A ARTE – O PCP é um dos partidos comunistas mais antigos do mundo, ainda em plena atividade, e dos raríssimos que detém parcelas de poder eletivo, no Ocidente. Fundado em 1921, ainda é do tempo de Lenine. A sua resiliência deve-se à experiência e ao prestígio acumulados na luta contra a Ditadura salazarista, como única força orgânica da oposição. O facto de ter produzido mártires e heróis faz com que ainda viva da pretérita glória, mantendo intacta a sua aura romântica. O trabalho revolucionário de Álvaro Cunhal, na frente interna e na frente externa, cumpriu os seus principais objetivos: externamente, contribuiu, através da infiltração no MFA, para que as ex-colónias portuguesas ficassem na órbita da “Pátria do Socialismo”, a União Soviética, e não entregues ao “imperialismo americano”. Na frente interna, garantiu, por décadas, a gratidão de bastiões comunistas (um seguro de vida eleitoral) como o da Zona de Intervenção da Reforma Agrária. Com as mudanças sociais, as dinâmicas eleitorais e a adesão europeia, o partido acentuou o seu declínio, iniciado em 1975, quando revelou a sua face antidemocrática, avessa ao primado da representatividade eleitoral. Hoje, tem uma presença modesta nas instituições: apenas um eurodeputado, quatro deputados na AR e 19 câmaras municipais, onde se incluem, somente, duas capitais de distrito. Detém, ainda, uma considerável força sindical, explicada, em grande parte, pelo peso do Estado e da Administração Pública.
O ARTISTA – Paulo Raimundo. Ele representa a continuidade do regresso às origens operárias, reiniciada com Jerónimo de Sousa, depois das lideranças intelectuais de Álvaro Cunhal e de Carlos Carvalhas. A sua urgência é estancar a sangria institucional, segurando o maior número possível de autarquias, em ano eleitoral autárquico. Do congresso do passado fim de semana, cada delegado saiu da sala como um missionário. O alerta do conclave foi o de reconhecer a progressiva irrelevância do partido e a missão de se fazer alguma coisa contra isso. A ideia, agora, é a de arregimentar todos “os homens de boa vontade” (intenção implícita no convite ao cardeal D. Américo Aguiar para assistir ao encerramento do congresso, não à espera que o bispo de Setúbal apoie a CDU mas na expectativa das boas graças do eleitorado católico…). Mobilizar comunistas ou independentes, que queiram colaborar num projeto de “honestidade, trabalho e competência”. Se bem percebemos, cada militante terá de ser um influencer, dentro da sua carteira de contactos. Abrir o partido é ir à pesca de quadros, lá fora, sem lhes exigir nada em troca, a não ser o favor de darem a cara, nas autárquicas, pela CDU. O líder do PCP tem a imagem de pessoa simpática, que fala a linguagem do povo, “pão, pão, queijo, queijo”. O estilo vem de Jerónimo de Sousa, com quem era impossível antipatizar. A simpatia por dirigentes de partidos radicais não significa, necessariamente, votos: significa que já não são ameaça. Os votos, nestes partidos, vêm mais facilmente com personalidades disruptivas e provocadoras, capazes de suscitar antagonismo e rejeição (vide André Ventura). A receita da simpatia não funcionou com Jerónimo e tem falhado, clamorosamente, com Raimundo. Também o Belenenses é um clube com que toda a gente simpatiza ‒ e veja-se onde está o Belenenses…
E A SOCIEDADE – A extinção do operariado proletário, substituído pelos serviços, na antiga Cintura Industrial de Lisboa, e do campesinato alentejano, substituído por imigrantes asiáticos, retirou ao PCP o seu chão. A narrativa dos comunistas, reiterada neste congresso, é dificilmente apreendida pela sociedade portuguesa. Dizer que os trabalhadores são vítimas do capitalismo, representado, sempre, pelo grande Satã norte-americano, e dar como alternativa ao “pensamento único” as potências que representam “os povos libertados” da China (onde os trabalhadores não têm voz nem direitos), da Rússia (onde os defensores da paz estão presos ou mortos), ou da Venezuela (onde uma cleptocracia corrupta vive bem com a fome generalizada), não convence um eleitorado que os comunistas precisavam de recuperar. Sim, os jovens emigram, mas não é para fugir ao capitalismo: eles demandam países ainda mais capitalistas, como a Alemanha, o Reino Unido ou os EUA. E no dia 18 de janeiro, quando o PCP sair à rua, na anunciada manifestação pela paz, os portugueses estranharão não ver cartazes onde se interpele o senhor Putin, que, tendo iniciado a guerra, é o único que a pode parar.
