A religião islâmica assenta em cinco pilares básicos designados por Shahada, Salat, Zakat, Sawm e Hajj. A Shahaba consiste na chamada profissão de fé, cuja máxima é “Não há outro deus senão Allan, e Mohammed é o seu profeta”. O Salat consiste nas chamadas orações diárias. Todos os muçulmanos devem orar 5 vezes por dia voltados para Meca. As orações são lembradas diariamente pelos Imãs, que as anunciam nos altifalantes colocados nos minaretes das mesquitas. Quem já viajou por um país muçulmano recordará, com certeza, a chamada para a primeira oração da manhã, que ocorre por volta das 4.30h!
Apesar de grande parte dos muçulmanos não cumprirem as cinco orações diárias, eles fazem sempre duas ou três por dia. O Hajj constitui um momento alto na vida de qualquer muçulmano. É a peregrinação a Meca e deve ser feita, pelo menos, uma vez na vida. É, também, a chamada última profissão de fé por devoção ao Islão. Esta peregrinação deverá ser feita durante o último mês do calendário islâmico e depois de realizada os muçulmanos pintam nas paredes exteriores de sua casa a representação da mesquita de Meca, para que se saiba que já cumpriram a Hajj. Outro dos pilares do Islamismo é o Zakat, uma espécie de obrigatoriedade em dar esmola as pessoas mais pobres e necessitadas.
Finalmente, o Sawm, vulgarmente conhecido como Ramadão, é período mais sagrado do ano, e consiste na comemoração do mês em que o Corão foi revelado a Mohammed. Corresponde ao nono mês do calendário islâmico e durante este os muçulmanos estão obrigados a privar-se de comida, bebida, tabaco e sexo diariamente, desde que nasce o Sol até que este se põe. O jejum visa queimar os pecados do corpo ou da alma no resto do ano. As orações neste período ocorrem frequentemente em grupo, ecoam-se preces que visam substituir as que não foram feitas no resto do ano e cada esmola que se dá vale 70 vezes mais do que noutro período do ano.
No período do Ramadão, podemos ver pessoas a orar no meio de lojas, nas ruas, nas estacões de autocarro, no deserto. Até ao anoitecer todos jejuam e, apesar de se venderem comidas e bebidas nas ruas, não se vê ninguém a comer ou beber. Na Síria e Jordânia é, inclusive, desaconselhado aos turistas comer, beber e fumar em lugares públicos durante o Ramadão e foi nestes países que o sentimos mais na pele. Como ter de beber às escondidas numa viela! Ou ouvir, enquanto comíamos um figo, “Do that in our own country!”… Tínhamos assim de tomar o pequeno-almoço no hotel e até ao final da tarde… Pouco mais!
Mas visitar um país árabe durante o Ramadão é bem mais do que passar privações de bebida ou comida; é uma autentica aula de cultura de devoção islâmica. Durante o dia as pessoas agem com naturalidade mas, por volta das 17h, as lojas, os monumentos e os serviços começam a fechar e os muçulmanos dirigem-se para as únicas lojas que estão abertas: as padarias, as lojas de sumos e os souqs de fruta e legumes. Estes lugares experienciam um autêntico reboliço. Centenas de muçulmanos afluem para comprar comida e preparar-se para o final do dia e final do jejum. Em poucos minutos, e logo que nos aproximamos das 19h, as ruas ficam completamente desertas e nas mesquitas começam-se a entoar as orações que determinam o final do jejum.
Amman esta deserta, Damasco esta deserta, as estradas onde há poucos minutos não conseguíamos atravessar estão agora sem um único carro ou pessoa. Parecem cidades fantasma. Alguns muçulmanos juntam-se nos parques para comemorar o final do dia com os familiares e fazem piqueniques. Durante a noite as cidades não param. Às 21h começam a abrir as lojas e os restaurantes. Todos voltam para as ruas até as 04h30 da manhã, altura da última refeição, designada pequeno-almoço. Durante este período, as ruas ficam caóticas, ouvem-se estouros de foguetes e as mesquitas entoam orações. Nós, que nos temos de levantar cedo, não conseguimos dormir!
Para além deste incómodo, viajar no Ramadão tem algumas desvantagens de ordem prática, tais como o facto dos restaurantes e cafés estarem fechados durante o dia, assim como o horário de muitos monumentos sofrer alterações. No entanto, também tem vantagens. O objetivo do Ramadão é renascer, fazer renascer o corpo e alma do muçulmano. E não há dúvida que nós, mesmo não sendo muçulmanos, nos sentimos renascidos. Renascemos para uma nova cultura, para a tolerância dos valores culturais e religiosos e, acima de tudo, aprendemos mais do que em qualquer livro que pudéssemos ter lido. Nos locais mais sagrados do Islão, como as várias mesquitas de Damasco, deixam-nos entrar nos locais de culto, participar nas orações e nos atos de contrição. Assistimos a um contador de histórias, numa mesquita, a entreter a audiência, que é composta por crianças, mulheres, homens e muitos velhos. Um senhor limpava candelabros e abrilhantava-os para as cerimónias da tarde. Um conjunto de mulheres orava e chorava em frente a um santuário. Deixam-nos sentar com eles e perceber que o Islão é muito mais do que aquilo que pensamos.
Durante o Ramadão, sentimos o Islão. Sentimos a devoção dum povo, algo que até agora só tínhamos podido contemplar de fora, através de um olhar atrevido ou escondidos por trás do zoom da máquina fotográfica.