O foguetão Starship, que a SpaceX tem vindo a desenvolver, realizou este domingo, 13, a sua quinta missão, e pela primeira vez na história um sistema de propulsão regressou ao local de lançamento, no caso o complexo texano de Starbase, nos Estados Unidos da América.
A nave da empresa aeroespacial de Elon Musk, que no momento do lançamento media um total de 121 metros, separou-se do sistema de propulsão Super Heavy Booster como previsto, orbitando parte do planeta e reentrando na atmosfera sobre o Oceano Índico, antes de pousar sem problemas. Mas o grande objetivo do teste de hoje era o regresso à base de lançamento do foguetão em si, uma vez que a ideia é desenvolver um sistema de propulsão reutilizável, de forma a reduzir drasticamente os custos de lançamento de futuras missões espaciais, nomeadamente o regresso do Homem à Lua e, mais tarde, o transporte para Marte.
Como explicaram os responsáveis da SpaceX, neste quinto voo da Starship só após a avaliação no momento do estado do Super Heavy Booster decidiram tentar levar a missão até ao fim. Depois de quase oito minutos (7m44s) de viagem, o gigante propulsor, com 71 metros de extensão, pousou na torre de lançamento de onde havia partido. Nas experiências anteriores, tinha explodido ou aterrado no oceano.
Antes de transportar tripulações ou cargas, a Starship deverá realizar ainda centenas de missões. Recorde-se que o programa Artemis, com o qual a NASA pretende regressar à Lua, assenta neste sistema que está a ser evoluído pela SpaceX, cujo dono estabeleceu como objetivo concretizável a colonização de Marte pelos humanos nas próximas décadas. Para já, até 2026, a empresa fundada na Califórnia tem previsto o envio de cinco naves espaciais sem tripulação para o planeta vermelho.
Num mundo em que aliens tomaram conta de diversos planetas, continuamos a história do Capitão Titus, um humano geneticamente modificado para se tornar parte de uma irmandade de soldados – os Space Marine. Com a promoção a Tenente, Titus tem a missão de eliminar novos aliens, os Tyranids. Tanto para os fãs do jogo anterior, quanto para os que chegam agora à série, Warhammer faz um bom trabalho a explicar, em pouco tempo, o que se passou nos últimos cem anos em pouco tempo. E não há grande filosofia neste jogo, onde o objetivo resume-se a disparar, cortar e explodir com inimigos. Agradecemos não haver cut scenes enormes, como já se tem tornado habitual no género.
O combate não tem muito que saber. Defrontamos centenas de inimigos, que trepam paredes até chegarem ao jogador. A arma de fogo ajuda a eliminá-los antes que se aproximem. Quando já estão próximos, a melhor opção é mesmo usar o corpo a corpo para ‘finalizar’ os inimigos, recorrendo a uma simples faca ou um martelo de grande impacto. Na verdade, o jogo leva-nos a estas batalhas sanguinárias de proximidade. Antes de começarmos a perder vida, a armadura vai ficando mais fraca, e cada morte conseguida em lutas corpo a corpo permite recuperá-la. A pouca inovação não torna o combate menos divertido. Com incríveis sequências de finalização, que projetam sangue para todo o lado e usam partes do corpo dos inimigos para acabar com eles, a violência extrema dos Space Marines é bastante viciante e nostálgica.
A maior inovação de Warhammer 40.000 Space Marine 2 em relação ao anterior está nos cenários. Criticados no primeiro, a Sabre Interactive melhorou-os imensamente. Desde selvas enormes a cidades góticas abandonadas, todos os sítios que visitámos são atraentes e únicos. Com espaços enormes que assustam o jogador quando vemos as centenas, senão milhares de inimigos a encherem o ecrã.
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Existem três modos diferentes, a campanha principal, Operations e Eternal War. Tanto em Operations, quanto em Eternal War, temos seis classes de Space Marines à escolha com diferentes habilidades.