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* Título de um livro de Álvaro Cunhal, Editorial Caminho, 1997
Para chegarmos a alguma conclusão partimos sempre de dados, observações e informações recolhidos das mais diversas formas. A quantidade e a qualidade de como obtemos a informação sobre algum tema isso permite-nos chegar a uma opinião, ou seja, a opinião parte sempre de uma perceção sobre a realidade.
Neste momento, não importam as perceções que encaixam com a realidade. As que por boa recolha de informação, sorte ou por qualquer outra razão sejam verdadeiras. Interessam, por estarmos a ser ultimamente bombardeados com elas a toda a hora, as que não se baseiam em factos, em dados concretos, mensuráveis, recolhidos de forma científica. Mas sim perceções geradas por achismos, impressões, sensações.
Há perceções que se criam, crescem e se consolidam sem nenhum objetivo definido. Episódios que se encaixam em medos comuns ou se adaptam a rancores, ressabiamentos, invejas e mais uma quantidade enorme de sentimentos menos nobres. A sua existência nasceu com o mundo e morrerá com ele.
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A maneira como se lida com essas perceções por quem detém o poder é que as torna irrelevantes ou tão fortes que conseguem dominar uma comunidade, tornando-a refém de algo imaterial, vago e sobretudo não confirmável. Isto também não é novo, mas é muito preocupante.
Note-se que quando se diz poder não se fala exclusivamente de poder político, longe disso. No passado e no presente, tanto o económico, religioso ou mediático conseguiram (e conseguem) criar perceções falsas e moldar a comunidade com base nelas. Se isso era feito com menor ou maior dificuldade noutros tempos, não são precisas grandes reflexões para se perceber o quão mais fácil tal tarefa se tornou no tempo das muito facilmente manipuláveis redes sociais e quando o mundo é dominado por quatro ou cinco empresas globais com ilimitado poder económico e mediático.
Em conjunto, essas forças criam as perceções e conseguem implementá-las tão melhor quanto mais fraco ou permeável for o poder político – desprezemos desta vez a possibilidade de terem sido essas forças a ter definido quem são os líderes políticos. A criação de perceções erradas baseia-se sempre na ignorância. Note-se que a ignorância não é obrigatoriamente causada por deficiências culturais ou de acesso ao conhecimento: a vida profissional e familiar ocupa muito tempo. Claro está que as redes sociais com a sua velocidade e acessibilidade são as maiores promotoras de ignorância e subsequente manipulação da opinião de que há memória: alguém sem tempo vê um tweet ou uma mensagem em segundos, ler um jornal ou um livro exige tempo e concentração.
No entanto, o que temos frequentemente visto nos últimos tempos é o poder político basear-se em perceções que não encaixam na realidade.
O mais recente caso é o suposto abuso do Serviço Nacional de Saúde por pessoas sem residência no nosso país. Não há um único estudo sobre se isto é real ‒ aliás, ao mesmo tempo que tornou públicas as medidas, o Governo anunciou uma auditoria a fazer no futuro… Sabe-se, isso sim, que há mais de 400 000 pessoas a descontar para a Segurança Social, mas sem residência em Portugal; que o nosso país recebeu 26 milhões de turistas no ano passado; e que 43 000 pessoas sem residência no País foram tratadas… Digamos que os dados não encaixam na narrativa.
