Uma visita guiada aos lugares de Leonor Teles

No início de novembro de 1376, as cortes reuniram-se no paço real de Leiria para jurar herdeira D. Beatriz, a única filha de D. Fernando e D. Leonor Teles. A infanta ainda não completara quatro anos, mas era urgente deixar claro aos meios-irmãos do rei fortemente tentados a usurpar o trono, que a sucessão estava garantida. No mesmo dia a pequenina infanta cumpriu também o papel de noiva, prometendo casar com o infante Fadrique, filho de Enrique de Castela, naquele que já era o segundo dos quatro “casamentos” a que a estratégia diplomática errática dos pais a obrigariam. Fernão Lopes assegura-nos que Leonor Teles ainda usou a filha como isco para provocar a morte da sua irmã, Maria Teles, e aniquilar a ameaça que representava João de Castro, filho de D. Inês e de D. Pedro, mas essa é outra história, para contar num outro lugar…

Se não conhece o magnífico castelo de Leiria aqui tem um ótimo pretexto para o visitar.    

Como é que um jovem prodígio, com uma educação esmerada nas melhores escolas e universidades francesas, alto quadro da administração pública, antigo administrador do banco Rothschild e descrito como um “Mozart das finanças”, se torna um dos presidentes mais impopulares de França? De acordo com a consultora Ipsos, 68% dos cidadãos do Hexágono reprovam o desempenho do social-liberal que militou no Partido Socialista e foi ministro da Economia para, a partir de 2017, se instalar no Palácio do Eliseu, residência oficial do Chefe de Estado, em Paris. Ao contrário do seu antecessor no cargo (François Hollande), Emmanuel Macron, atualmente com 46 anos, nunca quis ser um “Presidente normal”, alguém humilde e capaz de interagir com a população. Bem pelo contrário, Macron nunca escondeu que pretendia ser um “Presidente jupiteriano” (de Júpiter, o pai dos deuses) e que o exercício do poder se deve fazer de “forma vertical”, de acordo com a fórmula “manda quem pode, obedece quem deve”. Num depoimento anónimo ao Figaro Magazine, um dos seus antigos colaboradores alega que Macron é mais parecido com o implacável e maquiavélico Frank Underwood, personagem principal da série House of Cards (com Kevin Spacey a fazer de Presidente dos EUA), do que com François Mitterrand ou Charles de Gaulle, dois dos mais carismáticos chefes de Estado franceses do último século.

EGOCÊNTRICO, EU?

Underwood tinha o hábito de dizer que o “caminho do poder é feito de hipocrisia, e também de cadáveres, mas nunca de arrependimentos”. Como se não bastasse, esse antigo colaborador de Macron acusa-o ainda de exibir um lamentável “desconhecimento da História e das instituições”, a que se soma um ego descomunal. Alain Minc, empresário e consultor político de vários governos e presidentes, numa entrevista recente que concedeu à revista L’Express, diz que Macron lançou França – e possivelmente a União Europeia – num “drama shakespeariano” quando decidiu convocar eleições legislativas antecipadas, a 9 de julho, na sequência do sufrágio para o Parlamento Europeu: “A dissolução do Parlamento é fruto de um narcisismo exacerbado – num estado quase patológico –, o que conduz à negação da realidade.”

Os habitantes de Paris e de muitas outras cidades francesas vieram no domingo festejar a derrota da União Nacional

Em certa medida, os resultados do último domingo, 7 de julho, demonstraram que dissolver a Assembleia Nacional – designação oficial da câmara baixa do Parlamento francês – tem quase sempre efeitos funestos e indesejados para quem recorre a esse expediente. Desde 1816, esta foi a 19ª dissolução e, ao contrário das expectativas e do que indiciavam as sondagens, a extrema-direita e a União Nacional (RN, de Rassemblement National) de Marine Le Pen e de Jordan Bardella não só não ganharam como ficaram em terceiro lugar (ver infografia). Portanto, se a intenção de Emmanuel Macron era a de que o seu partido (Renascimento) e respetivos aliados do centro-direita perdessem deliberadamente as eleições, forçando Le Pen a assumir o poder e a desgastar-se em tempos de austeridade, essa tese conspirativa deixa de fazer sentido.

O próximo Parlamento, cuja sessão inaugural está agendada para 18 de julho, tem agora 577 deputados divididos em três grandes blocos: a Nova Frente Popular (NFP), as forças macronistas e a RN (que conta com o apoio de parte da direita tradicional, os Republicanos).  

