A Mobi.E registou uma média diária de 22979 carregamentos de veículos elétricos durante o mês de maio, resultando em mais de 712 mil carregamentos pela primeira vez, num único mês. O mês que agora terminou foi o melhor de sempre em todos os principais indicadores: número de carregamentos, número de utilizadores e energia consumida, anunciou a Mobi.E em comunicado de imprensa. Face ao mesmo mês do ano passado, este consumo representa um aumento de 45%. Em termos de consumos, os 15,8 GWh representam mais 59% em relação a maio de 2024.

Olhando para o total acumulado do ano, vemos que o número de carregamentos ultrapassou os 3,2 milhões, um aumento de 47% face ao mesmo período de 2024. No final do mês, a rede disponibilizava 6329 postos, o que se traduz em 11779 pontos de carregamento (ou seja, tomadas que podem estar a carregar em simultâneo). Outro destaque é que, destes, mais de 2420 eram de carregamento rápido ou ultrarrápido, o que representa mais de 38% do total da rede.

No que toca a poupança ambiental, a utilização da rede Mobi.E em maio evitou que fossem emitidas para a atmosfera mais de 12780 toneladas de dióxido de carbono, um novo recorde. Seriam necessárias mais de 210 mil árvores em ambiente urbano com 10 anos para reter este volume de CO2 .

Em média, existem atualmente 96 tomadas por 100 quilómetros de estrada e 131 tomadas de carregamento por cada cem mil habitantes.

Era um dos mais notáveis e premiados fotógrafos portugueses, com uma carreira de quase sete décadas, mas são as suas centenas de fotos da Revolução dos Cravos que o tornaram um ícone da fotografia portuguesa.

Nascido a 16 de fevereiro de 1935, em Sacavém, às portas de Lisboa, Eduardo Gageiro começou a trabalhar aos 12 anos na Fábrica da Loiça de Sacavém. Foi aí, pela convivência com artistas, como escultores e pintores – mas também com operários fabris -, que decidiu que queria ser fotojornalista. Começou em 1957, no Diário Ilustrado, a carreira que haveria de elevar o seu nome no mundo da fotografia. Passou por vários outros órgãos, incluindo Diário Ilustrado, O Século Ilustrado, Eva, Almanaque, Match Magazine, revista Sábado, Associated Press e a Presidência da República.

Exposição “Factum”. Foto de Mário Borga

No 25 de Abril de 1974, Eduardo Gageiro captou algumas das imagens da Revolução que hoje fazem a nossa memória daquele dia, desde os militares no Terreiro do Paço ao assalto à sede da PIDE, passando pela foto do militar a retirar da parede um retrato de Salazar. Pode dizer-se que foi ele quem fotografou a alma do 25 de Abril.

Multipremiado, Gageiro destacou-se pela sensibilidade e olhar humanista. No ano passado, 170 das suas fotos do 25 de Abril constituíram a exposição “Factum”, na Cordoaria Nacional, para celebrar os 50 anos da Revolução. Durante os quase quatro meses que durou a exposição, o próprio Eduardo Gageiro ia, aos sábados à tarde, fazer visitas guiadas e contava ao público as histórias por detrás das imagens.

Morreu hoje, aos 90 anos, em Lisboa.


Henri Cartier-Bresson eternizou o “instante decisivo” para falar do momento em que, como por milagre, numa só imagem, se reúne o controlo perfeito do tempo e do espaço.

No caso desta fotografia, captada na manhã do dia a que Sophia de Mello Breyner Andresen chamou “inicial, inteiro e limpo”, juntou-se-lhe também o sentido da História. Naquele “instante decisivo”, o Regimento de Cavalaria 7 acabara de aderir ao Movimento dos Capitães revoltos. Ainda estavam no Terreiro do Paço, ainda não haviam subido em apoteose até ao Largo do Carmo. Maia Loureiro faz um “v” de vitória com os dedos. Ao seu lado, Salgueiro Maia está comovido, e morde o lábio para não chorar.

