JAPÃO

A harmonia que enche a alma

Embora esteja a bater recordes de visitantes, o Japão mantém a sua beleza intocada

— por Rui Tavares Guedes

O Instagram está, este ano, repleto de imagens do Japão, seja por causa da Exposição Mundial em Osaka, pelos templos sempre fascinantes de Kyoto, o colorido de Tóquio, a pontualidade dos comboios-bala ou a profusão de pratos deliciosos que compõem uma das ofertas gastronómicas mais vibrantes e variadas do globo.

Este aparentemente súbito interesse pelo Japão não surge por acaso: o país que durante muito tempo foi visto como uma espécie de sonho exótico e alcançável apenas para os mais abastados tornou-se, desde a pandemia, muito mais próximo e acessível, devido ao incremento das ligações aéreas, que permitem viagens com menos escalas, e à baixa do iene face à moeda europeia. Ao mesmo tempo, a sua cultura universalizou-se e o seu ritmo de vida, lento e suave, passou a ser motivo de admiração, e até de alguma inveja, no Ocidente.

Não admira, por isso, que o Japão esteja a bater recordes sucessivos de visitantes internacionais, obrigando as autoridades a prepararem medidas para evitar os efeitos nefastos do crescimento exagerado do turismo de massas. Ou seja, é de aproveitar agora enquanto os preços não começam a subir, outra vez.

Uma viagem ao Japão tem sempre um efeito transformador. Para já, porque, quando lá chegados, começamos de imediato a derrubar, um após outro, todos os estereótipos que fomos acumulando ao longo de anos acerca do país e da sua gente. E, depois, aos poucos, começamos a admirar a beleza do silêncio, a harmonia dos espaços verdes, a delicadeza quase congénita do povo, a forma ordeira como milhões de pessoas se deslocam, sem atropelos nem empurrões.

Sem dificuldade, passamos a apreciar a “ordem” de nos descalçarmos antes de nos sentarmos à mesa. E, de forma quase instintiva, passamos a achar natural brindarmos uma refeição com saké e, em sinal de respeito, retribuir o curvar da cabeça com os nossos interlucotores.

Se procurarmos respeitar as regras locais e soubermos retribuir o respeito e a gentileza com que somos recebidos, o Japão é também um destino que nos impele a sermos melhores viajantes. Rapidamente, aprendemos a manter o silêncio nos transportes públicos, percebendo que não é “civilizado” começar a falar alto ao telemóvel numa viagem de comboio. Seguindo os locais, também evitamos comer enquanto caminhamos e, nas estações de metro, respeitamos ordeiramente as linhas traçadas no chão – com cores diferentes para cada destino, sabendo que a carruagem vai chegar à hora exata e parar no local assinalado, sem se desviar um centímetro.

Por tudo isto, é uma viagem em que, invariavelmente, regressamos a casa de cabeça limpa e com a alma cheia. E repletos de recordações: seja da vibração noturna dos muitos bares e restaurantes de Osaka, seja da descoberta quase caleidoscópica da imensa metrópole de Tóquio. Na memória ficam também as muitas horas a percorrer os templos harmoniosos de Kyoto, bem como a beleza imponente dos palácios de Nara, onde os visitantes partilham o espaço com centenas de veados. Inesquecível é sempre a experiência de um banho quente num osen, especialmente, quando pode ser feito com vista para o monte Fuji. No muito que há para descobrir e viver, numa viagem apenas na ilha central e maior do país, fica sempre guardada a impressão deixada pelas caminhadas nos trilhos místicos de Kumano Kodo e pela beleza quase irreal das casas de madeira de Shirakawa-go. E, claro, o silêncio esmagador que nos absorve em Hiroshima – que não pode ser esquecido.

UZBEQUISTÃO

Samarcanda, Bukhara e Khiva, o coração da Ásia Central

O imaginário exótico da Rota da Seda permanece bem vivo através de três cidades históricas que, nos últimos anos, têm atraído cada vez mais viajantes ao Uzbequistão. Classificadas como Património Mundial pela UNESCO, Samarcanda, Bukhara e Khiva são verdadeiros museus a céu aberto. A mais conhecida será porventura Samarcanda, que dá nome a uma das aventuras de Corto Maltese. Habitada desde o século VIII a.C., é a cidade mais antiga da Ásia Central e, ao longo da História, por aqui se cruzaram culturas, povos e impérios (dos persas a Alexandre, o Grande, de Genghis Khan à União Soviética), deixando a sua marca. Foi o ponto mais central da Rota da Seda e através dela prosperou, até se tornar uma das mais importantes urbes do mundo. No século XIV, foi a capital do império Timúrida – sob o comando de Tamerlão, estendia-se desde a Índia à Turquia e da Rússia à Pérsia. O brilho da outra “cidade eterna”, como também é conhecida, por ser “tão antiga quanto Roma”, permanece até hoje, como se percebe ao entrar na enorme praça do Reguistão, a principal joia deste imenso tesouro que é Samarcanda. Igualmente impressionantes são Bukhara e Khiva: a primeira fica situada num oásis à porta de um imenso deserto e, devido à situação privilegiada, foi cobiçada pelos inúmeros impérios que por aqui passaram e cujas influências se mantêm até hoje, como é o caso da língua tajique, de origem persa, maioritariamente falada nestas ruas; já Khiva, reza a lenda, terá sido criada por um dos filhos de Noé, que aqui, no meio do deserto, terá cavado um poço de onde brotava uma água sempre fresca. Hoje, parece suspensa no tempo, onde a História se materializa não só em edifícios, mas também nas feições, nas vestes e nos usos e costumes da população. M.J.

Foto: Dreamstime.com

MARROCOS

A pérola azul das montanhas do Rife

Foi por ali, no coração do Rife, que, há 100 anos, o futuro caudilho espanhol, Francisco Franco, se entreteve a submeter os povos marroquinos e a aquecer os motores para a guerra civil espanhola. Mas o que nos interessa é mesmo o exotismo marroquino que nos acompanha pela estrada, entre Tetuão e Chefchaouen, a histórica cidade azul, que, a todos os títulos, nos deslumbra os sentidos – apesar de bastante massacrada pelo turismo intensivo. Pode fazer-se a jornada de carro, embarcando, rumo a Tânger, a partir do porto espanhol de Algeciras, que, parecendo que não, é um dos maiores da Europa. Ou pode ir-se de autocarro, com guia e pensão completa, havendo várias agências portuguesas que oferecem o destino. A cidade que os portugueses administraram, durante 190 anos, antes de ser incluída no dote de D. Catarina de Bragança no seu casamento com o monarca inglês Carlos II, é hoje uma urbe ocidentalizada. Mas a fortaleza impressionante, que cerca a medina, não engana: os canhões são espanhóis, mas as pedras são portuguesas. Uma hora e meia por estrada leva-nos a Tetuão, cidade tipicamente marroquina. A medina local, bem mais característica do que a de Tânger, merece ser visitada longamente. Mais uma horita de carro para sul conduz-nos, então, à “pérola azul”, Chefchaouen, um labirinto encantador, digno das “maravilhas de Alice”, que permanece como um ponto azul entre montanhas. A cidade mudou várias vezes de mãos entre franceses e espanhóis, mas também foi capital marroquina da República do Rife, nos anos 20 do século passado. Sempre um ponto estratégico, Chefchaouen foi erguida, no século XV, precisamente para servir de barreira ao avanço dos portugueses. E o seu nome, que deriva do árabe e do berbere, significa “Olhar os Chifres” (em alusão aos bicos das duas montanhas que a envolvem). Cheia de água, oferece um ponto de paragem para o explorador a pé, que pode refrescar-se, junto ao rio, com um rodízio de fruta fresca lavada na corrente. F.L.

Foto: Rui T. Guedes

UGANDA

Beleza selvagem

Observar, de perto, os gorilas de montanha é também uma forma de contribuir para a preservação de uma espécie ameaçada

— por Rui Tavares Guedes

A Floresta Impenetrável de Bwindi, no Sul do Uganda, alberga a maior população de gorilas de montanha do mundo. Nela vivem cerca de 500 daqueles primatas e, quando nos pomos a caminho, depressa percebemos porque chamaram Impenetrável a este emaranhado de árvores e vegetação, a mais de 2000 metros de altitude. Para alcançarmos a família Mukiza, uma das mais numerosas, com 19 membros, foi preciso caminhar durante três horas, por um trilho que ia sendo aberto, à catanada, por um par de rangers, enquanto outros dois, armados com espingardas Kalashnikov, protegiam o grupo de oito visitantes. O esforço é inteiramente recompensado, durante a hora em que estamos autorizados a observar os gorilas de perto, no seu habitat e aparentemente indiferentes à nossa presença. O grande macho Mukiza que dá nome ao grupo mal se deixou ver, embora tenha feito questão de demonstrar o poder da sua força ao partir o ramo de uma árvore apenas com uma mão. Os membros mais jovens rebolavam-se continuamente por entre a vegetação, com dois deles a envolverem-se numa luta. No final, um deu uma corrida curta e, virando-se de frente para o oponente, bateu com o punho fechado no peito, a declarar-se vencedor. Na sombra de uma árvore, uma mãe gorila dava de mamar à mais recente cria do grupo. Cumprida a tarefa, aconchegou o bebé e passou vários minutos a fazer-lhe festas, como só as mães sabem fazer. Durante todo o tempo, os rangers são inexcedíveis para tentar dar confiança aos animais, fazendo sons a indicar que estão em segurança, que aqueles visitantes não são os caçadores furtivos do passado. A verdade é que os esforços para a preservação dos gorilas de montanha estão a ser bem-sucedidos. Continua a ser uma espécie em risco, mas já não está seriamente ameaçada. E o turismo gerado à volta dos gorilas tem sido fundamental, criando postos de trabalho, desenvolvendo comunidades, e originando receitas para os serviços do Parque Natural de Bwindi – o ponto alto de uma viagem ao Uganda, país conhecido como a “Pérola de África”, devido à sua impressionante diversidade natural, vida selvagem e riqueza cultural, com parques magníficos como os de Murchison Falls e Queen Elizabeth, além do impressionante lago Vitória, nascente do rio Nilo.

Foto: Dreamstime.com

CABO VERDE

As melhores coisas da vida

As praias do Sal estarão sempre lá, apesar das hordas de turistas que, garantem-nos, nas últimas décadas, pós-crescimento das companhias aéreas low cost, têm enxameado a ilha. O bom é que, em Cabo Verde, há mais ilhas para descobrir, nomeadamente, Santiago – aqui, no total, são pouco mais de 50 quilómetros de uma ponta à outra da ilha. Na cidade da Praia, de manhã, visite-se o Mercado do Plateau, um festival de cores, cheiros e sabores a que é difícil resistir; à tarde, vá-se até à Cidade Velha, capital a partir de 1858 e Património Mundial da Humanidade desde 2009; à noite, o Quintal da Música, uma “instituição” da cidade e do país, tem mornas e coladeiras, grogues, polvo salteado, atum grelhado e arroz de peixe de comer e chorar por mais. Atravessando a serra da Malagueta, na outra ponta de Santiago, chegamos a Chão Bom, nome irónico para um local de muito má memória: vale a pena entrar no museu do antigo Campo de Concentração do Tarrafal, renovado por ocasião dos 50 anos do 25 de Abril. As ironias não se ficam por aqui: a melhor praia que visitámos em Santiago foi o pequeno areal do Tarrafal, uma baía de águas translúcidas, rodeada de barcos de pescadores, com restaurantes de peixe grelhado por perto. A recordar-nos – como se fosse preciso – que as melhores coisas da vida são muito simples. S.B.L.

