Os sistemas de Inteligência Artificial como o ChatGPT e o Gemini podem ser parceiros de estudo valiosos, nos diferentes escalões de ensino. Aqui dizemos-lhe como tirar partido dos assistentes e outras ferramentas para organizar os estudos, resolver equações, preparar exames e fazer mais em menos tempo. Há quem veja a Inteligência Artificial como um perigo para o ensino – outros veem nesta tecnologia a oportunidade para que todos possam ter um tutor pessoal e melhores notas.
Rever textos
Uma das formas mais úteis de usar os assistentes de IA é como ferramenta de apoio à revisão de textos. Imagine que tem um trabalho para entregar até ao final da semana. Assim que tiver o documento final, pode carregá-lo no ChatGPT ou Gemini e pedir uma análise ao texto. Como já dissemos noutras edições, quanto mais detalhada for a instrução (prompt) dada ao assistente, mais completa vai ser a ação. No caso da revisão de textos, pode usar a seguinte instrução como ponto de partida. “Analisa o seguinte documento/texto e identifica os erros de ortografia, pontuação, acentuação, sintaxe e concordância. Faz também sugestões de correção para os problemas encontrados“. É também possível fazer pedidos mais específicos, como “Sugere formas para melhorar a clareza desta frase” ou definir o tom do texto através de instruções como “Faz sugestões para tornar este parágrafo mais assertivo, considerando que o tema do trabalho é [inserir tema]” caso queira atribuir uma maior seriedade e credibilidade a um texto.

Pedir análise construtiva
Muitos poderão pensar na IA como um ‘atalho’ para fazer o trabalho quase todo sem esforço – o caminho da aprendizagem não é, definitivamente, por aí. Mas este é um bom exemplo de como é possível usar a IA para melhorar a qualidade global de um trabalho. Isto porque antes de o trabalho ser entregue ao professor, pode ser ‘avaliado’ por um sistema de IA. E se algo não passar na IA, dificilmente passará no professor. Experimente o seguinte prompt num trabalho ou numa resposta específica a um problema: “Analisa o seguinte texto e faz uma avaliação dos pontos positivos e negativos, considerando elementos como a informação e as fontes usadas, a pertinência dos tópicos, e a abrangência de temas”. No final, terá uma espécie de prós e contras da sua resposta/texto/trabalho, podendo depois fazer um reforço dos prós e corrigindo os elementos apontados como menos positivos.

Melhorar qualidade da escrita
Ainda relacionado com a entrega de trabalhos, os assistentes também podem ser uma ajuda preciosa a melhorar a qualidade da escrita. Em vez de usar os mesmos termos de forma repetida, peça aos assistentes por alternativas. “Cria uma lista de sinónimos para a palavra ‘investigação’, considerando que o termo vai estar associado a um texto científico”. Num piscar de olhos, terá dez ou mais palavras alternativas para usar no texto. Por vezes, estes assistentes até conseguem ‘adivinhar’ o que queremos dizer (mas não conseguimos), bastando para isso descrever da forma o mais completa possível o que pretendemos expressar. Para o pedido “Faz uma lista de palavras que possam descrever o efeito que a gravidade tem na velocidade dos objetos”, recebemos sugestões como aceleração, intensificação, amplificação, queda ou atração.

Fazer interpretação de imagens
Por vezes, quando estamos a estudar sozinhos, surgem-nos informações visuais que temos dificuldades em interpretar. Mapas, gráficos, tabelas ou diagramas… Agora, as versões mais avançadas dos sistemas de Inteligência Artificial também são capazes de processar a informação que existe numa imagem. Use a resposta gerada como um ponto de partida para fazer a sua própria interpretação. Aqui o maior segredo está, em boa verdade, na qualidade da imagem, e depois é deixar o modelo de IA tratar do resto. “Ajuda-me a interpretar o seguinte gráfico. Refere qual o tema e quais as variáveis em questão e a relevância desses dados no contexto de [inserir motivo do estudo]”.

