (como gostamos de chamar a estas cidades) mais sedutora e interessante! A voltar e regressar vezes sem conta!
04 – Ayutthaya – Num dos livros que lemos acerca da Tailândia e de cidades-a-não-perder-embora-pouco-visitadas, encontrámos um artigo que se referia a Ayutthaya como um dos únicos locais pertencentes à lista da Unesco de patrimónios protegidos e onde, para nossa surpresa, os portugueses se instalaram em 1511, criando assim a primeira comunidade ocidental, na Ásia, que dois anos mais tarde atingia já os três milhares de lusitanos! A nossa rota teria obrigatoriamente que passar por lá! Se existe um Top 20 das nossas cidades preferidas nesta viagem, Ayutthaya está certamente no ranking! O centro, a que chamam Parque Histórico, envolve uma série de templos e mausuléus de uma beleza rara, além de que o estado de conservação dos mesmos é magnífico! A cidade é perfeita para pedalar e se quisermos visitar todos os monumentos e comunidades existentes em Ayutthayam, três dias completos são necessários. Ao visitar o espaço da antiga comunidade portuguesa ficámos, no entanto, um pouco desiudidos. Não que a história e as ruínas das antigas igrejas não estejam lá, mas três meses antes da nossa visita a Tailândia havia sofrido umas das maiores cheias da história, que afectaram vários monumentos de Ayutthaya, inclusivé a comunidade portuguesa, que foi totalmente devastada.
05 – Angkor – Já no Camboja, por onde entrámos pelo norte, chamada a “porta das traseiras”, o nosso primeiro destino chamava-se Angkor Wat. Na cidade que serve de base a esta impressionante vastidão de arquitectura e grandeza, Siem Reap, ficámos durante cinco dias, para que nada nos escapasse numa das 7 Maravilhas do Mundo! Além da muita história que lemos sobre as várias cidades que foram sendo construídas à medida que o imperador ia mudando, dos templos que antigamente eram hindus e agora são budistas, a razão das caras que sorriem e saudam quem chega, das pontes incrivelmente esculpidas, dos tanques para as reservas de água, ficámos também a saber que o primeiro mapa de Angkor, remonta a 1614 e foi desenhado…por um português, pois claro! Diogo de Couto era o seu nome, embora todos os louros tenham ficado, mais uma vez, para os franceses que “descobriram”os templos somente duas centenas e meia de anos depois! Um dos locais mais marcantes da nossa história!
06 – Khmers Rouge – No poder apenas 3 anos, com o seu Irmão nº1 – Pol Pot – como seu líder, os Khmers Rouge destruiram a confiança, a religião, a cultura, as famílias e tudo aquilo que estava ao seu alcance, querendo transformar o país numa imensa cooperativa agrícola. Expulsaram todos os habitantes da capital, Phnom Phen, e das áreas em redor da mesma, obrigando-os (homens, mulheres, crianças, doentes e idosos) a caminhar para os campos, onde trabalhavam como escravos entre 12 a 15 horas por dia. Fecharam todas as escolas, porque a “educação não era necessária”, acabaram com a moeda, encerraram os correios e cortaram relações com o exterior. Qualquer desobediência era sentenciada com a morte. As pessoas eram presas sem saber a razão e tinham de confessar os crimes pelos quais eram acusados. Eram torturados e depois executados. Mais de 2 milhões de cambojanos foram assassinados em três anos. As crianças de colo eram mortas sendo atiradas contra as árvores, para que “se poupassem balas”. Uma das nossas visitas na capital foi à prisão S-21, uma escola secundária transformada em local de tortura e morte, onde se pode ver a história dos Khmers Rouge, ver fotografias, documentários e sair-se com um enorme nó na garganta. As fotografias dos líderes da Democratic Kampuchea – nome que deram ao país – mostram a raiva dos visitantes.
07 – Rio Mekong – Deixámos Phnom Phen e levantámos a nossa cara triste para um novo trajecto à muito esperado: o Mekong, esse rio mítico, inspirador, puro, que nos fazia sonhar desde o início da viagem! A semana que se seguiu viu-nos expostos à poeira dos caminhos em terra batida, chegar sujos, cansados, muitas vezes sem água para beber, com pouco que comer, sem sítio para dormir. Porém, viu-nos chegar todos os fins de dia com um rasgado sorriso na cara, uma satisfação indescritível, um prazer sem limites, face à simpatia das populações das margens do rio, à beleza das paisagens, aos Hellos das crianças que se lançam em uníssono quando nos vêem passar, a mais um fim de tarde a ver o sol desaparecer naquele rio que enche a História de estórias! Pedalar o rio Mekong foi uma experiência tão gratificante que só nos dá vontade de regressar o mais cedo que pudermos!