Foto: Lucília Monteiro

CAMINHO DE SANTIAGO

De olhos no mar

Do Porto a Santiago de Compostela, o caminho também se faz pelo litoral

Se antes os peregrinos do Caminho Português da Costa passavam despercebidos, nos últimos anos a afluência tem aumentado significativamente. Os dados são da Oficina do Peregrino em Santiago de Compostela, que certifica os caminhantes e atribui a “compostela”: em 2024, o caminho mais percorrido foi o Francês (mais de 236 mil pessoas), mas logo a seguir estão o Caminho Português (mais de 95 mil) e a variante do Caminho Português da Costa (mais de 74 mil). Este é apenas um exemplo do interesse renovado por uma peregrinação que, na Idade Média, era quase obrigatória para todos os cristãos, mas que, hoje, não se resume a questões de fé.

Esta rota de peregrinação histórica sobe o litoral Norte entre o oceano, a serra, rios, povoações e património arquitetónico. São 149,5 km em território português, com partida no Porto (onde se separa do caminho central) e passagem por Vila do Conde, Esposende, Viana do Castelo, Caminha e Vila Nova de Cerveira até chegar a Valença. Espanha começa para lá da ponte metálica sobre o rio Minho e, a partir dali, as principais rotas peregrinas portuguesas convergem num único trajeto assinalado em direção a Santiago de Compostela (distância total 258 km).

Diz-se que todo o caminho escolhido por um peregrino, desde o seu local de origem até ao túmulo do Apóstolo, é um caminho de Santiago. Desde que, em 2017, dez municípios do Norte Litoral, do Porto a Valença, se juntaram para valorizar o percurso e uniformizar a sinalização, o Caminho Português da Costa é não só uma rota de peregrinação até Compostela, como um site, uma aplicação móvel e um guia impresso, onde é possível planear um roteiro, encontrar dicas sobre os cuidados a ter antes, durante e depois da caminhada, assim como informação sobre os trilhos, a localização dos albergues oficiais, além dos muitos pontos de interesse que surgem ao longo do percurso. Um bom empurrão para se fazer ao Caminho.

Foto: D.R.

VIETNAME

Perdidos na cidade de Hoi Han

Foi durante séculos uma próspera urbe graças ao seu porto, situado nas rotas marítimas do comércio da seda. Teve o seu auge nos séculos XV e XVI, quando mercadores vindos da China e do Japão, mas também de paragens mais distantes, como França e Portugal, aqui se instalaram, contribuindo para transformar Hoi Han numa verdadeira encruzilhada do mundo. O coração da cidade é a Cidade Antiga, situada numa das margens do rio Thu Bồn e classificada como Património Mundial pela UNESCO. Apresenta-se como um labirinto de ruas paralelas e ruelas perpendiculares, onde casas coloniais ao estilo francês coabitam com templos chineses, num total de mais de mil edifícios históricos. A Ponte Japonesa (século XVII) ainda liga os dois lados da cidade como símbolo silencioso da centenária tradição de convivência cultural, que se mantém. Um dos melhores locais para conhecer a essência deste singular local é nos mercados central e noturno, de preferência a saborear um aconchegante prato de cao lầu, uns noodles feitos com água retirada de um poço ancestral e preparados com cinzas de árvore. M.J.

Foto: D.R.

IRÃO

O exotismo de Qeshm

A maior ilha do Golfo Pérsico tem estatuto de zona franca e, ao contrário do Irão continental, não é necessário visto para aqui chegar. E não faltam coisas para ver e fazer nesta ilha habitada pelos bandaris, um povo de origem árabe, cujas cultura e tradições misturam influências de latitudes tão distantes quanto a Índia ou Portugal. Sim, isso mesmo, porque Qeshm – ou Queixome, como era chamada na língua de Camões – foi governada durante cerca de 200 anos pelos portugueses, que além de uma fortaleza, hoje em ruínas, também deixaram alguma toponímia e uma ou outra palavra no dialeto local. Visite-se a aldeia tradicional de Laft e mesmo ali ao lado o imenso mangal de Hara, que pode ser percorrido em passeios de barco ou em pranchas de stand up paddle. O património natural da ilha, que lhe valeu o estatuto de geoparque pela UNESCO, inclui ainda o vale das Estrelas, onde a erosão formou caprichosos caminhos entre rochas em forma de coluna, ou a impressionante garganta de Chahkooh, um profundo desfiladeiro esculpido na rocha, onde, em certos pontos, as paredes estão tão próximas que se podem tocar com ambos os braços. Há ainda um sem-fim de praias paradisíacas e desertas. M.J.

BUDAPESTE

Cá vou eu no meu traby…

Tudo mudou desde a lendária canção dos Mão Morta. A capital da Hungria já não é “decrépita”; é uma cidade lindíssima para um passeio de sonho

— por Alexandra Correia

“Estás em Budapeste. Inverno de 91. Ano 1 da queda do comunismo…” Assim começa o prólogo de Budapeste, ainda a mais conhecida canção da banda portuguesa Mão Morta, que descreve “uma cidade escura, de belos edifícios decrépitos, ruínas, fachadas enegrecidas pela poluição”, mas sempre a “rock & rollar”. Também podia ser uma Lisboa desse tempo, na sua decrepitude, mas tudo mudou. Budapeste está hoje muito longe dessa ruína, embora continue a “rock & rollar”.

Cidade elegante, belíssima, banhada pelo rio Danúbio que antes separava Buda de Peste, agora unidas por românticas pontes – e esse é um dos passeios que vale a pena fazer, andar de barco pelo Danúbio ao cair da noite, deixando-se enlevar pelas luzes da cidade nas margens, pasmando com os seus magníficos monumentos.

E provavelmente nenhum será tão extraordinário quanto o edifício do Parlamento, um colosso construído no final do século XIX. Com uma arquitetura neogótica inspirada na Câmara Municipal de Viena, alberga a coroa sagrada húngara e outras joias da coroa. Da imponente escadaria à opulência das salas, transporta-nos para um outro tempo, no imaginário de um império que se desmoronou em 1918, quando a Hungria se tornou uma república independente. Mas ali bem perto do Parlamento, por exemplo, esse estilo ainda é evocado nas salas do Aurea Ana Palace Hotel, onde a VISÃO pernoitou, tendo este sido sede da delegação austríaca na Hungria, em finais do século XIX – e, por isso, não se estranham os frescos com a imagem de Sissi, a famosa imperatriz que deu origem a tantos contos de encantar.

Para algo completamente diferente, da História de sonho à História de terror, vamos naturalmente ao bairro judeu, onde se encontra a maior sinagoga da Europa. Aquele que foi o gueto onde foram metidos os judeus durante a II Guerra Mundial, cercados por grandes muros, não deixa de evocar a parte sombria da sua História, mas é hoje um bairro vibrante de vida diurna e noturna, com lojas alternativas, restaurantes e os famosos “ruin bars”. São bares animadíssimos, cosmopolitas, com ambiente de cultura e vanguarda, que ocupam edifícios antigos – esses, sim, decrépitos –, o que lhes dá um charme e uma atmosfera únicos.

Finalmente, e sublinhamos este conselho com veemência: não deixe de ir a uma das termas da cidade. É uma experiência inigualável. Fomos ao Szechenyi Thermal Baths durante o inverno. Um frio de rachar cá fora, um aconchego tépido dentro de água, mesmo na piscina ao ar livre, onde grupos de amigos ou famílias se juntam a seguir ao dia de trabalho, como quem vai ao café. É um daqueles prazeres de que não se esquecerá tão cedo.
A VISÃO viajou a convite do Grupo Hotusa

Foto: Dreamstime.com

EXPRESSO DO ORIENTE

Nos carris da Europa

Não é preciso ser-se Hercule Poirot para descobrir a melhor maneira de percorrer a rota mais mítica das linhas de caminho de ferro europeias. Basta uma boa programação e, por uma ínfima fração do preço do célebre Expresso do Oriente, podemos ir, facilmente, de Paris até Istambul, com paragens nalgumas das mais belas cidades da Europa. Sempre em comboios regulares, alguns com boas cabines para passar a noite e optando, nalguns locais, por dormidas nos hotéis clássicos que existem sempre perto das principais estações ferroviárias.

Uma boa forma de “imitar” o Expresso do Oriente é iniciar a viagem em Paris de onde, na Gare do Leste, se pode apanhar o comboio noturno para Viena – uma das linhas mais antigas entre duas capitais e cuja recente popularidade fez reviver o interesse pelos comboios noturnos.

Depois de uns dias na capital austríaca, considerada a melhor cidade para se viver, o itinerário segue através de Budapeste, Bucareste e Sofia, de onde se faz a derradeira ligação para a inebriante e sempre mágica Istambul. O programa entre Viena e a antiga Constantinopla é, aliás, um dos mais populares em agências de viagens como a Landscape e a Nomad. R.T.G.

TOLEDO

História entre muralhas

Entre-se nas muralhas da capital manchega, eternizada por Dom Quixote de La Mancha, personagem da obra de Miguel de Cervantes, e são muitas as ruas estreitas e íngremes, onde judeus, muçulmanos e cristãos já conviveram, que temos para palmilhar.

O centro histórico, classificado como Património Mundial da Humanidade pela UNESCO, reúne os principais monumentos da cidade, entre igrejas, sinagogas e mesquitas, como a imponente catedral na Plaza del Ayuntamiento, por todos chamada Plaza de Los Tres Poderes (judicial, político e eclesiástico).

Há mais de quatro mil anos, Toledo nascia do lado oposto de onde está e, na outra margem do rio Tejo, os miradouros são paragem obrigatória. Ninguém escapa também a provar a delícia de Toledo, de preferência na fábrica Santo Tomé, instalada num edifício do século XVI, a mais antiga de Toledo. Fazer mazapán (maçapão) é um negócio tradicional de família, agora na sétima geração, que preserva a receita original do doce natalício feito com amêndoa, açúcar e mel, mas vendido o ano inteiro. S.C.

AMARANTE

Passeio cultural

Espelhada no rio Tâmega, a cidade fervilha arte, gastronomia, doçaria e o regresso de uma Estrela Michelin

— por Sónia Calheiros

Berço de ilustres das artes, como Teixeira de Pascoaes e Agustina de Bessa-Luís nas letras e Amadeo de Souza-Cardoso na pintura, Amarante preserva um centro histórico com um pulsar cultural intenso.

São Gonçalo, um beato com fama de casamenteiro e ainda fonte de forte devoção popular, dá nome à ponte do século XVIII e à igreja do século XVI. Nos espaços correspondentes ao antigo convento dominicano, reconvertido pelo arquiteto Alcino Soutinho, fica o Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso, onde estão guardadas cerca de 25 obras do pintor amarantino (1887-1918) e uma interessante coleção de arte moderna e contemporânea portuguesa.

Em 2023, o Cineteatro de Amarante reabriu, mantendo apenas a original fachada do edifício de 1947, com grandes janelas de vidro, que funcionou como sala de cinema até aos anos 80. A envolvente do teatro vale, por si só, uma visita, com as suas pastelarias que exploram o receituário conventual (papos de anjo, foguetes, lérias, brisas do Tâmega…).

Em cada margem do rio Tâmega, muitas das varandas sobre a água pertencem a restaurantes e confeitarias onde se prova o melhor da gastronomia local, do cabrito serrano aos doces do extinto Convento de Santa Clara.

À beira-rio fica também a Casa da Calçada, hotel emblemático do Norte do País, reaberto após dois anos de obras de renovação. Trinta e cinco quartos bem decorados, o chefe de cozinha Francisco Quintas à frente do restaurante Largo do Paço (capaz de lhe devolver a Estrela Michelin) e um wellness center debaixo de uma vinha são algumas das novidades deste cinco estrelas com o selo Relais & Châteaux.

EXPOSIÇÕES

No fresco dos museus

Cinco cidades europeias com boas exposições que valem uma viagem nos próximos meses

— por Inês Belo

Apontamos a Paris, neste périplo pela Europa, para escrever que a Fundação Louis Vuitton apresenta a maior exposição de sempre de um artista fundamental dos nossos dias. David Hockney 25 (até 31 ago) reúne 400 obras, na sua grande maioria criadas nos últimos 25 anos pelo pintor britânico de 88 anos.