Infelizmente, não é um caso virgem. Tivemos a declaração do primeiro-ministro, em horário nobre, sobre insegurança num dos países mais seguros do mundo, não existindo um único dado empírico que diga que estamos a deixar de o ser.
Temos a permanente conversa sobre sermos um país onde grassa a corrupção, chegando-se a esta conclusão através de estudos baseados em perceções; isto apesar da conclusão ser oposta quando efetivamente se compilam factos e comportamentos.
O poder político tem de velar pelo bem comum. Ao assumir mentiras ou suposições não comprovadas e atuar em função delas para legislar ou implementar medidas dá-se uma de duas coisas: ou pensa que é melhor para a comunidade embarcar em falsidades ou, pura e simplesmente, não quer saber do bem comum e só há interesse em manter o poder.
Vamos deixar de lado a segunda hipótese por eu estar firmemente convicto de não ser o caso. Resta a primeira e essa é suficientemente assustadora. Em primeiro lugar, como se podem esperar bons resultados com diagnósticos errados? Presume-se que a verdade e a base científica para as decisões são parte da prossecução do bem comum. Quando abandonamos esses princípios em função de estratégias mais ou menos benévolas pomos em causa o conjunto de valores em que uma comunidade está baseada. Permite-se que a mentira prospere e, mais grave ainda, os nossos representantes tornam-se reféns de narrativas criadas por pessoas, empresas ou organizações políticas movidas por um interesse que não é o da comunidade.
A cedência a perceções erradas é típica, repito, de políticos fracos, que inevitavelmente decidirão mal e, sobretudo, não compreendem a dimensão ética do poder. Um político forte e consciente não cavalga falsidades, combate-as, decide baseado em factos e convicções, mesmo que o tenha de fazer contra tudo e contra todos.
Quando a então ministra da Justiça Francisca Van Dunem pensou criar o Mecanismo Nacional Anticorrupção (MENAC) tinha claro que a estrutura tinha de ser dirigida por alguém com um currículo de militância contra a corrupção. Nessa altura, convidou Maria José Morgado, que recusou, e sondou mais dois magistrados do Ministério Público. Morgado viria a dizer ao Observador que a estrutura lhe pareceu “demasiado pesada e mastodôntica” para ser eficaz. Entretanto, Van Dunem deixou de ser ministra e o presidente do MENAC acabou por ser escolhido pela governante que lhe sucedeu, Catarina Sarmento e Castro, e pela procuradora-geral da República, Lucília Gago, tendo sido ouvido também o presidente do Tribunal de Contas. A escolha recaiu sobre o juiz conselheiro jubilado António Pires da Graça. Sem um currículo ligado ao combate à corrupção, o magistrado ficou com a tarefa de pôr a funcionar o organismo. Mas o trabalho não parece fácil: o MENAC levou quase dois anos a sair do papel e, um ano e meio depois disso, não aplicou qualquer sanção, não fez ações de fiscalização, funciona à base de ajustes diretos, não tem ainda Código de Conduta nem Plano de Prevenção de Riscos e os seus órgãos pouco ou nada reuniram.
Basta ir ao site do MENAC para perceber a que ponto se aplica aqui o adágio popular do “bem prega Frei Tomás”. Num separador com o título “Transparência”, há links para o Código de Conduta e para o Plano de Prevenção de Riscos de Gestão, Corrupção e Infrações Conexas, mas abrindo-os aparece apenas um “brevemente”, denunciando a inexistência destes documentos que é função do MENAC assegurar que existem em todas as entidades públicas e nas privadas com mais de 50 trabalhadores (que têm, aliás, de os submeter até ao último dia de 2024).
A VISÃO sabe que há já um projeto de Código de Conduta em debate interno no MENAC, mas o texto ainda não ficou fechado e, numa versão preliminar submetida pelo presidente à estrutura do organismo, surge uma disposição suscetível de gerar dúvidas legais.