Esta configuração ideológica do hemiciclo coloca o país à beira da ingovernabilidade, por ninguém ter obtido maioria absoluta (289 lugares) e por não haver a mínima vontade, nem tradição, de se assumirem compromissos políticos. Só mais dois factos adicionais: a idade média dos deputados aumentou para os 49 anos e dois meses, e, pela terceira legislatura consecutiva, o número de representantes femininas volta a baixar (só 208). Como seria previsível, face à inesperada vitória da esquerda e da extrema-esquerda, a soirée dominical revelou ainda que será difícil formar um governo de coabitação, o quarto da V República (ver caixa). Pela simples razão de que Macron não detém o monopólio do egocentrismo. A primeira figura a apresentar-se perante os jornalistas e as câmaras de televisão foi Jean-Luc Mélenchon, ufano da prestação nas urnas da sua França Insubmissa. O histriónico e polémico antigo trotskista, socialista e ministro da Educação apelou ao inquilino do Eliseu para que nomeie o quanto antes um executivo da NFP, dando a entender que ele, aos 72 anos, está mais do que pronto para o liderar. Opinião bem diferente é a dos demais dirigentes desta mega coligação das esquerdas que inclui ainda diversas personalidades centristas, da democracia cristã e neogaullistas (caso do ex-primeiro-ministro Dominique de Villepin). Na última terça-feira, o secretário-geral do PSF, Olivier Faure, também se disponibilizou para ficar com as chaves do Palácio de Matignon (residência oficial do chefe do governo), embora seja visto como um homem do aparelho socialista, sem rasgo nem capacidade para lidar com os desafios que o país enfrenta.

OÁSIS DE FRATERNIDADE!

Os socialistas têm plena consciência de que Macron, por razões táticas e de princípio, jamais aceitará Mélenchon como primeiro-ministro. Comunistas, ecologistas e restantes forças da NFP (no total, 46 partidos e movimentos) também acham que o líder da França Insubmissa deveria permanecer fora desta corrida, mas têm um problema prático, consequência de um pecado original: o acordo que fizeram para barrar o poder à RN, e que foi negociado em apenas cinco dias, não incluiu o nome de quem deveria liderar o executivo. Resultado: estão novamente em bolandas para concretizar esse objetivo nos próximos dias. E as personalidades consensuais escasseiam. A possibilidade de se escolher alguém da sociedade civil e com um perfil técnico, à semelhança do que sucedeu em Itália com Mario Draghi (2020-21) e Mario Monti (2011-2013), está praticamente excluída. Outra alternativa passaria por Laurent Berger, o antigo líder da Confederação Europeia de Sindicatos que já deu sobejas provas do seu talento negocial e conta com uma legião de admiradores – um deles é o decano dos intelectuais franceses, Edgar Morin, que, do alto dos seus 103 anos, lhe gabou as virtudes numa entrevista ao Libération e na qual apelou à camaradagem e à formação de “oásis de fraternidade” entre os seus compatriotas.

Ainda antes da ida às urnas, o antigo jornalista François Ruffin, um dos mentores da Nova Frente Popular com o eurodeputado Raphaël Glucksmann (ver caixa), ofereceu-se igualmente para rumar a Matignon e fazer frente a Macron. Neste momento, após ser reeleito para a Assembleia Nacional por um círculo (Somme, no Norte do país) que a NFP dava como perdido para a RN, não é de estranhar que mantenha o interesse no cargo. Sucede que Ruffin é um dissidente da França Insubmissa e possui demasiados anticorpos à direita e à esquerda, e sobretudo entre a entourage de Jean-Luc Mélenchon. Ou seja, em Paris poucos levam a sério as suas palavras quando repete que a vida política e os franceses “precisam de ternura” (ver entrevista com Diogo Sardinha). E tendresse não é exatamente um dos fortes dos melénchonistas.

MEUS, DESEMERDEM-SE!

Se o líder histórico da França Insubmissa ficar fora do jogo para liderar o governo, o partido já tem um plano B: avançar com Clémence Guetté, 33 anos, discípula de Jean-Luc e vice-presidente da Assembleia Nacional na última legislatura. Está bem de ver que todo este imbróglio favorece os interesses de Macron e lhe permite ganhar tempo. Segundo o site Político Europe, o Presidente não pretende convidar ninguém que lhe faça sombra e retire poder. Na reunião que teve com alguns colaboradores na noite de segunda-feira, a mensagem foi muito clara: “Desemerdem-se!”

