Henrique Costa Santos
Em Lisboa, é a ficção que supera a realidade
O sujeito ideal do totalitarismo, escreveu Hannah Arendt, não é o ideólogo convicto, mas a pessoa para quem a distinção entre facto e ficção deixa de existir
Falsos profetas
Rodeado da sua cúpula de oligarcas - de fazer inveja a Putin -, Trump concentra um poder inédito na História. Ironias à parte, começa a ser constrangedor ver tanta crendice nos novos profetas da "liberdade". É a prova de que a vertigem popular para as ditaduras continua de boa saúde
Preciso de férias
Precisamos todos de férias. Eu ainda posso ir. Eu ainda posso viver em Lisboa, sonhar e sentar-me em esplanadas. E portanto aqui vou, a sonhar com uma cidade diferente, em que há lugar e dignidade para todos
Olivença é nóça!
Pastéis de nata à parte – e as nossas azeitonas, que são em tudo melhores que as espanholas -, conheço quem, no interior, não se importasse de ter sido anexado pelos nuestros hermanos
República dos bananas
Elon Musk é figura de proa de uma ideologia de direita-radical que, mascarada de progresso, visa trazer de volta o absolutismo do séc. XVII: o poder absoluto, concentrado num homem, para fazer o que lhe der na gana
Votar com o dedo do meio
Há um dito que diz “quando um sábio aponta o céu, o tonto olha para o dedo”. Perante um milhão de pessoas a votar com o dedo do meio, há que saber olhar para o céu
Cabelo à lua
Nenhum governo trará justiça e prosperidade ao País sem criar espaço para refletirmos e agirmos sobre o nosso tempo. Sobre a cultura, sobre a ciência, sobre o ambiente, sobre o futuro. Nada disto é matéria de extraterrestres
Cultura, o tema fantasma
A ausência de debate em torno daquilo que mais existe de básico – a Cultura, erradamente colada à visão dos camarotes do Teatro São Carlos – condena o País ao marasmo
Futuro? Afuera!
Os populistas modernos aí estão: falam como quem está fora do sistema (por mais que floresçam lá dentro), sem medo da elite (por mais que a elite os financie) e prometem resgatar a “ordem” (financeira, social, os bons costumes) perante uma população cansada
O Summit que merecemos
Sem desprimor para a indústria da bifana, acredito que a Web Summit ganharia em tornar-se numa conferência de tecnologia capaz de emancipar o talento e a criatividade a partir daquilo que existe por cá, na ciência, na inovação, na cultura
Dar cabo da boa esperança
Nos túneis do Metro de Lisboa, onde as obras e a falta de alternativas têm ditado o caos, ecoa a sensação de desprezo por quem cá vive e trabalha todos os dias. O problema não são as obras, que nalgum momento têm de ser feitas. É a negligência
Aeroporto Internacional D. Sebastião
Pago a minha parte dos impostos, a minha família também, confiando nos técnicos contratados para fazer o seu trabalho. Assim, olho para esta eterna Busca do Vale Encantado como ilustração máxima da inércia nacional
Não são as cebolas que fazem chorar
A subida dos preços no setor da alimentação é o principal vetor da inflação no país. Segundo a DECO, as frutas e os legumes, por exemplo, subiram perto de 35% no espaço de um ano
As desculpas não se pedem
A total desproteção dos imigrantes não-europeus em Portugal - agravada no caso dos trabalhadores do Bangladesh, da Índia, do Nepal, do Paquistão - choca-nos e revolta-nos, caso a caso, acendendo pavios sempre curtos e inconsequentes
Uma ministra pode ter 34 anos?
A crise na Habitação em Portugal resulta de décadas de negligência e más políticas. Que papel terá a idade dos sucessivos decisores neste contínuo desastre?
Tem a palavra o Dr. Robô
O progresso da Inteligência Artificial é tão fascinante quanto assustador. Nos últimos anos, os robôs testemunharam a sua própria e vertiginosa mobilidade social: passaram de lavradores, escavadores e empilhadores a académicos, compositores e advogados
2022: normalidade enganosa
Lembra-se de quando 2020 ganhou o título de annus horribilis? Mal sonhávamos nós. O calendário que agora se inicia promete continuar a estar à altura deste desígnio. Vai doer. A crise económica e as tensões internacionais, com a complexificação do xadrez global, permitem antecipar um ano duro, com carências, tumultos e contestação social
O mito da silly season
Quatro contos verídicos à despedida do nosso querido mês de agosto, para provar que a silly season não existe
Ninguém quer trabalhar
De nada nos servirá a velha cantiga do “vai trabalhar, malandro!”, de que o povo não quer trabalhar porque é preguiçoso, porque recebe subsídios ou porque não passa recibos. Está na altura de olharmos para o ponto crucial da questão: que empregos são estes?
Cidadania à la carte
Querer instituir o direito de veto de cada encarregado sobre os currículos da escola pública é bizarro. É natural, e até louvável, que os pais tenham opiniões sobre o que é leccionado nas escolas, mas isso não lhes dá poder para retirar do cardápio escolar o que não lhes agrada
Coragem hoje, abraços amanhã
Depois de, há um ano, em confinamento geral, não ter havido manifestação, neste domingo, milhares de pessoas saíram à rua, com as distâncias possíveis, para dar vivas à liberdade. Estive na Avenida da Liberdade e foi isso que vi: liberdade, consciência, emoção e segurança