As pessoas da Póvoa de Varzim têm no Diana Bar um espaço de certa monumentalidade que guarda a memória dos últimos 80 anos de tertúlia e banhos. A cidade deu com entusiasmo o bizarro passo de construir na areia, levando os cafés à praia, quase os fazendo navegar.

Com o tempo, encontrar o Diana Bar ou o Guarda-Sol na marginal virou uma inevitabilidade das nossas biografias, uma maravilha de se frequentar esses cafés atracados como barcos que começam o mar, começam a partida.Agora, e para uns tempos, o Diana Bar foi intervencionado à luz do designer Nuno Leal para se dedicar à realização de exposições de artes plásticas.

A cidade está à míngua de um espaço para o efeito e o antigo café oferece uma solução que encontra lugar e relevância identitária. Entrar no Diana Bar é entrar um pouco na vida de toda a gente. É lembrar toda a gente da Póvoa e que esteve na Póvoa.

O que significa que se deita mão de uma afeição importante, é como cuidar de um animal verdadeiramente da estimação de todos. Com curadoria de Tomás Carneiro, pelo trabalho no projeto Museu Internacional de Arte Contemporânea (MIAC), “Ainda não deu hora nenhuma”, palavras de Fernando Pessoa, é o título da exposição da obra de Nadir Afonso que inaugura a vida do Diana Bar enquanto também galeria de arte.

Não poderia ser melhor. As 30 telas e os 12 guaches mostrados são um percurso pela figuração humana e são exemplo de muito do melhor que Nadir criou. Desde que vi os estudos do artista, os papeis de dimensões diminutas, por vezes mínimos, não consigo esquecer tal impacto.

O modo como Nadir estudava para as telas era já o de alguém que faz nascer o diamante. O esplendor está inteiro no estudo. A escala não prejudica em nada o génio. Tive a impressão de ver como se dividem as obras de Nadir e, em cada parte, se conserva a inteireza da arte, a maravilha intacta.

Na Póvoa, por outro lado, os guaches, que não são tão pequenos assim, permitem verificar como era o processo de Nadir, como as imagens se previam antes do uso do acrílico. E é como percorrer o segredo. Um segredo que, na verdade, se põe de uma sinceridade cristalina. O que o artista faz é límpido.Nadir Afonso trabalha as formas a partir da sua reação à luz. Quero dizer, é a luz que ele denuncia, que ele capta.

Como se suas imagens sintetizassem as matérias para a evidência de que ver é ter acesso ao clarão. As suas obras são clarões. Acendem o mundo. É por acenderem o mundo que se tornam visíveis, chegam à perceção ocular. Neste sentido, ainda que nos pareça antecipar uma linguagem do futuro, feita de néons e movimento, o que significa é que se dedica ao essencial, ao que, por definição, não mudará.

Assim, parecendo o puro futuro, o que se vê é passado, presente e futuro, o que não pode ser de outro modo, o que se captura na sua estrutura, na matemática fundadora, no adn da visão.Ainda que esta seleção nos proponha a presença da figura humana, a obra de Nadir inspira-me sempre à viagem.

O movimento intenso das suas imagens, uma espécie de deslocação em vertigem, cria em mim a sensação da autêntica velocidade. Muito poucos artistas trabalharam a velocidade como Nadir. Ver as suas obras é testemunhar como há tempo associado ao que se vê, o instante não disfarça o seu caminho em direção ao instante seguinte, como algo que já se perdeu, algo que já não existe senão na memória.

A obstinada importância que dava à matemática do mundo, esse código estrutural, essencial, trouxe a Nadir Afonso a capacidade de sintetizar o visível, mostrando o esqueleto luminoso do que permite olhar, do que permite ver e distinguir formas. A partir daí, deitou por cima desse conhecimento a consciência de tudo se mover, que é a evidência da vida e sua precipitação inevitável para passar a qualquer momento

Entrar no Diana Bar é entrar um pouco na vida de toda a gente. É lembrar toda a gente da Póvoa e que esteve na Póvoa. O que significa que se deita mão de uma afeição importante, é como cuidar de um animal verdadeiramente da estimação de todos

valter hugo mãe

Palavras-chave:

Desde há 40 anos que escrevo um artigo sobre cada década da revolução do 25 de Abril de 1974. A análise das prioridades interpretativas ou prospetivas mostra que ao longo dos anos me fui enfrentando com dois ressentimentos, um principal e outro secundário, aos quais fui respondendo, sem ressentimento, mas com argumentos e justificação de opções políticas.

Refiro-me ao ressentimento da oportunidade perdida e ao ressentimento do passado perdido. No decurso deste longo período, os dois ressentimentos mudaram as suas posições de relevo relativo. O primeiro ressentimento dominou nas primeiras três décadas e o segundo tem vindo a dominar desde então.

Há dois tipos de ressentimento: o histórico-ideológico e o interpessoal-comunitário. Em ambos os casos, trata-se de emoções ou sentimentos que dramatizam danos considerados injustos pela via ético-moral e, portanto, não política.

Implicam sempre a existência e celebração das vítimas. Os dois tipos de ressentimento demonizam o agressor, e, no caso do ressentimento histórico-ideológico, o arrependimento ou reparação é muito mais difícil senão mesmo impossível.

Nos ressentimentos em que abunda a sociedade contemporânea encontramos componentes dos dois tipos de ressentimento, mas é sempre possível detectar nuances e prevalências.  Neste texto trato exclusivamente do ressentimento histórico-ideológico.

O ressentimento da oportunidade perdida

A revolução do 25 de Abril de 1974 desencadeou duas energias políticas extraordinárias porque combinadas: democracia e socialismo. Depois de 48 anos de ditadura a democracia estava no cerne da revolução.

Ocorria uns anos depois do movimento estudantil de 1968, que teve em Coimbra um percursor em 1962, e um ano depois do golpe de Pinochet contra o regime socialista democrático pretendido por Salvador Allende.

Sem dúvida que no campo socialista surgiram posições extremistas que não queriam a democracia representativa por a considerarem burguesa; dividiam-se entre os adeptos do sistema soviético, albanês ou chinês.