A pátria do iluminismo continua a ter muitos fãs do poder popular e da ação direta

É por estas e por outras que muitos macronistas até há bem pouco tempo incondicionais perderam a paciência para o narcisismo e a arrogância do chefe de Estado. A começar por Gabriel Attal, que se deslocou nesse mesmo dia ao Eliseu para apresentar a demissão, algo que não foi aceite por Macron, face à imperiosa necessidade de “garantir a estabilidade do país”. Recorde-se que a pátria do iluminismo e dos direitos humanos tem uma imagem a defender. Além das questões burocrático-administrativas, está em curso a Volta a França em Bicicleta (termina a 21 de julho) e no final do mês começam os Jogos Olímpicos na Cidade Luz. Há questões práticas e logísticas que não podem ser deixadas ao acaso. Daí que o Presidente queira manter Attal e o governo com plenos poderes, nomeadamente em matéria orçamental e de segurança. Em simultâneo, aproveita-se das indefinições da NFP, que não dispõe de uma maioria clara nem escolheu ainda a tal figura com quem, melhor ou pior, terá de coabitar.

Se Attal e outros dirigentes da maioria presidencial já contam espingardas para 2027, ano em que Macron está constitucionalmente impedido de se recandidatar a novo mandato, Bruno Le Maire, o ministro da Economia, ainda alinha nas jogadas de bastidores e alerta para os perigos que as esquerdas representam: “A aplicação do programa de rutura da Nova Frente Popular destruiria os resultados da política que nós conduzimos nos últimos sete anos.”

No novo Parlamento, a idade média dos deputados aumenta para os 49 anos e, pela terceira legislatura consecutiva, o número de representantes femininas volta a baixar (só 208)

Para Le Maire, algumas propostas ocultam a “realidade económica” e são um ‘‘delírio total’’. Vamos a elas: aumento do salário mínimo para 1 600 euros líquidos mensais; aumentos na ordem dos 10% para os funcionários públicos, reintrodução do imposto sobre as grandes fortunas (abolido por Macron em 2017), revogação da reforma das pensões, diminuição da idade de aposentação para os 60 anos, agravamento das taxas sobre os lucros das empresas, agravamento da carga fiscal sobre os produtos importados (com base, por exemplo, na proveniência e nos quilómetros), congelamento dos preços da energia aos consumidores (gás e eletricidade), construção de 200 mil casas públicas por ano até ao final do mandato, criação de meio milhão de lugares em creches e infantários (que passariam a ser gratuitos), refeições a um euro (no máximo) em todos os refeitórios dos estabelecimentos de ensino público, redução da lotação das salas de aula a 19 alunos, etc., sem esquecer que os proponentes destas medidas asseveram que vão manter o país no euro, reforçar os investimentos em infraestruturas e continuar a defender as indústrias nuclear e de defesa.

MANU, BAZA!

No entender de mais de três centenas de académicos e intelectuais franceses (como Esther Duflo, a economista agraciada com o Nobel da Economia em 2019, ou Thomas Piketty, outra sumidade em questões de pobreza e desigualdade), o programa da NFT é realista e exequível. Centros de reflexão conotados com a direita liberal, casos do Instituto Montaigne e da Fundação IFRAP, discordam em absoluto. Esta última instituição, em colaboração com o diário Figaro, deu-se ao trabalho de quantificar o aumento da despesa pública se houver uma geringonça de esquerda no poder: 233 mil milhões adicionais por ano.

Quem vai mandar?

Principais candidatos à liderança do governo, de acordo com a imprensa francesa

Gabriel Attal
O vingador

Antigo militante socialista, tornou-se um macronista incondicional e é primeiro-ministro desde janeiro. Por discordar das estratégias do Presidente, demitiu-se nesta segunda-feira, 8, mas continuará em funções até haver alternativas. Com 35 anos, já pensa na corrida ao Eliseu, em 2027.

Laurent Berger
O desejado

Católico progressista, o antigo presidente da Confederação Europeia de Sindicatos é das poucas personalidades da sociedade civil que podem reunir consensos. Tem 55 anos.

Marine Tondelier
A ecologista

Especialista na gestão de estabelecimentos de saúde, a líder dos Verdes é um animal político, como se verificou nesta campanha eleitoral. Tem 37 anos e não esconde as suas ambições.

Raphaël Glucksmann
O intelectual

Filho e neto de filósofos, este ensaísta social-democrata foi um dos mentores dos entendimentos à esquerda e da Nova Frente Popular. É eurodeputado e tem 44 anos.