Simplificar termos
Esta é outra área na qual os assistentes de IA apresentam resultados sólidos, sobretudo quando existe muita informação disponível sobre os temas em questão. Aqui o truque é dizer o nível de informação que já tem sobre o tema, para que o modelo possa ajustar a explicação. Também pode pedir exemplos práticos sobre o tema, para que consiga perceber melhor o que está em causa sem ser através da teoria. “O que são as equações de Maxwell e por que razão são importantes? Tem em conta que não tenho conhecimentos sobre o tema. Divide a explicação em tópicos simples e fáceis de compreender, dando exemplos reais que ajudem a compreender a influência destas equações”. Agora só precisa de ajustar às suas necessidades.

Descrever o problema em passos
No seguimento da dica anterior, esta é outra forma de ‘desmontar’ um problema num formato que é mais fácil de entender. “Estou a estudar para uma cadeira de Economia. Descreve em diferentes passos o que acontece antes, durante e depois de um processo de insolvência numa empresa, incluindo diferentes tópicos como os direitos dos trabalhadores, os salários, a estrutura empresarial e deveres para com os credores”.

Dica para o Google Gemini
O Google Gemini leva vantagem sobre o ChatGPT numa área importante. Em todas as respostas, o utilizador pode carregar no ícone da Google para verificar a informação das respostas. Na prática, o sistema vai à web procurar a informação gerada pelo Gemini e assinalará a verde as correspondências positivas, a amarelo aquelas que precisam de verificação e a vermelho as que são falsas (as chamadas ‘alucinações’).

Estruturar trabalhos
Comecemos já pela instrução a dar ao sistema de IA: “Preciso de fazer um trabalho sobre átomos para uma cadeira na faculdade, que seja o mais abrangente possível. Define-me uma estrutura para esse trabalho que inclua elementos de Física, Química e história, entre outros, relacionada com diferentes átomos”. O resultado que conseguimos obter, só para referência, foi um índice com dez destaques principais e que inclui tópicos como estrutura atómica, propriedade dos átomos e aplicações dos átomos. Assim como dezenas de subtópicos (desde fissão e fusão, à teoria quântica, aos modelos de diferentes físicos). Depois só precisa de ajustar a estrutura ao que considera importante e começar a escrever para cada tópico para ter um trabalho completo. E lembre-se, pode usar mais do que uma dica no mesmo trabalho (rever, pedir uma análise crítica, mudar o tom de parágrafos, etc).

Fazer plano de estudos
Esta é, garantidamente, uma das áreas nas quais os assistentes digitais mais brilham, pois fazem em segundos uma planificação que, se feita de forma manual, seria muito mais demorada. O nosso conselho é que seja detalhado e realista nas informações que passa ao assistente sobre os prazos. Fica um exemplo que pode depois adaptar às suas necessidades: “Vou ter um exame de Sociologia no dia 9 de novembro, da parte da manhã. Elabora um plano de estudo de dez dias apenas e que inclua entre 40 a 60 minutos de estudo por dia, não inclua domingos e feriados, e tenha em consideração que tenho aulas todos os dias das 9h às 13h e que às terças e quintas ainda preciso de duas horas para os treinos de ténis de mesa. Detalha ainda que tarefa devo fazer em cada dia de estudo para que seja o mais completo e abrangente possível“.

Preparar os exames
Esta dica não substitui os livros dedicados aos programas curriculares e que são um complemento aos planos de estudo dos estudantes. Mas a grande vantagem de usar um sistema de IA na preparação é poder ajustá-lo àquelas que são as suas necessidades específicas. Vamos imaginar que dentro de uma disciplina (Física, por exemplo) tem dificuldade com o tema do eletromagnetimo. Pode pedir exercícios específicos sobre o tema e indicar a sua tipologia, dificuldade, entre outros parâmetros. “Estou a preparar-me para um exame de Física sobre o tema do eletromagnetismo e preciso de exercícios que me ajudem a estudar. Cria três exercícios diferentes (um mais explicativo, outro mais matemático e outro de dificuldade elevada) que coloquem à prova os meus conhecimentos. Não reveles as respostas”, a título de exemplo.