Não raras vezes, a História também é feita de mitos. Mas, aqui, foi o próprio Salgueiro Maia – herói de Abril, avesso a protagonismos e a entronizações – que haveria de o confessar, 14 anos mais tarde, em entrevista ao escritor e jornalista Fernando Assis Pacheco (entrevista compilada no livro Retratos Falados). “É que o 25 de Abril venceu-se ali”, explicou. “O brigadeiro grita para o cabo apontador dispara! e o cabo apontador não diz nada. Dispara! E o cabo apontador continua a não disparar. Aqui é que se ganhou o 25 de Abril. Porque o cabo apontador, que não tinha nada em comum connosco, não nos conhecia de lado nenhum, que tinha um brigadeiro – e nessa altura um brigadeiro era também Jesus Cristo – a berrar para ele dispara, dispara!, e ele recusa-se a disparar… Mas a cena mais bela é que o cabo sai da viatura e vem juntar-se a nós. Se há uma
insubordinação, uma sublevação, essa sublevação e essa destruição de uma estrutura é o cabo que as faz.”

Eduardo Gageiro tinha 39 anos e uma Canon nas mãos. Nesse dia e nos seguintes, Gageiro gastou “20 e tal rolos” (“não tinha mais”). Salgueiro Maia comprava todas as semanas O Século Ilustrado e, nessa madrugada, ainda antes do “instante decisivo”, reconheceu o fotógrafo e puxou-o para fixar o lado certo da História.

“Por favor, leve-me ao comandante porque sou amigo dele.” Não era amigo, nem sabia quem era, mas o soldado que lhe barrava o caminho levou-o até Salgueiro Maia. E foi assim que Eduardo Gageiro começou a fotografar a revolução. “Nessas alturas, temos de estar de alma e coração e, aconteça o que acontecer, o que interessa é fazer a imagem”, disse numa entrevista em que recordava esse dia.

E fez muitas das imagens mais icónicas do 25 de abril de 1974 que estiveram na exposição Factum, integrada na celebração oficial dos 50 anos do 25 de Abril, organizada pelas Galerias Municipais/EGEAC.

O que pode ver aqui é uma selação de 10 dessas 170 fotografias:

O novo tapete de rato da Razer materializa uma ideia com que a fabricante já experimentou noutros produtos: carregar o rato através de tecnologia wireless enquanto o mesmo está a ser utilizado. Recorde-se que a Logitech tem um sistema patenteado que já faz isso mesmo, o PowerPlay Wireless Charging System.

A solução da Razer custa 120 dólares e vai chegar ao mercado em duas versões. Uma que tem uma superfície mais rígida, e que já está disponível, e outra com um revestimento de tecido, mais suave, e que deve ficar disponível mais tarde, ainda este ano. No passado, o Razer HyperFlux custava 249,99 dólares e fazia parte de um pacote onde se incluía o rato Mamba HyperFlux. No caso do V2, não há qualquer rato a acompanhar, mas a Razer informa que a solução é compatível com os modelos Basilisk V3 Pro 35K, Basilisk V3 Pro, Cobra Pro e Naga V2 Pro, cujos preços variam entre os 129,99 e os 179,99 dólares, noticia o The Verge.

Para o V2 funcionar, é necessário ligar um adaptador especial no fundo dos ratos suportados que assegura o carregamento da bateria sem fios, enquanto o periférico é utilizado e está no cimo do tapete. Há um indicador LED que indica o nível da carga da bateria através de um código de cores.

Além de carregar a bateria do rato, o tapete V2 serve também de recetor para conectar ratos e teclados, sem fios, a um computador, através da tecnologia proprietária HyperSpeed, que a Razer diz ser mais rápida que o Bluetooth.

A pele humana é um microbioma rico em bactérias, fungos e vírus, todos com responsabilidade de formar a nossa saúde, promovendo a imunidade e defendendo-nos de doenças. Ao alimentar-se de nutrientes na nossa pele, estes organismos geram subprodutos com moléculas ativas que podem influenciar e interagir com as nossas células. Um estudo publicado no Journal of Investigative Dermatology descreve como certas bactérias podem funcionar como protetor solar natural.