Verdadeiramente hegemónica era a ideia do socialismo democrático. Foi consagrado na Constituição de 1976 e os próprios partidos que hoje são de direita se consideravam defensores do socialismo. A ideia do socialismo democrático estava inscrita nas aspirações populares, mesmo que não se soubesse bem em que consistia.

Recordo-me de que em 1980 – nessa altura eu fazia a ligação entre a Universidade de Coimbra e o Movimento dos Capitães (MFA) de Coimbra, comandado pelo tenente-general Franco Charais –,  o reitor me pediu para visitar a Jugoslávia a fim de conhecer o sistema socialista autogestionário, que era antissoviético, mas sobre o qual se sabia pouco, e escrever um relatório. Passei um mês nesse país e também na Albânia (para contrastar), mas quando voltei o interesse pelo socialismo havia murchado.

Em 1985, escrevia eu: “A sociedade portuguesa vive hoje uma atmosfera de reservada expectativa. Os últimos dez anos foram o desenrolar de um processo de transformação social muito complexo cujas implicações não são ainda plenamente visíveis. Teme-se e, ao mesmo tempo, deseja-se que o futuro seja diferente dos muitos passados recentes de que resultou o nosso incerto presente. Tudo ou quase tudo começou com o 25 de Abril de 1974, sem dúvida o acontecimento mais marcante da história contemporânea do nosso país. Conhecer em profundidade o que então (e depois) se passou e porque se passou constitui a chave para compreender muitas das nossas interrogações de hoje e é, portanto, um desafio para os cientistas sociais e, em geral, para todos nós, cidadãos comprometidos com o devir histórico do nosso país[…] lançar um debate científico, com o recuo histórico nesse momento [1985] já possível, sobre esta importante data da nossa contemporaneidade, um processo social rico e complexo que percorreu (profundamente? superficialmente?) a realidade portuguesa com modelos de desenvolvimento e planos políticos, com projetos de ação e programas de futuro, que foram outras tantas linhas com que se coseram as ruturas e as continuidades entre a sociedade emergente e a sociedade antiga que lhe foi resistindo com a força feita dos anos”.

Tal como os direitos humanos, a democracia tem vindo a ser celebrada ao mesmo tempo que é esvaziada de conteúdo material na vida concreta das famílias

boaventura de sousa santos

Não se problematizava a democracia, que se tinha como um bem incondicional e irreversivelmente adquirido, mas o socialismo já era algo longínquo, substituído pela sua versão capitalista – passe a contradição – da social-democracia. Os temas principais de reflexão eram “a cultura e os novos modos de vida; as transformações no direito e na administração da justiça; a luta pelo controlo da produção; os movimentos populares pela melhoria das condições de vida”.

Quase 30 anos depois, em plena crise financeira-existencial que a intervenção da troika (União Europeia – Banco Central Europeu – Fundo Monetário Internacional) significava, eu escrevia, em 25 de Abril de 2011:

Vivemos o mais sombrio 25 de Abril depois daquele que há 37 anos, qual milagre profano, nos interpelou: levantai-vos e caminhai. Assim fizemos aos trancos e barrancos, vencendo desafios, caindo em armadilhas, até chegarmos a estes dias em que um deus estranho, porque trinitário mas sem graça, nos ordena: ajoelhai-vos e rastejai. É também um imperativo estranho, ainda que não inédito na nossa história, porque nos oferece a salvação a troco de perdermos a alma”.

Estamos a assistir ao desenvolvimento do sub-desenvolvimento do nosso país e aparentemente assistimos passivamente. Como se o país fosse um lugar distante, habitado por gente que conhecemos mal, por quem não temos especial estima e que certamente merece o fardo que lhe cabe carregar. Ouvindo ou lendo alguns comentadores dá a impressão de que são alemães a falar do nosso país. Dissecam a realidade nacional como se fossem médicos legistas, esquartejando o cadáver, como se não fossem parte dele. Outros, super-ricos, a quem o dinheiro dá direito à sabedoria encartada, declaram-se revoltados com a pobreza e as pensões de miséria, como se a pobreza fosse um pecado de que a sua riqueza está inocente. E quase todos flagelam o país, como se as causas da nossa crise financeira não fossem sistémicas e, portanto, em parte, estranhas à nossa ação, por mais desastrada que tenha sido”.

A auto-flagelação é a má consciência da passividade e não é fácil superá-la num contexto em que a passividade, quando não é querida, é imposta. A chegada a Lisboa da trindade UE-BCE-FMI constitui simbolicamente um ativismo de alta intensidade que contrasta com a nossa incapacidade de agir. Estamos a ser agidos. Nosso é apenas o nome em nome do qual outros agem para o bem que só é nosso se for também deles. Para agirmos temos de desviar os olhos desta paisagem e caminhar no escuro por alguns momentos até chegarmos às suas traseiras para ver os andaimes que a sustentam, observar a azáfama que por lá vai e identificar os lanços vazios à espera da nossa ação. Não precisamos de capitães, mas precisamos da lucidez e da coragem que alguns deles tiveram, há 37 anos, para agir sem temer as reações dos mercados ou as notas das agências de rating”.

Este texto era parte de um livro, Portugal: ensaio contra a autoflagelação (Almedina 2012), que, apesar de analítico, representava o fim da ideia (e do ressentimento) da oportunidade perdida. A partir daí dominaria outro ressentimento.

O ressentimento do passado perdido

A última década tem sido caracterizada globalmente pelo crescimento da extrema-direita enquanto expressão politicamente organizada. Em Portugal a sua organização foi mais tardia e chegámos a atribuir isso à força da revolução de 1974. Mas as eleições de março passado mostraram que Portugal não só não estava imune a essa onda, como a cavalgava com mais ousadia que outros países europeus. Há pontos de convergência tanto nas causas deste fenómeno global como nas formas que assume.

