Foi confirmada, durante a tarde deste sábado, a morte da quinta e última vítima da queda do helicóptero que caiu, esta sexta-feira, no rio Douro. O corpo do militar da GNR, de 29 anos, estava desaparecido e existia a possibilidade de estar “preso na fuselagem da aeronave”, de acordo com o comandante Rui Silva Lampreia, chefe departamento da polícia marítima norte. As buscas tinham sido retomadas esta manhã, pelas 7h30, e os pedaços da aeronave foram sendo retirados ao longo do dia.
A aeronave de combate a incêndios despenhou-se, esta sexta-feira, no rio Douro, entre Lamego e Peso da Régua, enquanto regressava do combate a um fogo em Armamar, no distrito de Viseu. A bordo seguiam seis pessoas e só o piloto foi resgatado com vida e encontra-se hospitalizado com ferimentos ligeiros. A morte dos restantes quatro elementos da UEPS da GNR já tinha sido confirmada pelo comandante Rui Silva Lampreia.
Segundo o comandante regional da Polícia Marítima do Norte, o impacto do helicóptero foi de “forte violência”, tendo provocado a “destruição total da aeronave”. “Face àquilo que já encontramos e às imagens que temos registadas, tudo indica que [o impacto] foi de forte violência e causou a destruição total da aeronave”, explicou.
O helicóptero, do modelo AS350 – Écureuil, era operado pela empresa HTA Helicópteros, sediada em Loulé, Algarve. As causas do acidente ainda não são conhecidas, contudo, o Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários encontra-se no terreno a investigar a queda da aeronave.
Foi decretado, para este sábado, um dia de luto nacional.
As águas tranquilas da albufeira da barragem de Póvoa e Meadas guardaram, durante cinco anos, um terrível segredo. A apenas dois passos de Castelo de Vide (Portalegre), o lugar discreto e isolado serviu de esconderijo ao criminoso espanhol Manuel Martínez Quintas. Em Portugal, “Manolo” ou “El Quintas”, como também é conhecido, pôde “enterrar” as histórias dos crimes que cometeu no país vizinho, nas décadas de 1980 e 1990. Do outro lado da fronteira, o “Monstro de Zamora” tornou-se sinónimo de terror, depois de matar um jovem casal e de violar uma mulher, atos que cometeu com extrema crueldade. Pelos seus crimes, pagou com mais de três décadas na cadeia.
O tempo, porém, não apagou o trauma e as más memórias. Em 2017 saiu em liberdade, mas em cada lugar por onde andava continuava a carregar a bagagem do passado. Nos bairros em que vivia, surgiam cartazes, colados nas paredes, com a sua fotografia, e avisos à população: “Homem perigoso!” As redes sociais não deixavam cair no esquecimento o seu rosto. O direito ao perdão não lhe estava reservado nesta vida, apenas medo e ódio. Decidiu, então, fugir de Espanha, desaparecer da vista de todos. “Onde se terá metido ‘El Quintas?’”, questionavam, amiúde, os mais curiosos, ao longo dos últimos anos.
Monstro Manuel Quintas matou e violou em Espanha. Depois de cumprir 34 anos de prisão, o “Monstro de Zamora” refugiou-se num local discreto e isolado na região de Portalegre. No início de agosto, tentou violar e matar duas jovens portuguesas
Hoje, sabe-se que Manuel escolheu Portugal para se esconder. As razões permanecem um mistério. Proximidade geográfica? Domínio da língua? Ligações familiares? Ou, simplesmente, a possibilidade de poder viver à beira de um plano de água? – o que parece encerrar uma obsessão pessoal. A opção não é, no entanto, exclusiva deste homem, e nem sequer pode ser considerada rara. As páginas que se seguem recordam alguns destes casos.
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A partir de 2019, Manuel ocupou uma rulote junto à Barragem de Póvoa e Meadas. Deste lado da fronteira, fez-se velho. Com 74 anos, o ex-militar espanhol tornou-se uma sombra do homem que, como descrevia quem com ele se cruzou, tinha “uma força descomunal”. Ainda assim, ninguém poderia imaginar que, por trás dos longos cabelos brancos despenteados, da barba farta e desarranjada, no interior daquele velho ainda cabiam tantos demónios. Até ao dia em que ele voltou a libertá-los.
No início de agosto, o País soube, da pior maneira, que partilhava o teto com Manuel. O “Monstro de Zamora” voltou a atacar como antigamente, fazendo um alvo das duas raparigas, de 17 e 22 anos, que tinham tido a ideia de acampar por aquelas bandas. Afinal, perversidade e força não lhe faltavam. Tentou violá-las e matá-las a tiro de caçadeira. As vítimas ficaram feridas, mas conseguiram escapar às garras de “El Quintas”. O covil português de nada valeu ao criminoso espanhol. Nas horas seguintes, regressou à prisão. Aguarda a investigação em preventiva na cadeia de alta segurança de Monsanto, em Lisboa.
Manuel é apenas um exemplo. Portugal (também) faz parte do roteiro criminal, tendo servido de refúgio a assassinos, terroristas, falsificadores, mafiosos e narcotraficantes, entre outros da mesma estirpe. Aos vizinhos espanhóis basta dar um salto, mas outros chegaram de muito mais longe. Neste tema, a regra é não haver regras. E o “turismo” de que falamos não é, naturalmente, um problema somente nacional. O criminologista Carlos Alberto Poiares realça que “não há nenhum fator que torne Portugal mais atrativo para fugas do que qualquer outro país”. “Os critérios são os mesmos para todos”, sublinha. “Regra geral, foge-se para o lugar que está mais à mão”, simplifica o especialista. Embora reconheça que casos como este “são frequentes e, provavelmente, vão continuar a acontecer”, não deposita grande fé na eficácia das fugas: “É natural que os criminosos tenham a sensação de estar mais seguros por conseguirem fugir do sítio onde cometeram os crimes, por terem atravessado uma fronteira para outro país, mas, hoje em dia, é cada vez mais difícil passarem despercebidos”, assegura. Carlos Alberto Poiares gosta de descrever as “fugas” como “uma suspensão provisória da detenção”, e que, normalmente, “apenas a adiam”.
Recordemos, então, alguns dos criminosos mais famosos que procuraram encontrar refúgio em Portugal (nem sempre bem-sucedidos).