A equipa de investigadores conta que estes micróbios conseguem neutralizar as alterações imunitárias induzidas pela exposição aos raios UV e ajudar as defesas naturais do corpo a combater os efeitos nocivos da exposição solar. Os cientistas focaram-se especificamente nos raios solares UVB e estudaram os efeitos destes na pele de ratos.

No início dos trabalhos, a pele dorsal dos ratos foi depilada e recebeu uma camada de ácido cis-urocanico dissolvido em água. O ácido urocanico é um composto natural presente na pele humana e a forma cis é produzida pela radiação ultravioleta, tendo um papel na proteção da pele contra os danos UV e na modulação da resposta imunitária, podendo desencadear inflamações e tornar a pele mais vulnerável a cancros.

Os investigadores descobriram que há bactérias específicas, presentes na pele de humanos e de ratos, que, quando expostas a luz UV, começam a produzir uma enzima que consegue quebrar as moléculas do ácido cis-urocanico em componentes inofensivos. Nessas experiências, percebeu-se ainda que há bactérias que fazem parte da microbiota humana e que podem usar partes destas moléculas ‘quebradas’ como fonte de nutrientes.

O ácido cis-urocanico também é benéfico, com a sua aplicação em células cancerígenas a poder resultar na eliminação de tumores. É no caso da sua acumulação na pele que se notam os efeitos prejudiciais, nomeadamente na imunossupressão, lembra o New Atlas.

Este estudo e as suas descobertas podem ajudar a desenvolver tratamentos tópicos que não só bloqueiam os danos causados pelos raios UV como também ativamente os reparam.

Vamos começar por constatar o óbvio: o Huawei Watch Fit 4 Pro parece-se muito com um Apple Watch Ultra. Em termos de design, é o mesmo território. No entanto, não estamos a ser depreciativos. Independentemente das semelhanças físicas, o Huawei Watch Fit 4 Pro não é uma cópia barata. Sim, é mais acessível, mas, considerando as características e o desempenho, e a relação qualidade/preço é uma grande mais valia.

Começando pelo que está à vista, o Huawei Watch Fit 4 Pro tem um corpo de alumínio. O ecrã é feito de vidro de safira e a respectiva moldura é de titânio. Esta combinação confere-lhe uma mais-valia importante: é um smartwatch muito leve. Considerando que é um produto vocacionado para monitorizar a atividade física, nunca é demais sublinhar a importância deste pormenor.

Um ecrã competente

O ecrã AMOLED de 1.82’’ com 3000 nits de brilho máximo confere-lhe uma nitidez ótima, mesmo sob luzes fortes e ao ar livre. Neste aspeto, nada há a apontar. A promessa é cumprida na sua plenitude. Durante o período de teste, não surgiu qualquer situação em que a informação no ecrã se tornasse ilegível.

Pela negativa, o exemplar usado para teste vinha com uma pulseira de nylon verde (uma das três opções disponíveis) e, por mais ‘pandã’ que faça com o mostrador, não é propriamente a opção mais elegante. Da mesma forma, por mais confortável que seja (e que é, de facto), suja-se com extrema facilidade e torna imperativo um cuidado adicional na sua manutenção e limpeza. As pulseiras em fluoroelastômero, disponíveis em preto e azul, talvez sejam uma opção mais lógica para quem dispensa essa preocupação adicional.

Veja imagens abaixo:

Controlar a saúde

Um ponto forte do Huawei Watch Fit 4 Pro face aos modelos anteriores (e mesmo face à versão mais básica) é o vasto leque de opções de monitorização de saúde e bem-estar (nomeadamente de bem-estar emocional) graças ao poderoso sistema Huawei TruSense. De forma intuitiva, a aplicação ajuda-o a estar atento às emoções e, inclusive, dá-lhe acesso a treinos e exercícios de respiração para o ajudar a relaxar e a recuperar o equilíbrio entre corpo e mente. Paralelamente, tem disponível a monitorização do ciclo menstrual e da higiene do sono.