Um choque fiscal que, a concretizar-se, agravaria ainda mais a delicada situação da segunda maior economia da União Europeia. Com o défice nos 5,5% e dívida a representar 112% do PIB, Paris já está sob a pressão dos mercados e da própria Comissão Europeia, que lhe instaurou o chamado “procedimento por défice excessivo”. As entidades patronais reunidas no MEDEF e a associação francesa das empresas privadas (AFEP) também manifestaram as suas reservas quanto às intenções da Nova Frente Popular, mas preferem aguardar na expectativa de que ainda venha a formar-se uma coligação centrista que reúna o bloco presidencial, os republicanos e algumas forças de esquerda, em particular o PSF e os Verdes. Um cenário difícil. A única certeza, para já, é que França não pode ir a eleições antes de julho de 2025 e que o Presidente pode continuar a governar por decreto, graças ao amaldiçoado artigo 49, alínea 3, da Constituição. A 9 de junho, Emmanuel Macron prometeu aos seus compatriotas que as eleições legislativas iriam “clarificar” a situação política no país ou, para usar uma expressão que lhe é cara, “démêler la pelote de laine” (“desenrolar o novelo de lã”, numa tradução livre). A manter este rumo, habilita-se a bater recordes de impopularidade e a ouvir cada vez mais “Dégage!” (Baza!). 

DIOGO SARDINHA / Filósofo

‘‘Os cidadãos têm sido governados com muita brutalização’’

O académico da Universidade de Lisboa e o primeiro estrangeiro a presidir o Colégio Internacional de Filosofia de Paris considera urgente debater a eventual dissolução dos partidos que violam as regras democráticas

França e os franceses saem mais divididos destas eleições?
É difícil, teríamos de encontrar uma maneira de medir a divisão antes e a divisão agora. O sistema eleitoral francês a duas voltas permitiu que a União Nacional (UN) tenha recolhido o maior número de votos e seja o maior partido do novo Parlamento. Os partidos que constituem a Nova Frente Popular (NFP) estão divididos e vão separar-se em vários grupos parlamentares. No final da noite de domingo, ouvi um discurso bastante interessante de um deputado eleito por uma margem tangencial, contra uma candidata da UN, numa antiga região operária, devido ao efeito da barragem republicana. François Ruffin [dissidente da França Insubmissa e um dos mentores da NFP], afirmou: “Não podemos brutalizar as pessoas e devemos governar com respeito e ternura.” Isto pareceu-me inovador…

Em que medida?
Por se tratar, talvez, de uma busca para superar as divisões e os conflitos. Tem havido muita brutalização no discurso político, na forma como os cidadãos são governados. Pensemos na resposta que foi dada aos coletes amarelos, às manifestações organizadas pelos sindicatos, nomeadamente contra a reforma das pensões. Tem havido um grande desprezo pelas camadas do eleitorado que têm vindo a votar na UN: os trabalhadores rurais, as pessoas deixadas ao abandono pelo simples funcionamento da economia, com as perdas de rendimento, com a redução dos serviços públicos, a falta de serviços médicos de proximidade…

Essa fórmula do respeito e da ternura será a melhor para apaziguar a sociedade francesa?
Não é só a sociedade francesa e não há receitas milagrosas. O que é necessário é ir falar com as pessoas, estar no terreno. Em parte, é o que a UN tem conseguido fazer. Ou se muda o estilo de fazer política ou, no médio e no longo prazo, a extrema-direita continuará a crescer.

Um enorme desafio…
A extrema-direita já deu provas de ter muita paciência. Perdem muitas vezes e nunca renunciam. Agora, em França, ficam com um grupo esmagador de deputados e vão usufruir de meios adicionais através das recompensas financeiras do Estado. A mesma coisa acontece no Parlamento Europeu.

É um paradoxo? A UN sai vitoriosa deste processo?
Do ponto de vista político imediato, é uma derrota retumbante. A arte da política consiste em converter derrotas, num dado momento, em vitórias futuras.

Ser oposição beneficia a UN?
Não tenho capacidade para fazer esse tipo de análise. Parece-me mais importante sublinhar a conjuntura. Em Portugal devíamos questionar-nos sobre o que podemos aprender com a experiência francesa. No Parlamento Europeu acaba de formar-se um novo grupo, que reúne a UN, o Chega, o Vox e outros partidos do género, promovido pelo primeiro-ministro húngaro. Face a este grupo de movimentos, e aí França tem algo a ensinar-nos, temos o dever de suscitar o debate sobre se devemos aceitar a sua existência e eventual dissolução.

Um debate complicado…
Pode parecer radical, mas creio ser urgente. Nós, em Portugal, saímos de uma ditadura há 50 anos. Queremos ter um regime semelhante ao que existe na Hungria? Nós que somos os filhos e os netos da geração que lutou pela liberdade e pela democracia, vamos aceitar isto?