Cem obras escolhidas da coleção Pinault apresentam-se em Corps et Âmes (até 25 ago) na Bourse de Commerce, edifício histórico que o arquiteto japonês Tadao Ando adaptou para ser a mais recente casa da coleção de arte contemporânea de François Pinault. Vale a pena passar também pelo Centro Georges Pompidou, onde Paris Noir (até 30 jun) revela a presença e a influência de artistas negros em França entre as décadas de 1950 e 2000.

Em Bilbau, o Guggenheim é sempre uma boa surpresa. Refik Anadol é um artista digital turco que tem aprofundado a sua pesquisa em IA e conjuntos de dados para coletar imagens e sons de 16 florestas tropicais a fim de criar algoritmos que reflitam a inteligência inerente do mundo natural. In situ fica patente até 19 de outubro. Berlim, ou melhor, o museu Gropius Bau apresenta Yoko Ono: Music of the Mind (até 31 ago), uma abrangente mostra individual da artista e ativista japonesa de 92 anos, que atravessa sete décadas da sua prática transformadora.

Londres é sinónimo de diversidade, já se sabe. Na Tate Modern, trabalhos de Emily Kam Kngwarray (até 11 jan 2026), australiana que criou obras poderosas que refletem a sua vida enquanto mulher aborígene, nascida em Alhalker, na região norte do país. A National Portrait Gallery é casa da primeira grande exposição de Jenny Saville num museu no Reino Unido. The Anatomy of Painting (até 7 set) reúne 50 obras da britânica, incluindo desenhos a carvão e pinturas a óleo de grandes dimensões da figura humana.

O Rijksmuseum, em Amesterdão, dá carta-branca à artista nascida na Indonésia Fiona Tan para, a partir da coleção do museu nacional dos Países Baixos, selecionar um conjunto de obras que reflitam sobre a monomania – palavra que na psicologia significa “mania em que predomina uma ideia fixa” e que dá nome à exposição (até 14 set). Na galeria de fotografia do mesmo museu, Crossings (até 14 set) apresenta um diálogo entre a fotografia colonial britânica do século XIX e o trabalho contemporâneo do franco-cingalês Vasantha Yogananthan.

Foto: José Caria

BILBAU

À procura do pintxo perfeito

O ano de 1997 marca um “antes” e um “depois” na vida de Bilbau. A maior cidade basca, com um passado industrial e de arquitetura escura, passou, praticamente de um dia para o outro, a ser um grande polo de atração turística – competindo com a charmosa San Sebastián, a 100 quilómetros, e a sua magnífica Praia de la Concha, bem no centro. Esse dia foi 18 de outubro de 1997, o da inauguração do Museu Guggenheim de Bilbau, com a arquitetura icónica do norte-americano Frank Gehry, que continua, desde o primeiro dia, a não deixar ninguém indiferente. É um daqueles equipamentos culturais que funcionam como chamariz de visitantes, independentemente da programação. E à sua porta lá continua a icónica escultura gigante de Jeff Koons, Puppy, um cachorro todo feito de vasos de flores…

Mas a verdade é que há muito mais para ver nesta cidade de identidade forte e com habitantes muito orgulhosos (um traço de personalidade que se nota sabendo que o clube de futebol local, o Atlético de Bilbau, que no ano passado venceu a Taça do Rei, continua a só contratar jogadores bascos ou que tenham feito a formação na região). O facto de ter tido um passado comercial e industrial próspero ajudou a reforçar esse orgulho e essa identidade. Isso vê-se, por exemplo, no Teatro Arriaga, inaugurado em 1890 e inspirado na arquitetura da Ópera de Paris. Mas a melhor maneira de conhecer o espírito da cidade é adentrando-se, não muito longe desse teatro à beira do rio Nervión, nas ruelas do bairro antigo, à procura do pintxo perfeito. Como em todo o País Basco, a gastronomia é uma arte que ali se leva muito a sério. O mais fácil, nessa demanda, é entrar num qualquer bar da bela Plaza Barria/Nueva, mas os locais dirão que aí já só encontra lugares turísticos e que vale a pena procurar melhor… Como em todas as cidades do mundo, perdermo-nos um pouco é, muitas vezes, a melhor solução. P.D.A.

Miguel Pereira da Silva/ LUSA

MOREIRA DE REI

A maior necrópoleda Península Ibérica

A sete quilómetros e meio de Trancoso, no concelho da Guarda, Moreira de Rei é, hoje, mais uma aldeia muito pacata, com poucos habitantes, e que apenas se anima um pouco nos meses de verão. Mas é certo que na Idade Média esta era uma localidade com muita importância na região. E acreditamos que vai voltar a ganhar relevância, agora nos circuitos turísticos no Interior do País. Quem chega à necrópole a céu aberto de Moreira de Rei, em torno da sua igreja românica, espanta-se por este património não ser mais conhecido e falado. Afinal, estamos perante a maior necrópole do género na Península Ibérica. Esse desconhecimento geral explica-se, em parte, porque só recentemente, em escavações feitas a partir de 2018, se percebeu a real dimensão destes vestígios arqueológicos. Antes, estavam identificados cerca de 150 túmulos dispersos, à volta da Igreja de Santa Marinha; hoje, sabe-se que existem cerca de 750 sepulturas, na sua grande maioria escavadas no granito (muitas delas escondidas por construções).

A musealização de toda essa área é, ainda, um projeto em curso. Mas, ciente do interesse que esta descoberta ia provocar, a Câmara Municipal de Trancoso instalou já um posto de turismo à entrada da aldeia para receber os visitantes. No futuro, um centro de interpretação deverá ser instalado dentro do templo religioso, onde também podem ser exibidas algumas descobertas feitas no trabalho de escavações no local.

Estas sepulturas antropomórficas, de adultos e crianças, remontam aos séculos VIII e IX e, posteriormente, XII e XIII. Muito próximas umas das outras, bem no centro da aldeia, criam um cenário único. E este não é o único monumento registado em Moreira de Rei. Há ainda, para ver, as ruínas do castelo e um pelourinho quinhentista. P.D.A.

RIO DE JANEIRO

Declaração de amor à cidade maravilhosa

De cada vez que voltamos ao Rio, há um pedaço do coração que por lá fica – por conta da sua beleza natural, da vibração, do modo de vida carioca e do biscoito de polvilho com chá mate

— por Luísa Oliveira

Se estivéssemos hoje, segunda-feira, no Rio de Janeiro, assim que puséssemos o ponto final neste texto, entraríamos num Uber para não falhar duas paragens que marcam a vida social logo no primeiro dia da semana, aquele em que se costuma preferir ficar em casa para curar as dores do epílogo do fim de semana. Mas, lá está, no Rio isso não existe – a vida assemelha-se a umas intermináveis férias de verão.

“Por obséquio, leve-nos ao Samba do Trabalhador”, pedimos ao motorista, sempre dispostos a iniciar um “papo legal”, com pronúncia brasileira. É assim que ficamos a saber que esta reunião de músicos, no Clube Renascença, em Vila Isabel, passou a acontecer às segundas por ser o dia em que normalmente eles não trabalham. À porta, comemos uma gama variada de “espetos” para aconchegar o estômago antes do desfile de caipirinhas (ou caipivodkas) de todas as cores. 

Quando a música se cala, ficamos com pena, mas pegamos no embalo acumulado nas últimas horas e rumamos para outra roda de samba, na Pedra do Sal, no coração do bairro da Saúde, também conhecido como Pequena África. É de noite, há gente que nunca mais acaba, e a animação promete, bem ao “jeitinho” carioca. No entanto, devemos perceber que estamos num sítio histórico, em que tudo acontece de frente para uma grande pedra com escadaria talhada, que dá acesso ao Morro da Conceição. Este foi um ponto de venda de escravos e onde se descarregava o sal dos navios que atracavam no porto, usado depois na fabricação de couro e conserva de carne.

Seguindo na onda dos sítios com histórias e que não fazem parte do postal ilustrado que enviamos para a família, durante o dia escolhemos ir ao The Maze, na comunidade Tavares Bastos, na zona sul. No final de um enredado de ruas estreitas e construções ponta acima, ponta abaixo, aparece este bar-miradouro criado por Bob Nadkarni, um artista britânico que veio morar no Rio há mais 40 anos, a partir da sua casa.

Estávamos à espera de ter uma grande vista – e confere, mesmo de frente para o Pão de Açúcar –, mas não contávamos com o que nos mostraram na visita guiada. Além de bar, o The Maze é palco de concertos de jazz, atelier de artistas e um pequeno hostel. O mais surpreendente é que tudo está decorado com mosaicos, ao estilo Gaudí, e são os visitantes mais dotados que colam os pedacinhos coloridos que resultam em desenhos com significado.

Quando nos mandaram embora – só abre de quarta a sábado, do meio-dia às cinco –, sentámo-nos na esplanada a conviver com a gente daqui. No Rio, já existem muitas comunidades pacificadas (antes chamadas favelas) com lugares só virados para o turismo. É o caso do Mirante Rocinha, uma esplanada que advoga ter a “vista mais gostosa do Rio”, em que tudo está organizado para os posts do Instagram – até há um serviço de drone que faz filmes de um minuto que podem ir direitinhos para uma história dessa rede social. O Atlântico vê-se da Rocinha, assim como os morros que despontam das águas. Avista-se, aliás, de quase todos os pontos altos da cidade, como se estivéssemos numa ilha. É por isso que sempre que vamos ao Rio não podemos deixar de mergulhar no mar – muitas vezes bravo –, de embasbacar com a permanente agitação no areal e de comer biscoitos de polvilho com chá mate. Ao final da tarde, ainda salgados, havemos de subir ao Arpoador para “curtir” um pôr do sol logo seguido do acender das luzes da cidade maravilhosa, que ela é bonita a qualquer hora do dia. Eu não pedi para me apaixonar, mas é impossível resistir-lhe.

Foto: D.R.

COSTA VERDE

De praia em praia

A costa atlântica que junta os estados do Rio de Janeiro e São Paulo está repleta de paraísos à beira-mar

— por Manuel Barros Moura

Para quem já conhece ou se sente oprimido nas megametrópoles que são o Rio de Janeiro e São Paulo, existem cerca de 500 quilómetros que se estendem entre os extremos sul e norte dos estados com os mesmos nomes que são o destino ideal para amantes de viagens de carro, praia, turismo de Natureza e boa gastronomia. A Costa Verde junta tudo isto e proporciona experiências inesquecíveis, sempre banhadas por um mar vigoroso e cristalino que vem beijar um imponente relevo coberto de luxuriante e irrepreensivelmente preservada mata atlântica.

Comecemos, pois, a viagem. Primeiro destino, Paraty, cujo centro histórico está classificado, bem como outras áreas circundantes, como Património Mundial Misto, cultural e natural. Razoavelmente bem conservado, o antigo burgo colonial é o sítio ideal para conhecer a cultura local, recomendando-se que não se perca a oportunidade de provar a caipirinha Jorge Amado, que mistura lima, maracujá e cachaça Gabriela, uma aguardente mais leve e aromatizada, claro está, com cravo e canela. Depois do aperitivo, para jantar destacamos o Banana da Terra ou o Café Paraty, ambos excelentes na forma como combinam a modernidade com a autenticidade da gastronomia caiçara.

Do centro da cidade partem, diariamente, dezenas de barcos para conhecer as praias da região, mas, já que está de carro, a nossa recomendação vai para uma visita à Praia do Sono, uns quilómetros a sul de Paraty, à qual se acede em barcos de pescadores a partir de um aldeamento de luxo vizinho ou percorrendo uma trilha de hora e meia pelo meio da mata. Parece duro, mas vale a pena.