Uma das opções exclusivas da versão Pro do Watch Fit 4 é a aplicação ECG, cuja tecnologia de elétrodos foi melhorada para ser mais precisa e sensível. No entanto, é neste momento que convém sublinhar que os dados recolhidos por estas aplicações são apenas para referência pessoal e não substituem de forma alguma um diagnóstico médico. Importa também referir que se torna imprescindível ter a aplicação Huawei Health instalada no smartphone para ter um maior controlo e melhor perceção dos dados recolhidos pelo smartwatch.

Em termos de desempenho, sobretudo de autonomia da bateria, o Huawei Watch Fit 4 Pro tem uma prestação imaculada. Compatível tanto com Android como com iOS, apesar de a integração não ser total com este último sistema (na reprodução de música, por exemplo), a robustez e fluidez do seu software é digna de registo. E no que toca à autonomia, a bateria do Watch Fit 4 Pro dura 10 dias ou mais (assumindo uma utilização regular, mas moderada). E quando for preciso recarregar, uma carga completa demora pouco mais de uma hora — mas numa situação de emergência, bastam 20 minutos para atingir os 35%.

Dito isto, o Huawei Watch Fit 4 Pro não representa uma revolução nos smartwatches e também não podemos afirmar que a evolução seja amplamente significativa, mas podemos dizer que o salto qualitativo que foi dado no aperfeiçoamento da tecnologia e a inclusão de funcionalidades exclusivas neste modelo Pro fazem deste smartwatch uma escolha adequada para quem procura um desempenho de alto nível a um preço mais acessível.

*Texto: Marco Oliveira

Os mais otimistas dizem que vivemos um novo Iluminismo. A luz está por todo o lado. Mas não é daquela que inspira poetas, cientistas, santos ou até lunáticos. É a luz fria de hospital, dos ecrãs, das notificações a tocar, como sinos em aldeia onde já quase só vivem descrentes.

Se é verdade que nunca houve tanta informação, também não é mentira que nunca houve tanto ruído. Num universo cada vez mais carregado de respostas à distância de um polegar, nunca nos sentimos tão perdidos, tão desorientados, tão vulneráveis a intrujas que chegaram para nos caçar a atenção. Somos veados a meio da estrada, encandeados, não por faróis de carros, mas pelo atropelo violento da desinformação. Os condutores vão em excesso de tudo, menos de verdade, e raramente perdem alguma coisa, muito menos pontos na carta.

Há uma nova leva de vendedores porta-a-porta e de testemunhas beatas. Novos evangelistas de feed, vendedores de salvação, guardadores de segredos que a ciência rejeita e a imprensa desconfia. Já não nos batem à porta com aspiradores ou enciclopédias, mas vão vendendo verdades em segunda mão, milagres para todas as dores da alma, superstições adaptadas à constituição e aos demónios do parlamento. Se antes pediam licença para entrar, hoje atravessam-se sem cerimónia à nossa frente na timeline ou até no noticiário, à hora de jantar. Já não nos querem falar de Jesus, mas de pandemias, planos secretos para nos substituir, conspirações que vamos ouvindo passivamente em surdina, que o tempo não dá para tudo e questionar é luxo que não cai bem na nossa moleirinha formatada para o preconceito.

Ainda somos um país de portas entreabertas. Entre a cortesia e o cansaço, vamos deixando passar qualquer promessa de redenção, qualquer segurança de um perigo distante, mesmo que seja paga a pequenas prestações que nos sairão demasiado caras. Uns são feiticeiros de gravata, outros curandeiros de carrapito. Uns passam receitas para almas cansadas ou aborrecidas, vendem detox de espírito e mezinhas de autoconfiança; outros chafurdam de tanga em ethos lamacento manosferiano, convidando-nos a mergulhar em teorias de machões, mesmo quando parecem nem gostar assim tanto de mulheres. Outros, ainda, assumem-se como profetas do medo, espalhando a palavra, seja ela sobre Gates, a vacina, o refugiado ou o senhor estrangeiro da mercearia que olha durante demasiado tempo para as raparigas. Vendem livros quase sagrados, editados à pressa, e programas orçamentais de salvação, depois fazem queixinhas sobre o peso da cruz da perseguição de uma imprensa que insiste em apontar-lhes a mentira, onde juram a pés juntos encontrar verdade.