Qual é a sua resposta, enquanto cidadão?
Tal como a lei proíbe os discursos de ódio, considero que deve haver uma solução legal para interditar os partidos que representam uma ameaça vital para o sistema.

As turras da coabitação

Com o fim do regime de Vichy e da ocupação nazi, os franceses deram início à IV República, um período conturbado e de grande instabilidade política. Em 1947, o socialista Léon Blum, o então primeiro-ministro, advertiu que o país, “as liberdades cívicas e a paz pública” estavam ameaçados devido à violência política, às greves e à incapacidade dos partidos de se entenderem. A questão é resolvida pelo general Charles de Gaulle que, em 1958, fez aprovar uma nova Constituição a reforçar os poderes presidenciais em detrimento da Assembleia Nacional. Nascia a V República. 

1986-1988 François Mitterrand vs. Jacques Chirac
Pela primeira vez em três décadas, os franceses tiveram um Presidente e um primeiro-ministro de diferentes famílias políticas. Nesta “coabitação combativa”, Chirac (conservador) acusou Mitterrand (o chefe de Estado socialista) de nunca o deixar dormir numa “cama de rosas”.

1993-1995 François Mitterrand vs. Édouard Balladur
Na sequência da derrota socialista nas legislativas de março de 1993, Mitterrand, enfraquecido, aceita nomear o antigo ministro da Economia e secretário do falecido Presidente Pompidou. Não se deram mal e protagonizaram a Coligação do Veludo.

1997-2002 Jacques Chirac vs. Lionel Jospin
A vitória das esquerdas, com maioria absoluta, nas legislativas de 1997 obriga Chirac a nomear um socialista para liderar o governo. Apesar da rivalidade (iam ambos às cimeiras europeias), aprovaram a reforma da Constituição (mandatos presidenciais passaram de sete para cinco anos) e a semana de 35 horas de trabalho.

Todos os anos, o concurso internacional de fotografia Comedy Pets Awards (Prémio dos Animais Domésticos Mais Cómicos, numa tradução livre do Inglês) escolhe as 30 imagens finalistas muito divertidas.

Este ano não é exceção, e na VISÃO Júnior deste mês encontras uma BD original, em que os protagonistas são alguns dos finalistas do concurso… e o grande vencedor.

Um gato karateca, dois felinos obcecados por rolos de papel higiénico, cães iguaizinhos aos seus donos (ou o contrário!), um cavalo sem cabeça e um burro sorridente: vais conhecê-los a todos e ainda outros. E rir-te muito, claro! Não percas na tua revista preferida.

Boas leituras. Diverte-te!

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Os alfaiates de violinos

Miguel e Filipa Mateus constroem instrumentos de corda, à mão, numa loja-oficina no Porto

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Os heróis portugueses que vão às Olimpíadas

Os Jogos Olímpicos de Paris têm início no dia 26 de julho. Do programa fazem parte 32 modalidades desportivas e Portugal vai competir em 14*. Conhece alguns dos bravos heróis que se preparam para ir à conquista das medalhas

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Paula Barroso

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Quando era criança, Miguel Mateus, 50 anos, sonhava ser violinista. Começou a tocar violino na igreja próxima de casa dos pais, mas acabou por não conseguir estudar música e realizar esse sonho. Mais tarde, já adolescente, visitou a oficina de um violeiro e “apaixonou-se pela anatomia do instrumento”, recorda.

E, então, pensou: “Porque não tornar-me um luthier?”, conta-nos, na Oficina dos Violinos, que abriu no Porto há quase 30 anos e que, além de ser um ateliê, é também uma loja de venda e aluguer de instrumentos de corda.

Mas, afinal, o que é um ‘luthier’? É um artesão especialista na construção, reparação e ajuste de instrumentos musicais de cordas. Miguel costuma dizer que “um luthier é como um alfaiate, porque sabe fazer um fato [neste caso, um violino] à medida de cada um”.

Oficina dos Violinos, Miguel Mateus e Filipa Mateus

O seu ofício necessita de combinar a arte de marcenaria (o trabalho com madeira) com conhecimentos de música. E não há muitas pessoas a fazê-lo em Portugal. Aliás, nem sequer existe uma escola onde se aprenda a construir violinos, violas de arco ou violoncelos.

Miguel teve de aprender sozinho, com a ajuda de alguns especialistas (como o luthier inglês, John Nabok) e através de cursos que fez em Itália e em Inglaterra.