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Rita Júdice. A ministra da Justiça quer mudar a orgânica do MENAC, mas a agência é independente de qualquer tutela. Foto: Luís Barra
“Todo o equipamento e as instalações, independentemente da sua natureza, apenas podem ser utilizados para uso oficial, salvo se a sua utilização privada tiver sido explicitamente autorizada pelo Secretário-Geral”, lê-se no n.º 3 do artigo 6.º do projeto, numa formulação que fez um dos vogais do MENAC alertar para o facto de se estar perante uma norma que “pode prefigurar a legitimação do crime de peculato de uso”, ainda por cima sem que fiquem explícitas as condições sob as quais poderia ser dada a referida autorização, “o que resultaria no exercício de um poder arbitrário e que constitui, sob qualquer perspetiva, um fator de risco de corrupção”.
Ofícios meses à espera
Desde que começou a funcionar efetivamente, há cerca de um ano e meio, não há registo de qualquer sanção ou até ação inspetiva feita pelo MENAC ao universo de cerca de mil entidades públicas (onde se incluem direções-gerais, agências, institutos e empresas públicas) e cerca de 12 mil privadas. A VISÃO sabe, contudo, que desde julho que estão pendentes dez ofícios solicitando informações a dez fundações, na sequência de inspeções feitas pela Inspeção-Geral de Finanças, sem que os mesmos sejam enviados aos destinatários para que se avance com o processo de fiscalização. Questionada sobre os motivos que levaram a que os ofícios estejam há cerca de cinco meses à espera de serem enviados, fonte oficial do MENAC diz apenas que não tem “nada a referir quanto a estes factos que dizem respeito a processos de averiguações que estão a decorrer”.
Mas há outros sinais de inatividade. A Comissão de Acompanhamento do MENAC existe desde 13 de outubro de 2022, mas até à data reuniu apenas 15 vezes, ou seja, menos de uma vez por mês. E a Comissão de Sanções reuniu, desde 2 de outubro de 2023 até à data, apenas sete vezes, ou seja, menos de uma vez a cada dois meses, havendo apenas quatro atas aprovadas destas reuniões. Fonte oficial do MENAC escuda-se na lei para responder que “o Decreto-Lei n.º 109-E/2021 de 9 de dezembro, não determina qualquer periodicidade para as reuniões” destes órgãos. Também não foi ainda colocada à discussão a proposta de relatório anual anticorrupção do MENAC, nem foi discutida a proposta de articulação com as inspeções gerais elaborada por dois vogais, tal como também não foi discutida internamente a arquitetura do sistema de recolha de dados. “A proposta de relatório anual anticorrupção 2024 tem de ser aprovada pelo presidente do MENAC e apresentada ao Governo até ao dia 30 de abril de 2025, de acordo com o previsto no artigo 10.º alínea d) Decreto-Lei n.º 109-E/2021 de 9 de dezembro, encontrando-se neste momento em ponderação pelo presidente do MENAC”, contrapõe o gabinete de Pires da Graça.
Protocolos em dúvida
António Pires da Graça, conselheiro jubilado, não tinha até ser escolhido um currículo especialmente ligado ao combate à corrupção
Na semana passada, o Público avançou que o MENAC não fez, desde que foi criado, um único concurso público, tendo recorrido sempre a ajustes diretos. Mas há outras queixas no que toca à falta de transparência desta agência. Uma delas prende-se com os diversos protocolos anunciados pelo MENAC com várias entidades terem sido publicados no seu site apenas após as questões da VISÃO sobre os seus termos e em vários casos sem estarem assinados, contrariando as recomendações do próprio MENAC.