As manifestações mais comuns da extrema direita são: nacionalismo xenófobo e anti-imigrante; anti-sistema, que engloba mais do que o sistema político e abarca as relações sociais; racismo e sexismo; a ideia de que todo o uso do poder é abuso de poder, exceto quando se trata das forças de repressão e de segurança, onde todo o abuso de poder é uso legítimo de poder; uso instrumental da democracia com a subversão da separação de poderes e a banalização progressiva das violações dos procedimentos democráticos liberais; naturalização das desigualdades sociais; Estado de proteção social mínimo ou só para “nós” e Estado repressivo forte e só para “eles”.

No caso português, a extrema direita assume a forma de ressentimento de dois passados perdidos: o colonialismo, como expressão de grandeza e de civilização, e a ditadura de Salazar como tempo de ordem e de expectativas à medida das limitadas possibilidades do país.

Como se vê, são dois passados assentes em duas ideias contraditórias da identidade do país. Uma, invocando grandiosidade desafiante, ousadia desproporcional às possibilidades reais e, por isso, bem-sucedida; outra, invocando mediania, humildade, contenção, argúcia no manejo das limitações e, por isso, bem-sucedida.

É próprio deste tipo de ressentimentos que os passados, quaisquer que tenham sido, foram melhores que o presente. As contradições só se notam quando se sai do universo do ressentimento.

Neste ano, mais do que nos anteriores, são precisas políticas e governos que ataquem o ressentimento sem ressentimento

boaventura de sousa santos

A revolução do 25 de Abril implicou uma rutura profunda com os dois passados. A rutura com o passado colonial foi irreversível porque, em boa medida, não dependeu dos portugueses e sim dos movimentos de libertação anti-colonial.

À revelia do que sustenta o ressentimento colonialista, as relações com o mundo ex-colonial continuaram e diversificaram-se, mas obviamente expurgadas da violência colonial e orientadas para benefícios recíprocos e multilateralmente estabelecidos.

Por sua vez, a rutura com o passado ditatorial também se pretendeu irreversível, até porque o regime fascista tinha depositado o seu futuro na manutenção das colónias.

A irreversibilidade da democracia

Mas a irreversibilidade da democracia sempre foi menos certa que a do fim do colonialismo, não só porque dependeu apenas dos portugueses, como também porque cedo cortou o cordão umbilical com o socialismo que a sustentou no início. A questão da irreversibilidade toma a democracia liberal como uma entidade fixa e inequívoca, o que é desmentido pela realidade todos os dias.

O que vale uma concha de ostra sem uma ostra dentro? O que será a democracia se os cidadãos e as cidadãs votarem maioritariamente em partidos de extrema-direita que usam a democracia para chegar ao poder, mas, uma vez no poder, não o usam nem aceitam perdê-lo democraticamente?

Tanto para o caso português como para o fenómeno global tem-se dito que a nova extrema-direita, ao contrário da do século passado, não recorre ao fascismo de partido único. No plano formal assim parece ser, mas a realidade é bem mais complexa.

O neoliberalismo do pós-queda do Muro de Berlim constitui um novo estádio de luta de classes que visa eliminar a relativa distribuição de riqueza que as lutas sociais das classes trabalhadoras conseguiram a muito custo, ao longo do século passado.

O custo político de eliminar as políticas sociais em democracia é muito mais baixo do que fazê-lo em ditadura. Mas ninguém pode prever até quando

boaventura de sousa santos

Tal como os direitos humanos, a democracia tem vindo a ser celebrada ao mesmo tempo que é esvaziada de conteúdo material na vida concreta das famílias. Nas atuais condições, o custo político de eliminar as políticas sociais em democracia é muito mais baixo do que fazê-lo em ditadura. Mas ninguém pode prever até quando.

É que o outro pilar do neoliberalismo foi globalizar o poder político-financeiro real (centrado num círculo pequeno de países dominantes), mantendo os conflitos políticos democráticos a nível nacional.

Esta descoincidência, combinada com o controlo da opinião mediatizada, políticas sofisticadas de vigilância e mudanças tecnológicas na organização do trabalho, desarmou quase por completo as lutas sociais por uma sociedade mais justa. Se não for possível reconstruir essas lutas, a própria democracia será desarmada sem ser eliminada.

O Presidente Julius Nyerere, da Tanzânia, disse certa vez que os EUA também eram um regime de partido único, só que com a especificidade de serem dois. A democracia, mesmo que esvaziada, é sempre melhor que a ditadura, mas só para aqueles que podem beneficiar dela.

E são cada vez menos. As máscaras do ressentimento colonialista e fascista escondem a cara de gente simples e sem voz que tem a sensação de ter perdido o pouco que tinha e nenhuma esperança de o reaver.

Neste ano, mais do que nos anteriores, “o que faz falta é animar a malta”, para lembrar José Afonso. E para o fazer são precisas políticas e governos que ataquem o ressentimento sem ressentimento

Não terá ainda ocorrido na história nacional uma outra figura que tenha deixado um sulco tão profundo e duradouramente polémico como Sebastião José de Carvalho e Melo, mais conhecido por Marquês de Pombal (1699-1782). A sua presença está perpetuada no corpo e na alma de Portugal.

Fisicamente, na mais nobre face da Lisboa que recebeu o seu nome, reerguendo-se da maior catástrofe sísmica registada na história europeia, ou na imponente paisagem vinhateira do Douro, e noutras edificações espalhadas pelo território português, na Europa e em muitos outros lugares do império resultante do esforço secular de expansão marítima.

Intelectualmente, Pombal está presente nas consequências e nos debates ainda vivamente inconclusos, decorrentes de um incansável labor reformador, exarado numa legislação abundante e diversificada, que ousou passar para a vida concreta das instituições e das pessoas e grupos sociais, afetando as mais amplas esferas da vida coletiva: nos costumes do quotidiano, na saúde e higiene públicas, nos direitos e deveres, na administração e organização do Estado, na educação, na economia e nas finanças, na justiça, na religião, na cultura e nas artes, nas ciências e nas técnicas, no urbanismo, no Exército e na Marinha, no lugar de Portugal nas relações internacionais

Ao contrário do que sucedeu com os escritos de outros grandes reformadores coevos, como é o caso de Frederico II da Prússia, cuja obra completa foi publicada menos de um século após a sua morte, no caso do secretário de Estado dos Negócios Interiores do Reino de D. José I nem os apologistas, nem os detratores se abalançaram à hercúlea ousadia de que este 1º volume da Obra Completa Pombalina é o testemunho inicial.