Seguindo viagem, surge a região de Ubatuba, cidade sem grande apelo, que se tornou estância balnear de cariocas e paulistanos. Nesta zona, o que vale a pena são especialmente duas praias. A do Félix, para quem aprecia a ideia de um areal mais badalado, com esplanadas, música, comes e bebes e vendedores ambulantes, ou o vasto areal de Itamambuca, onde nada disso é permitido e o silêncio só é interrompido pelo barulho das ondas.

Como destino final desta road trip sugerimos Ilhabela. Com cerca de metade do tamanho da Madeira, esta ilha à qual se acede de ferry a partir de São Sebastião, é praticamente virgem, visto que quase 80% dos seus 347 km² de território fazem parte de um parque natural. Ainda assim, é possível chegar a praias deslumbrantes, como é o caso de Castelhanos, à qual se acede de lancha (um passeio com inúmeras paragens em pequenas praias de pescadores) e de onde se pode regressar de jipe, numa travessia que nos leva até quase aos mil metros de altitude e permite visitar cachoeiras e quedas de água. Para gente mais afoita, há a praia do Bonete. Também se lá chega de barco, mas os amantes da Natureza explicam que o melhor é mesmo fazer as cinco horas de caminhada pelo meio da floresta. Claro está que quem o fizer terá de lá pernoitar, existindo, para isso, espaços de campismo, pousadas e hotéis de charme. E agora até já com internet, graças aos satélites Starlink de Elon Musk.

Foto: Lucília Monteiro

SANTA CATARINA

Entre baleias e balões

O estado brasileiro de Santa Catarina, no Sul do país, é mais conhecido pela sua capital, Florianópolis (para onde já se voa direto de Lisboa, na TAP), situada na ilha que tem o nome do estado. A ilha de Santa Catarina, no Atlântico, é uma faixa de 54 quilómetros de comprimento por 18 de largura, está repleta de pontos de interesse turístico e não falamos só de praia. Povoada por açorianos, encontramos ali tradições como a procissão das festas do Divino Espírito Santo, na localidade de Santo António de Lisboa. E existe até um grupo social conhecido como os “manezinhos da ilha”, que são os nativos de Florianópolis, mais especificamente os descendentes dos açorianos, título que exibem com orgulho e um linguajar peculiar.

Mas deixemos a ilha para ir ainda mais para sul, visitar uma parte menos povoada de Santa Catarina. A apenas uma hora de carro da capital, sentamo-nos na areia da Praia da Gamboa, município de Garopaba, e ficamos a olhar para o mar. Quem tiver sorte ou paciência para esperar verá baleias a saltar fora de água, para ensinar os seus filhotes a estimular a musculatura. É um espanto! Não é preciso apanhar nenhum barco; basta sentar na areia.

Nesta que é uma das zonas mais preservadas da Mata Atlântica, o Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, as baleias-francas-austrais chegam em agosto, ficam dois meses nesta baía segura, longe de tubarões e de orcas, e transformam-na numa maternidade/berçário. No final de outubro, regressam à Antártida.

Outra experiência arrebatadora que podemos ter naquela região é andar de balão sobre os canyons. Existem 64 canyons, alguns dos quais delimitam a fronteira com o estado do Rio Grande do Sul. Alguns balões chegam a levar 20 pessoas no enorme cesto. Subimos até aos 1 300 metros de altitude: por baixo de nós, os campos de arroz, feitos manta de retalhos; ao fundo, os canyons. Atravessamos as nuvens para ver o nascer do sol. E o dia só pode correr bem. Alexandra Correia

Foto: D.R.

RIO NEGRO

O afluente do Amazonas tem um dos maiores arquipélagos fluviais do mundo

Ao fim de três dias a navegar pelo rio Negro, já tínhamos visto botos cor-de-rosa, formigas gigantes, os alimentos e remédios que se colhem da floresta e duas comunidades indígenas (que os turistas visitam e onde quase sempre compram o artesanato ali produzido recorrendo às matérias-primas locais, das sementes de açaí aos dentes de piranha).

Também vimos o sol despontar no horizonte e lançar sobre o rio uma luz dourada, mas nada nos impressionou tanto como aquele passeio. Anavilhanas é um arquipélago com mais de 400 ilhas, localizado a cerca de 100 quilómetros de Manaus, a capital do estado do Amazonas. A lancha segue devagar por entre os igarapés (na língua tupi, significa caminho de canoa), e nós vamos de olhos esbugalhados, engolidos pela beleza amazónica: verde de um lado, verde do outro, a densa vegetação que se entrelaça, numa muralha de troncos, ramos e folhas. Vemos garças, martins-pescadores, carcarás, urubus e preguiças, vemos a sumaúma, a árvore rainha, gigantesca e sagrada da floresta, e, dali a nada, alguns morcegos em voos que antecipam o crepúsculo.

Este é um dos vários passeios feitos em lancha e incluídos no cruzeiro a bordo do navio hotel Grand Amazon Expedition, cinco dias pelas águas calmas do rio Negro, que há de se encontrar com o Solimões. Devido às diferenças de temperatura, velocidade e densidade das suas águas, os dois rios vão correndo lado a lado, sem se misturarem, criando uma faixa onde se distingue claramente. Um é negro, o outro é barrento. O encontro das águas antecipa o desembarque em Manaus. Como a Natureza foi generosa neste pedaço do mundo. I.B.
A VISÃO viajou a convite da Iberostar e da TAP

Foto: Pedro Monteiro

OURO PRETO

Onde o tempo parou

Antiga capital de Minas Gerais, para a qual confluíamos caminhos da exploração do ouro, é hoje a cidadeonde o barroco luso-brasileiro se revela em todo o esplendor

— por Sara Belo Luís

Como no estado de Minas Gerais tudo é “trem”, diga-se que tem muito “trem” para admirar em Ouro Preto. E já que começámos com “mineirês”, como vulgarmente se chama ao dialeto mineiro, acrescente-se ainda que, depois da visita à cidade histórica, será caso para dizer: “Uai!”

Entendeu, caro leitor? Então, “vamo” lá explicar. Afirmar que tem muito “trem” não tem nada a ver com transporte ferroviário. Dizer “trem” é o mesmo que dizer que existem muitas coisas em Ouro Preto: igrejas barrocas, altares dourados, arte sacra, palácios, casas a que em Portugal chamaríamos solarengas, mas que os locais chamam, e bem, casas coloniais…

A riqueza de todo aquele património entra ainda hoje pelos olhos adentro, 45 anos após Ouro Preto ter sido declarada Património Mundial pela UNESCO (foi, aliás, a primeira cidade brasileira a receber essa distinção, em 1980, dois anos antes de Olinda, em Pernambuco, no Nordeste). Também continua a fazer sentido evidenciar as semelhanças com a paisagem portuguesa. De resto, ninguém as descreveu melhor do que o escritor e professor Vitorino Nemésio: “Estou em Minas Gerais e é como se estivesse num Portugal caldeado de vilas do Norte e do Sul. A ponte, à Casa dos Contos, parece estender-se sobre o Tâmega e colocar-nos na vila de Amarante. A rua do conde de Bobadela, que trepa ao largo do Paço (Tiradentes), parece Montemor-o-Novo, quando se vai para Évora. Não fora este ar de calvário abolido e sentia-me no Minho e no Alentejo” (do livro O Segredo de Ouro e Outros Caminhos, que reúne crónicas de viagem e poesia de feição brasileira).  

As ruas de Ouro Preto são muito íngremes, a calçada é propícia a quedas e, ao anoitecer, a iluminação pública não abunda. Fundada no final do século XVII, a cidade chamava-se Vila Rica por motivos óbvios e foi a capital do estado de Minas Gerais, até ao final do século XIX e à inauguração de Belo Horizonte (ver texto nas páginas seguintes). Nos tempos áureos da exploração mineira, por aqui passou todo o ciclo do ouro – esse tempo já lá vai, claro, subsiste o património e alguma economia à volta das minas. Turismo também: não muito longe do centro da cidade, é possível percorrer alguns metros numa antiga mina de ouro. 

Em Ouro Preto, tudo é panorâmico. Os pontos mais elevados são perfeitos para a fotografia e, sim, aqui tiram-se muitas imagens bilhete-postal. No essencial, a cidade não é difícil de entender. Tudo gira em torno da Praça Tiradentes, que leva o nome do herói nacional, símbolo da identidade brasileira. Como acontece quase sempre nas viagens, tudo é uma questão de tempo e de gosto, que motivos de visita é coisa que não falta: Igreja São Francisco de Assis, Igreja Nossa Senhora da Conceição, Igreja Nossa Senhora do Carmo, Palácio dos Governadores, Museu da Inconfidência… Muitas destas fachadas têm a marca de “Aleijadinho”, como era conhecido António Francisco Lisboa, importante escultor, entalhador e arquiteto do período colonial. Com “Tiradentes”, é a figura mais conhecida da História de Ouro Preto.

Para intercalar a barrigada de património com refeições de comida tradicional, duas sugestões de restaurantes mais ou menos consensuais: Contos de Réis e Bené da Flauta. Para café e chocolate, sem esquecer aquela gulodice do demo chamada doce de leite, na Praça Tiradentes, há ainda uma loja da Fábrica de Chocolates Ouro Preto. E se há coisa que distingue um mineiro é o facto de nunca recusar um café.

Uma fazenda em Cachoeira do Campo

É precisamente na região de Ouro Preto que o grupo hoteleiro português Vila Galé inaugurou a sua 12ª unidade no Brasil (em outubro deste ano, ainda abrirá outra, em Belém do Pará). “Costumo dizer, a brincar, que estamos aqui a devolver algum do ouro que levámos há uns séculos”, diz Jorge Rebelo de Almeida, presidente e fundador do Vila Galé. Integrado numa fazenda com 277 hectares, em Cachoeira do Campo, a 22 quilómetros de Ouro Preto, o hotel representa um investimento de 180 milhões de reais (cerca de 30 milhões de euros) e resulta da recuperação de um edifício que tem uma longa história para contar. Foi ali que funcionou o primeiro regimento de cavalaria de Portugal no Brasil, mandado construir em 1779 pelo então governador António de Noronha.

Dez anos depois, em 1789, o edifício de Cachoeira do Campo foi também um dos focos principais da Inconfidência Mineira, a revolta de natureza separatista liderada por Joaquim José da Silva Xavier, o “Tiradentes”, justamente. Foi executado no Rio de Janeiro, a 21 de abril de 1792, e a sua cabeça foi exibida no cimo de um poste em Ouro Preto. Depois da revolta da Inconfidência Mineira, o imóvel agora recuperado pelo grupo português teve ainda duas vidas: acolheu a Coudelaria Imperial de Cachoeira do Campo, fundada a 29 de julho de 1819, e, no final do século XIX, em 1897, o Colégio Dom Bosco, uma escola agrícola orientada por salesianos.

Em 2024, o Brasil recebeu 218 mil visitantes portugueses, o que representa um crescimento de 23% relativamente a 2023. Até abril deste ano, já se registou um aumento de 26%. O objetivo é claro, segundo Marcelo Freixo, presidente da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur): atingir um recorde de 300 mil visitantes até 2026. “Queremos trazer mais turistas além dos que vão para o Nordeste e para a Bahia. Quem vem para Minas Gerais não está à procura de sol e praia. E há cada vez mais portugueses interessados na História, na cultura, na gastronomia e na Natureza”, afirma o presidente da Embratur.