A vida portuguesa do assassino de Luther King
Da lista dos que escolheram Portugal como esconderijo, talvez o nome mais famoso (e improvável) continue a ser o de James Earl Ray, que ficou para a História como o assassino de Martin Luther King Jr. A passagem deste homem por Portugal parece ter caído no esquecimento, mas ainda hoje continua a alimentar teorias e teses conspirativas.
No dia 4 de abril de 1968, James Earl Ray disparou contra o pastor afro-americano, líder do movimento dos direitos civis, autor do discurso “Eu tenho um sonho” (“I have a dream”, no original inglês) e Prémio Nobel da Paz de 1964, quando este se encontrava no segundo andar do Lorraine Motel, em Memphis, nos Estados Unidos da América. Depois do atentado, Earl Ray, um ex-militar norte-americano, descrito, à época, como “um vadio”, com longo historial de ladrão e falsificador, desapareceu sem deixar rasto durante mais de 30 dias. Hoje sabe-se que alcançou o Canadá, comprou um bilhete de avião para Londres e escolheu Lisboa para se esconder. No dia 8 de maio, Earl Ray aterrava no aeroporto da Portela, num voo da British European Airways, portador de um passaporte canadiano falso com o nome de Ramon George Sneyd. Durante nove dias, Earl Ray, então com 40 anos, viveu com esta identidade em Portugal, levando uma “vida simples e tranquila”, como se descreveria, pouco tempo depois, numa reportagem d’A Capital.
Fuga James Earl Ray viveu nove dias tranquilos em Portugal, tornando-se cliente habitual dos bares do Cais do Sodré. O The New York Times chegou a publicar conversa com a prostituta com quem, alegadamente, o assassino de Martin Luther King dormiu por 300 escudos. A Life fotografou Maria à porta do Texas Bar
Enquanto era procurado pelas polícias de todo o mundo, o homem instalou-se no Hotel Portugal – que ainda hoje funciona na Rua João das Regras –, passando a ser cliente regular dos bares do Cais do Sodré e dos espetáculos de música do Ritz Clube, na Praça da Alegria. O relato da sua passagem pela capital portuguesa inclui pormenores íntimos, como o nome da prostituta com quem dormiu e quanto lhe pagou (300 escudos, segundo as crónicas contemporâneas). Em 1968, o The New York Times entrevistou Maria, que admitiu “ter dormido” com o “gringo”; a Life chegou a fotografá-la à porta do Texas Bar (hoje Musicbox Lisboa).
Mistério A pergunta ainda hoje divide os historiadores. Por que razão James Earl Ray escolheu Lisboa para se esconder, depois de assassinar Martin Luther King? A explicação mais unânime aponta para a possibilidade de Earl Ray ter tentado alistar-se como mercenário na Guerra Colonial portuguesa. O mistério, porém, mantém-se
A escolha de Portugal por Earl Ray permanece um mistério. Aventou-se a possibilidade de estar em trânsito para Angola, onde esperava “juntar-se a um irmão” que lá vivia. A Scotland Yard estava convencida de que fora a Rodésia – um dos últimos redutos brancos de África – a “chamar-lhe a atenção”. Há quem avance com a possibilidade de a trama incluir um cúmplice português chamado Raul. A versão mais aceite é a de que Earl Ray queria “juntar-se a um grupo de mercenários branco” a atuar na Guerra Colonial. Certezas não há.
O que se sabe é isto: no dia 17 de maio, Earl Ray pagou a conta do hotel lisboeta e regressou a Londres. Na capital britânica, ligou para um jornal a pedir informações sobre uma organização de recrutamento de mercenários para África. Indicaram-lhe um local em Bruxelas, mas o telefonema, feito de uma cabine pública, seria intercetado pelas autoridades. Seguia a caminho do avião que o levaria até à Bélgica quando se viu cercado pela polícia. Em sua posse, tinha uma pistola no bolso de trás das calças e dois passaportes canadianos, o mais recente emitido no consulado de Lisboa. Foi detido e rapidamente extraditado para o seu país natal.
Em 1969, Earl Ray deu-se como culpado e foi condenado a 99 anos de prisão. Ainda ensaiou uma fuga, mas sem grande sucesso; voltou a ser apanhado passados apenas três dias. Em 1998, com 70 anos, morreu numa prisão de Nashville, Tennessee.
O “pantera negra” que se refugiou em Almoçageme
O caso de George Wright alimentou os média no fecho do verão de 2011, dividindo opiniões na sociedade portuguesa e norte-americana, com posições públicas pró e contra a detenção e a extradição deste homem, então com 68 anos, para os EUA. A novela incluiu, até, manifestações de solidariedade, promovidas por familiares e amigos do protagonista, nas ruas de Almoçageme, na freguesia de Colares (Sintra).
Era naquela aldeia que, há mais de duas décadas, vivia o “senhor Jorge”, ou José Luís Jorge dos Santos, na companhia da mulher e dos seus dois filhos. Os vizinhos juravam conhecê-lo bem. Na década de 1980, imigrara da Guiné-Bissau para trabalhar. Em Portugal, constituíra família ao lado de Maria do Rosário, obtendo, através do casamento, nacionalidade portuguesa, logo no início da década de 1990. Chegara a ser pintor da construção civil, dono de um quiosque de artesanato e proprietário de um takeaway de frangos e de um restaurante. Era habitual vê-lo a frequentar a igreja local.
Os mais próximos descreviam-no como “tranquilo” e “discreto”. À beira dos 70, o “senhor Jorge”, fluente em português, era um indivíduo negro, alto e magro, que apresentava boa forma física, usava o cabelo impecavelmente rapado e óculos de hastes de metal. A aparência não tinha nada de especial. Era um membro respeitado na comunidade. Jorge dos Santos guardava, no entanto, um grande segredo. Em setembro de 2011, a PJ bateu-lhe à porta para o revelar.
Português O radical George Wright tornou-se José Luís Jorge dos Santos na Guiné-Bissau e em Portugal. Em Almoçageme (Sintra), vive com a mulher e os seus dois filhos
O seu nome verdadeiro era George Wright, um norte-americano nascido em Halifax, no estado de Massachusetts. Em 1962, Wright tinha sido condenado a uma pena de 15 a 30 anos de prisão pelo assassinato do proprietário de um posto de combustível, em Wall, Nova Jérsia. Pelo crime, passara oito anos atrás das grades, mas acabaria por conseguir escapar.
