O Governo português apresentou, esta quarta-feira, uma nova proposta às associações socioprofissionais da GNR, de atribuição de um suplemento de missão entre os 521 e os 730 euros e o fim do atual suplemento por serviço e risco. Segundo a proposta, a que Lusa teve acesso, o novo suplemento de missão tem como referência o vencimento base do comandante-geral da GNR e substitui o atual suplemento por serviço e risco nas forças de segurança.
Com esta nova proposta, os oficiais passariam a ter um suplemento de missão de 14% da remuneração base do comandante da GNR, que é de 5 216,23 euros, enquanto a percentagem para os sargentos da GNR é de 12% e para os guardas 10%.
A proposta é superior à apresentada no dia 2 de maio. Nessa data, o Executivo de Luís Montenegro propôs um subsídio entre os 365 e os 626 euros.
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A proposta está a ser apresentada na reunião que está a decorrer, esta tarde, entre a ministra da Administração Interna (MAI), Margarida Blasco, e as cinco associações socioprofissionais da GNR. Segue-se o encontro com os sindicatos da PSP.
“Uma vez que o Presidente da República não utilizou as suas funções, com ou sem flagrante abuso das mesmas, para usurpar outros poderes soberanos ou favorecer, de algum modo, qualquer Estado estrangeiro, nem praticou qualquer ato público ou privado com potencialidade de prejudicar a soberania do Estado português, e analisados os tipos penais invocados pelo Grupo Parlamentar Chega, concluímos não existirem quaisquer indícios da prática dos crimes de traição à pátria, coação contra órgão Constitucional ou similares”, pode ler-se na conclusão do relatório a que a agência Lusa teve acesso.
O relatório, redigido pela deputada do PS Isabel Moreira, foi produzido no âmbito da comissão parlamentar especial constituída para analisar o projeto do Chega que requer a abertura de um processo contra o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, na sequência das declarações sobre reparações às ex-colónias.
Estas conclusões vão ser discutidas quinta-feira na comissão parlamentar especial.
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com Lusa
Três mulheres morrem na sequência de um ataque com o que, inicialmente, se pensava ser um cocktail Molotov em Buenos Aires, na Argentina. O ataque ocorreu na madrugada do dia 6 de maio, segunda-feira. Um homem, de 62 anos, atirou um explosivo para o quarto onde viviam dois casais de mulheres, numa pensão para pessoas com problemas económicos e sociais.
Pamela Cobbas, a primeira vítima, de 52 anos, morreu horas depois do ataque. Já a sua companheira, Mercedes Roxana Figueroa, morreu na passada quinta-feira, dia 9 de maio. A terceira mulher morreu ontem, Andrea Amarante, de 42 anos, após uma semana a lutar pela vida no hospital. A única sobrevivente do ataque, Sofía Castro Riglos, de 49 anos, continua hospitalizada, mas “está a recuperar e tem um bom prognóstico”, segundo María Rachid, representante da Federação Argentina LGBT+, à agência de notícias francesa AFP.
As fontes policiais envolvidas no caso confirmaram ao jornal Buenos Aires Herald que não terão sido encontrados quaisquer resíduos de vidro na casa das mulheres que indiquem que o agressor terá utilizado um cocktail Molotov, como tinha sido primeiramente noticiado. No mesmo sentido, os bombeiros encontraram vários panos queimados, embebidos em líquido inflamável.
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Vigília em honra das vítimas, Buenos Aires, Argentina (Imagem: JUAN MABROMATA/AFP via Getty Images)
Residentes da pensão, que testemunharam o ataque, contaram à imprensa local que o suspeito terá empurrado as mulheres para dentro do quarto em chamas, enquanto estas tentavam escapar. A polícia está a investigar o crime enquanto um homicídio e crime de ódio, por se tratar de um ataque direcionado às quatro mulheres lésbicas.
O agressor está atualmente detido e internado, após se autolesionar, depois do ataque.
O ataque está a chocar a Argentina e as comunidades LGBTQ+. Algumas organizações de direitos humanos e ativistas da comunidade LGBTQIA+ estão a acusar o governo de Javier Milei de promover um discurso de ódio no país. Desde que assumiu a presidência da Argentina, em dezembro de 2023, as políticas de Milei já levaram ao fecho do Ministério das Mulheres, Instituto Nacional contra a Discriminação e à proibição de linguagem inclusiva por parte da administração pública.
Na sexta-feira, dia 10 de maio, foi realizada uma manifestação perto do Congresso argentino para pedir justiça pelo ataque. Dois dias antes, foi organizada uma vigília improvisada à frente da pensão onde decorreu o ataque, em honra das vítimas.
O episódio já foi classificado pelo Ministério da Mulher da Província de Buenos Aires e pela Federação Argentina LGBT+ como um crime de ódio .
A avaliar pelo número de clínicas privadas, mais o seu consultório particular, onde atende pacientes, não deve ser muito fácil marcar uma consulta com “Manuel”, 47 anos, um experiente neurocirurgião. O melhor aluno do seu curso, segundo o próprio, está profissionalmente habilitado a realizar desde neurocirurgias intracranianas até laminectomias descompressivas. O seu curriculum público omite, contudo, um dado comum a “João”, 62 anos, servente de pedreiro, beneficiário do Rendimento Social de Inserção (RSI): ambos foram condenados pelo crime de violência doméstica sobre as respetivas mulheres.