Por ora, os principais empregadores na região são as empresas mineiras e a Universidade Federal de Ouro Preto, que também tem polos noutras duas cidades de Minas Gerais, Mariana e João Monlevade. A ideia é expandir o turismo a partir de Ouro Preto para toda a região, de acordo com o prefeito, Angelo Oswaldo. O governador Romeu Zema Neto, que esteve presente na inauguração do Vila Galé Collection Ouro Preto, no passado dia 24 de maio, também fez notar que Minas Gerais é “provavelmente, o estado brasileiro onde o turismo está a crescer mais”. No fundo, é a expansão de Ouro Preto para o mundo. E ainda dizem que a História não se repete. sbluis@visao.pt
A VISÃO viajou a convite do grupo Vila Galé 

Arte Desenhado por Oscar Niemeyer nos anos 40 do século passado, o Complexo da Pampulha tem a marca do modernismo, em particular, a Igreja de São Francisco de Assis (foto à esquerda). No centro da cidade, há mais edifícios com o traço do arquiteto (à direita); o Mercado Central também vale a pena (ao centro)

BELO HORIZONTE

A cidade dos sonhos

BH não tem mar, mas tem bar – costumam dizer os locais. Um exemplo da força da arquitetura moderna e da energia da cultura urbana

— por Sara Belo Luís

Olhando para o Brasil apenas na perspetiva do sol e da praia, Belo Horizonte tem poucos atrativos para oferecer. Inaugurada em 1897, começou por se chamar Cidade de Minas, de tal maneira as minas marcavam a geografia e a economia do território. Foi erguida como se de um grande anfiteatro se tratasse, protegida dos ventos frios do Sul e dos ventos quentes do Norte, entre as serras do Curral e da Contagem. Mudou de nome em 1901, já no século XX, quando se fizeram as primeiras cidades planeadas, e por isso se diz que foi construída com sonhos.     Hoje, Belo Horizonte é conhecida pelas iniciais – BH – e a cultura popular resolveu a questão do sol e da praia com um ditado delicioso que os locais repetem para os forasteiros ainda espantados com a questão da interioridade: “Belo Horizonte não tem mar, mas tem bar.” É absolutamente verdade, que o digam os milhares de botecos espalhados pelas várias zonas da cidade. É só googlar e facilmente se encontra uma seleção dos melhores, num projeto levado a cabo recentemente pela Sebrae Minas e pela prefeitura chamado Bares com Alma.

De resto, os mineiros sabem bem como agarrar pelo estômago os que vêm de fora, sejam eles nacionais ou estrangeiros. Frango, polvo, milho, angu, carne pinga e frita, pão na chapa e, claro, cachaça e queijos (vários, mas em particular canastra). Dois exemplos, muito diferentes, por nós testados, sugestão de quem sabe: Trinta e Um, por onde passa uma parte da movida de BH e onde a chefe Gabi serve comida tradicional de maneira sofisticada; e Pirex, um botequim com boa onda, bons petiscos e ambiente descontraído. Bem perto deste último, também vale a pena perder uma hora (ou duas, ou três…) no Mercado Central, onde se vende tudo e mais um par de botas.    Em BH, também se aconselha o circuito de arte urbana, já que, em termos de património histórico propriamente dito, no centro da cidade, fica quase tudo visto em torno da Praça da Liberdade, onde abunda o neoclássico. Um pouco mais longe, para lá dos estádios do Mineirinho e do Mineirão, recomenda-se, e muito, uma visita ao Complexo Arquitetónico da Pampulha. Foi desenhado por Oscar Niemeyer nos anos 40 do século passado, antes de Brasília, sob encomenda de Juscelino Kubitschek, Presidente do Brasil entre 1956 e 1961 e então prefeito de Belo Horizonte.

Além de uma lagoa artificial, o Complexo da Pampulha inclui um casino (hoje museu), a Casa do Baile (sala de exposições e auditório), o Iate Ténis Clube, a Casa Kubitschek (funciona como casa-museu) e a Igreja de São Francisco de Assis, a qual, além do traço de Niemeyer, acolhe também pinturas, azulejos e painéis de Cândido Portinari. Em 2016, toda a área da Pampulha foi classificada Património Mundial pela UNESCO e, por isso, tem estado a ser recuperada. Perdoe-se-nos a nota pessoal, mas passear por toda esta zona recorda-nos como o Brasil, além de ser o país do sol e da praia, também é o país da vastidão e, sobretudo, da esperança num futuro melhor. Queira Deus e queiram os homens também.

CEARÁ

Dunas com (ou sem) emoção

Bons ventos fazem de Caucaia, no Nordeste brasileiro, a meca mundial de kitesurf

— por Sónia Calheiros

De manhã, à sombra, depois de um mergulho no mar, passava um cearense com fruta à cabeça, seriguela, sapoti, pitomba e caju. Outra vendedora na praia do Cumbuco tentava fazer negócio com biquínis e fatos de banho, mas à noite, na ida ao “centrinho”, também encontrámos modelos apelativos. Em Caucaia, além dos táxis credenciados, das lojas de chinelos, de roupa e de artesanato, dos restaurantes e bares (Chevalier, Spot Secrets, Maria Bonita), das esplanadas com cerveja geladinha e das bancas com frutos secos, também há uma farmácia e um supermercado que troca euros por reais. O dia tinha sido sossegado no novo Vila Galé Collection Sunset Cumbuco, hotel com ligação direta à praia, entre o Atlântico e a lagoa do Cauípe, com o seu baloiço para apreciar o pôr do sol, por volta das 17h30.

No Ceará, maior destino turístico do Nordeste brasileiro, o litoral corre de leste para oeste, o que faz com que seja mar aberto nos 573 quilómetros de costa. A média de temperaturas de 32ºC no ar e de 28ºC na água do mar, com chuvas ocasionais noturnas ou de manhã bem cedo, transformou Caucaia na meca mundial de kitesurf. As correntes, o fundo do mar pedregoso e os ventos a soprar entre agosto e outubro são imprescindíveis para os atletas, que treinam aqui para depois competirem.

Para explorar as dunas desta Costa do Sol – Cumbuco tem as melhores dunas, Natal e Rio Grande do Norte têm as melhores descidas –, existe uma cooperativa com 189 buggies registados. Francisco Gois, 49 anos, conduz turistas nas dunas há três décadas, fazendo duas a três viagens por semana nos meses mais calmos e todos os dias na época alta. São 28 quilómetros para percorrer em duas horas e meia (cerca de €20 por pessoa), com paragem na lagoa de Parnamirim para escorregar no “toboágua” (€5) e refrescar-se. Sempre que o vento abranda, a vegetação torna-se mais visível e o pinheiro adaptado à areia branca e à proximidade do mar destaca-se. “Passeio com emoção ou sem emoção?”, pergunta Francisco antes de ligar o buggie. Vamos a boa velocidade em direção ao Park Alchymist, aberto em 2023 por Giorgio Bonelli, empresário italiano com negócios no Brasil e na República Checa, dedicado aos dinossauros. O trilho, numa área de dez quilómetros de floresta preservada, percorre-se em 45 minutos, observando 60 réplicas de 41 espécies, incluindo seis brasileiras. Na artificial Lagoa Encantada há piscinas, escorregas, pérgulas e restaurantes para passar o resto da tarde.

PRAIAS FLUVIAIS

Um mergulho nas alturas

As águas na serra da Estrela são geladas, mas a paisagem é deslumbrante. Um périplo pelas Beiras nas margens dos rios

— por Alexandra Correia

Depois de alugar uma gaivota e pedalar até ao centro das águas calmas da praia fluvial do vale do Rossim, a sensação, olhando em volta, é a de que estamos no meio de uma cratera. Não estamos. O vale do Rossim é antes o maior vale glaciar da Europa e a praia que ali foi criada artificialmente, pela construção de uma barragem na ribeira da Fervença, veio substituir um lugar de pasto para os rebanhos da transumância.

Na praia fluvial mais alta do País, a 1 437 metros de altitude, rodeada por impressionantes blocos graníticos, os mergulhos não são para quem quer, mas para quem pode aguentar o frio daquelas águas que, no calor do verão, ainda impressiona mais pelo choque com a temperatura do ar. Mas não considere isso um fator dissuasor para uma visita, pois a beleza das praias da serra da Estrela supera qualquer arrepio na pele.

No vale do Rossim, situado no concelho de Gouveia, há vários equipamentos para um dia bem passado – do rappel ao slide, da canoagem à moto 4. Muito perto da praia fluvial fica um eco-resort e parque de campismo, onde se pode passar a noite numa yurt.

Das Penhas Douradas seguimos para Loriga, no concelho de Seia, para aquela que é considerada uma das mais bonitas praias fluviais do País. A 800 metros de altitude, a ribeira de Loriga cursa ali entre penedos, com as suas águas cristalinas… e frias, já se sabe. Vai formando piscinas naturais pelos socalcos, de baixa profundidade, que fazem as delícias das crianças. O local é absolutamente fotogénico e, antes ou depois da merenda, vale bem a pena apanhar um trilho de pastores e dar um passeio no meio desta Natureza assombrosa.

Ainda em Seia, passamos na praia fluvial de Sandomil, rodeada de plátanos e amieiros, à sombra dos quais apetece ficar horas a contemplar o rio Alva a passar debaixo da lindíssima ponte medieval. O Alva, que nasce na serra da Estrela, entre a Fraga das Penas e o Curral do Martins, oferece-nos com generosidade vários outros locais propícios a mergulhos no Interior.

Seguimos por esse rio abaixo até ao concelho de Arganil, onde fica a praia fluvial de Côja, uma área de lazer com areia e bem servida de equipamentos para os desportos náuticos. Tem também um local onde o rio corre baixinho e, com calçado apropriado, podemos seguir a pé, no meio do seu curso por entre choupos e amieiras.

Estamos perto da serra do Açor e da Rota do Xisto, pelo que não saímos dali sem subir à cascata da Fraga da Pena, uma queda de água de 19 metros que forma uma piscina entre carvalhos, castanheiros e medronheiros. Um último mergulho antes de voltar à realidade.

Foto: Bernardo Conde

ALDEIAS DO XISTO

Mais perto das estrelas

Pacata de dia, a aldeia de Fajão fica à noite num alvoroço desde que, há cerca de um ano, se tornou o centro do astroturismo das 27 Aldeias do Xisto, com a inauguração do Geoscope – Observatório Astronómico de Fajão, na Pampilhosa da Serra.

Até ao anoitecer, há tempo para mergulhos na piscina sobranceira à aldeia ou na praia fluvial da Barragem de Santa Luzia, onde, além da belíssima paisagem, se pode praticar canoagem e andar em bicicletas todo-o-terreno por mais de 122 quilómetros de trilhos sinalizados.

Na aldeia com casas revestidas a xisto e xilogravuras nas paredes com lendas de outrora – os Contos de Fajão, escritos pelo padre Monsenhor Nunes Pereira, que ali tem direito a um museu – prova-se do melhor da região. N’O Pascoal serve-se chanfana e cabrito assado no forno a lenha, trutas do rio Ceira, tigelada à sobremesa e um cálice de aguardente de mel, dos favos da serra do Açor. Em redor fica Benfeita, a única aldeia que exalta a paz com uma torre, um sino e um relógio, Vila Cova de Alva, a Aldeia do Xisto com o maior conjunto monumental, Aldeia das Dez e Sobral de São Miguel. S.C.

Foto: Lucília Monteiro

MONTESINHO

No cimo de Portugal

No Parque Natural de Montesinho (75 mil hectares), na parte norte de Bragança e de Vinhais, às portas de Espanha, vivem 80% dos mamíferos do nosso país. Este lugar da Reserva da Biosfera Transfronteiriça Meseta Ibérica é território de veados, corsos, javalis e do lobo-ibérico, feito de bosques de carvalho-negral, castanheiros, urzes e estevas. Por aqui, as navalhas e facas artesanais continuam a ser feitas a partir da madeira de carrasco, do bucho ou das hastes de veado.

À mesa n’O Careto, o único restaurante da aldeia de Varge, as carnes, o fumeiro e o bacalhau grelhados na brasa, à vista dos clientes, são as especialidades. Em Gimonde, terra de bom pão, a estrela é a posta à mirandesa n’O Abel. O passeio por uma das três etapas da Grande Rota dos Moinhos e dos Lameiros, a atravessar nove moinhos de água, ao longo das margens da ribeira de Aveleda e do rio de Onor, entre Portugal e Espanha, completa a visita à região de fumeiro, mel e caretos, as máscaras de lata, com queixo e nariz bicudos usadas na Festa dos Rapazes nas várias aldeias do Parque Natural do Nordeste Transmontano. S.C.