08 – Don Det – Ouvimos mais tarde duas francesas falar sobre Don Det. Uma delas dizia: “É uma ilha perdida no sul do Laos”. Outra, noutra ocasião: “É muito para adolescentes e festa”. Ambas erradas, na nossa opinião. Don Det é, sem dúvida, a mais turísticas das 4 Mil Ilhas, como são chamadas estas pequenas ilhotas, a maior parte delas sem habitantes, no sul do Laos, ancoradas no rio Mekong. Porém, não são umas ilhas “perdidas”, tem todas as condições, transportes e agências de faz-tudo-para-o-turista que se possa imaginar. Local que assim é, já foi encontrado há muito! No entanto, não faz de Don Det, também, um local de festa. Aliás, são mais os locais que fazem festa do que os estrangeiros. Como em todos os sítios com turistas, há sempre a rua paralela que está vazia! Não vimos nenhum adolescente inconsciente, nenhuma inglesa ao estilo Quarteira, nenhum “camone” tipo camarão de barriga para o ar na praia. O que vimos, foi tudo muito calmo, pessoas que se deslocavam a pé ou de bicicleta, pequenas guesthouses familiares e uma paz e sossego que nos fez sonhar com a nossa própria guesthouse na ilha. Até regressámos por duas vezes a um local, uma casa abandonada virada para o rio, prontinha a ser por nós remodelada! Sonhar, nada custa!
09 – Devastação – A China comprometeu-se a construir estradas no Laos a ligar várias cidades, entre elas e com o Vietnam e a Tailândia e, claro, a China, que já está ligada a estes dois países. Como recompensa pela “oferta” da péssima estrada que estão a construir, o Laos teria de dar uma certa área de terreno lateral às estradas, à China, para exploração florestal. Como em tudo onde a China mete as mãos, os acordos nunca são cumpridos. O Laos está agora com uma estrada em construção mas, mais depressa que a construção, está a desvastação das suas florestas. É de se ficar arrepiado com a desflorestação. Além do mais, as companhias agrícolas estão também a trabalhar com força no país. Áreas imensas são deitadas abaixo e queimadas para que se produzam campos de cultivo para alimentação dos animais. Com tudo isto, as florestas desaparecem. Com ausência de árvores, a chuva deixará de cair, o vento soprará mais forte, mas a quantidade de água gasta terá de ser muito maior. O Laos do futuro estará sobre o mando da China, assim como mais de meio mundo já está.
10 – Planície dos Jarros – Não se sabe ainda a razão da sua existência. Uma das lendas diz que um Imperador, depois duma batalha ganha contra um outro, chinês, mandou construir todos estes jarros para que se pudesse armazenar álcool para a festa. Não cremos! Outra história diz que servia para as pessoas guardarem mantimentos: arroz, cereais, água. Duvidamos. A teoria em que mais acreditamos é aquela que conta que serviam como peças fúnebres, para os restos mortais de quem “partia”, assim como para pequenos utensílios que serviam para a pessoa em causa utilizar na outra vida. Ninguém sabe ao certo, mas o que está espalhado por mais de 50 quilómetros de extensão, em diferentes zonas e nunca todos seguidos, são pedras esculpidas em forma de jarros, cada uma com pesos entre os 600 quilos e as 6 toneladas (o maior), que fazem a paisagem surreal! Candidato a Património Mundial da Unesco, só ainda não entrou na lista, por toda a zona ter sido atingida por bombas americanas na guerra do Vietnam e por não ser ainda totalmente seguro caminhar-se livremente em todos os locais, por muitos destes engenhos não terem explodido aquando dos bombardeamentos. Levará ainda vários anos para se fazer a limpeza total, mas três espaços estão já abertos ao público!
11 – Luang Prabang – É sem dúvida umas das mais bonitas cidades do sudeste asiático, das que vimos, pelo menos. A Unesco, além da mais bonita, considera-a a mais bem conservada. Luang Prabang soa-nos, porém, a falsidade. É verdade que todos os templos são antiquíssimos, que alguns exemplos de arquitectura colonial estão ali muito bem preservados e que rituais de há centenas de anos ainda se repitam hoje. Mas olhando para as casas, tudo nos parece novo, não antigo. O que era velho, foi embelezado, num tratamento estético gigante, para servir o turismo, porque é isso que a cidade é e só isso: turismo. São às centenas os turistas, apesar de ser um sítio que consiga manter um ambiente relaxado. Falta, apesar de tudo alma à cidade, alma laosiana. Agências, guesthouses, bares, cafés, boutiques hoteis (a nova moda!), mercados nocturnos cheio de coloridos e barcos para ver o pôr-do-sol, o nascer do sol, o movimento do sol, o sol…mesmo que as nuvens o cubram. Três dias passados, é tempo de partir. Já tudo foi feito e visto, ali.