É uma nova forma de folclore. Respostas simples para acontecimentos complexos, que o escuro é farto em vilões quando a razão não topa o que ele esconde. Teorias conspirativas sedutoras, que acendem luz sobre o vazio, exímias a agregar medos e desconfianças que tendem a tocar à maioria. O problema é que o excesso de luz não ilumina, cega. Nesta estranha devoção ao novo deus da desinformação, quanto mais a ciência explica, mais o povo saliva por mistério, superstição e impulso medieval. Na falta de critério, atiram-se pedras em vez de perguntas.

Para alguns é pobreza de espírito, mas eu vejo mais pobreza de tempo. Dez horas de trabalho, mais um par delas no trânsito, os trabalhos de casa dos filhos, o jantar por fazer… Pouco nos sobra para pensar. Restam pequenas migalhas de energia, que juntamos e engolimos à pressa com a explicação que nos pareça mais fácil, mesmo que nos prometa um milagre de pedrinha debaixo da almofada.

Ainda há quem acredite que a verdade reaparece naturalmente com um mercado livre de ideias, mas essa teoria dificilmente cola nos dias que correm. Foi pensada para o minimercado do bairro, e não para a confusão de um hipermercado global, com produtos de validade cada vez mais reduzida. Com tanta oferta e tão pouco tempo para escolher, vai-se pelo rótulo mais colorido, pela promoção de última hora ou pelo jingle que é música para os nossos ouvidos. Depois, rodeamo-nos só de iguais, partilhamos indignações, ouvimos só aquilo que já sabíamos, reforçamos certezas e esfregamos as mãos no quentinho destas novas fogueiras tribais. Cada qual de perna alçada a marcar território nos limites da bolha que escolheu, ronronando com o que queremos ouvir e rosnando a quem nos desafia o conforto daquela paz que só se encontra na ignorância.

Abriram a porta das televisões a cuspidores de fogo, vendedores de banha da cobra e músicos de algibeira, e ainda esperavam que o telespetador não começasse a bater o pezinho ao som do bailarico. A música é boa para embalar preconceito, perfeita para as palminhas sincronizadas com o tempo certo da aldrabice. Nas últimas eleições já se desenhou mais um capítulo deste novo conto folclórico. A gente juntou-se sem paus nem pedras, mas com votos de quem alinhou no feitiço e, por ironia, decidiu começar a correr atrás de bruxas que a razão nunca chegou a encontrar. O populismo está a tornar-se no novo fado nacional. Todos sabem que é mentiroso, mas poucos parecem querer deixar de o cantarolar.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Se em tempos a Faixa de Gaza era considerada uma prisão a céu aberto, hoje, em resultado dos últimos desenvolvimentos, toda a gente compreende que se transformou num cemitério a céu aberto. Há um genocídio indiscutível a decorrer em Gaza, promovido pelas forças israelitas, que estão a eliminar sistematicamente a população palestiniana, quer à bomba quer pela fome e subnutrição.

O ataque terrorista do Hamas contra israelitas e pessoas de diversas nacionalidades, a 7 de outubro de 2023, e do qual resultaram mais de 1200 mortos e 251 reféns, foi o pretexto de que Netanyahu apoiado pelos extremistas de direita precisava para iniciar o projeto de aniquilar os palestinianos do enclave.

Aliás, o projeto passa por expulsar todos os palestinianos da sua terra, mesmo na Cisjordânia, para que Israel possa apossar-se da totalidade do território, como se vê pela política dos colonatos judeus. À intenção já antes manifestada de Israel expulsar o povo palestiniano de Gaza – talvez para oferecer a Trump e à trupe que o acompanha a tal “Riviera” – acresce a ameaça de anexar partes da Cisjordânia caso a comunidade internacional prossiga na intenção de reconhecer o estado da Palestina.