Foto: Rui T. Guedes

SADO

Ostras, sal e flamingos

O Mercado do Livramento, em Setúbal, é um dos melhores do mundo, com referências em publicações como o New York Times. Vale a pena determo-nos na bancada das ostras, que podemos degustar, in loco, enquanto ponderamos se levamos uma caixinha de uma dúzia. Atravessamos em seguida a cidade, para sul, tomando a EN para Alcácer. Pouco depois do Alto da Guerra – freguesia onde nasceu Bocage –, derivamos para a direita, à descoberta do Moinho de Maré da Mourisca. Nesta antiga azenha, primorosamente recuperada, tomamos uma bebida lânguida naqueles pufs espalhados pelo espaço em redor do edifício, onde está uma placa a assinalar a data da primeira construção: 1601. Situado em zona de antigos arrozais e salinas, é perfeito para experimentar o clima quente do Sado profundo. Mais a sul, em Alcácer do Sal, com sorte, podemos embarcar num “galeão do sal” e fazer um passeio de três horas descendo o Sado e observando aves, sobretudo, os majestosos flamingos, que planam em suaves voos a acompanhar o barco… No regresso, o Cais Palafítico da Carrasqueira vai dar excelentes contrastes fotográficos entre as suas estacas fantasmagóricas e o pôr do sol. Para jantar, recomenda-se A Escola, em plena EN253, próximo do lugar de Cachopos. F.L.

Foto: José Carlos Carvalho

MONCHIQUE

Grandes vistas

Um projeto turístico recente tem alavancado a aldeia de Alferce, a nove quilómetros do centro de Monchique. Primeiro, foi a construção do passadiço Barranco do Demo, uma caminhada curta e fácil até ao piso de madeira que une as duas encostas do vale profundo e com escarpas íngremes. O ponto alto da travessia de um quilómetro, com mais de 500 degraus em diversas escadarias, acontece na ponte suspensa, 50 metros de comprimento estendidos 20 metros acima do chão. Seguiu-se a abertura do miradouro e do centro interpretativo, com escavações a céu aberto, feitas à vista de todos e com dias de visitas guiadas.

Tanto na Villa Termal das Caldas de Monchique (com quatro hotéis, uma loja de artesanato, o restaurante 1692, onde funcionou o casino, uma galeria de arte, um antigo forno comunitário e a Fonte dos Amores, com zona de merendas) como no centro de Monchique, no Largo dos Chorões (com esplanadas e restaurantes) e na pedonal Rua do Porto Fundo (algum comércio), vale a pena dar um passeio à procura das chaminés de saia (com a base da largura de toda a cozinha e a função de fumeiro para os enchidos), património arquitetónico resistente ao clima da serra. S.C.

Foto: Lucília Monteiro

PASSADIÇOS DO MONDEGO

Iluminações

Natureza e arqueologia industrial num só passeio. Esta estrutura, inaugurada em 2022, já recebeu vários prémios

— por Pedro Dias de Almeida

Associamos a ideia de percorrer passadiços, que agora se encontram um pouco por todo o País, ao acesso a paisagens naturais antes inacessíveis, escondidas. Isso também é verdade no caso dos Passadiços do Mondego, no concelho da Guarda, que nos levam num percurso de cerca de 12 quilómetros entre a Barragem do Caldeirão e Videmonte – há cascatas, pontes suspensas, miradouros, vistas largas e as águas límpidas do Mondego, que corre desde o alto da serra da Estrela, não muito longe dali. Mas estes passadiços permitem-nos também fazer uma viagem no tempo a atividades bem humanas. Várias ruínas no percurso evocam uma época em que a indústria têxtil da zona de Maçaínhas (onde, ainda hoje, se fazem os “cobertores de papa”, que ganharam notoriedade nos últimos anos) era muito dinâmica, exportando para vários países europeus. É por isso que neste percurso se passa pela antiga Central Hidroelétrica do Pateiro, ali inaugurada a 1 de janeiro de 1899 (foi a segunda em Portugal), precisamente para alimentar essas fábricas nas margens do Mondego. Isso fez com que a Guarda fosse a terceira cidade do País a ter uma rede de iluminação pública; a Empresa de Luz Elétrica da Guarda deveu–se ao pioneirismo do empresário Francisco Pinto Balsemão (avô do fundador do Expresso), ligado à indústria têxtil local.

Nos meses quentes de verão, aconselha-se a fazer esta visita de manhã cedo ou ao fim da tarde e é de evitar, sobretudo para os menos experientes, o percurso de Videmonte em direção ao Caldeirão, que termina com um grande declive (o que também acontece na direção contrária, mas de forma muito menos acentuada).

Foto: Luís Barra

Valada do Ribatejo

Por onde as garças esvoaçam

Não é obrigatório entrar nas águas do Tejo para passar um dia diferente (ou mais, claro) neste pedaço de terra ainda longe das pragas turísticas – mas se o fizermos será ainda melhor. Na realidade, por aqui tudo é surpreendente: a praia fluvial e a esplanada com vista para ela, os palacetes coloridos de Valada, o dique por onde se pode caminhar e que protege a terra das subidas do rio ao longo de muitos quilómetros, a Ponte Dona Amélia, construída em 1904 para ligar duas linhas ferroviárias (em 2001, passou a ser só para carros), e os passeios de barco que nos mostram as aldeias avieiras, formadas no século passado por pescadores de Vieira de Leiria e que ainda resistem por estes lados.

Neste campeonato, há a destacar Escaroupim pelo nível de conservação que conseguiu manter (tem um museu e uma casa típica para visitar) e pelo restaurante com o mesmo nome que serve enguias, quando é tempo delas, e caça, obedecendo também à sazonalidade. Depois de um belo repasto, deixe-se ficar por aqui, ao sabor do Tejo. Prometemos que o sol se há de pôr mesmo à sua frente e que o voo desaustinado das garças à procura do seu mouchão para pernoitarem completará o espetáculo, num sossego sem fim. L.O.

Foto: Diana Tinoco

SÃO JORGE

À descoberta das fajãs

Vale a pena fixar o nome destes acidentes geográficos, hoje um dos maiores atrativos da ilha açoriana

— por Miguel Judas

Também chamada ilha das fajãs, São Jorge conta com mais de 70 destes acidentes geográficos, criados a partir de abatimentos da falésia ou de escoadas lávicas, que as populações transformaram em pomares e campos de cultivo. A mais conhecida de todas é a da Caldeira de Santo Cristo, de onde parte um caminho que percorre a costa, com passagem pela fajã dos Tijolos e pela fajã do Belo até à fajã dos Cubres. Tal como na vizinha fajã de Santo Cristo, também aqui existe um sistema lagunar, classificado como Sítio de Importância Internacional, por servir de habitat a várias aves aquáticas. Nas margens da lagoa, o gado pasta livremente, em especial durante o inverno, quando os criadores que ainda praticam a transumância para aqui trazem os seus animais.

Um dos melhores modos de conhecer as fajãs é percorrer a pé os trilhos que as ligam, como o que parte da fajã dos Vimes em direção à Fragueira, uma fajã onde ainda permanecem as ruínas da casa onde viveu o compositor Francisco de Lacerda, natural de São Jorge e estrela maior em França, onde foi regente de algumas das maiores orquestras europeias. Também da fajã dos Vimes, mas no sentido oposto, parte o trilho que liga à pitoresca fajã de São João, conhecida pelas suas casas de pedra negra e pelos seus vinhos, licores e aguardentes. O trilho percorre a falésia, aqui e ali cortada por imensas quedas de água, junto a socalcos cultivados com inhame e árvores de fruto. Os caminhos para chegar às fajãs são bem reveladores da dureza da vida de outros tempos, mas hoje tal sacrifício vale bem a recompensa, especialmente nos finais de tarde de horizontes limpos, com vistas desafogadas para as restantes ilhas do triângulo (Pico e Faial), que tremeluzem ao longe, dando uma aconchegante sensação de vizinhança, apesar do mar de premeio e do lamúrio dos cagarros, tão característico destas paragens, mas tão exótico e enigmático para os forasteiros.

Foto: D.R.

CHAVES

Banhos romanos

O espelho de água do rio Tâmega, recortado pelos 12 arcos da Ponte de Trajano, monumento romano de 104 d.C., é o bilhete-postal desta cidade raiana, entre a Galiza e o distrito transmontano de Vila Real.

A forte presença romana continua a ser notada em castros, castelos, pontes, igrejas, conventos, na primeira muralha em redor de um aglomerado populacional e nos balneários termais. Aquae Salutem é como se chama o recém-inaugurado complexo termal com as primeiras piscinas de água termal ao ar livre de Portugal Continental. Só no primeiro mês, recebeu mais de quatro mil pessoas, metade portugueses, metade espanhóis.

A água, entre os 30 ºC e os 36 ºC, alimenta as cinco piscinas hidrodinâmicas exteriores embutidas em rochedos, com 1,20 metros de profundidade, cascatas, canhões de água, jatos, hidromassagem, 14 cabinas de duches sensoriais, sauna, banho turco e fonte de gelo.

A visita ao património local pode continuar pelo Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso, com uma arquitetura contemporânea, desenhada por Siza Vieira, exibindo obras do pintor e arquiteto flaviense e exposições temporárias de outros autores portugueses; do castelo, fortificação medieval do século IX, reconstruído no século XIII, temos panorâmicas imponentes sobre Chaves e o rio Tâmega.

Chaves é terra dos tradicionais pastéis de vitela, da posta mirandesa, do folar de Chaves, de presunto e de enchidos de fumeiro, mas quem lá vive também quer provar outras coisas. Por isso, Catarina Nascimento abriu o 83 Gastrobar numa rua tranquila, junto à Ponte de Trajano, concretizando o sonho de ter um restaurante. A sua alma transmontana transborda em comida irreverente, como a kata sando em pão brioche caseiro, uma combinação de barriga de porco panada, couve chinesa, kimchi e maionese de karashi inspirada na cozinha japonesa. S.C.

PORTO SANTO

Um lugar ao sol

A ilha não é só praia, mas é impossível fugir-lhe – e nem queremos, sobretudo de uma com areias tidas como milagrosas

— por Inês Belo

Nove quilómetros de areia fina e dourada. Clima seco e estável. Águas límpidas e tépidas. A menos de duas horas de avião do continente. É este o postal turístico de Porto Santo, a ilha que deve o seu nome aos navegadores João Gonçalves Zarco e Bartolomeu Perestrelo que, após sobreviverem a uma violenta tempestade, ali aportaram, no ano de 1418, no início da epopeia dos Descobrimentos. A mesma sensação de chegar a um local abençoado invade os viajantes de hoje.

A apenas 50 quilómetros da Madeira, a ilha de Porto Santo não podia ser mais diferente. Em vez do verde da floresta luxuriante, predominam o amarelo e o castanho da vegetação rasteira. É também menos montanhosa e, por isso, sujeita a poucas variações de clima, que se mantém seco e temperado ao longo de todo o ano. Perfeito, portanto, para ir a banhos e preguiçar ao sol na imensa praia na costa sul, com um mar calmo, azul transparente, e uma temperatura da água a variar entre 18ºC e 22ºC. O areal dourado – constituído por microrganismos marinhos, como algas e conchas de moluscos, que tornam esta areia rica em anti-inflamatórios naturais – prolonga-se desde o centro de Vila Baleira até à Ponta da Calheta, uma pequena baía com vista para o imponente Ilhéu da Cal, no extremo oeste da ilha.