Em liberdade, filiou-se no Black Liberation Army (Exército de Libertação Negra, numa tradução para português) – uma organização extremista e paramilitar negra, criada a partir de uma cisão do Partido dos Panteras Negras –, o que lhe garantiu proteção. Em 1972, fugiu dos Estados Unidos, protagonizando um plano digno de uma longa-metragem de Hollywood. Vestido de padre, com uma arma escondida na Bíblia que levava nas mãos, George fez parte do grupo que desviou um avião da Delta Airlines, que fazia a ligação Detroit-Miami. Pelo resgate das 86 pessoas a bordo, recebeu um milhão de euros. De seguida, forçou o piloto a voar até Argel, capital da Argélia, país ao qual pediu asilo político. O asilo foi negado, e o avião e o dinheiro devolvidos aos EUA. Os sequestradores foram, todavia, deixados em liberdade pelo conselho revolucionário de Houari Boumédiène. Perante o imbróglio diplomático, o grupo abandonou Argel. A maioria decidiu ir para França, mas George não acompanhava esta ideia. Por isso, não seguiu os companheiros, decisão que lhe garantiu a liberdade – foram todos presos, à exceção dele. As autoridades não teriam notícias de George durante 41 anos.
Hoje, sabe-se que ele viveu na Guiné-Bissau (onde chegou a ser treinador de basquetebol das equipas do Banco Nacional da Guiné e do Benfica de Bissau). Naquele país africano, ganhou nova identidade e começou a aprender a falar português. Passados alguns anos, fixou-se em Portugal.
O FBI nunca fechou a investigação, mas apenas em 2002 prestou atenção à “pista portuguesa”, na sequência de uma chamada intercetada feita por Jorge dos Santos para familiares nos Estados Unidos. Mas só nove anos depois, após a comparação da impressão digital que constava no seu Bilhete de Identidade português, é que George foi localizado e identificado.
Em 2011, Jorge dos Santos seria finalmente detido. A eventual extradição para os EUA deu muito que falar, mas nunca avançaria. Depois de alguns dias atrás das grades, Jorge regressou a Almoçageme para cumprir prisão domiciliária. O tempo foi o seu melhor aliado. A Justiça acabou por deixá-lo onde o encontrou.
O assassino que foi salva-vidas no Algarve
A língua portuguesa é falada por quase 300 milhões de pessoas em todo o mundo. As ligações históricas e culturais entre Portugal e o Brasil são seculares. O número de brasileiros a viver em território nacional caminha para o meio milhão. A rede de apoio inclui amigos e familiares, tornando a integração mais fácil do que noutros países. “O povo”, costuma dizer-se, “é o mesmo”, separado apenas por um oceano. Não admira por isso que, na hora de escapar à justiça brasileira, Portugal surja sempre como um opção viável (e vice-versa).
Os casos de Vítor Cabral Rocha e Bruno Nascimento servem-nos de exemplo. Tinham ambos 22 anos quando participaram em homicídios no Brasil, mas, durante um longo período, conseguiram “desaparecer” em Portugal.
Em 2018, Vítor fazia parte de um grupo de narcotraficantes quando surgiram suspeitas de que o “colega” Arnaldo da Silva pudesse ter desviado 19 quilos de skunk (uma variedade de canábis). No mundo do tráfico, as traições pagam-se com a vida. Vítor seguia ao volante do carro que conduziu o grupo até à casa de Arnaldo, no bairro de São José, em Recife. Os narcotraficantes exigiram explicações, mas, não satisfeitos, acabaram por executar a tiro o “traidor”. O corpo de Arnaldo seria encontrado a boiar num rio três dias depois.
A investigação da Polícia Federal brasileira não encontrou dificuldades em apontar os responsáveis pelo crime. Vítor seria condenado a 20 anos de prisão por homicídio e tráfico de droga, mas recusava ir para a cadeia. Ainda o juiz lia a sentença, já ele cruzava o Atlântico em direção a Portugal. Durante os cinco anos seguintes, Vítor morou em Peniche, na companhia da namorada. Apesar de estar em situação ilegal, com o nome exposto na lista vermelha da Interpol, conseguiu encontrar trabalho, chegando a ter a função de salva-vidas no verão do Algarve. A Justiça só lhe bateu à porta quando se convenceu de que o passado já não podia magoá-lo. Em 2022, procurou obter autorização de residência – e, mais tarde, a nacionalidade –, mas o passo revelar-se-ia desastrado. Os alarmes soaram assim que entregou os seus dados pessoais aos serviços do extinto Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF). A (falsa) sensação de segurança de Vítor conduziu até si a Interpol, que o prendeu, no início de 2023, em Lisboa. Passados quatro meses, Vítor foi extraditado para cumprir a pena na sua terra natal.
A história de Bruno tem muitas semelhanças, mas, nesta situação, falamos de alguém que permaneceu um “fantasma” durante quase duas décadas. Para se entender o caso, é preciso recuar até 2006. Nesse ano, Bruno viu um familiar próximo ser assassinado. Na altura, o rapaz, de apenas 22 anos, vivia envenenado por sentimentos de vingança, garantindo que, “um dia, iria vingar-se”. Nas semanas seguintes, procurou o alvo por todas as ruas de Belo Horizonte. Certo dia, encontrava-se numa das principais artérias da cidade mineira, acompanhado por dois cúmplices, quando julgou ter visto o homem que procurava. Sem hesitar, aproximou-se e disparou a matar. Bastaram-lhe dois segundos para compreender que se tinha enganado – matara a pessoa errada.
“Perdido por cem, perdido por mil”, terá pensado. Com uma morte na consciência, Bruno não abrandou, acabando, ainda nesse dia, por dar de caras com o homem que procurava desesperadamente. Como fizera horas antes, aproximou-se e descarregou a arma sobre o corpo do rival. Num curto espaço de tempo, cometera dois homicídios. A polícia deu início a uma caça ao homem, mas Bruno desapareceu.
Ao longo de 16 anos, a investigação revelou-se um beco sem saída. Condenado como contumaz a 29 anos de prisão, Bruno passou a constar da lista vermelha da Interpol. O mistério apenas terminou em setembro do ano passado, quando o SEF apanhou o fugitivo. São poucos os pormenores sobre a vida deste homem, hoje com 38 anos, mas sabe-se que vivia em Portugal desde 2018 e que trabalhava em limpezas. Em janeiro deste ano, foi extraditado para cumprir a sua pena no Brasil.