12 – Monges – Em Luang Prabang existiam mais de seis dezenas de templos. Hoje, o número reduziu em muito. Um dos rituais centenários, porém, que já virou roteiro turístico, é quando todos os monges de todos os templos saem para a rua, descalços, silenciosos, em fila vestidos com as suas roupas cor-de-açafrão e recebem dos fieis a comida com que se hão-de alimentar no resto do dia. São muitas as pessoas que se perfilam lado a lado nos passeios da cidade e ajoelhadas, as mulheres e de pé, os homens, oferecem a cada monge um pouco de alimento, sem nunca os olharem nos olhos, lhes tocarem as roupas, com uma seriedade única e com um devoção impressionante. Todos os dias, às 6 da manhã, o ritual se repete. Apesar de já termos visto algumas vezes a mesma coisa, nos templos em que fomos dormindo ao longo desta viagem, é sem dúvida em Luang Prabang que o acontecimento atinge o seu auge, pela quantidade de monges.
13 – Bombas – São aos milhares: servindo de sino escolar – como o da fotografia – fazendo de cerca nas casas, de vasos, de cinzeiros, de objectos de decoração, de bancos e de mesas, tapando brechas ou simplesmente amontoados. O Laos é o país, até hoje, mais bomboardeado da humanidade em termos de quantidade de bombas lançadas per capita. Durante a guerra do Vietname, os EUA lançaram milhões de toneladas de material explosivo sobre o país, nomeadamente no norte, matando milhares de pessoas. O problema é que, quase 40 anos depois, as bombas continuam a matar gente. Suspeita-se que 30% do material lançado nunca tenha sido activado, daí ainda hoje morrerem pessoas quando esploram novos campos para agricultura, quando caminham em terrenos desconhecidos ou quando tentam abrir as bombas para retirar o material explosivo, para vender o ferro das mesmas. A zona norte é assim um museu ao ar livre de material de guerra. Todas as casas têm um exemplar, por mais pequenos que seja, pois há bombas para dar e vender, infelizmente.
14 – Trabalho – Portugal, há muitos anos, deveria ser assim. No Laos, no Camboja, no Vietname e mesmo na Tailândia em pequenas aldeias, continua a ser. As crianças levantam-se muito cedo porque além da escola, têm que ajudar os pais na lida da casa: retirar água do poço, levar animais ao campo, recolher lenha, lavrar a terra, vender produtos nos autocarros que param, apanhar pasto para o gado. Pelo meio, têm ainda tempo de tomar conta dos irmãos mais novos, de ajudar a avó a comer, de lavarem a loiça, a roupa, de fazerem os trabalhos de casa. Deitam-se muito tarde. Incomoda pensar, imagine-se ver. Impressiona. Impressiona ainda mais, quando no meio de tudo isto, têm ainda força para sorrir, para esconder a cara envergonhada depois de um hello, para correr atrás da bicicleta, para chamarem os amigos para nos verem passar, e no meio de tudo isto, nos mostram que já não são crianças, mas pequenos adultos.
15 – Café – O café é uma tradição no Vietname. São muitos, uns a seguir aos outros servindo esta tão típica bebida. O processo é, no entanto, demorado, o que torna ainda mais emocionante o acto! Num copo de vidro, um pouco de leite condensado (esse vício do sudeste asiático) é depositado e por cima, um pequeno recipiente em metal com furos por baixo, onde é colocado o café em pó e a água. Por cima da água, uma pequena chapa faz pressão. O recipiente é depois tapado. Traz-se o café para a mesa. Durante os próximos minutos, o ritual continua. Pinga a pinga o café vai caindo, até que toda a água tenha atravessado o pó. No fim, se se quiser, mistura-se gelo. Caso não se deseje, bebe-se assim, misturando o leite condensado! O café, verdade seja dita, não agrada a quem não tenha tempo para esperar, paciência ou que goste dele mesmo quente, mas o ritual vale tudo isto!
16 – Campos de arroz – Centenas de quiómetros de terreno, no Vietname, estão cobertos de água e de campos de arroz. O manto verde é impressionante e pedalar por entre eles, torna a viagem um prazer! As mulheres, na sua maioria, que trabalham nos campos, utilizam os chapéus de cone tão tradionais e imagem de muitos dos postais do país, dando um ar pitoresco e de livro de infância à fotografia. Pelo meio, uma bicicleta, também ela verde, pede-nos que paremos e que registemos o momento para sempre. Assim o fazemos! O único senão é o sol, que nunca se mostra e os dias repetem-se cinzentos, a contrastar com a tamanha vastidão dos campos de arroz! Pode ir acompanhando a aventura completa, que está quase no fim, em
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