Mais tarde, conheceu a mulher, Filipa, que, apesar de ser formada em Física, se apaixonou pelo arco que é necessário para que estes instrumentos de corda deem música. “O arco é como a extensão do braço”, diz-nos. Depois de ter frequentado um curso em Lausanne, na Suíça, onde aprendeu a construir e a reparar um arco, Filipa tornou-se uma archetier (palavra francesa que significa construtora de arcos).

Miguel e Filipa Mateus tornaram-se, assim, dos poucos casais (senão o único) a construir instrumentos de corda no seu ateliê, no Porto – que mais parece uma oficina, cheia de moldes, pedaços de madeira, serrotes, martelos, canivetes e pincéis!

Um violino é feito com dois tipos diferentes de madeira: abeto ou ácer. Pode demorar dois meses a ficar pronto, porque tudo é feito à mão: do corte da madeira (para formar o corpo do violino, a parte da frente e de trás) aos furos na voluta, à pestana e ao cavalete que vai segurar as cordas, à colocação da alma (um pauzinho, com cerca de quatro centímetros, que é o meio de transporte do som do tampo superior para as costas), até ao verniz com o qual se pinta o instrumento.

Já Filipa demora duas semanas a construir o arco, feito com crinas (caudas de cavalo), sobretudo, de animais que vivem em ambientes frios e ao ar livre, como na Sibéria e na Mongólia. A vara que segura o arco é feita de madeira de Pernambuco.

Miguel e Filipa dizem que, tal como nas histórias de Harry Potter, em que as varinhas escolhem os mágicos, também “os arcos escolhem os músicos, porque estes podem ser mais ou menos flexíveis”. E, como o violino, também a vara e o arco são feitos à mão, com muita, muita paciência.

Como se faz um violino

A partir dos moldes, corta-se a madeira (costas e tampo superior) para a construção do corpo do violino
A madeira tem de ficar com uma espessura fininha. Nas costas, usa-se ácer e, no tampo superior, o abeto (é mais leve)
Na voluta fazem-se furos para o encaixe das cravelhas, pequenas peças que servem para enrolar as cordas e afinar o violino
Miguel coloca a “alma” (um pequeno pauzinho, essencial para a vibração do som) no interior do violino, unindo os tampos inferior e superior

O arco, passo a passo

Depois de esculpida a madeira, a vara é levada ao fogo para ficar com uma curvatura que dará estabilidade ao arco
Filipa analisa os fios das crinas, já lavadas e tratadas, para confirmar se não têm nós ou imperfeições
As crinas começam a ser colocadas no talão (uma peça em ébano), que vai encaixar na vara através de um parafuso
O processo final é pentear as crinas já esticadas, para confirmar se estão paralelas e não têm cabelos cruzados

Sabias que…

… A palavra luthier é francesa e começou a ser usada para identificar os construtores de alaúde (um instrumento antigo da família dos cordofones)? Há registos desta profissão desde o século XVIII, mas acredita-se que tenha nascido muito tempo antes.

Alguns dos luthiers mais importantes nasceram em Cremona, Itália – cidade onde Miguel Mateus aprendeu a construir e a reparar instrumentos de corda –, como Antonio Stradivari (nasceu em 1644, e calcula-se que tenha construído cerca de 1100 instrumentos, entre violinos, violas e violoncelos), Nicola Amati (1596), que foi professor de Stradivari, e, entre outros, Guarneri del Gesù (1698).

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O melhor de sempre
Diogo Ribeiro, 19 anos, natação

Foto: Marcos Borga

Neste ano, sagrou-se campeão do mundo nos 50 e nos 100 metros mariposa. Nunca um português tinha realizado tal proeza. Em Paris, vai competir nas provas de 50 e 100 metros livres e 100 metros mariposa. O nadador do Benfica detém recordes nacionais nestas três provas, tornando-se assim o melhor português de sempre na modalidade.
Curiosidade: Tem uns “calções da sorte” que usa nas competições

Boa onda
Teresa Bonvalot, 24 anos, surf

Foto: Matt Dunbar/World Surf League via Getty Images

É a segunda vez que participa nos Jogos Olímpicos. Nos últimos, em Tóquio, ficou na nona posição. Cinco vezes campeã nacional, a primeira em 2014, com 14 anos, e a última este ano. Nestes Jogos, uma vez que Paris é uma cidade do interior, a nossa atleta vai lutar por medalhas do outro lado do mundo, pois as provas serão no Taiti, onde há uma das mais famosas ondas do planeta!
Curiosidade: A sua banda preferida são os Queen