Em julgamento, os dois homens (cujas identidades, assim como outras, não serão reveladas de forma a proteger, sobretudo, as vítimas) optaram por caminhos opostos: “João” confessou os factos, reconhecendo o “o seu problema de dependência alcoólica desde idade jovem, afirmando ser consumidor diário de bebidas alcoólicas que o deixavam alterado e agressivo”, de acordo com a sentença do Tribunal de Almada. Por sua vez, “Manuel” “negou, grosso modo, a prática dos factos imputados”, colocando o ónus das desavenças conjugais na sua mulher, que o “insultava e exercia grande pressão psicológica sobre si”, refere a decisão de condenação do Tribunal de Cascais, confirmada em tribunal superior e já transitada em julgado.
José Castelo Branco/Betty Grafstein Hospital deu primeiro passo
E, de repente, amigos e ex-funcionários do casal José Castelo Branco e Betty Grafstein surgiram em público, relatando ter sempre suspeitado de violência doméstica. Para isso bastou a detenção do socialite, após o internamento da sua mulher. No Hospital CUF Cascais, a empresária, segundo uma denúncia subscrita por médicos e enfermeiros, relatou ter sido empurrada pelo marido, denunciando ainda aos profissionais de saúde que o “comportamento abusivo – físico e psicológico – é recorrente”. Quando deu entrada no hospital, Betty Grafstein estava “prostrada” e num “quadro de astenia” que já durava há dois dias. Na sequência de uma queda, ficou com uma “ferida traumática” no antebraço esquerdo e uma “fratura no fémur direito”. Após a recolha do depoimento da vítima e de vários elementos do hospital, a GNR de Alcabideche acabaria por deter José Castelo Branco no dia 7 de maio. Presente a um juiz de instrução criminal de Sintra, o socialite ficou impedido de contactar Betty Grafstein por qualquer meio e de se aproximar da sua mulher. Esta medida será controlada através de pulseira eletrónica. Após ter sido libertado pelo juiz de instrução de Cascais, José Castelo Branco negou, em várias entrevistas, as suspeitas. Declarou ter transportado a sua mulher para o hospital, porque ela tinha caído “três vezes nesse dia”. “Eu segurava-a e ela caía, tentei deitá-la e ela escorregava. A fratura do fémur terá acontecido no hotel ou depois de eu ter saído de lá? Eu só tive conhecimento da fratura do fémur no dia seguinte, às 20h, pelo diretor de serviço”, adiantou à TVI. Sobre o processo de violência doméstica, Castelo Branco afirmou tratar-se de “uma verdadeira cabala e muito bem armada”, rejeitando, por agora, denunciar quem considera estar por detrás do alegado plano. “Ainda não é altura de dizer, mas há muita gente implicada.”
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Os livros e a experiência de quem lida com estes casos numa base diária garantem que a violência doméstica é um crime “transversal” às várias camadas sociais, sejam estas mais ou menos instruídas ou com maior ou menor capacidade financeira. “E o que temos verificado é que as vítimas de um estrato social mais elevado já não têm tanta vergonha de pedir ajuda”, adiantou à VISÃO Ana Leonor Marciano, jurista da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), uma associação que tem dado apoio a vítimas de violência de género. Em resumo, como descreveu, em 2007, a investigadora brasileira em violência de género Tânia Andrade Cunha, “os ricos também batem”, sejam ou não celebridades, os comportamentos violentos num casal atravessam todas as classes sociais.
“Manuel” casou-se em 2013 com “Rosa”, com quem já tinha um filho desde 2011. Foi neste ano que se instalaram no concelho de Cascais. Em 2015, nasceu o segundo filho. Ela aventurou-se num negócio, tornando-se empresária de sucesso no seu nicho de mercado, o que lhe conferia uma independência financeira em relação ao seu marido. Porém, o entendimento deste, verbalizado após o pedido de divórcio, não era bem assim: “Vou deixar-te sem nada, sem os teus filhos, não ficas com um cêntimo. Vais residir nos subúrbios de Tires.” “O agressor tenta sempre criar uma relação de poder sobre a vítima, seja através de uma aparente dependência económica ou emocional”, explicou à VISÃO Ana Leonor Marciano. Aliás, em tribunal, “Manuel”, “questionado sobre o motivo pelo qual a vítima teria inventado todos estes factos, referiu que esta pretendia dinheiro e que queria refazer a sua vida”.
Às agressões verbais – nas quais se incluíram expressões como “mentirosa, maluca”, “não te preocupas com a família”, “não tratas bem de mim” – seguiram-se as físicas: estaladas, empurrões, uma palmada na nuca “e vários pontapés na zona lombar direita e na perna esquerda”, descreve a sentença do Tribunal de Cascais, até ao dia em que o médico neurocirurgião, após uma discussão, decidiu agarrar “a vítima por ambos os braços”, encostá-la à parede, “apertando-lhe ainda o mamilo esquerdo”, o que obrigou “Rosa” a deslocar-se ao hospital para receber tratamento e a “trabalhar maquilhada para esconder as marcas das agressões”.
Tal como no recente caso do socialite José Castelo Branco e Betty Grafstein, que colocou o crime de violência doméstica novamente na ordem do dia, também no de “Manuel” e “Rosa” amigos e conhecidos aperceberam-se de alguma coisa, mas nenhum deu um passo concreto para denunciar a situação. O crime de violência doméstica foi tipificado como crime público há 24 anos, não dependendo, por isso, de queixa da vítima para o início da investigação. Isto é, entre marido e mulher já se pode meter a colher. “Embora o provérbio esteja ultrapassado, na prática a atitude mantém-se”, lamenta Ana Leonor Marciano, não deixando de criticar as autoridades judiciárias e policiais por alguma apatia investigatória. A morosidade do processo judicial é algo que merece críticas por parte desta jurista, segundo a qual o processo ainda “centra a recolha de prova no depoimento da vítima e se esta, por vários motivos, se fecha, não vamos a lado nenhum”, refere. “Como o crime é público, é preciso ouvir as pessoas que conviveram com o casal, amigos, familiares, e recolher a prova por aí”, sustenta.