Um desses protocolos foi estabelecido com o Observatório de Economia e Gestão de Fraude, que é dirigido por António Maia, que trabalha como consultor coordenador do MENAC. No contrato disponível online não há qualquer informação sobre os custos do protocolo de colaboração entre as duas entidades e o gabinete de Pires da Graça não responde diretamente à pergunta da VISÃO sobre se este acordo coloca alguma questão de conflito de interesses, limitando-se a notar que o consultor contratado pelo MENAC pode acumular esse cargo “com outras funções privadas não remuneradas nos termos do n.º 3 do artigo 22.º da Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas”, estando outras funções públicas remuneradas “autorizadas nos termos da lei, no respetivo despacho de nomeação”. Há também um protocolo que ainda não deu frutos: o assinado com a UN Global Compact Portugal Network a 30 de setembro. “A atividade pensada (realização de conferência) acabou por não se concretizar”, justifica-se fonte oficial do MENAC.
O MENAC conta com um orçamento de mais de um milhão de euros por ano, sendo que 88,58% desse valor é gasto em despesas com pessoal. O presidente ganha à volta de 8600 euros brutos e o vice-presidente cerca de 6800 euros brutos, ficando os restantes funcionários (recrutados em mobilidade) com o vencimento de origem. Mas não está a ser fácil preencher o quadro de pessoal.
Em 31 vagas abertas até 30 de setembro, o MENAC só conseguiu preencher oito. O que é que explica isso? “O recrutamento para o quadro do MENAC apenas se pode fazer, nos termos da lei, por mobilidade interna entre serviços públicos, o que limita significativamente as opções de recrutamento e permite a oposição do serviço de origem do trabalhador”, justifica-se a agência, que tem tido o entendimento de que o quadro legal pelo que se rege “não prevê a consolidação dessas mobilidades”, obrigando os trabalhadores a sair um ano depois. Mas até a localização do MENAC serve para explicar a dificuldade em atrair trabalhadores, sendo que em três meses saíram quatro, tendo entrado apenas um. “As instalações e a localização e os acessos à sede do MENAC, nas Escadinhas de São Crispim, em Lisboa, não são os mais atrativos, o que pode influenciar a decisão dos trabalhadores em permanecer no Mecanismo”.
Fontes do MENAC queixam-se, porém, do “mau ambiente”. E a VISÃO teve acesso a uma troca de e-mails na qual um dos três vogais responsáveis pelo acompanhamento de um projeto no âmbito do PRR é ameaçado com um processo disciplinar caso questione o secretário-geral sobre o mesmo. Uma atitude que não merece o comentário do gabinete de Pires da Graça. “Nada a referir quanto aos factos que determinaram a prolação de um despacho interno.” Noutro e-mail de uma funcionária que decidiu sair, lamenta-se que, apesar de todos os meios e da vontade da equipa, o projeto não tenha arrancado: “Foi (…) minado desde o início”, escreve.
Francisca Van Dunem. Foi a antiga ministra quem desenhou e pensou o MENAC. Mas foi Catarina Sarmento e Castro quem escolheu o seu presidente, com Lucília Gago. Foto: Luís Barra
A falta de atividade e de eficácia do MENAC fez soar alarmes no gabinete da ministra da Justiça, Rita Júdice, que, depois de uma audição de Pires da Graça no Parlamento, disse à Rádio Renascença ter pronto um decreto-lei para rever a orgânica do MENAC. “O Mecanismo Nacional Anticorrupção tem as competências concentradas num presidente e gostaríamos de ver estas competências atribuídas a um órgão colegial”, disse a ministra que deixou sem resposta as perguntas da VISÃO.
Maria José Morgado foi a primeira escolha para liderar o MENAC. Mas recusoupor achar a estrutura “mastodôntica” e ineficaz
Pires da Graça está ainda a meio de um primeiro mandato de seis anos renovável por mais uma vez, pelo que a mudança na orgânica pode ser uma forma de afastar sem exonerar o juiz jubilado que disse no Parlamento ser “um autêntico disparate” sair das funções. Nessa audição, Pires da Graça deu a sua receita para os problemas da agência. “Uma orgânica interna e manutenção de estrutura e competências próprias para conseguir uma maior concretização no terreno. Devia haver uma estrutura de apoio maior, mais completa e mais qualificada, com mais juristas e mais pessoas especialistas em finanças. Não é um problema que tem imediatamente que ver com o presidente”, disse.