Trata-se de reunir uma obra imensa e dispersa, até hoje nem sequer plenamente inventariada

Trata-se de reunir uma obra imensa e dispersa, até hoje nem sequer plenamente inventariada. Sem ter esse vastíssimo acervo, tanto à disposição do investigador académico como do leitor culto e interessado, não será possível o estudo indispensável para alimentar um sólido juízo crítico.

O principal resultado que desta Obra se espera possa frutificar será o alargamento da compreensão da natureza, alcance e contexto da ação política pombalina.

O projeto de país que a inspirou, as condições conjunturais e as relações de força que a condicionaram, tanto nacional como internacionalmente, as ideias filosóficas que a moveram, as fontes teóricas de onde elas emanaram.

Importa também, em vez da tentativa vã de ocupar o lugar mítico de um anjo moral da história, averiguar se no agir pombalino se podem registar algumas características comuns e padrões reiterados na conduta histórica do Estado português, e nas relações deste com a sociedade civil, bem como nos processos de produção de políticas públicas.

Tendo sido diplomata em Londres e em Viena, Pombal conviveu com a plenitude desse tempo de aceleração da história europeia que é conhecido como o período das Luzes, e que geograficamente se estende também às colónias americanas das monarquias europeias.

De Portugal à Rússia, esse foi um tempo de mudança em múltiplas frentes. Expansão das cidades e das atividades industriais e mercantis. Fortalecimento da burguesia numa sociedade de Antigo Regime, ainda marcada pelos privilégios estamentais da nobreza e do clero.

Avidez crescente pelo conhecimento e pela inovação nas artes e nas técnicas, servida tanto pelo proliferar dos periódicos e dos livros, como pelo associativismo cultural, literário, levemente conspirativo das lojas maçónicas inglesas, dos clubes escoceses ou dos salões parisienses. (…)

No caso português a questão do progresso assumia porventura maior relevância, porquanto foi nesta época que confluíram ativamente os vários percursos de uma consciência de crise e decadência do país que urgia estancar, exacerbando assim o lado dramático do discurso pombalino, com base numa ideia de necessária salvação nacional, fazendo emergir a luz das trevas.

De facto, desde o século XVII que se vinha afirmando (…) uma consciência de crise e desfasamento do país relativamente às demais sociedades europeias, que atingiu o seu ápice em 1746, com a publicação do Verdadeiro Método de Estudar, de Luís António Vernei e, sobretudo, com a polémica gerada em torno da publicação desta obra. Urgia, pois, a regeneração nacional, opondo o claro ao escuro e as Luzes às trevas.

Foi Pombal o homem que se ergueu sobre essa complexa circunstância e a obrigou a corresponder à sua visão do mundo, marcando a sua presença a fogo. (…)

Sem ter esse vastíssimo acervo não será possível o estudo indispensável para alimentar um sólido juízo crítico.
O principal resultado que desta Obra se espera possa frutificar será o alargamento da compreensão da natureza, alcance e contexto da ação política pombalina

O período pombalino que assim foi codificado pela historiografia, relevando a ação política de Sebastião José de Carvalho e Melo, Conde de Oeiras (1759) e Marquês de Pombal (1770), significou um período de enérgicas ruturas frente a correntes, a políticas, a práticas sociais, a metodologias educativas, a escolas económicas, a modos de administração burocrática e militar, tendo por espelho, modelo e meta a chamada “Europa civilizada e polida” da razão e do progresso. Carvalho e Melo, que se viria a tornar preponderante na equipa do governo deste monarca D. José I, que duraria 27 anos (1750-1777), conquistou a simpatia e a sintonia com as ideais do monarca a quem servia como secretário de Estado dos Negócios Interiores do Reino.

Assim, pôde levar a cabo um conjunto de reformas, com o estatuto de valido ou primeiro-ministro, que procuraram distanciar, pela afirmação inovadora, o reinado josefino do longo reinado anterior, o joanino, procurando reformar mais diversos setores do Estado e da Sociedade.  

Praticamente nenhuma área vital da sociedade da metrópole portuguesa e dos seus territórios ultramarinos deixou de merecer a atenção reformista pombalina e da equipa governativa de D. José I.

O ideal iluminista de pendor utópico da renovatio temporum foi assumido politicamente pela via reformista que tudo queria tocar para transformar e superar um statu quo considerado degenerado, passadista, desatualizado, obscurantista, retrógrado.

Sabemos que o Marquês de Pombal ficou célebre, na história política de Portugal, por boas e más razões, como, aliás, foi apanágio dos grandes políticos reformistas do chamado despotismo iluminado.

Com efeito, o nome do Marquês é lembrado tanto pela ação enérgica na reconstrução iluminista de Lisboa, após o trágico terramoto de 1755, como pela expulsão dos Jesuítas, em 1759, do nosso país e das colónias; tanto pelas reformas económicas e industriais, pelas reformas sociais – tendo acabado com a discriminatória distinção entre cristãos-novos e cristãos-velhos –, como pelo massacre da Trafaria (1776), executado por Pina Manique, e ainda pelo esmagamento militar da rebelião da Cidade Invicta (1757) contra a criação da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro e da primeira região demarcada com regulamento de exploração vinícola do nosso país, e do mundo. 

A intensidade da produção de legislação reformista foi antecedida, acompanhada e procedida de muita produção escrita de vários géneros, muita dela do punho de Pombal, mas também um conjunto significativo por ele diretamente inspirado.

Esta imensa mole documental de fontes escritas então geradas pelo protagonismo deste poderoso político é reveladora da existência de uma vontade associada a um pensamento político, social, cultural e até religioso que queria operar uma mudança estrutural.