A empregada doméstica do casal “Manuel” e “Rosa” – contratada só a partir de 2018 – contou ter presenciado situações em que o “arguido fazia questão de humilhar a vítima”. Numa dessas ocasiões, recordada pela empregada doméstica, “Manuel” saiu de casa com o carro de “Rosa”, deixando-o estacionado algures na zona da Charneca de Cascais. No regresso, entregou as chaves a “Rosa”, dizendo-lhe para “o ir buscar ou procurar”. Foi a empregada doméstica quem auxiliou a mulher na procura.
Uma amiga de “Manuel” e “Rosa”, por sua vez, contou que, numa situação, enquanto fumavam um cigarro à porta de um restaurante, “Rosa” pediu lume ao marido, ao que este a mandou ir “pedir lume à cozinha”. Casada com um advogado, esta amiga contou ainda que, em 2016, “Rosa” foi bater à sua porta, porque “Manuel” a tinha impedido de entrar em casa. “Tinha marcas no corpo, estava muito fragilizada e sem coragem para ir apresentar queixa contra o marido”, referiu. A única intervenção do casal amigo passou por uma conversa entre os homens, na qual o advogado alertou o cirurgião para a possibilidade de estar a cometer um crime de violência doméstica.
Bárbara Guimarães/Manuel Maria Carrilho Um conto de fadas com final trágico
Casados entre 2001 e 2013, Bárbara Guimarães e Manuel Maria Carrilho passearam-se durante anos pelas páginas das revistas como um, à partida, improvável casal a desfrutar de uma constante lua de mel. No final da relação, constatou-se, contudo, que por detrás do pano de uma aparência idílica escondiam-se sucessivos episódios de violência doméstica, alguns dos quais em frente aos dois filhos do casal, como insultos e agressões. Carrilho, por sua vez, acusou a ex-mulher de andar sistematicamente alcoolizada. O antigo ministro da Cultura acabaria por perder em tribunal, tendo sido condenado a três anos e nove meses de prisão, sentença confirmada por vários tribunais superiores. A pena será suspensa caso pague 30 mil euros à ex-mulher e seis mil euros à Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV). O julgamento em primeira instância foi muito controverso. Presidido pela juíza Joana Ferrer, esta não deixou de criticar Bárbara Guimarães por não ter apresentado queixa em devido tempo contra o ex-marido, desvalorizando a justificação dada pela apresentadora quanto à “vergonha” que sentiu para não avançar. Ao mesmo tempo que tratava a queixosa pelo primeiro nome, Joana Ferrer dirigia-se ao (alegado) agressor como “senhor professor”. A defesa da apresentadora e o Ministério Público pediram o afastamento da magistrada judicial, mas o Tribunal da Relação de Lisboa considerou não estar perante um motivo grave e sério para colocar em causa a imparcialidade da juíza.
“Nestes contextos, fomenta-se um medo de exposição pública da situação, o que leva as vítimas a não terem coragem de se retirar da situação de violência”, referiu Ana Leonor Marciano. Uma opinião corroborada por uma procuradora do Ministério Público ouvida pela VISÃO. “O medo da exposição pública e a pressão que se segue levam muitas mulheres a não dar o primeiro passo ou, quando dão, depois retiram-se ou não acrescentam mais dados ao processo”, adiantou a magistrada, que já acompanhou de perto casos de violência doméstica envolvendo figuras públicas ou de casais com uma boa estrutura económica. “Nas classes mais altas, temos assistido a um maior nível de violência psicológica, ao exercício do poder para garantir dependência emocional e financeira”, acrescentou a procuradora.
“Hoje, não há um perfil concreto do agressor. Há uns anos, tinha-se a perceção de que a violência doméstica era um crime praticado pelo operário que estava a trabalhar e chegava a casa e, por este ou aquele motivo, batia na mulher. Mas a sociedade mudou e já não é bem assim”, segundo Francisco Lourenço, advogado na comarca de Cascais, que tem seguido de perto alguns casos de violência doméstica em casais, pelo menos na aparência, estruturados. “Estamos a falar de casos de violência doméstica que envolvem pessoas com cursos superiores, com uma educação e uma visão do mundo diferentes, mas sujeitas a outro tipo de tensões: a modernidade e as aplicações nos telemóveis”, concretiza o advogado, referindo-se, como não podia deixar de ser, às redes sociais.
Um “gosto” aqui ou ali ou uma troca de mensagens pode ser a faísca para incendiar o ambiente caseiro. “Começam a gerar-se pequenos conflitos, depois passa-se para a fase das agressões, segue-se uma lua de mel. O conflito acaba por regressar e depois é quase imparável”, acrescenta o advogado.
Refira-se que “Manuel” foi condenado, em 2020, a dois anos e oito meses de prisão, suspensos por igual período. O tribunal entendeu ter sido “elevada a ilicitude da conduta do arguido, bem como a desvalorização da sua ação”. “Por outro lado, resultou do discurso do arguido (e do seu relatório social) que o mesmo ainda não interiorizou a gravidade e a ilicitude da sua conduta, não tendo desenvolvido um sentido de autocrítica”, anotou ainda a juíza, acrescentando que “Manuel” não tinha antecedentes criminais e estava “profissionalmente integrado”. Como penas acessórias, foram-lhe impostas a proibição de contactar com a vítima – com exceção de contactos relativos aos filhos – e a frequência de programas específicos direcionados para a violência doméstica. O médico ficou ainda obrigado a pagar as despesas hospitalares da sua ex-mulher – que resultaram das agressões –, assim como uma indemnização de cinco mil euros a “Rosa”.