O narcotraficante que vive com vista para o mar
A rota do narcotráfico (também) passa por Portugal. Em outubro de 2022, a VISÃO avançou, em primeira mão, que o Primeiro Comando da Capital (PCC), a principal organização criminosa da América Latina, tinha operacionais a viver em território nacional, de acordo com uma investigação do Ministério Público de São Paulo. Os “narcos” vivem entre nós? A história de José António Palinhos ajuda a responder a esta pergunta.
Nas décadas de 1980 e 1990, Palinhos foi peça-chave de uma organização criminosa, formada por portugueses radicados no Brasil, responsável por uma rota marítima que, durante vários anos, alimentou a Europa de cocaína sul-americana. Com o tráfico, tornar-se-ia milionário e poderoso, figura da alta-roda do Rio de Janeiro, dono de um império que incluía alguns dos mais populares restaurantes cariocas – frequentados por estrelas como Madonna ou Sting –, carros de luxo, imóveis e terrenos nos pontos mais nobres da Cidade Maravilhosa.
Impunidade O “narco” português José António Palinhos foi condenado a 28 anos de prisão no Brasil, mas, 974 dias depois, deixou a cadeia e conseguiu escapar para Portugal. Sem acordos de extradição entre os dois países, Palinhos vive, hoje, em liberdade, num apartamento que tem vista para a praia de Santo Amaro de Oeiras
As primeiras dores de cabeça para Palinhos só chegariam no início do século XXI. Apanhado pela Polícia Federal brasileira, na sequência da Operação Caravelas, o português ver-se-ia atirado para a cela de uma cadeia de segurança máxima, condenado a 28 anos de prisão. No entanto, bastaram 974 dias para que – e ainda sem se perceber muito bem como nem porquê – um novo juiz lhe desse o privilégio de cumprir o que lhe restava da pena em regime semiaberto. Assim que colocou o pé na rua, Palinhos aproveitou para se pôr a monte, fugindo para Portugal, via Paraguai e Madrid. Quando o alerta da polícia brasileira chegou a este lado do Atlântico, de pouco ou nada serviu. Em 2011, a emissão do mandado de captura internacional valeu a Palinhos 43 dias de prisão em Lisboa, mas, sem acordo de extradição entre os dois países, o narcotraficante português seria libertado após expirados os prazos legais.
Hoje, aos 73 anos, Palinhos parece ter a liberdade garantida, vivendo num apartamento com vista para a praia de Santo Amaro de Oeiras e mantendo ligações a várias empresas do setor imobiliário, com sede em Lisboa, Odivelas, Aveiro e até no Reino Unido. Os crimes que cometeu no Brasil prescrevem somente em 2031, mas a hipótese de pagar por eles é remota.
O dono de restaurantes que era da máfia
O universo da máfia desperta curiosidade e fascínio, mas, ao contrário do Don Corleone de Mario Puzo, que a saga O Padrinho, de Francis Ford Coppola, cristalizou no imaginário coletivo, os chefes destas organizações não se ficam pela poltrona, bebendo uísque ou vinho tinto, fumando charutos, dando ordens lúgubres aos subordinados, enquanto afagam um gato. Alguns escolheram morar em Portugal.
Domenico Giorgi vivia, há vários anos, em território nacional. Conhecido como “Berlusconi” e “Milionário” – pelo alto padrão de vida que levava –, o italiano geria “na sombra” uma rede de restaurantes, em Itália e Portugal. Em Lisboa, era proprietário de dois populares restaurantes italianos, frequentados habitualmente por figuras públicas de várias áreas, jogadores de futebol, cantores, atores, apresentadores de TV… e até pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Domenico tinha ainda outros estabelecimentos, em Aveiro, Vila Nova de Gaia e Braga.
Com 63 anos parecia acima de qualquer suspeita, um empresário “simpático” e “falador”, que não abdicava de marcar presença nos restaurantes, capaz de arregaçar as mangas, misturando-se com naturalidade e desprendimento com clientes e trabalhadores. Nas redes sociais, gostava de posar com famosos. A comida das suas cozinhas era muito elogiada. O italiano dizia “adorar” viver em Lisboa.
Máfia Domenico Giorgi vivia tranquilamente em Portugal. Conhecido como “Berlusconi” e “Milionário”, detinha dois populares restaurantes italianos no centro de Lisboa, frequentados por figuras públicas de várias áreas. Marcelo Rebelo de Sousa era um dos seus clientes
As coisas, no entanto, alteraram-se rapidamente. Em maio de 2023, Domenico Giorgi foi um dos 132 detidos na Operação Eureka, que decorreu, em simultâneo, em dez países, com a participação da PJ e de outras polícias europeias, da América do Sul e dos Estados Unidos (como a DEA – Drug Enforcement Administration), a agência antidroga norte-americana.
As autoridades garantem que o italiano trabalhava para a ‘Ndrangheta, a máfia da região de Régio da Calábria, e que utilizava os restaurantes para “lavar” os lucros da organização criminosa com o tráfico internacional de cocaína. O paraíso português de Domenico terminou ali. Permanece em prisão preventiva.
Antes, já o líder da ‘Ndrangheta tinha sido localizado em Portugal. Francesco Pelle figurava na lista dos 30 fugitivos mais procurados pelas autoridades italianas, depois de ter sido condenado a prisão perpétua no seu país natal. A polícia tentava, sem sucesso, apanhá-lo desde 2007. No início de 2021, a sorte de “Ciccio Paquistanês”, como também é conhecido, mudou, por um acaso. Pelle vivia em Portugal quando apanhou Covid-19. Os sintomas graves levaram-no a procurar ajuda no Hospital de São José, mas, naquela unidade, foi identificado e detido pela polícia. No final desse ano, seria extraditado para Itália, numa operação que obrigou a fortes medidas de segurança.
Mais recentemente, foi também notícia a detenção de Arben Kaçorri, considerado um dos líderes da máfia dos Balcãs, descrito como um homem “muito perigoso”. Em maio de 2009, este albanês tinha sido condenado a quase 22 anos de prisão pelo homicídio qualificado do compatriota Fatmir Kala, em Florença, Itália. Restava-lhe cumprir quase 19, mas as autoridades italianas deixaram-no escapar. Durante 11 anos, Kaçorri viveu num luxuoso prédio no Parque das Nações, em Lisboa. Na capital portuguesa, levou uma vida discreta, embora rodeado de luxo. O albanês pertence a uma longa linhagem ligada a organizações criminosas – o seu irmão, Valentino, também está referenciado como membro da máfia dos Balcãs; o cunhado é Ervis Martinaj, um famoso gangster, conhecido como “Rei do Jogo”, que permanece em paradeiro incerto desde 2022. A partir de Portugal, Kaçorri controlava toda a atividade criminosa do seu grupo.