Os escritos do Marquês de Pombal permitem-nos observar que este estadista foi desenhando progressivamente, rodeando-se de uma equipa de qualificados conselheiros, um projeto para Portugal, em que acreditou e quis realmente implantar, enfrentando inimigos e vicissitudes várias.

Até então e em tão poucos anos, apesar de 27 anos parecerem muitos, nenhum rei e seu governo, preparou, publicou e implantou tanta legislação reformista com um afã de continuidade e sistematicidade. Há, com efeito, um Portugal antes de Pombal e depois de Pombal. E, em certa medida e em alguns aspetos, há uma Europa antes de Pombal e depois de Pombal.

José Castelo Branco foi detido, esta terça-feira, pela GNR por suspeitas de violência doméstica contra Betty Grafstein. A ordem de detenção partiu do Departamento de Investigação e Acção Penal de Sintra, segundo a CNN, que deverá apresentar o suspeito a um juiz de instrução criminal.

O Ministério Público (MP) abriu uma investigação sobre alegados crimes de violência doméstica contra a figura do “jet-set” Betty Grafstein por parte do marido, José Castelo-Branco, confirmou a Procuradoria-Geral da República (PGR).

“Confirma-se a receção da denúncia aludida. A mesma deu origem a inquérito que se encontra em investigação na Secção Integrada de Violência Doméstica de Sintra, do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) Regional de Lisboa”, refere a PGR, em resposta a questões da agência Lusa.

A denúncia deste crime público foi enviada ao MP por profissionais médicos do Hospital da Cuf de Cascais, onde norte-americana Betty Grafstein, de 95 anos, se encontra internada há cerca de duas semanas com uma fratura no fémur e ferimentos no braço esquerdo.

O Presidente russo, Vladimir Putin, de 71 anos e no poder desde 2000, tomou esta terça-feira posse no Kremlin, em Moscovo, para um quinto mandato de seis anos à frente da Rússia. A cerimónia oficial aconteceu às 10h de Lisboa, no Salão Andreyevsky do Grande Palácio do Kremlin.

Antes do seu discurso de tomada de posse e de se ouvir o hino do país, o presidente russo pronunciou o Juramento Solene do Presidente, garantindo que iria “cumprir a Constituição” e manter “a soberania” do país, e comprometendo-se ainda “a defender o povo com lealdade”.

“Neste texto concentra-se a essência do destino do chefe de Estado: proteger a Rússia e servir o nosso povo”, começou por referir, acrescentando que “é isso que tem dominado o conteúdo e o sentido” do seu trabalho “nos anos anteriores”.

Depois de agradecer o apoio do povo russo, abordou a importância de defender os interesses nacionais, inclusive durante este “momento difícil”, mas não mencionou diretamente a guerra na Ucrânia. O chefe de estado garantiu ainda que o país estará “mais forte” depois deste período turbulento e afirmou que não recusa “o diálogo com o Ocidente”, com os “países que querem ser parceiros” da Rússia.

“Devemos garantir o desenvolvimento seguro do nosso país”, referiu, insistindo na ideia de “união e serviço à pátria”. “No futuro, os interesses e a segurança do povo da Rússia continuarão a estar acima de tudo”, garantiu ainda, referindo-se ao próximo mandato.

Putin pode, devido a uma reforma constitucional realizada em 2020, permanecer no poder até 2030.

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Ainda a ambientar-se à cozinha que comanda desde o início de fevereiro, Nuno Matos percebeu rapidamente o que queria incluir na ementa do Onda, desde que trocou a paisagem vinhateira do Douro pelas ondas e falésias da Ericeira. À mesa do restaurante do hotel Aethos, com vistas desafogadas sobre o Atlântico, oferece o melhor da região do Oeste: peixe e marisco da lota de Peniche, os legumes e a fruta produzidas nesta fértil zona agrícola.

Nesta sua estreia no Onda, apresenta-se com uma ementa simples, cuidada e sem grandes artifícios, com pratos que não levam muitos elementos. “Estando em cima do mar, aposto essencialmente nos peixes e mariscos, mas também há pratos de carne. Sendo um restaurante de hotel, não faço uma cozinha de autor; tenho de ter opções para as diferentes refeições”, explica o chefe de 35 anos, nascido em Coimbra, que esteve três anos no Six Senses Douro Valley, em Lamego, e antes passou pelo Zaranda, em Maiorca, o Saturne, em Paris, e o Relae, em Copenhaga (os três últimos com Estrela Michelin).

Ao almoço, há sugestões mais leves, como ceviche do dia (€16), amêijoas à Bulhão Pato com alho e coentros (€18) e salada de beterraba e laranja, canónigos, amêndoas e queijo azul, com um tempero de vinagre de maçã, mel e alga (€16). Já ao jantar, as opções são mais gastronómicas. Antes da refeição, fica a nota, há que passar pelo bar ou pela esplanada e experimentar um dos cocktails.

À mesa, comece-se pela frescura do cru de robalo selvagem, maçã verde, trevos e lima (€16) ou pela gulosa couve-coração assada, trigo sarraceno, molho de manteiga e estragão (€14), uma das opções vegetarianas da carta, e prossiga-se com o polvo do Atlântico, molho de noz, uvas e salsa (€18) ou a garoupa selvagem, couve-flor, pak choi e cebola assada (€34). Nas carnes, sugere-se o entrecôte grelhado, puré de funcho, cebola e brócolos grelhados (€40) e, nas sobremesas, o creme de milho, gelado de pipoca e caramelo salgado (€12). É leve, diferente e apetitosa, como aliás toda a refeição.

Ainda em maio, abrirá o bar de crus Marola, que dará apoio ao terraço e à piscina aquecida do hotel.

Onda > Aethos Hotel, R. da Estalagem, Encarnação, Ericeira > T. 261 244 510 > seg-dom 12h-24h

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Pintar, desenhar, esculpir, riscar, moldar são gestos a que a sua mão está afeiçoada desde sempre. Porém, captar a imagem, o som, filmar, criar planos, sequências, fazer filmes, acabaria por ser o lado mais visível da sua criação.