Prós – Combates viscerais… muito satisfatórios – Grafismo de grande qualidade e fluidez gráfica – Diferentes modos de jogo
Contras – Pode tornar-se repetitivo – Campanha relativamente curta
Apesar de ser bastante satisfatório esmagar os Tyranids com uma bela vista, a campanha não oferece muito mais. Notámos, claramente, que foi desenvolvida para jogar em conjunto com dois amigos reais. Os bots, Gadriel e Chairon não são muito consistentes. Ora não conseguem lidar com as multidões de inimigos que se aproximam, ora vão destruindo todos, deixando apenas as finalizações para o jogador. Isto prejudica a jogabilidade. Às tantas deixaram-nos, por perto, uns cinco inimigos à beira da morte. Mas não os conseguíamos eliminar porque tínhamos de, primeiro, aniquilar, outras dezenas de inimigos que nos rodeavam. Em geral, passado algumas horas sem amigos, a campanha torna-se repetitiva. É nesta altura que trocámos para Operations, o modo online, com várias missões mais interessantes que a campanha principal. E com a possibilidade de escolher a classe do nosso Ultra Marine e personalizá-lo. Consideramos este o modo mais forte do jogo.
Eternal War é o modo multijogador de equipas (6v6), que não se enquadra na narrativa da história. Os mapas seguem os passos dos cenários da campanha, bonitos e eficientes para o combate. As diferentes classes, apesar de seguirem o modelo clássico do género, são bastante divertidas e diferentes entre si. Em geral, este modo, não oferece nada de novo, mas admitimos que passámos umas boas horas a jogar em Eternal War.
Warhammer 40.000 Space Marine 2 respeita o legado do antecessor: um jogo de pura diversão.
Tome Nota Warhammer 40.000 Space Marine 2 | €29,99
Nota final: 4,1
Plataformas PC (testado), Xbox Series X|S, PlayStation 5 Estúdio Saber Interactive Editora Focus Entertainment
Que comer menos ou com menor frequência pode aumentar o tempo de vida de um animal já se sabia há décadas. Nos últimos anos têm sido realizados vários estudos e investigações científicas que tentam compreender o motivo para as dietas restritivas prolongarem a longevidade dos animais e prever se, no futuro, será possível replicar esta associação em seres humanos. Agora, uma nova investigação conduzida por uma equipa de cientistas do laboratório JAX – The Jackson Laboratory – pode ter descoberto o fator por detrás desta ligação.
Para o estudo, publicado na edição de outubro da revista Nature, o grupo de investigadores monitorizou a saúde de quase mil ratinhos fêmea, colocados em cinco regimes alimentares diferentes: um em que os animais foram livres de ingerir a quantidade de comida que quisessem a qualquer altura; dois em que os roedores receberam, todos os dias, apenas 60% ou 80% do seu valor calórico base; e outros dois de jejum intermitente, em que não foi dada qualquer comida aos ratos durante um ou dois dias consecutivos por semana, mas, em contrapartida, os animais puderam comer livremente nos dias restantes. As fêmeas foram também submetidas a análises sanguíneas de forma periódica e a avaliações regulares de saúde.
Analisados os resultados, a ingestão de menos calorias teve um grande impacto no tempo de vida dos ratinhos. Ou seja, as dietas com menores valores calóricos prolongaram a vida destes animais, independentemente de outros fatores como a sua gordura corporal ou níveis de glucose – geralmente utilizados enquanto marcadores de saúde metabólica e do envelhecimento. Para além disso, os investigadores descobriram que os ratinhos que viveram mais tempo com dietas restritivas foram os que perderam menos peso, apesar de comerem menos. Já os animais que perderam mais peso tiveram vidas mais curtas e mostraram tendências para ter baixa energia e sistemas imunitários e reprodutivos mais fracos.