No âmbito da Operação Labirinto, a PJ desvendou o mistério. No apartamento em que vivia foram encontradas “elevadas quantidades de dinheiro, bens de luxo, sistemas de comunicações e diverso equipamento informático”. Na garagem, tinha “vários veículos topo de gama”.
Os crimes que cometeu já tinham levado a justiça albanesa a confiscar-lhe edifícios comerciais, apartamentos, terrenos e garagens, situados na capital, Tirana. O mafioso permanece detido em Lisboa. Itália não deve tardar a pedir a sua extradição.
O terrorista indiano que Portugal “salvou”
A presença da ETA em Portugal (ver caixa A Casa da ETA em Portugal) fez notícia no início do século XXI, mas o caso dos independentistas bascos parece não esgotar a relação de grupos terroristas com o País, como comprova o relato que se segue.
Iqbal Singh tinha pouco mais de 20 anos quando entrou no radar das autoridades indianas, suspeito de integrar o grupo islâmico paquistanês Hizbul Mujahideen (Partido dos Combatentes Sagrados), que luta por colocar a região disputada de Caxemira nas mãos de Islamabad. O seu nome passou a constar na lista vermelha da Interpol, mas Iqbal soube manter-se escondido em território português.
A fuga terminou em julho de 2020, quando foi localizado e detido pelo SEF, perto da sua casa em Santo António dos Cavaleiros, no município de Loures. A Índia prontificou-se a pedir a sua extradição, mas os tribunais portugueses decidiram recusá-la, por considerarem não ter recebido garantias suficientes, por parte das autoridades de Nova Déli, de que o homem acusado de terrorismo e tráfico de droga seria poupado à pena de morte ou perpétua.
Extradição O líder da ‘Ndrangheta foi traído pela Covid-19. Francesco Pelle estava em fuga desde 2007, mas foi apanhado quando teve de ser internado no Hospital de São José
Iqbal foi, então, libertado, continuando a viver em Portugal. Em 2022, voltaria a ser detido, por ter participado nas agressões a um homem, num ataque encomendado por familiares da mulher de quem a vítima queria separar-se.
Este foi o último caso selecionado, mas outros haveria por contar. Aliás, o mais recente capítulo desta enciclopédia pode estar hoje a ser escrito. A Polícia Nacional espanhola colocou, há duas semanas, um padre de Vigo na lista dos mais procurados. Chama-se Segundo Cousido Vieites e foi condenado a 32 anos de prisão por ter abusado sexualmente de seis crianças, num acampamento do colégio católico que frequentavam. O padre, de 42 anos, deveria ter-se entregado na cadeia no dia 1 de março de 2023, mas nunca apareceu. Passados 18 meses, as autoridades espanholas continuam à procura. Recentemente, partilharam a fotografia do pedófilo com as autoridades portuguesas, admitindo que ele possa estar escondido deste lado da fronteira. O leitor que dedique, agora, um momento a olhar em seu redor.
A casa da ETA em Portugal
Os independentistas bascos podem ter atuado em Portugal desde 2002
Foto: José Carlos Carvalho
As investigações das autoridades portuguesas confirmaram a presença da ETA em Portugal desde 2006, mas há quem garanta que a “base de apoio logístico” da organização independentista basca existe em território nacional há mais tempo. O livro Uma História da ETA – Nação e Violência em Espanha e Portugal (Bookbuilders, 2020) propõe que as células etarras estavam instaladas em Portugal, pelo menos, desde 2002. “Portugal servia como local de recuo [da ETA], não só para efeitos de planeamento estratégico, mas para efeitos logísticos também”, afirmou o autor, Diogo Noivo, numa entrevista ao Diário de Notícias, publicada há quatro anos. As suspeitas confirmaram-se em 2010, quando a GNR descobriu um arsenal de tonelada e meia de explosivos guardado numa casa em Casal da Avarela, Óbidos. Os inquilinos eram os operacionais da ETA Andoni Fernández e Oier Mielgo. Conhecido por ser perito em explosivos, Andoni foi detido no aeroporto de Lisboa quando se preparava para apanhar um avião em direção à Venezuela. Oier conseguiu fugir, mas seria apanhado em França. Julgado no Tribunal das Caldas da Rainha, foi dado como provado que, a partir de Portugal, Andoni estava a “preparar, planear e desenvolver” ataques bombistas em Espanha. O etarra foi condenado a 12 anos de prisão, mas seria libertado, “por bom comportamento”, passados nove. Nessa altura, a ETA já tinha anunciado o fim da sua atividade.
Dizia um ilustre compatriota de Lady Di, William Shakespeare de sua graça, que a vida era um palco. A ser verdade, ela tem conseguido sempre o papel de vedeta. Só na tenra idade, Diana Frances Spencer, 36 anos, filha mais nova do conde de Spencer, terá passado despercebida e mesmo assim não há a certeza.
Já viveu diversas vidas e ainda está no esplendor da beleza, sorrisos ora ternos ora matreiros, capaz de dissimular, intrigar, amar – ou levar a efeito uma espécie de vingança interminável contra os Windsor, particularmente em relação à ex-sogra, a rainha Isabel II, alegada patrocinadora do estrepitoso divórcio de Diana e do príncipe herdeiro, Carlos, 48 anos, em 1996.
A PRINCESA E O PLAYBOY: Um inocente cruzeiro familiar e umas férias secretas no Mediterrâneo, com direito a fotos reveladoras de grande intimidade entre Di e Dodi, que também terão passado um fim-de-semana a sós em França
Privada do tratamento de alteza real, o que a obrigaria a fazer vénias ao filho mais velho, William, 15 anos, futuro rei de Inglaterra, a princesa de Gales tem feito tudo, nos últimos dois anos, para ser levada a sério – e o mais falada possível nos media internacionais. É por isso que se compreende mal que a recente descoberta do seu romance com o multimilionário Dodi Al-Fayed possa ser obra apenas dos atrevidos paparazzi, que a seguem para toda a pa rte. Qual quê! Uma raposa daquelas só se deixa apanhar se quiser – e ainda por cima num bem-bom de beijos e abraços sob o sol do Mediterrâneo, a bordo do Jonikal, um dos iates apalaçados do pai do mocinho. Mas se assim é, irá mesmo embarcar numa de Jackie Onassis, trocar a ribalta por privacidade, sossego e segurança material?