No cinema, em que começou a trabalhar nos anos 70, estreou-se com Relação Fiel e Verdadeira, em 1987, tendo realizado longas-metragens como Rosa Negra, Paixão, Adriana, e documentários como As Escolhidas, sobre Graça Morais, ou a curta Carlos de Oliveira: Sobre o Lado Esquerdo.

A cineasta Margarida Gil projeta agora, em grande dimensão, a sua face de escultora numa exposição “quase antológica” que junta três dezenas de obras em cerâmica. Mise en Place é o nome da mostra, e não é casual a referência a um procedimento do processo de filmagens. A curadoria é de André Almeida e Sousa, e Paulo Abelho criou uma instalação sonora a partir das suas esculturas. Também não por acaso, já que o pintor e o músico têm trabalhado nos seus filmes.

Margarida Gil nasceu na Covilhã em 1950, licenciou-se em Filologia Germânica, e a escultura, inicialmente estimulada por uma professora de Filosofia, teria sido um caminho “natural”, não fosse o cinema.

Estudaria, aliás, gravura, desenho, pintura e cerâmica no Ar.Co, e expôs a nível individual, nomeadamente no Museu Bordalo Pinheiro.

Como realizadora de televisão, trabalhou desde 1975 na RTP. E paralelamente foi assistente convidada na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

E se as suas grandes esculturas em barro convocam águas, montanhas, minerais, corais, aves, fábulas, enigmas ou a maternidade, remetendo para a Natureza e para o “lugar do humano”, segundo as palavras do curador, nada disso será porventura estranho ao seu cinema.

Mãos no Fogo é o seu último filme, que teve uma antestreia, em fevereiro, na seleção oficial do Festival de Berlim 2024, e irá estrear na edição deste ano do IndieLisboa.

Mise en Place pode, entretanto, ser vista até 2 de junho na galeria do Palácio da Cidadela, uma exposição no âmbito do Bairro dos Museus, iniciativa da Fundação Dom Luís I e da Câmara Municipal de Cascais.

Deixo-me guiar pelo impulso criativo que é da ordem do inconsciente. O pensamento, a linguagem narrativa ou não, vem depois, como se recolhesse pedaços da vida, da experiência, da intuição, da sensibilidade…

margarida gil – cineasta

Foi o lugar da escultura na sua criação que quis mostrar nesta exposição?

Não tive um tempo de trabalho regular na escultura ao longo da minha vida, mas comecei muito cedo com barro e carvão nas mãos… (riso) Só que se meteram muitas coisas pelo meio.

Sobretudo o cinema?

Obviamente. Mas na verdade o cinema não é propriamente impeditivo, porque fazemos poucos filmes. Felizmente dei aulas, fiz televisão muito tempo e não ficava apenas à espera de fazer os filmes. Mas claro que isso me desviou da pintura que sempre gostei de fazer. E no fundo, o que faço é pintura em cerâmica…

Mas como começou a “pintar” em cerâmica?

Quando fiz o curso inteiro de artes plásticas no Ar.Co, o que me deu imenso prazer e foi muito importante para mim, no Projeto, o Manuel Castro Caldas indicou-me a cerâmica e achei que fazia todo o sentido.

Por que razão?

Era retomar o meu passado e sobretudo a importância, para mim, do trabalho com as mãos. Tem a ver com uma certa noção de construção, de erguer alguma coisa do papel… e até da película (riso). É, aliás, uma atividade que tem muito a ver com o cinema.

Como?

Não é tanto a figura que mexe, mas nós que mexemos à volta da figura. Esse movimento, o ritmo, que existe na cerâmica, o tempo e o respeito em relação à matéria, tudo isso tem muitas afinidades com o cinema.

Quais?

Não se pode acabar uma peça de cerâmica, sobretudo as que faço que são bastante grandes, num dia. É preciso esperar que seque, e o que o fogo irá fazer depois. Nesse sentido, é um trabalho muito autodisciplinador para mim, porque sou muito impaciente (riso). E com o barro é preciso dar tempo ao tempo, saber esperar o ponto certo, senão pode mudar a cor, a textura.

Por isso é tão fascinante, temos que respeitar os elementos, a água, a terra, o fogo, que tenho que conduzir, com os meus gestos, com o corpo, como uma maestrina. E como uma realizadora, claro. Há muito de alquímico, no trabalho com o barro. Criar algo a partir de uma placa inerte é algo de mágico, como fazer uma mise-en-scène em cinema ou em teatro.

O PODER DA CRIAÇÃO

Daí o nome da exposição, Mise en Place, pôr as coisas no lugar da cena?

É, claro, uma piscadela de olho ao cinema, porque é realmente a fase antes da mise-en-scène. Ou seja, a colocação no espaço dos volumes, dos objetos… neste caso, das forças que constroem uma figura, uma escultura. É, na verdade, uma sensação de poder que temos quando se consegue elevar algo do chão.

O poder da criação?

E é uma coisa espantosa o poder que existe nas nossas mãos, que vão dando forma ao que pensamos. Depois, a cor ou a nossa decisão de não a usar… É um poder criador que normalmente se atribui a Deus, aos deuses, a uma entidade sobrenatural. Só que o ser humano também o tem.

Não é por acaso que o barro está ligado até à criação de Adão, do humano, na Bíblia. E muitas vezes as mãos no barro fazem formas em que nem sequer tínhamos pensado.

Uma escultura pode tomar formas diferentes do que tinha traçado inicialmente?

Completamente. Mas aí eu também faço muitíssimo cinema.

Quando faz escultura?

Sim, há muitas analogias. Evidentemente os suportes são diferentes, mas a minha atitude é muito semelhante.

Em que sentido?

Deixo-me guiar pelo impulso criativo que é da ordem do inconsciente. O pensamento, a linguagem narrativa ou não, vem depois, como se recolhesse pedaços da vida, da experiência, da intuição, da sensibilidade… E tem que haver uma harmonia, isso é natural em mim e no que crio. E que me exprime. A exposição fala de mim, sou eu que lá estou, como num filme.

