Pela primeira vez em toda a nossa viagem seguíamos para norte. A direção era o Parque Nacional das Torres del Paine, para ficarmos junto de um dos seus muitos lagos existentes.
Entramos no Parque como Liliputianos. Paredes de granito com mais de 2000 metros dominam a paisagem e todas elas são fustigadas pelo vento.
A determinada altura, as pernas já não respondem, a pulsação dispara, e só queiramos chegar ao nosso destino para acabar esta tortura física.
No entanto, a Patagónia chilena tem muitos recursos capazes de nos parar ou congelar no tempo. Temos acesso a momentos de rara beleza quando cruzamos todos estes fiordes patagónicos.
Ainda cansados, absorvemos cada pormenor, cada cor, cada relevo. Não conseguiremos colocar tudo no papel, não conseguiremos lembrar-nos de todos os detalhes para mais tarde contar no nosso país. Não tem importância, somos testemunhas deste tempo. Enquanto pedalamos, vamos tentar registar o que vimos, porque aqui, o mundo era assim.
A caminho do estreito, a “brisa” constante que soprava do Pacífico mantém-nos melhor acordados que uma boa caneca de café. Transidos de frio, seguíamos congelados para entrar neste dia na terra de Magalhães.
Faz tempo que vemos esvoaçar ao vento a bandeira que tem este nome. Eles sentem orgulho, nós também.
Bem cedo – com os neurónios dormentes do frio – ainda percebemos que iria ser um dia de puro alcatrão. Com tanta adversidade, era importante ir relembrando porque pedalamos. Ao longe, bem longe, um morro quebra o horizonte. Era Morro Chico. Olhando o GPS e o mapa, não acreditava que tudo se resumia a duas casas e um estaleiro de obra. Aqui, e mesmo assim, estamos na Patagónia, já estamos habituados.
Abrigados, tentamos comer algo mas somos alvos de uma curiosidade imensa. Pouco conversador e cheiro de solidariedade, um cozinheiro chileno convida-nos a entrar para tomarmos algo que nos aquecesse.
Com energia extra, fomos tentar arranjar abrigo muitos quilómetros mais a sul. Estava completo o único alojamento da villa Tehuelces.
Só nos lembrávamos, de que vale ter dinheiro se não há nada para comprar nem conforto para se ter?
A nossa vontade e da forca deste vento. Só as palavras a conseguem imortalizar. A estepe, quase infinita, ondulava e nada mais conseguíamos ver. Há muito que perdermos as referencias e a noção dos dias. O tempo deixa de fazer sentido.
Colados ao Estreito de Magalhães, vamos avançado a conta gotas até Punta Arenas. A Patagónia chegou ao fim. Para ser compreendida, ela tem de ser vivida. Há beleza em todos os cantos, há luz e vento em todos os sítios
O barco hoje só parte as 15h30. Estamos numa pequena parte do porto que tem centenas de quilómetros. Temos os pés em terra firme junto à passagem dos dois Oceanos. Passando o Estreito de Magalhães, começa a segunda parte da nossa aventura. Agora na Isla Grande de Tierra del Fuego.
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