O homem voador
Pedro Pichardo, 31 anos, atletismo

Foto: John Berry/Getty Images

Pichardo é um dos cinco atletas na história que conseguiram ultrapassar a marca dos 18 metros no triplo salto (em 2015, chegou aos 18,08 m). Nos Jogos de Tóquio, trouxe para Portugal a medalha de ouro, graças a um salto de 17,98 m. Agora, vai a Paris tentar repetir o feito e, quem sabe, bater um novo recorde.
Curiosidade: Em Cuba, onde nasceu, era a irmã Rosalena quem cuidava dele

Tiro certeiro
Inês Barros, 22 anos, tiro

Esta será a primeira vez que uma portuguesa compete na modalidade de tiro com armas de caça. Mas, calma, não vai caçar nenhum animal! O objetivo é acertar em 25 discos que são lançados no ar. A pontaria de Inês valeu-lhe, em 2023, o título de Campeã da Europa e, agora, vai para Paris à conquista do ouro.
Curiosidade: Gosta de ouvir funk

A velejadora apaixonada
Mafalda Pires de Lima, 26 anos, vela

Portugal estreia-se na modalidade de formula kite com a velejadora portuense, e esta é também a primeira vez que esta classe da vela faz parte das Olimpíadas. Mafalda começou a praticar kitesurf aos 7 anos e o mar é a sua paixão.
Curiosidade: Tem medo de peixes

Supreendente saltadora
Agate Sousa, 24 anos, atletismo

Foto: ANNE-CHRISTINE POUJOULAT/AFP via Getty Images

No salto em comprimento, a atleta benfiquista vai tentar superar o seu recorde pessoal: 7,03 m. Esta marca faz dela a segunda melhor portuguesa na modalidade (Naide Gomes foi a primeira a passar dos 7 m) e está entre as 25 melhores do mundo. Este ano, conseguiu a quinta melhor marca no salto em comprimento feminino.
Curiosidade: Gostava de tirar o curso de Criminologia

O rei do skate
Gustavo Ribeiro, 23 anos, skate

Foto: Lintao Zhang/Getty Images

É, sem dúvida, o melhor skater português e um dos melhores do mundo. Já conta com vários títulos e medalhas, mas a sua maior vitória foi a Super Crown, em 2022. Em Tóquio, ano em que o skate se estreou como modalidade olímpica, terminou em 8.º lugar. Em Paris, espera chegar ao pódio. “Queria muito um dia ser medalhista, muito, muito”, confessou.
Curiosidade: Cristiano Ronaldo é o atleta que mais o inspira

O papa-medalhas
Fernando Pimenta, 34 anos, canoagem

Na canoagem, não há outro como ele. Já participou em três Olimpíadas e trouxe duas medalhas. Nos Jogos de Londres, em 2012, venceu a prata na prova de k-2 (canoa com dois atletas), com Emanuel Silva; em Tóquio, em 2020, conseguiu o bronze, na prova de 1000 m K-1 (sozinho). O objetivo em Paris é conquistar a terceira medalha olímpica, o que nenhum português ainda conseguiu. De preferência, de ouro. Ficamos a torcer!
Curiosidade: Considera-se um dos atletas mais fortes do mundo

Nas águas do Sena
Angélica André, 29 anos, natação

A nadadora do FCP vai atirar-se às águas do rio Sena, que atravessa Paris, para participar na maratona aquática, em que terá de nadar 10 quilómetros. É a segunda vez que participa nas Olimpíadas, mas em Tóquio ficou-se pelo 17.º lugar, por isso diz que se quer “vingar”. Este ano já ganhou o bronze no Mundial de Natação em Águas Abertas, o que nunca um nadador português tinha conseguido.
Curiosidade: É ágil em quase todos os desportos

O bom gigante
Jorge Fonseca, 31 anos, judo

Começou a praticar judo na escola e nunca mais parou. Nem de praticar, nem de ganhar medalhas. O judoca já participou nos Jogos de Tóquio, onde conquistou o terceiro lugar do pódio, mas a coleção de medalhas que foi ganhando em campeonatos nacionais, europeus e mundiais é muito grande. Um dos seus maiores triunfos foi sagrar-se campeão mundial (na categoria -100 kg), em 2019 e em 2021.
Curiosidade: O seu sonho era ser polícia

*esta era a informação disponível no momento em que escrevemos este artigo, mas o número pode aumentar

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Cinco anos após o primeiro pódio internacional, a equipa alcançou novamente o segundo lugar, desta vez com o protótipo São Rafael 03, um marco significativo para o projeto fundado em 2015. O Técnico Solar Boat é composto por alunos de diversos cursos de Engenharia do Instituto Superior Técnico (IST), especializados em construir embarcações movidas a energias renováveis. Desde a sua criação, a equipa passou de um pequeno conjunto de alunos de engenharia naval para um grupo com mais de 60 membros de variados departamentos da instituição.