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“Os animais mais robustos foram os que mantiveram o seu peso, mesmo perante o stresse e a restrição calórica, e são os que vivem mais tempo. Isto também sugere que um nível mais moderado de restrição calórica pode ser a forma de equilibrar a saúde e o tempo de vida a longo prazo”, explicou Gary Churchill, líder do estudo.
Uma revelação inesperada
Outra descoberta que marcou a investigação foi a forma como certos genes – que ainda não foram identificados – podem contribuir para uma maior longevidade, tornando o corpo mais resistente a adversidades. “O nosso estudo aponta realmente para a importância da resiliência”, referiu o cientista.
Segundo as conclusões, os ratinhos colocados num regime alimentar sem restrições viveram, em média, cerca de 25 meses. Já os que seguiram uma dieta de jejum intermitente viveram, em média, 28 meses. Por fim, os ratinhos que comeram 80% das suas calorias de base viveram cerca de 30 meses e os que comeram 60% do seu valor calórico de referência viveram 34 meses. No entanto, dentro de cada grupo, a duração da vida destes animais mostrou-se muito variável. Por exemplo, os ratinhos que ingeriram menos calorias tiveram uma duração de vida de alguns meses até quatro anos e meio.
Este facto levou os investigadores a verificarem que os fatores genéticos tiveram um impacto maior no tempo de vida dos ratinhos do que as dietas. Ou seja, as caraterísticas genéticas de cada animal desempenharam um papel importante na forma como a dieta que lhes foi atribuída afetou a sua saúde e o tempo que este viveu. Ademais, os cientistas identificaram a resiliência – geneticamente codificada – como um fator crítico para o tempo de vida. Os ratos que mantiveram naturalmente o seu peso, percentagem de gordura e células imunitárias saudáveis durante períodos de stresse ou de baixa ingestão de alimentos, foram os que sobreviveram mais tempo.
“Embora a restrição calórica seja geralmente boa para o tempo de vida, os nossos dados mostram que perder peso com a restrição calórica é, na verdade, mau para o tempo de vida”, explicou Churchill. “Por isso, quando olhamos para os ensaios de medicamentos para a longevidade em humanos e vemos que as pessoas estão a perder peso e têm melhores perfis metabólicos, acontece que isso pode não ser um bom indicador do seu tempo de vida futuro”, concluiu.
As conclusões desta investigação colocam em causa os estudos que existem sobre a longevidade humana, assim como criam novas questões acerca da noção de que certas dietas prolongam o tempo de vida de animais.
Segundo os especialistas, este estudo é uma das investigações científicas mais significativas de sempre sobre o tema, uma vez que foi concebido de forma a garantir que cada ratinho era geneticamente distinto, o que permitiu representar melhor a diversidade genética da população humana.
Um candidato presidencial em coma que teve 14,3% dos votos. Um bombeiro que foi despedido por ultrapassar a caravana do primeiro-ministro quando conduzia um bebé de nove meses com dificuldades respiratórias. Uma atriz porno em São Bento. Um deputado que roubou gravadores a jornalistas porque não gostou da entrevista. O grau de insólito destas histórias pode levar quem não as conheça a pensar que se trata de invenções. Mas não são. Todas elas aconteceram e todas estiveram durante alguns anos numa pasta partilhada nos computadores dos jornalistas Liliana Valente e Filipe Santos Costa, com a sigla “WTF”, acrónimo para “what the fuck”, que significa tudo o que nos deixa entre o espanto e o riso, com uma incredulidade bem-disposta.