Nada disto se faz sem forrar o estômago, já se sabe. Um bom ponto de partida é o Fava Rica, um quiosque de madeira simples junto à praia, na zona do Ribeiro Salgado, famoso pelos “dentinhos” (pequenos pires com diversos petiscos) com que o sr. Guido brinda os clientes, enquanto tomam uma cerveja ou uma poncha à pescador, sendo o mais conhecido o de fava-rica, refogada e com muito sabor. Continuando na onda do petisco, o bar João do Cabeço é destino certo para comer um prego em bolo do caco e uma lapas grelhadas.

Da esplanada do restaurante Teodorico, escondido na serra de Fora, pode usufruir-se da envolvente única, mas são as espetadas de carne que atraem tanto os locais como os forasteiros. E perto da Casa Colombo, edifício onde o navegador Cristóvão Colombo viveu e que está hoje transformado em museu, os gelados Lambecas geram generosas filas de espera à porta deste clássico na vila há mais de 60 anos.

Lá no alto, o Miradouro da Portela – um dos pontos mais a leste da ilha, sobranceiro ao cais de embarque – é um sítio privilegiado para se obter uma perfeita visão panorâmica. Ali, mantêm-se réplicas dos moinhos de vento, prova de que o Porto Santo já foi “o celeiro da Madeira”, com os campos de cereais adaptados aos solos áridos. Aliás, os porto-santenses juram a pés juntos que foi aqui que nasceu o tradicional bolo do caco, uma receita de água, sal, fermento e farinha, fruto da abundância de matéria-prima.

Foto: DR

Passeios de barco

Navegar para sul

As aldeias e vilas ribeirinhas em redor do grande lago de Alqueva têm vários cais de partida e chegada, a Estação Náutica Moura-Alqueva (junto ao paredão da barragem de Alqueva), a sul, e o Cais Fluvial da Juromenha, a norte. Também do Centro Náutico de Monsaraz, na sua praia fluvial, visita-se a ilha Dourada, a bordo do Sem-Fim, veleiro de 17 metros, construído na Holanda em 1913, com direito a piquenique e mergulho no meio do Alqueva (T. 96 166 7584, a partir de €15/pessoa).

A partir de Mértola, descobre-se o Parque Natural do Vale do Guadiana até Alcoutim, com a Beira-Rio Náutica. O percurso ribeirinho desvenda a vila alentejana, a ponte romana e as azenhas do Guadiana, já o percurso mais longo termina no Pomarão, a aldeia piscatória que se estende pela encosta (T. 91 340 2033, a partir de €10/pessoa). No Algarve, uma viagem da Animaris (T. 91 877 9155, €35/pessoa) leva-nos até à ilha Deserta, em Faro, guiados por um biólogo marinho que fala da flora e da fauna e das atividades locais. Nos barcos da Solar Moves (T. 92 436 9172, a partir de €45/pessoa), movidos a energia solar, tanto se descobre Tavira e as vilas piscatórias como a natureza da ria Formosa. S.C.

Foto: Tono Balaguer

Formentera

O sonho da ilha deserta

A mais pequena das ilhas Baleares possui uma história muito longa e interessante, mas o seu grande atrativo atualmente são os 82 quilómetros de costa, que oferecem algumas das praias com águas mais puras e cristalinas do Mediterrâneo. Além de algo único: a possibilidade de, em tão longa extensão de areal, podermos viver na ilusão de, nem que seja por breves instantes, estarmos a relaxar numa ilha deserta, em perfeita comunhão com a areia, o mar e o sol.

A ilha tem uma completa e variada oferta de praias, consideradas por muitos as mais belas do Mediterrâneo. Para abrir o apetite, ao norte de La Savina encontram-se as Ses Illetes, uma longa língua de areia e dunas com cristalinas águas azul-turquesa que não têm nada a invejar às dos mares do Sul.Na costa norte, saindo de Es Pujols, fica a praia da Tramontana e, a seguir, um conjunto de pequenas praias de areias grossas, ideais para o mergulho: Ses Caletes.A costa sul é a dos grandes areais. Aqui fica Es Migjorn, oito quilómetros de praias salpicadas de zonas rochosas, como Mal Pas, Valencians e, sobretudo, Es Arenals, que convidam a passeios sem rumo certo. O.P.

Foto: DR

ALGARVE

A ilha-postal

Estes 9 quilómetros de areia branca e fina, banhada por um mar azul-turquesa, são o mais próximo que temos daquelas ilhas exóticas no outro lado do mundo

— por Luís Ribeiro

É uma ilha que são duas. A nascente, em frente a Olhão, chamam-lhe “da Armona”, nome oficial desta língua de areia, e aqui podemos caminhar por entre algumas dezenas de casinhas, que formam uma minialdeia sem carros; a poente, chamam-lhe “da Fuzeta”, nome pedido emprestado à pequena vila piscatória à sua cabeceira, e aqui não há nada, fora os dois bares de madeira montados todos os verões e as suas espreguiçadeiras espalhadas pela areia.

Quer passar um dia de praia descontraído com a sua família, apenas a brincar com os miúdos, a nadar nas águas mais fotogénicas que alguma vez viu e a apanhar umas conquilhas na maré baixa para passar o tempo? Escolha a ponta leste, do lado do mar, apanhando o barco na Fuzeta. O mar está demasiado agitado para as crianças? Fique do lado da ria, a nadar entre cardumes de peixes juvenis, em águas de temperatura mais agradável.

Não lhe apetece carregar chapéus de sol, cadeiras de praia e malas térmicas cheias de comida e bebida? Alugue umas espreguiçadeiras nos bares e passe o dia no dolce far niente. Quando estiver farto de não fazer nada e quiser desenjoar dos mojitos, das caipirinhas, dos hambúrgueres, das sandes e das tostas (incluindo de muxama, fatias finas de atum seco e salgado), alugue uma prancha de stand up paddle.

Prefere um ambiente onde tem tudo, incluindo restaurantes “a sério”, e não apenas snack-bars? Apanhe o barco em Olhão e fique pela “aldeia” da Armona.

Quer estar completamente à vontade, só com os peixes e as conchas por companhia, quiçá até aproveitar para apanhar sol como veio ao mundo (sem descurar o creme protetor, claro)? Caminhe umas centenas de metros na direção do centro da ilha e descubra-se numa praia deserta.

COSTA ALENTEJANA E VICENTINA

Sabe a verão

Peixe na brasa, marisco fresco e petiscos gulosos nestas 12 sugestões de restaurantes e esplanadas junto à praia, entre Sines e Sagres

Sines

O Bejinha

Sardinhas frescas, com a pele crocante e o sal no ponto certo, servidas à discrição, com preço fixo. No antigo snack-bar de apoio à Docapesca ainda provámos barriga de atum, lulinhas com cebola e garoupa temperada com alho, tudo vendido ao quilo.
Docapesca > T. 91 504 8904 > seg-sáb 12h-15h30

Pedra da Casca

Casa de madeira na Praia da Vieirinha, bem escolhida para o surf na estrada entre Sines e Porto Covo, com uma esplanada muito apetecível e ementa certeira: amêijoas, camarões, percebes, salada de polvo e choco frito, cataplanas, arrozes e massinhas várias, raia alhada e moreia frita.
Praia da Vieirinha > T. 269 869 013 > qua 9h-17h, qui, seg 11h-17h, sex-dom 11h-22h

Porto Covo

Zé Inácio

O restaurante Zé Inácio será o mais antigo de Porto Covo, com mais de meio século, a funcionar sempre no mesmo sítio e a servir a mesma comida tradicional portuguesa. Para a mesa, o polvo à lagareiro, a mista de porco preto e o peixe grelhado – do melhor que a costa de Sines dá – são os pratos mais pedidos por quem ali vai.
R. Vasco da Gama, 3B > T. 269 905 977 > qui-ter 12h-16h, 19h-22h30

Lamelas

Com vista para a baía de Porto Covo, a chefe Ana Moura recupera receitas da terra dos avós e aposta sobretudo no peixe, tanto nas entradas como nos pratos principais. Arroz cremoso de peixe e camarão, lula recheada com migas de grelos e patê de ovas de pescada ou açorda alentejana com linguado frito e ovo escalfado são algumas das opções, servidas em louça de barro.
R. Cândido da Silva, 55A > T. 92 406 0426 > ter-dom 12h30-14h30, 19h30-22h30

Alma Nómada

A 500 metros da praia de Porto Covo, dentro de um parque de campismo, o chefe de cozinha Marco Nascimento sugere o churrasco de Brisket, o entrecosto glacé e cevadinha de laranja, vazia de pasto alentejano com arroz Bomba, fideuà de polvo, feijoada de bacalhau, nos pratos principais. Mas há mais, para partilhar e petiscar: pataniscas de polvo, tártaro de peixe do dia com batata-doce, salada-russa com tártaro de sarrajão.
Costa do Vizir, Beach Village Monte Branco > T. 96 575 4882 > qui-seg 12h30-14h30, 19h-22h30

São Teotónio

Azenha do Mar

As refeições são à base de marisco apanhado nas redondezas, percebes incluídos. A tachada de arroz de marisco, um dos ex-líbris da casa, a par da caldeirada e da feijoada são ideais para dividir.
Azenha do Mar > T. 282 947 297, 962 632 909 > seg-ter, qui-dom 12h-22h

Vila Nova de Milfontes

Choupana

As sardinhas, os carapaus, o restante peixe fresco e os carabineiros são dos pratos com mais saída da grelha. Na esplanada ou na sala interior, terá sempre o mar por companhia.
Lg. do Farol, Praia do Farol > T. 283 011 275, 96 635 4796 > ter-dom 12h30-22h

Tasca do Celso

Nesta instituição gastronómica da vila alentejana, há lista de espera para conseguir reservar mesa para comer ostras, bruschetta de tomate e sardinha, polvo salteado, canja de garoupa e cachaço de bacalhau. Vasta garrafeira com 1 700 referências.
R. dos Aviadores, 34 > T. 283 996 753 > ter-dom 13h-15h30, 19h30-23h30

Zambujeira do Mar

O Sacas

Morada obrigatória para quem gosta de comer bem, é com marisco e peixe fresco vindos da lota, mesmo ali ao lado, que se regala o estômago nesta antiga tasca de pescadores, fundada há quatro décadas. Não faltam os petiscos, dos percebes ao polvo à Bulhão Pato, do camarão-tigre grelhado às amêijoas, e pratos com mais substância como o ensopado de choco ou a feijoada de buzinas.
Entrada da Barca > T. 283 961 151 > seg-ter, qui-dom 12h30-15h30, 18h30-22h

Aljezur

Cal

Na Arrifana, onde nasceu, Susana Felicidade dá a provar uma cozinha que tem como base o receituário e os produtos algarvios, nomeadamente, o marisco sempre fresco, o atum nacional e o arroz de lulas, a batata-doce, a alcagoita, o xerém, o porco preto, a alfarroba, os figos e a muxama. Serve pequenos-almoços, almoços, petiscos e jantares.
Praia da Arrifana, EM1003-1, 36 > T. 91 028 1508, 96 541 1269 > seg-dom 9h30-22h30

Carrapateira

Sítio do Forno

O lugar é único, sobre a arriba, com vista para a Praia do Amado. Guarde apetite para saborear a cataplana de polvo com batata-doce, especialidade da casa (bastante concorrida), e o peixe fresco grelhado na brasa. Carrapateira > T. 282 973 914 > ter-dom 12h-22h

Sagres

Mar à Vista

Canja de peixe-galo, cataplana de tamboril com amêijoas e lulas recheadas à moda da avó são algumas das especialidades desta casa, situada no alto da Praia da Mareta.
R. Comandante Matoso, 75, Sagres > T. 282 624 247 > seg-qua, sex-dom 12h-22h

MÉXICO

A resistente El Cuyo

Nas noites de abril a novembro, mas sobretudo a partir de junho, basta mexer ligeiramente a mão para o mar em El Cuyo ficar dum verde-azulado-brilhante graças ao plâncton bioluminescente. Explicam os entendidos que a luz surge quando uma determinada microalga reage à presença de potenciais predadores, e que para a apreciarmos as águas devem estar calmas e quentes, e não haver vento nem iluminação. É, por isso, em noites de lua nova que os habitantes desta pequena aldeia de pescadores da costa norte do estado do Yucatán, onde o mar turquesa das Caraíbas ainda se impõe frente ao golfo do México, sabem que os visitantes vão abrir a boca de espanto.