De Cascais a Almada
Sem uma vivenda, mas a morar num apartamento na autarquia de Almada, “João” debate-se, desde a adolescência, com o vício do álcool. Forçado pelas circunstâncias a abandonar a escola aos 13 anos, perdeu a mãe um ano mais tarde, iniciando a sua vida profissional na restauração. Aos 19 anos, mudou-se para a construção civil, trabalhando desde então como servente de pedreiro, mas sem conseguir estabilizar a sua situação profissional devido à adição que o acompanha desde jovem, ficando dependente do que aparece. Tanto é assim que, na sentença do tribunal, a juíza salientou que “caso não esteja alcoolizado, o arguido aparenta ser uma pessoa afável na comunidade onde se encontra inserido, não havendo registo de problemas de natureza interpessoal”.
Em julho de 2023, tal como “Rosa”, também “Fernanda”, casada há 39 anos com “João”, teve de receber assistência hospitalar, após o marido, embriagado, ter utilizado uma pá de plástico, “destinada a recolher o lixo que estava no chão”, para lhe desferir um golpe na cara. “Desse comportamento, a ofendida veio a sofrer lesões no crânio e na face”, as quais resultaram em 83 dias de doença, refere o tribunal. Na sequência desta agressão, “resultaram ainda para a vítima consequências permanentes, as quais se traduzem em descolamento total da retina e diminuição da acuidade visual (sem perceção luminosa) do olho esquerdo que provoca afetação grave da possibilidade de utilizar os sentidos”. Ou seja, ficou praticamente cega do olho esquerdo.
Luciana Abreu/Daniel souza Agressões e acusações de bruxaria
Foi outro caso de aparente harmonia e amor que terminou num processo de violência doméstica. Luciana Abreu, atriz e apresentadora, e Daniel Souza, guia turístico, casaram-se em outubro de 2017, com o habitual “exclusivo” para a imprensa cor-de-rosa. Meses após terem começado a viver juntos, segundo o processo judicial, iniciaram-se as primeiras discussões, as quais, com o tempo, se transformaram em agressões. O juiz Rui Pedro Luís deu como provado que num momento em que Luciana o criticou por fazer surf quando esta se encontrava sozinha em casa com as filhas, o casal discutiu e o arguido empurrou a vítima contra a porta da cozinha, causando-lhe um hematoma, condenando o guia turístico a dois anos e quatro meses de prisão, com pena suspensa. Após o processo, Daniel Souza também procurou contar a sua versão dos factos na televisão. Numa entrevista, afirmou ter presenciado a prática de “rituais” em casa, numa alusão a bruxaria, afirmando ter ficado “preocupado com as filhas, por estarem a cheirar aquilo”. Na mesma entrevista, à TVI, Daniel Souza afirmou ainda ter sido vítima de “violência psicológica” e que a sua ex-mulher o tinha deixado “drenado, sem luz”. Luciana Abreu, numa primeira fase, ainda respondeu através das redes sociais às declarações de Daniel Souza, mas o conflito acabaria encerrado.
A sentença do tribunal descreveu ainda atos de violência em tudo semelhantes aos cometidos pelo neurocirurgião de Cascais. Insultos, agressões, objetos partidos, colocando “Fernanda” num permanente clima de terror e medo. No final, foi condenado a três anos e nove meses de prisão, suspensos por igual período, por um crime de violência doméstica agravado, desde que se submeta a um tratamento para a dependência do álcool e a frequentar consultas de psicologia, assim como a seguir os respetivos tratamentos prescritos pelos médicos. A título de indemnização à sua mulher, foi condenado a pagar-lhe sete mil euros.
“Em julgamento, demonstrou genuíno arrependimento, confessando de forma integral os factos”, disse à VISÃO Pedro Pestana, advogado de “João”. “Comprometeu-se ainda a aceitar o divórcio, permitindo que a sua esposa siga com a sua vida, assim como concordou que esta fique com a posse exclusiva do apartamento onde moravam”, acrescentou ainda o advogado, dizendo ter acionado a “linha de emergência social” e que esta já garantiu ao seu cliente uma vaga num abrigo.
De regresso à Linha
É no tribunal de Oeiras que se encontra um terceiro caso de violência doméstica, recolhido pela VISÃO na última semana. “Pedro” e “Maria” casaram-se em 2004 e tiveram três filhos. Ele é piloto de aviões, ela economista. A acusação do Ministério Público refere – tal como no caso de “Manuel” – que, além de insultos, “Pedro” dizia à mulher “é tudo meu, deves-me tudo” ou “tudo o que temos devemos aos meus pais”.
No próximo dia 20 de maio, “Pedro”, decorrida a fase de instrução, saberá se irá ou não ser julgado pelo crime de violência doméstica. O Ministério Público pede que o (alegado) agressor seja mantido afastado da vítima e de se aproximar sequer da sua residência, considerando que o “perigo de continuação da atividade criminosa mantém-se em nível elevado”.
Paco Bandeira O fim de um cantor…e do seu advogado
Condenado, em 2012, a três anos de prisão por violência doméstica e a nove meses por posse de arma proibida, Francisco Veredas Fernandes (Paco) deixou praticamente de atuar após o processo judicial. Os depoimentos de Maria Roseta Ferreira, ex-mulher do cantor, e da filha do casal, de 13 anos, foram determinantes para o tribunal considerar que o cantor devia ser condenado. Paco Bandeira ainda recorreu para o Tribunal da Relação de Lisboa, mas esta instância, em novembro de 2012, manteve a decisão do Tribunal de Oeiras, aumentando até o valor da indemnização a pagar pelo cantor à ex-mulher, de 400 para 600 euros. Um ano após a condenação em primeira instância, foi o próprio advogado do cantor a ser condenado, pelo Tribunal da Guarda, exatamente pelo mesmo crime. Segundo a decisão, Fernando Figueiredo “passou a ter comportamentos reiterados de maus-tratos físicos e psíquicos para com a mulher com quem vivia”. “Desconfiado da infidelidade da sua ex-mulher, perseguiu-a até ao escritório de um advogado (amigo de ambos), onde, entrando de rompante, empunhando uma arma, a privou de liberdade de movimentos, sequestrando-a”, refere a sentença.