Gerar questionários
No seguimento da sugestão anterior, também pode criar o seu próprio teste de antecipação. Adapte e experimente: “Estou a estudar para um teste de História e quero colocar em prática os meus conhecimentos. Faz-me cinco perguntas sobre o reinado de Dom Afonso Henriques que permitam testar diferentes elementos relacionados com esse período da história de Portugal”. Ou, em alternativa: “Estou a estudar para o teste de código de condução. Faz cinco perguntas de escolha múltipla que coloquem à prova os meus conhecimentos na área dos limites de velocidade nas diferentes categorias de veículos. Não me dês as respostas”. A indicação de não dar as respostas é importante, pois por vezes os modelos incluem as respostas imediatamente a seguir às perguntas – o nosso conselho é que peça as respostas num momento posterior.

Dica para o ChatGPT
O ChatGPT tem, no final das respostas, um botão chamado “regenerar”, que na prática repete o pedido do utilizador, dando uma resposta diferente. Este botão é particularmente útil na criação de exercícios, pois pode gerar novos exercícios, diferentes, com um simples clique do botão do rato.

Antes de entrar para o exame
Até os que já deixaram os estudos há vários anos, lembram-se certamente de em algum momento estar à porta da sala, com muitas folhas na mão, a tentar absorver todas as informações possíveis até ao último segundo. Talvez com o ChatGPT consiga fazê-lo de forma mais eficaz. Peça-lhe, por exemplo, “Faz um resumo de 300 palavras sobre o período renascentista e uma lista dos artistas e obras mais influentes, não só de Itália, mas também de outros países”. Mais do que aprender na hora, pode ajudá-lo a refrescar o conteúdo e a gerar alguma memória visual que pode ser uma ajuda dali a alguns minutos.

Resolver problemas de matemática
A matemática é uma das áreas mais ‘espinhosas’ para os sistemas de Inteligência Artificial, devido à limitada capacidade de raciocínio dos sistemas. Isto não significa, no entanto, que não possa usar para resolver alguns problemas de matemática. A nossa sugestão é que na instrução, inclua sempre a necessidade de detalhar e explicar cada um dos passos, não só para que possa seguir o raciocínio, mas também para poder verificar, passo a passo, se há erros na interpretação do problema. “Resolve, passo a passo, a equação x² – 5x + 6 = 0. Explica as diferentes etapas do cálculo e justifica cada uma das tuas decisões”.

Resumir documentos
É outro dos poderes ‘secretos’ dos principais assistentes de IA. Conseguem analisar e resumir, em segundos, documentos de várias páginas, destacando aquelas que são as ideias e os números principais. “Analisa detalhadamente o relatório em anexo e faz um resumo, de 300 palavras, destacando as principais conclusões e principais dados económicos apontados no mesmo” foi a instrução que usámos num relatório do Banco de Portugal de junho de 2024 (que comparamos com notícias publicadas sobre o mesmo) – o resumo feito pelo sistema de IA destacou grande parte da informação relevante. Depois pode fazer questões de seguimento. Por exemplo: “Há dados específicos sobre [inserir tema] neste relatório?” que o ajudará a encontrar a informação que mais precisa.

Iniciar uma aprendizagem paralela
É muito comum que à medida que vamos sendo expostos a novas informações e conceitos, que a nossa curiosidade comece a despertar para tópicos que podem estar de alguma forma relacionados, mas não são abordados. Imaginando que está a tirar um curso e pretende, durante esse período, estudar no estrangeiro naquela que é uma das melhores universidades dessa área. Em vez de usar os assistentes para o estudo do tema em si, pode focar-se numa aprendizagem paralela, como aprender o idioma desse país. Outra alternativa cada vez mais comum é iniciar um processo de aprendizagem de programação, para que possa desenvolver pequenos programas que o ajudem em tarefas específicas durante o percurso escolar ou académico. “Cria um modelo de programação que me permite testar simulações de queda de um objeto, no qual eu possa modelar elementos como o peso, tamanho, força da gravidade e fatores externos”.