“Porque é que não assumimos que as histórias absurdas, surpreendentes, surreais, valem a pena contar? Há uma perda coletiva se nos esquecermos delas”, questionou-se Filipe Santos Costa, depois de os dois se aperceberem da quantidade de pequenas histórias que tinham ficado de fora do livro de ambos sobre O Independente. “Quanto mais íamos vasculhar, mais material tínhamos”, acrescenta Liliana Valente, que diz que o projeto andou a fermentar durante quase oito anos, numa recolha que passou pelas histórias que ambos presenciaram como jornalistas, mas também pela leitura de jornais antigos, biografias e Diários da Assembleia da República e por conversas com alguns dos protagonistas. O manancial era tão grande que às tantas tinham um livro de quase 400 páginas e, ainda assim, houve episódios que ficaram de fora. “Temos na prática um segundo livro de histórias que não entraram aqui”, diz Liliana Valente, ainda sem saber se esse segundo volume verá a luz do dia, mas consciente de que a pesquisa não procurou só histórias divertidas. “A ideia era ter as histórias mais inusitadas que fazem parte da nossa memória coletiva nestes 50 anos de democracia, que fossem estranhas, mas também com significado.”
A falsa camarada Arlete e o candidato em coma
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Por acharem que o PREC (Período Revolucionário em Curso) era coisa para merecer um livro próprio, estas pequenas anedotas começam em 1976. E logo nos primórdios da democracia se encontram alguns momentos caricatos, que serão desconhecidos de muitos, como o da primeira mulher candidata à Presidência da República, em 1976, que se apresentava como a “camarada Arlete” e se gabava de ter um passado como antifascista e, sendo apoiada por trotskistas, dizia ter sido militante comunista. O currículo era falso e foi desmascarado pelo jornal O Diário, com ligações ao PCP.
Truca-truca Há mitos desfeitos: afinal o célebre poema de Natália Correia sobre o “deputado capado” do CDS antiaborto nunca foi lido em plenário
A camarada Arlete acabaria por não ir a votos, mas nessas eleições um dos candidatos estava em coma quando os portugueses foram às urnas. Era o almirante Pinheiro de Azevedo, que tinha a particularidade de ser ao mesmo tempo primeiro-ministro e candidato a Presidente e que, quatro dias antes das presidenciais, sofreu um enfarte do miocárdio e ficou em coma. Na véspera do ato eleitoral, Pinheiro de Azevedo tinha apenas movimentos reflexos, mas isso não impediu 14,3% dos eleitores de o escolherem (teve quase 700 mil votos). Dado o seu estado de saúde, a mulher só lhe contou o resultado das eleições semanas depois.
Manifesto O livro recupera o Manifesto Anti-Portas escrito pelo socialista Carlos Candal para arrasar o “elitista” e “democrata precário” Paulo Portas Foto: Lucília Monteiro
“O que é que se retira de um povo que votou num candidato que estava em coma?O que é que nos diz sobre nós a complacência com que olhámos para algumas coisas do Sócrates? Diz-nos muito sobre a nossa pequenez, sobre o facto de estarmos muito concentrados no momento e termos dificuldades em ganhar perspetiva, mas também nos diz algo sobre a nossa resiliência. Apesar disto tudo, chegámos aqui. Temos uma democracia que já existiu mais anos do que a ditadura”, comenta Filipe Santos Costa, que procura não só o lado lúdico destas pequenas histórias, mas também os traços que nos definem enquanto país. “A capacidade de nos rirmos e bola para frente, o deixa andar, o improviso, a arrogância bacoca.”
O bombeiro despedido por ultrapassar Cavaco
A hoje esquecida história do bombeiro Gomes é apontada por Liliana Valente e Filipe Santos Costa como reveladora dessa “arrogância bacoca”. Vítor Gomes era um pacato bombeiro da Póvoa de Varzim que no dia 8 de julho de 1990 teve de transportar uma menina de 9 meses com febre alta e dificuldade em respirar. Gomes pôs prego a fundo e ultrapassou todos os carros que lhe apareceram à frente para salvar o bebé. Salvou. Mas dias depois recebeu a notificação de um crime que não se apercebeu ter cometido. Tinha “atentado contra a vida de uma alta individualidade do Estado”. Como? Ultrapassando a comitiva onde ia o primeiro-ministro Aníbal Cavaco Silva. Foi multado, proibido de conduzir ambulâncias e despedido da empresa onde trabalhava e onde tinha um social-democrata como patrão. Alvo de um processo-crime, acabaria por ser absolvido por um juiz que até lhe louvou os esforços para salvar a criança.