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Mas alguém a imagina semi-reclusa, sem nos poder brindar do televisor mais próximo com um daqueles sorrisos amalandrados?
Depois da sua atribulada separação do príncipe de Gales, em 1992, até ao posterior divórcio em 1996, Lady Di passou por fases que a deram como a mais virtuosa das criaturas (é não saber observar-lhe os olhinhos!), capaz de aturar um herdeiro do trono sensaborão e infiel, até à figura menos favorável da adúltera confessa, ex-amante de um capitão da cavalaria real Games Hewitt), mais conhecido pelo Ratazana, por ser aquilo que na ébria Inglaterra se costuma chamar um infame kiss and tell.
Numa recuperação sensacional, Diana, que chegou a andar com ar abatido de mosquinha morta, foi vindo ao de cima com as saias a subir e os decotes a baixar, mais roliça, mais desejável do que nunca, enquanto o ex-marido se ia divertindo assumidamente com a cinquentona Camilla Parker Bowles, a mulher da sua vida já devidamente divorciada do brigadeiro do mesmo apelido, por sinal também da cavalaria da Guarda Real, certamente habituado com o passar dos anos a desco rir inconveniências até no relinchar das montadas.
CAMILLA PARKER BOWLES: A ex-mulher terá ficado irritada por o príncipe de Gales assumir abertamente a relação com a amante
LEILÃO DE VESTIDOS
O primeiro grande passo para a construção de uma nova personagem, impossível de impor sem o auxilio dos media, passou por a princesa abraçar uma causa menos explorada que a da sida, por exemplo, até então uma das suas predilectas. Escolher o ataque às minas antipessoal, que fazem todos os anos incontáveis vítimas inocentes, mostrou-se uma boa aposta, tanto mais que tinha de se deslocar a zonas pe rigosas do Globo, marcando assim a diferença entre ela e as senhoras de bem-fazer que só transpiram a assinar cheques.
O PRÍNCIPE COM UMA DAS SPICE GIRLS: Dizem as sondagens que só 48% dos britânicos apoiam a família real, mas 53% dos súbditos são favoráveis a um casamento do herdeiro da coroa com Camilla Parker Bowles
Não se quer dizer com isto que Diana seja apenas uma actriz que tira partido destas cruzadas, de forma alguma, há calor humano na antiga professora da pré-primária da selecta escola Young England de Pimlico. A sua deslocação a Angola em Janeiro passado, dispensando muito mais atenção às vítimas das minas, sobretudo às crianças, do que às autoridades locais, constituiu um verdadeiro e merecido sucesso. E nisso – honra lhe seja feita – foi grandemente ajudada pelo governo conservador de então, chefiado por John Major, que pôs o seu ministro da Defesa a criticar a alegada ingenuidade da princesa de Gales.
Liberta dos compromissos de esposa do futuro rei – e podendo, portanto, exprimir opiniões -, Diana fez frente às críticas que mais não pretendiam do que esconder o facto de o Reino Unido ser um dos principais fabricantes e vendedores de armamento a nível mundial, lucrando com o impudente negócio da morte. O segundo grande acto do relançamento de Lady Di no corrente ano, engendrado pelo seu génio para o marketing, foi o leilão em Nova Iorque de 79 dos seus mais belos vestidos de baile e cocktail, usados entre 1981 e 1996, algo visto como um símbolo do seu corte com o passado de futura rainha de Inglaterra.
ALGUNS DOS VESTIDOS LEILOADOS NOS ESTADOS UNIDOS: Quem não se iembra da princesa, na Casa Branca, a rodopiar nos braços de John Travolta?
Confidenciou que a ideia de deixar a Christie’s leiloar os reais trapos, em 25 de Junho passado, partira do filho mais velho, destinou os chorudos proventos da almoeda a instituições de caridade americanas e britânicas relacionadas com o cancro e a sida – e acedeu amavelmente a deixar-se fotografar, esplêndida, uma última vez, com algumas das fatiotas que ficarão pelo menos na chamada pequena história. Como aquele vestido azul-escuro, idealizado por Victor Edelstein, que ela usou na Casa Branca em 1985, quando rodopiou nos braços seguros de John Travolta.
O AMIGO AL—FAMED
Quando, em 29 de Julho de 1981, Diana Spencer e Carlos de Inglaterra se casaram em Londres, na catedral de São Paulo, num dos maiores acontecimentos mediáticos do século XX, a princesa virgem tornava-se protagonista de um conto de fadas que parecia saído de um livro da mãe da segunda mulher do conde Spencer, a engraçadíssima Barbara Cartland, quase centenária e autora dos romances cor-de-rosa mais vendidos no mundo. Hoje dificilmente Di entraria num book da prolífera escritora. Com o correr do tempo e as partidas do destino, a princesa foi conhecendo gente de diversos círculos sociais e reatando com pessoas que a sua condição anterior aconselharia que evitasse. Estará certamente neste último caso o poderoso magnata egípcio Mohamed Al-Fayed, 64anos, dono dos famosos armazéns Harrods de Londres, do parisiense Hotel Ritz e da mansão do bosque de Bolonha onde viveram os desaparecidos duques de Windsor.
FUGA CLÁSSICA AOS PAPARAZZI: Com tantos anos de treino, parece improvável que alguém a conseguisse fotografar sem ela querer
Diz-se que o multimilionário foi amigo durante alguns anos do falecido conde Spencer e que datará dessa época o seu interesse pelo bem-estar da princesa, adiantando alegados especialistas nestas matérias que o aristocrata pediu a Al-Fayed que, depois da sua morte, ele lhe olhasse pela filha. O dono do Harrods é muito malvisto em certos círculos da Grã-Bretanha, onde são postos em causa os métodos pouco ortodoxos através dos quais terá conseguido a sua imensa fortuna e também os famosos armazéns, adquiridos em 1985. Os seus rendimentos têm sido objecto de inquéritos (calcula-se que possua bens na ordem dos 500 milhões de contos) e continua a comprar coisas, figurando entre as suas mais recentes aquisições um clube de futebol, o Fulham, da segunda divisão inglesa.