Até porque, refere a acusação, mesmo após a sua detenção, a 4 de março de 2023, e de lhe ter sido aplicada a medida de coação de afastamento da vítima, “Pedro” continuou a enviar-lhe mensagens, a ir ao seu encontro na casa de férias, em Espanha, assim como a frequentar os mesmos locais de “Maria”.
Naquele dia, “Pedro”, descreve a acusação, seguiu “Maria” até à casa de uma amiga desta, bloqueando-lhe a “passagem com o seu carro atravessado”. Após a chegada da PSP ao local, a presença dos polícias não demoveu o piloto, que “abriu a porta do condutor do carro da ofendida, atirou-se para cima dela e agrediu-a com apertos no pescoço”, ao mesmo tempo que insultava a mulher.
“Pedro” ainda tentou, à semelhança de “Manuel”, contornar o problema judicial, apresentando uma queixa-crime contra “Maria”. Alegou, entre outros episódios, ter sido “várias vezes agredido” pela mulher, que o agarrou “pelo braço, arrastando-o pela casa” e que, em abril de 2022, após ter sido submetido a uma operação, “precisava da esposa para lhe trazer comida” e “Maria” deixou-o ficar “quatro dias sem comer”. Apesar de, sublinhou o Ministério Público, “Pedro” ter apresentado “uma versão dos factos segundo a qual o mesmo é vítima de violência doméstica por parte da sua ex-mulher, toda a prova produzida no inquérito aponta em sentido contrário”.
É que, além dos depoimentos da própria vítima, de familiares, de amigos próximos e dos agentes da PSP que efetuaram a detenção do piloto de aviação, o Ministério Púbico recolheu ainda declarações da filha mais velha do casal. Relatou esta que o seu pai “sempre gritou muito com a sua mãe e que, nos últimos anos, começou a insultá-la, a ameaçá-la e a agredi-la”. A menor, continua o despacho de acusação, “descreveu a maior parte dos episódios narrados, as situações de agressões, relatando que o seu pai bateu na sua mãe em várias ocasiões em frente aos filhos, criando um clima de terror dentro daquela casa”. “O que estes depoimentos comprovam é precisamente o inverso” do que o piloto alegou, sublinhou o MP.
Contactado pela VISÃO, o advogado de “Maria” recusou fazer qualquer comentário sobre o processo-crime em curso. Ainda assim, Miguel Matias declarou: “O que posso dizer é que nos encontramos há cerca de dois anos à espera de uma decisão do Tribunal da Família e Menores de Cascais quanto aos aspetos relacionados com a proteção dos menores e a regulação das responsabilidades parentais.” Sendo que, recordou o advogado, “esse processo de proteção dos menores assume, por lei, um carácter urgente”.
Isabel, a sobrevivente
À violência (física ou psicológica) sofrida em casa segue-se, na maioria dos casos, a violência dos processos judiciais, seja no relacionado diretamente com as agressões, seja no que diz respeito à guarda dos filhos. Há dez anos, a advogada Isabel Aguiar Branco relatou a sua experiência enquanto vítima de violência doméstica para o livro Vidas Suspensas, editado pela Associação Portuguesa de Mulheres Juristas. “Até hoje, a perseguição continua, agora a pretexto de questões financeiras. O litígio relativo ao meu filho só terminou há dois anos”, contou à VISÃO.
No livro, publicado cinco anos após a separação, fez questão de dar conta de um novo calvário que a perseguia: os processos judiciais. “Já fomos mais de 20 vezes a tribunal, à conta de tantas queixas. Agora tenho uma dele contra mim, porque alega que eu não o deixo falar com a filha ao telefone. O meu alívio é que ele está cada vez mais doido e isso torna-se demasiado óbvio para qualquer pessoa. Continuam a aparecer processos de incumprimento de visitas e, num deles, o juiz, sem sequer me ouvir, emitiu logo um mandado para o pai ir com a polícia à escola buscar a filha.”
Questionada sobre se a exposição pública e a (habitual) morosidade dos processos judiciais não a levaram a arrepender-se de ter denunciado a situação, a advogada de Braga respondeu de forma categórica: “Nada. Devia era ter falado mais cedo. Hoje, sinto-me com mais segurança para abordar o assunto. Sou uma sobrevivente, tenho uma obrigação, um dever, de abrir caminho para que outras mulheres possam denunciar.”
João Batista Relação tóxica
O ator foi condenado, em julho do ano passado, a 20 meses de prisão, com pena suspensa, e ao pagamento de uma indemnização de dois mil euros à ex-namorada, Dina Kelly. Uma juíza do Tribunal de Loures deu como provado o controlo do telemóvel da então namorada, ofensas gratuitas, assim como agressões. O ator, segundo o tribunal, agarrou a ex-namorada, fazendo-a cair e ficar com hematomas, assim como terá tido episódios de fúria – atirando-lhe bebidas e partindo uma cadeira – quando Dina lhe comunicou o fim da relação. A juíza considerou que a ex-namorada do ator teve um comportamento em tribunal que “transmitiu consistência, fiabilidade e sinceridade” no seu depoimento e que a versão das testemunhas de João Batista “não foi suficiente para abalar a credibilidade da vítima”. Recorrendo às redes sociais, o ator defendeu-se: “É um assunto que me envergonha muito. Acima de tudo, é para pedir desculpa às pessoas que ficaram tristes com a notícia e garantir que eu não sou assim. Não sou nenhum agressor! Vivi, sim, uma relação tóxica, muito tóxica! Quase todos os adultos já viveram uma relação tóxica, eu vivi também. Estava apaixonado, nem sequer tive como provar em tribunal a toxicidade vinda do outro lado. Nunca pensei condenar uma pessoa ou alimentar provas para condenar alguém que eu estava a amar. Não me faz sentido nenhum isso”, declarou ainda.