Quem escolhe ir até El Cuyo sabe, por sua vez, que a aldeia tem muito mais para oferecer além desse fenómeno natural, desde logo porque está dentro da Reserva da Biosfera Ría Lagartos, onde nidificam milhares de flamingos cor-de-rosa que ali se reúnem durante a época de reprodução, em junho. A umas duas horas e meia de carro da hiperturística Cancún, ela ainda tem quilómetros de praias virgens, muitas casas de madeira coloridas e caminhos de areia fina bons para se percorrer descalço.

A natureza manda por ali. Vive-se mais da pesca do que do turismo, não há beach clubes barulhentos, os hotéis são familiares e no check-in avisa-se logo que os cortes de eletricidade acontecem com frequência. Um bom pretexto para ir até junto do mar e encher os olhos com a exibição das minúsculas Noctiluca Scintillans. R.R.

Um dos grandes problemas dos atuais ciclos político-mediáticos é o de serem gritantemente monotemáticos. De um momento para o outro, por força da realidade ou apenas de um golpe de comunicação bem executado, há sempre um assunto que, periodicamente, consegue tornar-se monopolizador dos debates, retirando espaço e tempo a todos os outros, mesmo os que poderiam ser mais urgentes e abrangentes.

Desde as eleições de 18 de maio, à semelhança do que já tinha sucedido depois das legislativas de 10 de março do ano passado, tornou-se quase imperativo, em qualquer debate político, discorrer sobre o eleitorado do Chega, quais as razões do seu crescimento e o que isso pode significar para a democracia e para a governação do País. Naturalmente, tendo em conta o discurso e as propostas de André Ventura, o debate justifica-se já que são legítimas as dúvidas sobre se estaremos a assistir a uma mudança profunda na sociedade portuguesa em relação aos valores da liberdade, da democracia, da solidariedade e do respeito pelos direitos humanos, em que assentaram as pedras basilares do nosso regime. Como também são justificados os apelos para que não se marginalizem os 22,56% de eleitores que votaram no partido que se insurge contra os “50 anos” de regime democrático.

No entanto, se os eleitores do Chega precisam de ser compreendidos, e as suas aspirações levadas em linha de conta, não podem, no entanto, ser vistos como se tivessem passado a ocupar o centro do debate político. E, muito menos, que as bandeiras do Chega, como a corrupção, a insegurança e a imigração, se transformem na cartilha que tem de estar presente em todas as intervenções políticas, nas entrevistas aos outros líderes partidários ou aos futuros candidatos à Presidência. Especialmente, quando essa agenda retira depois espaço e tempo de antena a temas fulcrais para o desenvolvimento do País, como a educação, a economia, a saúde, a demografia, a inovação tecnológica, o ambiente ou a cultura.

É preciso olhar para a realidade exatamente como ela é e mais desprendida das “agendas” mediáticas e políticas, que apenas procuram animar o “circo” e ganhar audiências. E, nesse campo, há algo aritmeticamente muito simples: se 22,56% dos eleitores votaram no Chega, também é verdade que 77,44% dos portugueses não votaram no Chega. O partido de André Ventura ascendeu, por número de deputados, ao estatuto de líder da oposição, mas a realidade é que adquiriu essa condição através de um dos piores resultados alcançados por um segundo partido, em meio século de eleições democráticas.

Os 22,56% de votos do Chega são um resultado extraordinário para um partido que só chegou ao Parlamento em 2019, mas são uma percentagem fraca para os dois partidos que têm alternado no poder. Nunca, em 50 anos, o PSD teve um resultado tão baixo (o pior foram os 24,35%, em 1976). E sempre que teve uma votação semelhante a essa, o PS entrou em crise profunda, obrigando à mudança de líder – como sucedeu agora com os 23,38% de votos sob a liderança de Pedro Nuno Santos.

O Parlamento que esta semana entrou em funções reflete uma realidade política diferente daquela em que vivemos nas últimas cinco décadas. Mas, sem que isso signifique qualquer menosprezo em relação ao crescimento do Chega nem aos seus 22,56% de votantes, seria bem avisado que os partidos democráticos olhassem mais, a partir de agora, para os “outros” 77,44%, para o que eles pensam, como encaram o futuro do País e a razão por que, num momento de grandes clivagens e de enormes convulsões internacionais, continuam a acreditar que a democracia e a liberdade são valores imprescindíveis – e não “balelas”, como diz agora Ventura.

Estes 77,44% de eleitores são os que, na verdade, vão decidir as próximas eleições. Tanto as autárquicas de setembro como as presidenciais de janeiro. São eles que, de facto, têm o poder de fazer ou desfazer maiorias. E são eles que decidem, no fim, se o País quer viver ou não num clima de instabilidade política e de permanente confronto.

Mais do que olhar para o passado, a procurar as razões que levaram milhares de portugueses a votar no Chega, os partidos democráticos devem olhar para o futuro. Em especial, para o futuro dos 77,44% dos portugueses que ainda continuam a acreditar na democracia.

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Palavras-chave:

Gonçalo Matias, presidente da Fundação José Manuel dos Santos, Maria Lúcia Amaral, provedora de Justiça, e Carlos Abreu Amorim, até agora secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, são as grandes novidades do novo Governo de Luís Montenegro, que é quase uma remodelação, uma vez que tem poucas mudanças e só uma para resolver problemas políticos.

Maria Lúcia Amaral entra para o Ministério da Administração Interna, para substituir Margarida Blasco, uma ministra que deu várias dores de cabeça a Luís Montenegro. Na Economia, sai Pedro Reis, substituído por Castro Almeida, que acumula a pasta com a da Coesão Territorial.

Já Gonçalo Matias chega ao Governo não para resolver um problema político, mas para dar resposta a um dos maiores anseios da direita portuguesa a Reforma do Estado. Por ser presidente da Fundação José Manuel dos Santos, pode considerar-se que é a prova de que este segundo Governo de Montenegro tem mais capacidade de atração e recrutamento do que o primeiro. Apesar de não ter maioria, este Executivo conta à partida com a viabilização do PS e uma maioria de dois terços à direita – capaz de se entender em muitos pontos da reforma do Estado – e isso pode dar-lhe mais algum fôlego.

Carlos Abreu Amorim é a terceira novidade: sobe de secretário de Estado a ministro dos Assuntos Parlamentares, substituindo Pedro Duarte, que saiu do Governo para ser candidato à Câmara do Porto.

Uma ministra que era polémica, Dalila Rodrigues na Cultura, acaba por ser substituída, com uma alteração na orgânica do Governo. A pasta passa a ser integrada na Juventude e Desporto, deixando de ser autónoma, e juntando-se assim ao portefólio da ministra Margarida Balseiro Lopes.

De resto, o Governo não muda: nem sequer para substituir Ana Paula Martins, a recordista de casos e casinhos do primeiro Governo de Montenegro, que o primeiro-ministro já tinha dado a entender não querer dispensar, ao escolhê-la para cabeça de lista da AD nas legislativas por Vila Real, concelho em que era paraquedista mas que venceu.

VEJA AQUI A LISTA COMPLETA DOS MINISTROS

Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros
Paulo Artur dos Santos de Castro de Campos Rangel

Ministro de Estado e das Finanças
Joaquim José Miranda Sarmento

Ministro da Presidência
António Egrejas Leitão Amaro

Ministro da Economia e da Coesão Territorial
Manuel Castro Almeida

Ministro Adjunto e da Reforma do Estado
Gonçalo Nuno da Cruz Saraiva Matias

Ministro dos Assuntos Parlamentares
Carlos Eduardo Almeida de Abreu Amorim

Ministro da Defesa Nacional
João Nuno Lacerda Teixeira de Melo

Ministro das Infraestruturas e Habitação
Miguel Martinez de Castro Pinto Luz

Ministra da Justiça
Rita Fragoso de Rhodes Alarcão Júdice de Abreu e Mota

Ministra da Administração Interna
Maria Lúcia da Conceição Abrantes Amaral

Ministro da Educação, Ciência e Inovação
Fernando Manuel de Almeida Alexandre

Ministra da Saúde
Ana Paula Mecheiro de Almeida Martins Silvestre Correia

Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social
Maria do Rosário Valente Rebelo Pinto Palma Ramalho

Ministra do Ambiente e Energia
Maria da Graça Martins da Silva Carvalho

Ministra da Cultura, Juventude e Desporto
Ana Margarida Balseiro de Sousa Lopes

Ministro da Agricultura e Mar
José Manuel Ferreira Fernandes

A Mobi.E registou uma média diária de 22979 carregamentos de veículos elétricos durante o mês de maio, resultando em mais de 712 mil carregamentos pela primeira vez, num único mês. O mês que agora terminou foi o melhor de sempre em todos os principais indicadores: número de carregamentos, número de utilizadores e energia consumida, anunciou a Mobi.E em comunicado de imprensa. Face ao mesmo mês do ano passado, este consumo representa um aumento de 45%. Em termos de consumos, os 15,8 GWh representam mais 59% em relação a maio de 2024.

Olhando para o total acumulado do ano, vemos que o número de carregamentos ultrapassou os 3,2 milhões, um aumento de 47% face ao mesmo período de 2024. No final do mês, a rede disponibilizava 6329 postos, o que se traduz em 11779 pontos de carregamento (ou seja, tomadas que podem estar a carregar em simultâneo). Outro destaque é que, destes, mais de 2420 eram de carregamento rápido ou ultrarrápido, o que representa mais de 38% do total da rede.

No que toca a poupança ambiental, a utilização da rede Mobi.E em maio evitou que fossem emitidas para a atmosfera mais de 12780 toneladas de dióxido de carbono, um novo recorde. Seriam necessárias mais de 210 mil árvores em ambiente urbano com 10 anos para reter este volume de CO2 .

Em média, existem atualmente 96 tomadas por 100 quilómetros de estrada e 131 tomadas de carregamento por cada cem mil habitantes.

Era um dos mais notáveis e premiados fotógrafos portugueses, com uma carreira de quase sete décadas, mas são as suas centenas de fotos da Revolução dos Cravos que o tornaram um ícone da fotografia portuguesa.

Nascido a 16 de fevereiro de 1935, em Sacavém, às portas de Lisboa, Eduardo Gageiro começou a trabalhar aos 12 anos na Fábrica da Loiça de Sacavém. Foi aí, pela convivência com artistas, como escultores e pintores – mas também com operários fabris -, que decidiu que queria ser fotojornalista. Começou em 1957, no Diário Ilustrado, a carreira que haveria de elevar o seu nome no mundo da fotografia. Passou por vários outros órgãos, incluindo Diário Ilustrado, O Século Ilustrado, Eva, Almanaque, Match Magazine, revista Sábado, Associated Press e a Presidência da República.

Exposição “Factum”. Foto de Mário Borga

No 25 de Abril de 1974, Eduardo Gageiro captou algumas das imagens da Revolução que hoje fazem a nossa memória daquele dia, desde os militares no Terreiro do Paço ao assalto à sede da PIDE, passando pela foto do militar a retirar da parede um retrato de Salazar. Pode dizer-se que foi ele quem fotografou a alma do 25 de Abril.

Multipremiado, Gageiro destacou-se pela sensibilidade e olhar humanista. No ano passado, 170 das suas fotos do 25 de Abril constituíram a exposição “Factum”, na Cordoaria Nacional, para celebrar os 50 anos da Revolução. Durante os quase quatro meses que durou a exposição, o próprio Eduardo Gageiro ia, aos sábados à tarde, fazer visitas guiadas e contava ao público as histórias por detrás das imagens.

Morreu hoje, aos 90 anos, em Lisboa.