O projeto teve início com o desenvolvimento do primeiro protótipo dois anos após a fundação do projeto no IST, dando origem à série São Rafael, movida a energia solar. O São Rafael 03, o mais recente, estreou-se em competições em 2021. Em paralelo, a equipa expandiu-se para a construção de protótipos movidos a hidrogénio, com o São Miguel 01 em 2021, o primeiro em Portugal, seguido do mais competitivo São Miguel 02, desenvolvido em 2024.

Em 2023, o Técnico Solar Boat concluiu o desenvolvimento do São Pedro 01, uma embarcação não tripulada movida a energia solar, equipada com navegação autónoma e controlo remoto. Este protótipo compete no NJORD Autonomous Ship Challenge na Noruega, onde venceu a competição remota em 2022 e alcançou o segundo lugar em 2023 na cidade de Trondheim.

Miguel Gil, líder de equipa do Técnico Solar Boat, expressou, em comunicado, o sentimento da equipa: “É com imenso orgulho que temos a oportunidade de representar Portugal e o Instituto Superior Técnico nesta competição de grande relevância para a promoção da mobilidade elétrica e das energias renováveis. Continuamos empenhados em demonstrar a excelência e a inovação que caracteriza a nossa equipa, sendo que este é apenas mais um passo num caminho emocionante para o Técnico Solar Boat, à medida que estabelecemos objetivos cada vez mais ambiciosos para um futuro sustentável”.

O Monaco Energy Boat Challenge, organizado pelo Yacht Club de Monaco, é uma competição de embarcações elétricas movidas a energias renováveis, que reúne equipas de todo o mundo. Esta foi a oitava participação da equipa do Técnico no evento, tendo anteriormente alcançado o segundo lugar em 2019 com o São Rafael 02 e o terceiro lugar com o São Rafael 03 em 2022.

A competição divide-se em três classes: Solar, Energy e SeaLab. A classe Solar, a mais antiga do evento, reúne embarcações movidas a energia solar. O São Rafael 03 competiu nesta categoria pela quarta vez, com painéis solares fabricados pela própria equipa.

Na classe Energy, catamarãs com flutuadores fornecidos pelo Yacht Club, a equipa do Técnico foi pioneira na utilização de hidrogénio como fonte de energia, tendo recebido prémios de inovação em 2020, 2022 e 2023.

A classe SeaLab é reservada para embarcações elétricas de maior porte, geralmente apresentadas por empresas.

A equipa do Técnico Solar Boat destacou-se por ser a única a participar simultaneamente nas classes Solar e Energy, inicialmente com o São Rafael 03 e o São Miguel 01 em 2021, e agora com o São Miguel 02. Na competição deste ano, a equipa alcançou o segundo lugar na classe Solar, repetindo o feito de 2019 com o antecessor do São Rafael 03. Adicionalmente, foi-lhe atribuído o Eco-Conception Prize pelo design sustentável do São Miguel 02.

O acordo entre a .PT, entidade responsável pela gestão do domínio de topo português, e a Polícia de Segurança Pública (PSP) tem como objetivo a troca de conhecimento e o desenvolvimento de novas capacidades na área da cibersegurança. A colaboração abrange diferentes temas, desde o desenvolvimento de ferramentas de apoio à investigação e operações conjuntas até à formação e qualificação de recursos humanos.

Pedro Gouveia, diretor nacional adjunto da PSP, destacou a importância da parceria em comunicado: “No desempenho da sua missão, a PSP necessita de capacitar os seus recursos humanos com as mais recentes técnicas e ferramentas que permitam a sua atuação no ciberespaço e no combate ao cibercrime. Esta parceria com o .PT permitirá o acesso a conhecimento especializado e a ferramentas cruciais para o desempenho eficaz das nossas funções no combate à cibercriminalidade.”

Por sua vez, Luisa Ribeiro Lopes, presidente do conselho diretivo do .PT, sublinhou o compromisso da entidade com a segurança digital: “Vivemos tempos em que a segurança do mundo digital é tão crucial quanto a do mundo físico. Proteger os cidadãos e as empresas portuguesas no ciberespaço é uma responsabilidade que o .PT assume com grande seriedade.”.

A cerimónia de assinatura do acordo, que decorreu nesta semana, a 9 de julho, contou com a presença de várias personalidades da PSP e do .PT, reafirmando o compromisso conjunto de ambas as instituições na luta contra o cibercrime e na promoção da segurança digital em Portugal.

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