A louca fuga em frente do primeiro-ministro israelita assenta em duas razões essenciais. Primeiro, a tentativa de Netanyahu escapar à prisão, devido a uma eventual condenação por corrupção, e também para manter de pé o apoio da extrema-direita religiosa que sustenta o governo. O primeiro-ministro mostra não estar minimamente interessado em negociar a libertação dos reféns que estão nas mãos do Hamas, ao contrário do que diz.

Apesar de tudo, é claro que a sociedade americana mantém uma simpatia muito especial por Israel, não só devido à influência judaica nos EUA mas sobretudo nos meios cristãos devido a uma teologia abstrusa. A ideia é que aquela terra foi dada por Deus aos descendentes de Abraão, por isso aceitam com alguma naturalidade a expulsão dos palestinianos da sua terra – que, afinal, não é deles, segundo esta visão – ou mesmo o seu extermínio. Mas incorrem em dois erros de análise básicos.

Desde logo, os antigos israelitas interpretaram o exílio babilónico, a perda de soberania para outros povos ao longo da sua história e a dispersão pelo mundo como castigo de Deus devido à sua desobediência. Ora, se o Deus de Abraão estabeleceu com ele uma aliança, ela implica direitos e deveres. Partindo do princípio de que Deus não falha, os israelitas é que falharam repetidamente para com Deus rasgando assim o antigo pacto com Abraão.

Em segundo lugar já não vivemos nos tempos do Antigo Testamento e o moderno estado de Israel, fundado em 1948, nada tem que ver com o povo hebreu dos tempos neotestamentários da lei e dos profetas. Assim, o atual país chamado Israel não tem qualquer direito divino à posse daquela terra, e ainda menos terá o direito de expulsar dela os seus habitantes.

O direito internacional tem pugnado pelo princípio dos dois estados, coisa que Israel tem sempre recusado, o que revela a sua má-fé. Apesar de os extremistas palestinianos quererem lançar os judeus ao mar, isso não é mais do que o desespero de se sentirem prisioneiros na sua própria terra.

Na carnificina de Gaza, depois de assassinar famílias inteiras e gente de todas as idades, depois de matar dezenas de milhares de crianças com as bombas israelitas e à fome e subnutrição pela recusa de deixar entrar alimentação básica, fornecida pela comunidade internacional, o governo israelita tem as mãos manchadas de sangue. A macabra contabilidade já vai em mais de 54 mil mortos e 123 mil feridos. Talvez fosse boa ideia lerem o que escreveu o profeta Jeremias: “A língua do que mama fica pegada pela sede ao seu paladar, os meninos pedem pão, e ninguém lho reparte” (Lamentações 4:4).

É estranho que o povo que sofreu um holocausto brutal há oitenta anos pela besta nazi esteja agora a fazer o mesmo a outro povo. É estranho que um povo que se saúda com a palavra Shalom (Paz) esteja a bombardear escolas, hospitais, habitações e a reduzir a escombros toda uma comunidade étnica. E é estranho que um povo que viu o seu primeiro-ministro Yitzhak Rabin ser assassinado em 1995 por um jovem judeu extremista, apenas por ter iniciado o caminho da paz, esteja agora a justificar o genocídio palestiniano com os extremistas do Hamas.

Se o mundo se está a tornar um lugar cada vez mais estranho, é igualmente estranho não conseguir ver que Gaza é, de facto, o novo holocausto.

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Há duas velhas glórias da Seleção Nacional de futebol que têm de ser evocadas quando se trata de medir forças com a Alemanha, como voltará a acontecer hoje, em Munique, no pontapé de saída da final four da Liga das Nações

Quem já anda pelos 50, certamente guardará na memória o remate fulgurante de Carlos Manuel, em Estugarda, que garantiu a primeira vitória oficial sobre os alemães e desbravou o caminho para o Mundial do México 1986.

E quem já vai avançado nos trintas também deve lembrar-se do hat-trick de Sérgio Conceição, no Euro 2000, em Roterdão, que fixou o triunfo sobre os germânicos no derradeiro encontro da fase de grupos.

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