Precoce Com apenas 27 anos, o diretor-adjunto do Expresso Marcelo era entrevistado pelo diretor Balsemão e anunciava as suas memórias políticas Foto: Inácio Ludgero
Se o bombeiro Gomes se perdeu na memória, há relatos que fazem parte do imaginário coletivo, mas não aconteceram tal e qual como hoje são contados. É o caso do famoso poema de Natália Correia sobre o “truca-truca” em resposta ao deputado do CDS João Morgado, que se opunha à legalização do aborto defendida pelo PCP, pela voz da então comunista Zita Seabra. Consultados os Diários da Assembleia da República e a biografia da poeta, Filipe Santos Costa e Liliana Valente descobriram que, afinal, nem Natália estava no plenário nem o poema foi escrito aí de rajada como resposta ao deputado “capado” Morgado. Natália escreveu sim com rapidez, mas o poema só foi publicado nos jornais do dia seguinte. Nele, a poeta ridicularizava a ideia de o coito ter “como fim cristalino, preciso e imaculado, fazer menino ou menina”, sem ter pejo em satirizar o facto de João Morgado ter apenas um filho, apesar de ser deputada do PSD, partido de que era parceiro o CDS na AD de então.
Mamas, cocós e lambisgoias
A verve de Natália também serviu para uma descrição em verso da visita da “carnal deputada porno”, a italiana Cicciolina, que entrou no plenário quando “o Parlamento em tédio morno, [estava] do Processo Penal a lei moendo”. Cicciolina apresentou-se com os seios à mostra, ursinho de peluche ao peito e bâton encarnado e assomou à bancada do Corpo Diplomático nessa figura. Entre protestos das bancadas da direita, a sessão foi encerrada. E Natália, em poesia, sugeria “ponham-lhes cuequinhas e soutiens”, às estátuas do plenário.
Erótico Macário Correia também entra no livro, com a revelação dos poemas de índole sexual do deputado algarvio que, entretanto, se afastou da política Foto: Bruno Rascao
Nesta lista de insólitos, há espaço para uma troca de palavras azedas entre Francisco Sousa Tavares e Helena Roseta sobre cocós nas águas das praias. O ministro da Qualidade de Vida do bloco central não hesitou em apontar o dedo à falta de saneamento básico responsável pelos coliformes fecais que boiavam nas águas de Estoril, Oeiras e Cascais. Roseta, autarca em Cascais, indignou-se pelo alarme público suscetível de prejudicar o turismo na zona. O mal estava feito e, depois de notícias de diarreias no Algarve, deu-se uma onda de cancelamentos nos hotéis. Criticado também pela ex-secretária de Estado do Ambiente, Margarida Borges de Carvalho, Sousa Tavares contra-atacou: “Todo este alarido tem sido obra de mulheres que me odeiam.”
Zanga Avelino Ferreira Torres ficou em fúria quando as Doce o proibiram de filmar um espetáculo em Marco de Canavezes. Chamou-lhes “lambisgoias” Foto: Lucília Monteiro
Também sem medo de ofender mulheres, o autarca de Marco de Canavezes, Avelino Ferreira Torres, acusou as Doce de serem “lambisgoias” e “badamecas”, depois de as cantoras se recusarem a deixar a autarquia gravar a atuação que teriam no concelho e que acabaram por cancelar.
Marcelo do princípio ao fim
Nas quase 400 páginas de Só Neste País, há protagonistas recorrentes. “Marcelo está do princípio ao fim”, nota Filipe Santos Costa. No primeiro episódio, o jovem jornalista-político-comentador e diretor-adjunto do Expresso, Marcelo Rebelo de Sousa, é entrevistado pelo seu diretor, Francisco Pinto Balsemão, e revela a intenção de publicar as suas memórias aos 27 anos. Nunca aconteceu. E depois disso Marcelo e Balsemão zangaram-se por causa de um “lélé da cuca” com que o jornalista brindou o patrão, no meio de um texto, picado pela aposta de uma amiga. Na última entrada a que tem direito neste livro, Marcelo Rebelo de Sousa aparece, como conta Santos Costa, “a fazer uma intervenção completamente destravada” perante uma plateia de jornalistas estrangeiros, com a qual comenta o “lado rural” do primeiro-ministro Luís Montenegro.