SOBRINHO DE KHASHOGGI
Mohamed Al-Fayed viu ser-lhe negado por duas vezes o passaporte britânico (anseia por tornar-se súbdito de Sua Majestade) e o Partido Conservador deve-lhe em boa medida a derrota nas últimas eleições. Diz-se que o nababo defendia – e porventura lá saberia porquê – que comprar deputados era tarefa mais fácil do que arranjar táxi em hora de ponta londrina. Que se saiba adquiriu dois, que encarregava de fazer as perguntas que queria na Câmara dos Comuns, mas consta que outras personalidades do mundo da política não desdenhavam a sua hospitalidade interesseira, passando boas temporadas à borla no luxuoso Ritz de Paris.
MOHAMED AL-FAYED: Entre as últimas aquisições do polémico multimilionário egípcio figura um clube de futebol, o Fulham
Foi precisamente desta personagem que a princesa de Gales aceitou o convite para passar alguns dias na casa de férias da família Al-Fayed em Saint-Tropez e num dos seus magníficos iates, o Sakara. Acompanhada pelos filhos William e Henry (12 anos), Diana deixou-se fotografar pelos paparazzi em sugestivos fatos de banho exclusivos do Harrods, mostrando a sua beleza descontraída ao lado de Mohamed, mas também do filho deste, Dodi, 41 anos, playboy divorciado, produtor de cinema e também (claro!) multimilionário. A mulher do magnata egípcio e mãe do rebento era a falecida Samira Khashoggi, irmã do famoso Adnan Khashoggi, um dos homens mais ricos do mundo, figura de peso no Médio Oriente, grande comerciante de armas.
COM CRIANÇAS NA BÓSNIA: A todos encantou e chegou a comover-se até às lágrimas nesta recente etapa da sua cruzada contra as minas antipessoal
Se as férias mediterrânicas da princesa e dos filhos nada tiveram aparentemente de especial (Diana conhecera Dodi há dez anos num jogo de pólo em Windsor), para além da visível boa disposição de todos os intervenientes, fotograficamente documentada, há a dizer que coincidiram com a festa de aniversário que Carlos decidiu dar ao grande amor da sua vida, Camilla Parker Bowles, que completava meio século. Ver o príncipe de Gales assumir de forma tão pública a amante deve ter irritado a ex-mulher, que declarou aos jornalistas ter uma grande surpresa na forja. Tinha mesmo.
De acordo com elucidativas fotografias que deram várias vezes a volta ao mundo, Lady Di passou umas segundas férias secretas a bordo de um outro iate de Mohamed Al-Fayed, o Jonikal, mas desta vez somente acompanhada pelo filho. É de estranhar bastante que uma personalidade sempre tão perseguida pelos paparazzi não soubesse que corria o risco de ser captada em cenas reveladoras de patente intimidade. Depois de alguns dias a navegar ao largo das costas da Córsega e da Sardenha com o multimilionário, Diana rumou para a Bósnia-Herzegovina, para mais uma etapa da sua campanha contra as minas anti-pessoal, chegando a Sarajevo a bordo de um jacto pertencente a outra figura muito problemática, o especulador financeiro de origem húngara George Soros. A todos a princesa encantou com o seu sorriso e manifestações de interesse, ficando na retina a imagem do seu longo abraço à muçulmana Elvira Tadic, 57 anos, junto à sepultura do filho desta, Dragan, falecido há três anos. De regresso ao seu palácio de Kensington, a mãe do futuro rei de Inglaterra apercebia- -se do rebuliço provocado pelas suas fotos com Dodi, presentes em todos os tablóides britânicos, que se faziam eco das mais diversas reacções e publicavam algumas notícias delirantes. O mais interessante, no entanto, foi a divulgação da biografia correcta e aumentada do suposto noivo da princesa (ela apressou-se a desmentir quaisquer projectos de futuro casamento).
COM CARLOS E OS FILHOS, EM 1995: Depois do divórcio em 1996, Diana ficou sem direito ao tratamento por «alteza real», mas passou a poder exprimir livremente as suas opiniões
AS PROEZAS DE DODI
Há uma coisa em Dodi Al-Fayed que causa simpatia: nunca pretendeu adquirir a cidadania inglesa. Nascido no Egipto, possui essa nacionalidade e a dos Emirados Árabes Unidos. Educado na Suíça, passou (brevemente) pela britânica Sandhurst, uma das mais famosas academias militares do mundo. Durante algum tempo oficial das forças de defesa dos Emirados, Dodi cedo se interessou pela produção cinematográfica, passando a viver a maior pa rte do ano em Los Angeles (teve de abandonar o seu filme mais recente, Zorro, para poder estar com Lady Di). Foi um dos produtores de Carros de Fogo, um filme inglês premiado com um Oscar, ao mesmo tempo que o pai o obrigava a trabalhar nas diversas secções do Harrods.
COM O DIRECTOR DA CHRISTIE’S: O leilão em Nova Iorque de 79 vestidos de baile e cocktail foi uma genial operação de marketing
Fundou mais tarde a sua companhia, a Allied Stars, que esteve envolvida na produção de películas como Capitão Gancho, de Steven Spielberg, com Robin Williams e Dustin Hoffman. Dodi tem a mania dos automóveis, figurando na sua “colecção” dois Ferraris e um Rolls-Royce de 1928. Dispõe de um helicóptero Sikorsky e de um jacto de executivo. Possui um castelo na Escócia e residências em Genebra, Nova Iorque, Beverly Hills, Dubai e Génova. Caso precise, pode sempre também utilizar as da família, como a de Saint-Tropez ou a imponente mansão de Park Lane, em Londres.