Quem esteve na equipa que pensou originalmente o MENAC considera que teria sido fundamental para o arranque da estrutura ter à sua frente uma personalidade com currículo anticorrupção. E preconizava que esta agência fizesse “uma análise retrospetiva aos casos transitados em julgado”, com uma análise dos meios, custos e eficácia. Algo que nunca foi feito. “O organismo está morto”, declara quem ajudou a desenhar este modelo. Contactadas pela VISÃO, as ex-ministras da Justiça Francisca Van Dunem e Catarina Sarmento e Castro não quiseram fazer qualquer comentário.
A decisão está finalmente tomada, e o ministro Pinto Luz demonstra a sua capacidade de ser rápido e prático, como é amplamente reconhecido. Contudo, a surpresa está no valor do novo aeroporto: 8 mil milhões de euros? A sério?
Oito mil milhões de euros dariam para construir três cidades completas, com todas as infraestruturas, e talvez até para criar uma nova TAP, com aviões saídos diretamente da fábrica. É, sem dúvida, muito dinheiro. A obra será, por isso, magnífica, excecional, fora do comum. Mas será isso o que realmente precisamos?
É certo que irá gerar grande movimentação no mercado interno e externo, criando postos de trabalho e melhorando infraestruturas, como a nova ponte sobre o Tejo. Ainda assim, o montante impressiona e, de certa forma, assusta.
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O ministro garantiu que não será dinheiro do Estado, mas sim da Europa e do consórcio que detém os direitos. Isso tranquiliza. No entanto, será crucial cumprir este pressuposto, bem como o prazo das obras e o resultado final. A margem Sul irá rejuvenescer. Será o novo Parque das Nações.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.
O Barómetro da Imigração, apresentado esta semana pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, tem, entre várias outras, uma enorme virtude: ajuda a perceber até que ponto a maioria dos portugueses tem uma visão enviesada da sociedade, muito mais baseada na perceção do que na realidade. Segundo o estudo, a grande maioria dos inquiridos acha que há muito mais imigrantes em Portugal do que aqueles que existem, realmente, de acordo com os dados oficiais. E também, de um modo geral, uma larga percentagem de inquiridos associa a imigração a um aumento da criminalidade e a uma maior despesa na Segurança Social, quando os indicadores, nesses domínios, vão precisamente no sentido contrário.
Esta discrepância entre a perceção e a realidade é acentuada, como já se verificou em muitos outros estudos internacionais, pelo posicionamento ideológico ou político de quem responde ao inquérito. Mas há uma tendência que, no caso da imigração, vale a pena reter e que os autores do estudo fizeram questão de sublinhar: “quanto mais imigrantes o inquirido julga existirem, mas desfavoráveis serão as suas atitudes” para com esses mesmos imigrantes.
Esta é uma conclusão lapidar e que ajuda a explicar a razão por que alguns políticos insistem em aproveitar todos os momentos para vociferar contra aquilo que clamam ser a “imigração descontrolada” e a “invasão” que dizem estar a ocorrer no País: quando a realidade não corresponde ao que desejavam, os populistas – ou os seus aprendizes – nunca hesitam em cavalgar a onda da perceção, onde podem manipular as sensações a seu bel-prazer e construir uma narrativa que acaba por ter eco na opinião pública. Mesmo que depois o mesmo inquérito até apresente resultados contraditórios em relação a esse tipo de perceções.
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Quando a realidade não corresponde ao que desejavam, os populistas – ou os seus aprendizes – nunca hesitam em cavalgar a onda da perceção, onde podem manipular as sensações a seu bel-prazer
Afinal, lê-se no Barómetro, embora 67,4% dos inquiridos considerem que os imigrantes contribuem para o aumento da criminalidade e outros 68,9% digam que eles ajudam a manter os salários baixos em Portugal, uma percentagem praticamente igual deles, 68%, concorda que os imigrantes são “fundamentais” para a economia nacional. E, de uma forma que até pode ser considerada surpreendente, 58,8% considera que os imigrantes deviam ter direito de voto igual ao dos portugueses, que lhes deve ser facilitada a naturalização, e uns esmagadores 77,4% afirmam que eles deviam ter o direito a poder trazer a sua família para Portugal.