Isabel Aguiar Branco, admite a própria no livro, não foi capaz de ler os sinais durante a fase de namoro. Engravidou, casou-se e o inferno começou logo na lua de mel, na Grécia: “Estava grávida, em lua de mel e a aturar aquelas coisas! Saí do quarto e fui dar uma volta. Quando voltei, ele estava mais calmo. No dia seguinte, tínhamos um passeio marcado, mas expliquei-lhe que me sentia cansada e preferia não ir. Nessa altura, puxou-me por um pé, atirou-me ao chão e depois para cima da cama. Colocou o joelho em cima da minha barriga, prendeu-me as mãos e começou a dar-me estalos com tanta intensidade que fiquei com a cara desfigurada e deixei de conseguir abrir os olhos.”
O facto de exercer advocacia, acredita, acabou por prejudicá-la. Um pouco à semelhança do processo de violência doméstica que envolveu a apresentadora Bárbara Guimarães e o antigo ministro Manuel Maria Carrilho – no qual a juíza Joana Ferrer desvalorizou por completo a “vergonha” que Bárbara disse ter sentido para não apresentar queixa –, também uma magistrada judicial que conduziu o processo de Isabel “só deu como provada a agressão do dia anterior à nossa separação, argumentando que era impossível eu ter sido agredida como descrevia durante a lua de mel e não me ter separado de imediato”. “Se eu fosse mais frágil e tivesse outra profissão, acredito que teria sido condenado por violência doméstica. Ele ensaiou o julgamento. Já os juízes acham que eu sou uma privilegiada, que tenho conhecimentos suficientes para contornar o sistema, e o meu ex-marido usa isso contra mim”, relatou no livro, acrescentando: “Perdi 80% da audição com as agressões a que fui sujeita e, um ano depois da separação, sofri um AVC. No processo de violência doméstica, ele só foi condenado por ofensas corporais.”
Hoje, a advogada Isabel Aguiar Branco não se dedica a processos-crime, optando por outras áreas do Direito, como a Família e Menores. “Mas chegam-me cada vez mais relatos, sobretudo de pessoas mais velhas, dispostas a denunciar 20, 30 anos de violência doméstica.” A dependência emocional é, para si, o fator mais impeditivo do primeiro passo para a denúncia. “Muito mais do que a dependência financeira”, sublinha, acrescentando, porém, que “sobretudo nos grandes centros urbanos”, o “investimento feito pelas polícias no atendimento e no acompanhamento das vítimas” tem dado muita “segurança” a quem pretende denunciar uma situação de violência doméstica, o que pode, na sua opinião, ter levado a um aumento das denúncias.
Os números da vergonha
Os últimos dados apontam para mais de 2 500 pessoas detidas por violência doméstica pela PSP e pela GNR em 2023. Os números avançados pela guarda registam 14 824 crimes de violência doméstica, dos quais resultaram 1 587 detenções. Comparando com o ano anterior, não há grande oscilação: em 2022 tinham sido registados 14 636 crimes e detidas 1 509 pessoas.
A PSP, por sua vez, revelou ter registado no ano passado 15 499 denúncias de violência doméstica e procedido a 971 detenções, 612 das quais em flagrante delito e 359 fora do flagrante delito. Em 2022, registaram-se 15 783 denúncias de violência doméstica e 954 detenções, das quais 600 foram em flagrante delito e 354 fora de flagrante delito.
Igor Regalla Sei o que fizeste no verão passado
Poucos dias após ter assumido uma relação com Carolina Deslandes, em fevereiro de 2022, o ator Igor Regalla foi acusado pelo Ministério Público de Oeiras por um crime de violência doméstica cometido sobre uma ex-namorada. O ator terá sido mesmo detido e presente a um juiz de instrução, que lhe aplicou uma medida de coação de afastamento da antiga companheira. Dias após a comparência em tribunal, o ator também recorreu às redes sociais, para deixar uma mensagem aos fãs: “Arrisco-me a dizer que nunca me senti tão feliz na minha vida. Mas no fundo é isso. Estou feliz! Muito! E a onda de amor que se gerou nos nossos instagrams também é das coisas mais bonitas que testemunhei em muito tempo. Obrigado a todos.” Ao mesmo tempo, “fontes próximas” passavam a mensagem de que o processo seria uma espécie de vingança da ex-namorada pelo facto de Igor ter iniciado uma nova relação. Com o fim do namoro com a cantora Carolina Deslandes, o post foi apagado da conta oficial de Igor Regalla. Segundo informações recolhidas pela VISÃO, no processo-crime constavam situações de violência psicológica e, pelo menos, uma agressão. Igor Regalla acabou condenado, em 2023, no Tribunal de Oeiras.
Refira-se que, em 2023, morreram 30 pessoas em contexto de violência doméstica. Destas, 22 foram assassinadas, enquanto oito se suicidaram, segundo os últimos dados do Gabinete da Família, da Criança, do Jovem e do Idoso e contra a Violência Doméstica da Procuradoria-Geral da República (PGR). O documento da PGR referiu que os agressores foram maioritariamente homens (73%) de nacionalidade portuguesa (91%) com a idade média de 50 anos, enquanto as vítimas eram na maioria do sexo feminino, também de nacionalidade portuguesa e com uma idade média de 54 anos.