Antes de começar a estudar…
Como vimos ao longo destas páginas, o potencial para utilizar os sistemas de IA como ferramenta de apoio ao estudo é gigante. Aliás, vários destes sistemas têm conseguido passar exames de especialidade em diferentes áreas, o que mostra a sua maturidade em termos de agregação de conhecimento e geração de conteúdos. Mas grandes poderes trazem grandes responsabilidades. Os sistemas de Inteligência Artificial também cometem erros e apresentam informações incorretas. Confirme sempre as respostas e verifique as informações importantes. Os sistemas de IA podem e devem ser usados para melhorar o processo de estudo, mas não substituem os formatos mais tradicionais de ensino, estudo e tutoria. E sempre que decidir usar conteúdos gerados por IA (como imagens, p.ex.), deixe isso bem explícito.
Mais IA para estudar
Se ferramentas como o ChatGPT e o Gemini são as mais completas para estudar, há outras ferramentas que tiram partido da Inteligência Artificial e que podem ser uma valiosa ajuda para os estudantes de diferentes ciclos de ensino
Deepl
Site: deepl.com
O mundo está, definitivamente, mais global e isto significa que muita da informação que pode ser útil num determinado processo de estudo só está disponível noutro idioma ou que é necessário apresentar um trabalho noutro idioma. Tradutores online há muitos, mas o Deepl é um dos que incorpora melhor a Inteligência Artificial para que as traduções não sejam feitas de forma literal, mas tenham em conta também o contexto (o que é relevante para garantir precisão nos trabalhos). Tem também uma opção que permite traduzir documentos inteiros.

Microsoft Teams para Alunos
Site: microsoft.com
É cada vez mais a ferramenta de colaboração de referência em empresas, mas também tem uma versão específica para estudantes. Além de ser um programa indicado para trabalhos de grupo ou feitos de forma assíncrona (há os que preferem contribuir para o trabalho de manhã e os que fazem-no à noite…), o nosso destaque vai para a capacidade de gravação das chamadas de grupo (por exemplo, com um professor) e de poder aceder mais tarde a um ficheiro com uma transcrição de tudo o que foi dito na reunião. É exatamente como pedir os apontamentos de uma aula a outro colega. Para ativar esta opção durante uma chamada, siga os passos: Mais > Gravar e transcrever > Iniciar a transcrição. A transcrição fica depois disponível no OneDrive do organizador, sendo depois possível descarregar como ficheiro .docx ou .vtt.

Canva
Site: canva.com
É uma das mais completas ferramentas de design da atualidade e tem vindo a incorporar cada vez mais funcionalidades de geração de imagens. No contexto do estudo, o Canva será particularmente útil na edição e geração de imagens para acompanhar alguns trabalhos. Aqui encontra opções para transformar texto em imagens e vídeo, editar imagens através de comandos de texto ou usar os muitos modelos para criar apresentações de diapositivos.

Consensus
Site: consensus.app
Destinada a pessoas que estão a frequentar o ensino superior, é, tal como a empresa o define, uma combinação entre as plataformas Google Scholar (de estudos académicos) e o ChatGPT. Na prática permite que pesquisemos, usando linguagem natural, uma gigantesca base de dados com estudos científicos. É possível definir o português como língua de pesquisa, mas segundo as nossas experiências usar o inglês é a melhor forma de usar o Consensus. Tem duas mais-valias: apresenta, logo no topo, um resumo sobre o ‘consenso’ dos estudos sobre esse tópico, apresentando também estatísticas (80% dos estudos dizem que sim, 20% dizem que não, por exemplo); e há um assistente que resume de imediato algumas das principais conclusões do estudo, sendo por isso um bom ponto de partida para o desenvolvimento de trabalhos mais aprofundados.