E do seu modo de ver o mundo até com uma certa ironia…

Exatamente. A malandrice toda, o lado sombrio, o não levar nada muito a sério, o tirar o tapete… está lá tudo. Há muitos temas associados à maternidade, bichos que são madonas… A minha falta de respeito dá-me muita liberdade para pensar e criar.

É sobretudo no tempo de “pousio” do cinema que vai para o atelier e faz as suas esculturas?

Tive, na realidade, uma grande interrupção durante muito tempo na escultura. Talvez nem seja bem uma interrupção, porque o meu olhar está sempre a ser trabalhado e a escultura vem numa certa continuidade do meu trabalho visual e acho que isso se nota bastante, até uma certa continuação de uma atividade noutra. Não consigo fazer as duas coisas ao mesmo tempo (riso). Mas posso estar com o projeto de um filme a aboborar e a fazer escultura.

Estou habituada a trabalhar muito, mas claro que não se pode trabalhar muitas horas seguidas em cerâmica, porque é fisicamente muito cansativo e é uma atividade que precisa de tempo de espera… Mas aí, ao fim da tarde, sento-me a escrever… e pode ser um guião…

Mas quando estou a filmar, é impensável esculpir, faço um corte, é como se nada mais existisse. O mesmo acontece em certos momentos da escultura. Há mesmo uma fase em que tenho insónias… (riso) É um sinal, normalmente antes do forno. Porque o fogo é como filmar.

Porquê?

Porque entra tudo em jogo, a rodagem é um período exclusivo, em que todos os sentidos estão completamente envolvidos.

Mãos e fogo são duas palavras que já usou muito nesta conversa. Curiosamente, o seu novo filme chama-se Mãos no Fogo…

Aliás, durante muito tempo, nem havia título. Mas confiava que iria surgir e, de repente, apareceu mesmo… (riso) Porque o filme também mexe com culinária, com o ato de pôr as mãos no fazer da comida, e reparei que havia muito fogo presente, porque se passa numa cozinha enorme, fabulosa, do Minho, e uma personagem muito importante, a Adelaide Teixeira, está permanentemente a usar as mãos.Isto é, dei por mim a filmar muito as suas mãos… Por isso, quando tive a intuição desse título, achei que fazia todo o sentido.

Também pelo seu espanto em relação às mãos?

É verdade, eu adoro mãos. E uso-as muito, sim, as mãos no barro…

Mãos no Fogo foi o único filme português na seleção oficial do recente Festival de Berlim. Como foi a experiência?

Muito forte. Uma sala de 700 lugares vibrou com o filme, foi uma febre que senti… (riso) Felizmente tinha a exposição a inaugurar também e tive que começar a pensar nela, deixando um pouco para trás esses ecos.

O FILME DA EXPOSIÇÃO

Também pôs a mão no espaço, na ordem das suas esculturas na exposição?

Fui à Cidadela uma vez ver uma exposição de Rosa Ramalho, que eu adoro, e achei um espaço magnífico. E de repente, por via do presidente da Fundação, o Salvato Telles de Menezes, com quem tenho uma longa amizade e partilhei muitos encontros com o Carlos de Oliveira, acabei por ter essa galeria para mim, para a minha exposição. Fiquei muito contente. E também um pouco assustada.

Com receio de quê?

Senti um sobressalto quando pensei em como pôr a minha cerâmica naquele branco… (riso) Até porque antes só tinha tido uma grande exposição como esta, no Museu Bordalo Pinheiro. Mas tive um grande impulsionador, o pintor André Almeida e Sousa, que foi meu professor, de quem gosto muito e que conhece bem o meu trabalho.

Por isso, houve uma coautoria. Ele fez uma verdadeira montagem, exatamente como se fosse um montador de um filme, pegando nas peças isoladas e criando uma sequência, dando-lhes um sentido. A iluminação, aquelas salas abobadadas da Cidadela pintadas de branco, também ajudam, porque tenho muitas esculturas negras.

A central é um ancoradouro e achei que precisava de um fora de campo (riso)… lá estou eu a pensar em cinema… e pedi uma escultura sonora ao Paulo Abelho, que também trabalha comigo nos meus filmes.

Tal como, de resto, André Almeida e Sousa?

Sim, ele entra como ator no pequeno filme que fiz nos Açores há pouco tempo, Cavaleiro Vento, e é um grande pintor. E o Paulo Abelho, não fosse ele um excelente músico, fez uma instalação que valoriza muito a exposição, porque as salas se sucedem, dão umas para as outras, e o som acaba por prolongar e dar-lhes continuidade.

Tal como o André conseguiu dar um sentido às várias salas com uma sobriedade e uma intensidade, trabalhando cada uma como se fosse uma página em branco, uma tela, onde colocou as figuras, criando uma relação entre elas como num quadro. Por isso, falo de coautoria, o que acho que torna a exposição muito especial.

André Almeida e Sousa fala da criação de uma ordem, num dos textos da exposição.

E foi isso que ele fez, encontrar uma ordem. Algumas peças já são formadas por um conjunto de elementos, como O Cais ou A Cidade Perdida, que já têm uma ideia, mas digamos que o filme que foi montado, a junção de sequências com um sentido em toda a exposição, foi realmente o André que o fez e não seria possível se ele não fosse o pintor que é.

VOCAÇÃO DO OLHAR

Antes de começar a fazer uma escultura, também escreve um guião, faz um esboço?

A maior parte das vezes, não… É preciso ter uma ideia da escala, se equivale apenas ao trabalho de mãos, se envolve também o corpo. Tenho peças bastante grandes na exposição que implicaram não propriamente um desenho prévio, mas uma noção do volume, um fundamento, porque é uma construção com barro e a sua tendência é naturalmente para cair, para se desfazer em pó (riso).