O relatório da PGR, segundo a agência Lusa, destacou que, em seis dos homicídios (27%), o problema da violência familiar já era conhecido do sistema formal de justiça. Destas seis situações, tinham sido elaboradas 12 fichas de avaliação de risco e tinham sido alcançadas sete avaliações de grau “médio”, três de nível “baixo” e duas de nível “elevado”.
Maioritariamente, os homicídios ocorreram em situações de conjugalidade ou similar, atual ou pretérita (72%), existindo coabitação entre a vítima e a pessoa agressora em 18 dos 22 casos, e foram presenciados por um total de 14 crianças e jovens.
Dentre os fatores de risco presentes nas fichas, destacam-se violência física anterior, escalada de violência, comportamentos de adição (consumos), separação de facto, instabilidade psicológica, medo de morrer e controlo.
O que diz a lei
Há 24 anos que a violência doméstica é um crime público
O que quer dizer crime público? A violência doméstica é um crime público desde o ano 2000, o que significa que o procedimento criminal não está dependente da apresentação de uma queixa, formal ou informal, por parte da vítima (como acontecia até então, quando o crime estava dependente de queixa da vítima/pessoa ofendida – crime particular), sendo apenas necessário haver uma denúncia ou o conhecimento de uma situação suspeita para que o Ministério Público avance com o processo. PSP e GNR têm equipas especializadas para acompanhar e investigar este crime. A Polícia Judiciária apenas é chamada quando se verifica um homicídio em contexto de violência doméstica.
2. Quais as penas previstas para o crime de violência doméstica? Para que seja considerado um crime de violência doméstica é necessário ter existido uma conduta reiterada de maus tratos físicos ou psíquicos. A lei prevê uma pena de prisão de dois a cinco anos, mas esta poderá ser agravada até oito anos em casos de ofensa à integridade física grave e até dez em caso de morte da vítima. Como penas acessórias, estão previstas medidas como o afastamento da vítima, desde contactos pessoais a encontros no local de trabalho, a frequência de programas específicos de prevenção da violência doméstica e até, em casos mais graves, a inibição do exercício das responsabilidades parentais por um período de um a dez anos.
3. Como pode denunciar? Existem vários canais disponíveis para denúncia e aconselhamento em caso de violência doméstica: Linha de Emergência Nacional (112), Linha de Emergência Social (144), Serviço de Informação a Vítimas de Violência Doméstica (800 202 148), SOS Criança (116 111) e Linha SMS (3060). Pode ainda recorrer à Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (21 358 7900) e à União de Mulheres Alternativa e Resposta, UMAR (21 887 3005).
Quando, por distração ou desalento, cedemos ao pessimismo e começamos a achar que os ideais fundadores da União Europeia estão ultrapassados, não há nada como levar com um choque de realidade. É isso que está a acontecer com as manifestações que, há semanas, ocorrem na Geórgia, em defesa da liberdade e da democracia e que deveriam provocar um sobressalto cívico aos cidadãos dos 27 Estados-membros que desvalorizam as eleições para o Parlamento Europeu e que, em simultâneo, vão alimentando as forças populistas que, com base na demagogia e na defesa de nacionalismos bacocos, procuram destruir a UE por dentro. O protesto continuado dos georgianos para impedirem uma aproximação forçada do país à Rússia e, em alternativa, poderem manter o seu caminho de adesão à Europa unida é, nesta altura, uma das maiores provas de confiança na justeza do projeto europeu ‒ mesmo quando este enfrenta um dos seus momentos mais difíceis e desafiantes. Ver as multidões a encherem as ruas de Tbilisi, empunhando bandeiras com os símbolos europeus, é a melhor demonstração de que a força da UE são os seus ideais e valores. Com resultados que nos deviam inspirar: o maior período de paz jamais registado no Velho Continente, o alastrar da liberdade e da democracia parlamentar em cada vez mais nações e a consolidação da ideia de que um estado social forte é o principal fator de progresso para as populações e a principal garantia de justiça económica e social.
Apesar das divisões que a minam, das crises que a dilaceram e das muitas contradições em que vai sendo construída, a Europa continua a ser um exemplo para muitos países ‒ em especial os seus vizinhos geográficos. Mas só permanecerá assim enquanto os seus valores mais importantes continuarem a ser respeitados. A UE só mantém este poder de atração porque é o espaço onde mais pessoas vivem melhor e em liberdade ‒ o contrato social implícito que está na génese do apelo europeu para o resto do mundo. Aderir e pertencer à UE tem sido, para várias gerações, sinónimo de progresso, de paz e de liberdade de circulação num conjunto de países que, no seu todo, é maior do que a soma das partes que o compõem. E isso, mais do que nunca, precisa de ser valorizado. Até para se perceber que, se nada for feito, esse “prémio” pode estar em risco.
Só passaram cinco anos desde a última vez que os europeus foram chamados a eleger os seus representantes no Parlamento de Bruxelas e Estrasburgo. Mas as diferenças são incomensuráveis. Desta vez, vamos a votos depois de uma pandemia (em que, felizmente, a UE não repetiu os erros da crise económico-financeira), de uma guerra às suas portas e em vésperas de poder perder o escudo protetor dos EUA, a nível militar e de segurança. Em 2019, a Europa ainda pensava como poderia agir para mudar o planeta. Agora, em 2024, a sua preocupação é a de conseguir continuar a ser importante no mundo. Para isso, vai ser preciso tomar decisões e preparar um alargamento que, ao contrário do que ocorreu quase sempre no passado, em 1986 e 2004, não terá como função a de consolidar a democracia nos novos membros. Desta vez, trata-se antes de um alargamento para conter a ameaça externa.