A faceta mais conhecida de Dodi reside, porém, no seu gosto militante por mulheres bonitas, que colecciona a um ritmo definido por um amigo como de uma por semana. Em 1981, saía muito com Tanya Roberts, que entrava na série televisiva Os Anjos de Charlie. Outra namorada famosa (o rapaz gosta de dar nas vistas) foi Brooke Shields, que um dia lhe perguntou se no Harrods tinham muitos perfumes. Para demonstrar que estavam bem fornecidos, Dodi mandou-lhe 150 frascos todos diferentes. O multimilionário também deu umas voltas com a actriz de soft-core Koo Stark, hoje fotógrafa e outrora amiga íntima do príncipe André, ex-marido de Sarah Ferguson, duquesa de York. Em 1983, esteve noivo de uma herdeira iraniana, Linda Atterzaedh, mas só em 1987 viria a contrair matrimónio com a modelo americana de origem dinamarquesa Suzanne Gregard, actualmente com 37 anos. O casamento foi um impulso mais ou menos tonto – conta um amigo – surgido numa estância de ski do Colorado e o divórcio ocorreu oito meses mais tarde. Consta que a brincadeira custou a Dodi a módica quantia de meio milhão de contos e a beldade ainda quis um Rolls-Royce novo e não abriu mão das jóias, que aos Al-Fayed não se faz desconto! (O playboy afirmou, na altura, que nunca mais daria outro nó).
CASAMENTO REAL EM 1981: Um dos maiores acontecimentos mediáticos do século xx
Fala-se também das amizades de Dodi com Britt Ekland (o rapaz não despreza a velha guarda), Valerie Perrine e Tina Sinatra. O seu nome já surgiu associado à princesa Stéphanie do Mónaco e, pouco tempo atrás, davam-no como particularmente encantado por Wynona Ryder. Actrizes, modelos e outras sílfides com foto omnipresente nas revistas do coracão têm sido presa fácil do herdeiro AI-Fayed, descrito como possuidor de boa apresentação, excelentes maneiras e um olhar de cão que perdeu o dono ao qual as mulheres resistem dificilmente – assegura um amigo dele. É claro que ter um livro de cheques com chapéu alto e mais páginas que dois volumes da Enciclopédia Britânica também ajudará o seu pedacinho.
Casar com Diana seria o culminar de uma carreira recheada de êxitos para este playboy muçulmano, capaz de proporcionar à princesa de Gales uma vida de autêntica rainha, enquanto Camilla parece condenada a viver a contar os pennies. Que vingança de Lady Di contra os soberbos Windsor! Para o pai Mohamed, entretanto, ser avô putativo do futuro rei de Inglaterra vale certamente bem mais do que ter um passaporte com o escudo do leão e do unicórnio. Atenção às cenas dos próximos capítulos.
(Artigo publicado na VISÃO nº 231 de 21 de agosto de 1997, com a ortografia antiga)
Segundo a Proteção Civil as buscas pelo militar da GNR desaparecido, a quinta e última vítima da queda de um helicóptero no rio Douro, foram retomadas esta manhã pelas 07h30. Para a Polícia Marítima, neste momento, a prioridade é encontrar o corpo do militar desaparecido.
O comandante Rui Silva Lampreia, chefe departamento da polícia marítima norte, fez esta manhã um ponto de situação, perto das 8h30, tendo referido que o helicóptero deverá ser hoje retirado do rio, por volta das 10h. “As buscas vão-se manter no mesmo perímetro de ontem e vamos alargando conforme for necessário”, começou por explicar, reforçando que há uma possibilidade do militar desaparecido estar “preso na fuselagem da aeronave”.
“Hoje estima-se melhores condições para fazer as buscas, vamos ter uma visibilidade na ordem dos cinco metros, o que vai facilitar bastante”, disse ainda. As buscas retomam em três frentes, com oito equipas de mergulhadores bem como com equipas terrestres (94 operacionais e viaturas) e três drones.
A aeronave de combate a incêndios caiu, esta sexta-feira, no rio Douro, entre Lamego e Peso da Régua, enquanto regressava do combate a um fogo em Armamar, no distrito de Viseu. O helicóptero acidentado, do modelo AS350 – Écureuil, é operado pela empresa HTA Helicópteros, sediada em Loulé, Algarve.
A bordo do helicóptero seguiam seis pessoas e, até ao momento, só o piloto foi resgatado com vida. O homem, que sofreu ferimentos ligeiros, foi hospitalizado e não corre qualquer perigo de vida. O comandante Rui Silva Lampreia, já tinha confirmado, ao final da tarde desta sexta-feira, quatro mortes dos elementos da UEPS da GNR.
As causas do acidente ainda não são conhecidas, contudo, o Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários encontra-se no terreno a investigar a queda da aeronave.
Está marcado para este sábado um dia de luto nacional.
Mais corajosa, mais intensa, talvez um pouco mais assustadora. Esta qualificação da segunda temporada d’O Senhor dos Anéis: Os Anéis do Poder pertence à produtora executiva da série, Lindsey Weber, ao site Deadline.
É verdade que vêm aí tempos negros na Terra Média. O regresso de Sauron (Charlie Vickers), o Senhor das Trevas, é uma certeza, agora sem exército nem aliados, depois de ter sido expulso por Galadriel (Morfydd Clark). Se a primeira temporada, estreada precisamente há dois anos, incidia sobre quem é Galadriel, de onde veio, o que sofreu, o que a motiva, a segunda temporada irá esmiuçar tudo sobre Sauron.
O vilão vai andar em roda livre com planos para controlar todos os anéis do poder. “Gostamos de dizer que a primeira temporada foi principalmente sobre os nossos heróis. Mas a segunda é toda sobre os vilões”, resumiram os produtores John D. Payne e Patrick McKay à revista Total Film. “Desta vez, a agenda de Sauron põe tudo em movimento. Adar e o seu exército de orcs; Galadriel, Elrond, Gil-galad e os seus exércitos de elfos – todos unidos na batalha mais ambiciosa que o projeto já viu e da qual muitos podem não sair vivos”, acrescentaram.
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Os seguidores da obra de J. R. R. Tolkien aguardam com expectativa a lendária Guerra de Eregion, decisiva na história da Segunda Era da Terra Média, em que tudo e todos se preparam para o conflito e para o reencontro de Sauron e Galadriel.
Entre as novas personagens, como Annatar, que ajudou Celebrimbor a criar os anéis do poder, iremos encontrar também um clássico dos livros de Tolkien. O eclético Tom Bombadil (Rory Kinnear), que salva os hobbits no início d’A Irmandade do Anel, mas não entrou na trilogia de Peter Jackson. Homem etéreo descrito por Tolkien como “mais velho do que o velho”, o que significa que já existia quando toda a vida começou.
O Senhor dos Anéis: Os Anéis do Poder > Estreou 29 ago, qui (três episódios) > oito episódios, um novo por semana > Prime Video