Isto não é um hotel, é uma casa. E o substantivo não constitui um formalismo legal, antes um indício de que, apesar de todas as comodidades e amenidades, estamos mesmo numa casa, a Casa Balthazar.
Um lugar vivido, com as marcas dos que por lá passaram e do que por lá se fez. Do tempo, em suma. As mais evidentes estão na entrada principal: a calçada tem uma data oitocentista (3/8/1882) e, na fachada, lê-se chalet Castanheiro.
O chalet Castanheiro é, hoje, a Casa Balthazar. Fica bem no centro de Lisboa, centro histórico, mas quase não se dá por ela. A morada é Rua do Duque, embora o terreno ocupe uma parte da encosta que vai por ali abaixo, até à Estação do Rossio (lembrem-se as escadinhas homónimas, bastante íngremes). Com a panorâmica que se adivinha: do castelo, dos telhados, das antenas, das janelas, dos vizinhos, dos logradouros… Inaugurada em 1882 por Balthazar Júnior, a casa está há cinco gerações na família do fundador da Confeitaria Nacional, cuja fábrica também funcionava na Rua do Duque até há pouco mais de um ano. Um dos herdeiros, Rui Viana, 57 anos, atual dono, converteu o chalet num pequeno hotel, inaugurado no princípio de 2012 com toda a discrição. Um lugar que, não sendo secreto, não se quer massificado (escrever isto numa revista de grande circulação é um contra senso, mas enfim).
Compotas e fruta cristalizada
Ao recuperar o chalet do trisavô, Rui Viana quis manter todo a essência da casa que conhece desde pequeno.
Explica que a ideia era que os seus hóspedes pudessem “sentir um pouco do espírito de quem aqui viveu, um sítio onde pudessem estar quase em casa”. Era ali que os seus antepassados viviam, mas também era ali que o negócio se fazia, rotulavam as compotas e produziam a fruta cristalizada, uma grande banheira em mármore ainda está lá acomprová-lo. “Sempre houve uma grande ligação entre a casa e a confeitaria. Agora já posso mostrar o sítio onde morou o filho do fundador da Confeitaria Nacional”, diz.
A Confeitaria Nacional foi criada em 1829 por Balthazar Roiz Castanheiro. A casa foi mandada construir mais tarde, pelo filho do fundador, Balthazar Júnior. Balthazar Júnior era um homem viajado, foi após uma dessas viagens que, em 1870, trouxe para Lisboa a célebre receita do bolo-rei.
E fez erguer a casa, agora Casa Balthazar, com tudo o que tinha visto na Europa. Queria estar no centro de Lisboa, na Baixa, por onde a sua família sempre tinha andado. “Era uma das famílias da Baixa”, justifica Rui Viana. Muitas das ideias arquitetónicas, continua Rui Viana, “são da própria cabeça dele”. Hoje, foi aproveitado algum mobiliário de origem, comdestaque para um lindíssimo armário que está num dos quartos.
Uma antiga guilhotina da fábrica também permanece numa das salas remodeladas (os interiores têm a assinatura do atelier Branco sobre Branco). No corredor que dá acesso ao primeiro andar, está o cofre no qual estão guardados um livro de receitas de 1872 e as medalhas ganhas em concursos internacionais.
Além do mobiliário de origem, a Casa Balthazar possui ainda algumas peças art déco que Rui Viana foi adquirindo em segunda mão, ao longo dos 15 anos que demorou a concluir o projeto.
No total são nove quartos, no futuro talvez fiquem dez ou onze com uma extensão ainda em obras. A maioria possui uma pequena cozinha equipada. O pequeno-almoço é servido comprodutos da própria Confeitaria Nacional. Por enquanto, a entrada da Casa Balthazar faz-se pela Rua do Duque, mesmo ao lado do novo restaurante Buenos Aires (que está instalado exatamente no local onde funcionava a fábrica da confeitaria, paredes-meias com a casa). Em breve a receção vai ser instalada à esquerda do Buenos Aires, onde hoje há um portão cinzento. Quem passa lá fora não dá pela casa, mas estamos mesmo no centro de Lisboa, há portas, escadas, ruas e ruelas. E vai-se a pé (quase) para todo o lado, pormenor relevante para os estrangeiros em visita e para os lisboetas a fazer de turistas na sua própria cidade. A ideia de Rui Viana também era, acrescenta o próprio, que os clientes “pudessem sentir a cidade de Lisboa, mesmo com o cheiro a fritos e a roupa estendida”. Lisboa também é assim: roupa estendida e cheiro a fritos.
Casa Balthazar
Rua do Duque, 22 Lisboa 91 708 55 68 reservas@casabalthazarlisbon.com www.casabalthazarlisbon.com