E é necessária alguma argúcia, porque por exemplo a porcelana é muito voluntariosa, difícil de trabalhar com as mãos, há que fazer de outra maneira. Porque sou eu que faço todas as esculturas, mesmo as muito grandes, com as minhas mãos, sem moldes. E temos que perceber muito bem a matéria que temos nas mãos, o que pode dar, o que queremos. É uma relação fiel e verdadeira… (riso)

Título do seu primeiro filme… Está tudo ligado desde sempre?

Sim. Lembro-me que quando estava a preparar esse filme, convidei o pintor Sá Nogueira, com quem tinha tido aulas de Desenho em Movimento na SNBA, para trabalhar comigo, tal como Costa e Silva, que tinha uma enorme sensibilidade em relação à luz.

Uma vez, estávamos a falar precisamente da luz, da cor do filme, e Sá Nogueira disse-me que aquela conversa estava a dar-lhe uma enorme vontade de pintar… (riso) E a relação entre luz, cor e som é, na verdade, muito importante para mim desde o meu primeiro filme.

Aliás, penso que também é muito visível nos últimos, uma espécie de vocação do olhar. No entanto, tento fugir o mais possível à associação direta do cinema com a pintura. Não gosto nada de ver filmes em que deliberadamente se procura imitar Vermeer ou outro pintor qualquer, ainda que isso possa acontecer de uma forma inconsciente, porque é fatal, tem a ver com a nossa tradição. Não nascemos de uma couve… (riso)

E é fiel e verdadeira a sua relação com o barro?

Sim. É pena que a convenção tenha posto a cerâmica nas artes decorativas, subestimando-a. Tal como a gravura, tudo o que implica trabalho manual foi de alguma maneira desvalorizado em relação à pintura a óleo. Há uma hierarquia de valor que tem a ver com a finança, que atribuiu à cerâmica um valor utilitário, embora isso também tenha muito que se lhe diga.

Por isso, não é normalmente uma obra de que um pintor ou escultor se vanglorie, mas qualquer coisa para os alfinetes (riso). Tudo o que seja valorizar e dignificar a cerâmica, dando-lhe a dimensão que merece, é, por isso, muito importante. É preciso lutar contra esse preconceito.

E a seguir? Já pensa noutro filme ou exposição?

Apetece-me fazer um filme novo e novas esculturas. Mas sei lá qual será a situação do cinema em Portugal, se continuará a haver filmes, se as pessoas acordam e vão outra vez às salas…

Estou à espera de notícias para fazer dois documentários. Ficção, já tenho um embrião, como uma semente na terra, que de repente pode crescer e tornar-se planta… dependendo da matéria, dos meios, de mais ou menos água… Como com o barro.

Em fevereiro surgiram novos rumores que apontavam para a revelação da Nintendo Switch 2 apenas no primeiro trimestre de 2025. Agora a Nintendo confirma que apresentará a próxima geração da consola portátil até ao fim do seu atual ano fiscal. 

A confirmação chega através de uma publicação na rede social X (antigo Twitter), a partir da conta corporativa da empresa, onde é também detalhado que será realizado um novo Nintendo Direct em junho. 

No entanto, a publicação assinada por Shuntaro Furukawa, presidente da gigante japonesa, afirma que não serão apresentados mais detalhes sobre a sucessora da consola portátil. Segundo o responsável este Nintendo Direct será apenas dedicado ao novo alinhamento de jogos para a atual versão da Switch. 

De acordo com os seus mais recentes resultados financeiros, a Nintendo vendeu 15,7 milhões de consolas portáteis no último ano fiscal. Em comparação com a versão original e Lite, as vendas do modelo OLED registaram um crescimento de 1,1%, indicam os dados.

Depois de rever em alta as suas previsões de venda, a Nintendo espera agora uma desaceleração nos próximos 12 meses. Ao todo é prevista a venda de 13,5 milhões de consolas. A empresa prevê ainda uma quebra nos lucros para este novo ano fiscal, que deverão rondar 400 mil milhões de yen.

O mais recente relatório de resultados financeiros indica também que Endless Ocean Luminous, Paper Mario: The Thousand-Year Door e Luigi’s Mansion 2 HD estão entre os jogos que a Nintendo tenciona lançar ao longo dos próximos meses.

Quanto às novidades que podem chegar à próxima versão da consola, rumores recentes apontam para a inclusão de comandos Joy Con magnéticos. Tal poderá significar que os jogadores não conseguirão usar os comandos do modelo atual na Nintendo Switch 2.

Os rumores afirmam que a sucessora da Switch será um pouco maior do que a versão atual, se bem que mais pequena do que uma Steam Deck. O software da nova consola é, para já, uma incógnita e ainda não há confirmação se permitirá jogar títulos concebidos para a geração anterior.

Carlos Moreira da Silva acaba de ser eleito como Presidente da Business Roundtable Portugal, associação que reúne perto de 40 das maiores empresas nacionais e que tem como missão contribuir para melhorar a competitividade da economia portuguesa.

Moreira da Silva tem uma longa carreira enquanto gestor e investidor, sendo acionista de referência da BA Glass e da Cerealis, entre outros investimentos. Sucede no cargo a Vasco de Mello, com uma direção que inclui ainda Cláudia Azevedo, da Sonae, e Nuno Amado, do BCP, enquanto vice-presidentes.

O novo corpo diretivo conta ainda com outros seis líderes empresariais, perfazendo um total de nove elementos: Vasco de Mello, Presidente da José Mello e ex-Presidente do BRP, Ana Figueiredo, CEO da Altice Portugal, João Bento, CEO dos CTT, João Ortigão Costa, CEO do Sugal Group, Jorge de Melo, CEO do Sovena Group e Ricardo Pires, CEO da Semapa.

O mandato dos novos corpos sociais é válido até 2027.

Fonte judicial explicou à agência Lusa que o alegado líder desta rede internacional de tráfico de droga é um ex-PSP, conhecido por ‘Joca’, acrescentando que a mesma seria das mais importantes a atuar neste momento no país.

Segundo a mesma fonte, o estupefaciente seria importado “em grandes quantidades” da América Latina para venda e comercialização na região norte do país, sobretudo no Grande Porto.

com Lusa