O atentado Cavaco Silva foi o motivo pelo qual o bombeiro Gomes acabou despedido e acusado de atentar contra uma alta figura do Estado para salvar um bebé Foto: Egídio Santos
“Há figuras como Alberto João Jardim e Pedro Santana Lopes que também são recorrentes”, aponta Santos Costa, lembrando o célebre episódio em que Santana se enganou e falou de um concerto para violinos que Chopin nunca escreveu. Mas há também momentos menos famosos, como quando Marcelo e Alberto João foram adiando como podiam o Congresso do PSD na Figueira da Foz em 1985 para que Aníbal Cavaco Silva conseguisse as assinaturas necessárias para se apresentar como candidato a líder. Marcelo, da Nova Esperança (a corrente onde também estava Santana), apoiava Cavaco, mas as assinaturas tardavam. Jardim, conta o próprio no livro, pegou no papel e escrevinhou as três assinaturas que faltavam, usando os nomes de delegados da Madeira, que só seriam avisados de que apoiavam Cavaco depois. “Não houve nada de ilegal. Houve, sim, um certo pragmatismo”, defende-se Alberto João Jardim.
O repetente O nome de Pedro Santana Lopes aparece citado 35 vezes no livro. Dos famosos concertos para violino de Chopin ao já esquecido programa da SIC Cadeira do Poder
“Conforme leio o livro, mudo de história favorita”, confessa Filipe Santos Costa, que ainda assim gosta especialmente da que conta como o deputado socialista Ricardo Rodrigues roubou os gravadores dos jornalistas Maria Henrique Espada e Fernando Esteves, em maio de 2010, por não gostar do rumo que estava a levar a entrevista para a revista Sábado. Ficou tudo gravado em vídeo e Rodrigues foi condenado por atentado à liberdade de imprensa e atentado à liberdade de informação. “E o PS indicou-o para um cargo na Justiça depois disto acontecer”, frisa Santos Costa.
O “desespero” de Ventura para ter um atentado
No lote dos momentos “WTF”, Filipe Santos Costa e Liliana Valente contam também várias histórias sobre André Ventura, como aquela em que o líder do Chega apagou de todas as plataformas o primeiro programa eleitoral do partido depois de o cronista Daniel Oliveira escrever sobre ele e denunciar algumas das suas propostas mais radicais contra o SNS e a escola pública. Ou, como diz Santos Costa, “o desespero de Ventura para ter o seu atentado, a sua Marinha Grande, mas a sua Marinha Grande não é mais do que o arremesso de caixas de pastilhas elásticas e rateres de motos”.
Escândalo A deputada e atriz porno Cicciolina agitou o País quando entrou no Parlamento de seios à mostra. Só Natália Correia correu aos Passos Perdidos para a abraçar
Apesar de o livro ir buscar a expressão “só neste país” para título, os autores citam Sérgio Godinho para garantir que “não é só neste país que se diz só neste país”. A viver há alguns anos no Japão, Santos Costa garante que também por lá há histórias que merecem o carimbo WTF. “Há histórias parecidas com estas em todo o lado. Há histórias da política japonesa com um grau de absurdo inverosímil. A questão é que estes são os nossos [políticos]. Temos de os tratar com carinho e com memória.”
Só Neste País
Filipe Santos Costa e Liliana Valente
São quase 400 páginas de pequenas histórias hilariantes que ajudam a perceber a História de 50 anos de democracia — Clube do Autor,356 págs., €20