O passeio no Rio Song Huong, ou Rio do Perfume, é uma das principais atracções da cidade de Hué, no Vietname. Os barcos que fazem a travessia chamam-se Dragon Boats e facilmente se percebe porquê: da proa sai uma ou duas cabeças de dragão, consoante a dimensão do barco, animal que, a acreditar na cultura oriental, foi um dos quatro animais sagrados convocados por Pan Ku (o deus criador) para participar na criação do mundo e que controla as águas.
Ao contrário do Rio Mekong, descrito na crónica 4, o Song Huong não serpenteia, não caracoliza nem verbaliza qualquer outro animal. É um rio lânguido e sinuoso, castanho como o Mekong, e as suas águas servem de casa e de local de trabalho para muitas pessoas. Programar o passeio é simples: todos os hotéis de Hué, bem como vários postos de turismo fazem as reservas. No bilhete lê-se: inclui almoço e não inclui entrada nos Túmulos. Ora, o almoço incluído é arroz, noodles e tofu (tudo o resto paga-se) e os túmulos ocupam uma parte considerável do tempo que o passeio dura. Portanto, convém deixar uma nota de parte (e aqui sentimo-nos ricos ao segurar uma nota de… 100 mil … dongs, que são … 4 euros).
Ver uma cidade pelo rio, em contra-picado (de baixo para cima) e com as imagens a começar em tons de castanhos, a cor do rio, acaba por ser o ex-líbris desta viagem. Ao longo do rio, vamos vendo Hué transformar-se, com casas coloniais francesas, pagodes, a Cidadela, sempre rodeados de verde.
A primeira paragem é para ver uma demonstração da variante local do kung-fu ou, como disse o guia, para ver como era o Vietname há dois mil anos ou, como digo eu, “para encher o olho aos bifes”.
Há uma expressão que fui ouvindo na Tailândia, no Laos e agora no Vietname, de que todos se apropriam e a que todos dão significados diferentes. A expressão é “same same but different”, que será qualquer coisa como “parecido parecido mas diferente”. Vendem-se t-shirts nos três países com a frase, acompanhada da bandeira. A primeira explicação que ouvi, que parece ser mais humor do que realidade, foi que, num trekking na Tailândia, um grupo de turistas resolveu tirar as roupas para a fotografia. Um dos turistas era transexual, o que é relativamente comum na Tailândia e alguém, espantado, perguntou: o que é isso? E a resposta foi: same same but different.
A explicação do guia parece-me mais convincente: quando conseguiu a independência da China, em 938, o Vietname começou a construir o seu património arquitectónico, que era bastante semelhante ao deixado pelos chineses. Para que não restassem confusões de que não era copiado, mas sim influenciado pelos chineses, os vietnamitas defenderam-se: same same but different. É parecido, sim senhor, mas é diferente!
Ao longo do rio, vamos vendo mulheres de ar gasto, de pele encarquilhada e curtida pelos anos de sol sem interregno, pescadoras, imperturbáveis, indiferentes às fotografias ou aos “adeus” que os turistas lhes vão lançando, na esperança que correspondam, o que daria uma boa fotografia para mostrar aos amigos.
O passeio de barco dura cerca de 5 horas, seguindo-se a viagem de autocarro, para ver os Túmulos de Minh Mang, Khai Dinh, Tu Duc, bem como uma breve, mas interessante, demonstração de como se fazem os típicos chapéus cónicos de palha.