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No entanto, os desafios geopolíticos só terão significado se a UE for eficaz e inovadora na prossecução do seu contrato social. Se continuar a proporcionar as melhores condições de vida aos seus habitantes ‒ aos nascidos no território como aos que o demandam. É essa a sua principal diferença em relação a todos os outros locais do mundo que procuram o seu quinhão na nova ordem mundial em construção.
Para isso ser possível é necessário que a Europa ‒ que, no passado, foi capaz de destruir muros ‒ saiba agora usar os tijolos que são precisos para resolver o problema principal que a afeta: a crise de habitação. A falta de casas é hoje transversal a todos os países, e de uma maneira cada vez mais gritante. Resolver esse problema, de forma global, é essencial para o futuro da União Europeia.
À margem Depois da notícia sobre o espancamento de uma criança nepalesa, por cinco colegas, num estabelecimento escolar de Lisboa, a ministra da Administração Interna anunciou o reforço do policiamento junto das escolas. É uma medida aceitável, mas falta o essencial e mais urgente: começar a punir quem propaga os discursos de ódio sobre os imigrantes.
O verão climatológico – de 1 de junho a 31 de agosto – vai arrancar em breve. Nos últimos dois anos, Portugal continental registou dois dos seus seis verões mais quentes desde 1931.
Alfredo Graça, geógrafo e especialista do projeto de informação meteorológica Meteored, refere, em comunicado, que preveem-se temperaturas significativamente acima da média no verão 2024 em Portugal.
“A previsão sazonal multi-sistema do C3S – que consiste num modelo que combina oito diferentes modelos e por isso acarreta um maior grau de confiança, com mais consistência e fiabilidade – vislumbra um verão muito mais quente do que o normal não só em Portugal, mas também numa grandíssima parte do continente europeu, como por exemplo a Europa mediterrânea e a região dos Balcãs”, analisa.
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Segundo o especialista, no que diz respeito especificamente a Portugal, se tivermos em conta apenas os 20% dos verões mais quentes de que há registo, a probabilidade de a próxima estação se enquadrar nesta categoria é de” 60-70% para as regiões do litoral (exceto Minho) e de 70 a 100% para as regiões do interior, Minho, Açores e Madeira”.
Os meses de junho, julho e agosto vão registar “surpresas” em relação à precipitação?
Segundo observado no mapa do referido modelo, “tudo indica que o verão 2024 em Portugal e em grande parte da Região Autónoma da Madeira será seco, com uma probabilidade a rondar os 40-50%, o que não abona a favor das regiões cronicamente mais carentes de água (Algarve e Alentejo) e que dela mais necessitam para enfrentar a estação estival”, lê-se. Para os Açores não se detetam valores fora do comum.
Apesar do verão ser climatologicamente a estação mais seca do ano, é relativamente comum a ocorrência das famosas “trovoadas de verão” em várias regiões do Continente. Tendo isto em conta, bem como o facto da variável da precipitação ser a que acarreta mais incerteza a longo prazo, “é necessário realçar que uma única tempestade ou trovoada de verão pode alterar substantivamente o balanço pluviométrico”, revela Alfredo Graça.
A Polícia Judiciária (PJ) participou numa operação de combate ao tráfico internacional de droga, que resultou na apreensão de cerca de 70 quilos de cocaína e na detenção de quatro homens, em Espanha. Em comunicado, a PJ informa que a denominada “Operação Leitão”, realizada em conjunto com o Cuerpo Nacional de Policia de Espanha, permitiu “desmantelar a infraestrutura de um grupo de crime organizado dedicado ao narcotráfico, por via marítima.
A investigação liderada pela Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes da PJ (UNCTE/PJ) iniciou-se quando as autoridades portuguesas detetaram “diversas embalagens de cocacína” num contentor que havia chegado ao porto de Sines, proveniente do Panamá, dissimuladas numa carga de painéis fotovoltaicos e respetivas estruturas metálicas.
Foto Polícia Judiciária
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A PJ apurou que o contentor “seria transportado para Espanha, onde a droga seria retirada”, lê-se no comunicado. De seguida, a PJ “montou um dispositivo de seguimento e vigilância”, lê-se na nota.
As autoridades acompanharam o transporte do respetivo contentor até um armazém situado na zona de Cáceres, no país vizinho. Os três homens que aguardavam a chegada da carga foram imediatamente detidos. As autoridades espanholas indentificaram e localizaram um quarto suspeito, cam como sendoapontado como o líder do grupo.
Todos os detidos aguardam o desenvolvimento do inquérito em prisão preventiva. As investigações prosseguem.
“Está a ser transportado de helicóptero para Banska Bystrica, entre a vida e a morte”, afirmou o governo, descrevendo o ataque como uma “tentativa de assassinato”.
Na conta oficial do chefe de Governo na rede social Facebook, lê-se que Fico “foi baleado várias vezes e está atualmente em condições de risco de vida”.
O transporte para Banská Bystrica é justificado porque a transferência da cidade de Handlova “demoraria muito tempo a chegar [à capital] Bratislava devido à necessidade de um procedimento urgente”. “As próximas horas serão decisivas”, lê-se ainda.
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Segundo a televisão eslovaca TA3, Fico, de 59 anos, foi atingido no estômago depois de quatro tiros terem sido disparados do lado de fora da Casa da Cultura, na cidade de Handlova, localizada a cerca de 150 quilómetros a nordeste da capital.
A polícia isolou o local e um suspeito foi detido.
O jornal Politico indica ferimentos na cabeça e no peito, citando meios de comunicação locais.