Estes dados revelam a necessidade, cada vez mais urgente, de nos debruçarmos a sério sobre a realidade – da imigração e de tudo o resto – e deixar de perder tempo a discutir perceções. Até porque é preciso não nos esquecermos de que, se hoje este tipo de relatórios põe a tónica na opinião da sociedade portuguesa em relação à imigração e à integração da população estrangeira, ainda há bem poucos anos o foco era completamente diferente: a preocupação estava nas consequências da diminuição acelerada da população portuguesa, com o País a correr o risco de ficar reduzido, já em 2050, a cerca de 7 milhões de habitantes… caso deixássemos de receber imigrantes.
É nesse confronto de realidades que o debate sobre a imigração precisa de ser centrado. No fundo, discutir se o País se resigna a ficar com uma população cada vez mais pequena ou se, com os necessários ajustes, aceita acolher cada vez mais residentes estrangeiros, de outras culturas e a falar outras línguas, para manter, no mínimo, o equilíbrio populacional – essencial, aliás, para o Estado social. Este debate não se pode realizar com base em perceções nem, muitos menos, sujeito a táticas de curto prazo, apenas com o objetivo de “sacar” mais uns votos nas próximas autárquicas ou até numas legislativas antecipadas. Este é um debate que precisa de ser feito com os olhos postos no longo prazo e na definição do País que queremos ser. E tendo sempre a consciência de que a realidade, ao contrário das perceções, é dinâmica e pode alterar-se, de um dia para o outro, por tensões ou clivagens globais.
Até porque os erros podem pagar-se caros. Veja-se o que aconteceu, no ensino, quando se acreditou que a tendência demográfica portuguesa tinha entrado num declínio sem retorno, e se deixou de planear novas escolas e até se decretou que a docência seria uma profissão sem grande futuro. Afinal, desde a acelerada chegada de imigrantes, a partir de 2019, já percebemos agora que faltam aulas e já não temos professores suficientes. E isso não é perceção, mas antes uma realidade – que precisa de ser encarada de frente.
No mundo atual, repleto de divisões, polémicas e debates dominados por argumentos intransigentes, poucos intelectuais conseguiram ganhar o consenso de Yuval Noah Harari, especialmente entre um público que, em diversos países, procura explicações coerentes, numa linguagem acessível, sem se deixar perder em armadilhas eruditas. Com uma capacidade singular para desvendar as tramas mais intrincadas da existência humana, o historiador e professor universitário israelita transformou-se numa das vozes mais escutadas do nosso tempo, desde o lançamento, em 2011, de Sapiens: História Breve da Humanidade, que já vendeu mais de 25 milhões de exemplares em todo o mundo. O livro seguinte, Homo Deus: História Breve do Amanhã, ajudou a revolucionar a forma como olhamos para a História e deu-nos pistas que podem ser úteis para nos auxiliarem a enfrentar os desafios que nos aguardam no horizonte tecnológico.
Além de influente, Harari cultiva também um estilo de vida que, nos dias de hoje, reforça a sua singularidade e ajuda a percecioná-lo como alguém que consegue olhar o mundo como se estivesse num posto de observação afastado, mas que lhe permite uma visão global e distanciada: não usa telemóvel, pratica meditação e natação diariamente, tem uma alimentação vegan e, pelo menos um ou dois meses por ano, interrompe as suas palestras milionárias e faz retiros prolongados. À sua volta, Harari tem hoje uma máquina bem oleada, com dezena e meia de colaboradores que lhe tratam da sua movimentada agenda, nomeadamente as conferências e intervenções junto dos maiores líderes do planeta.
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Uma bomba atómica não pode decidir quem atacar, nem pode inventar novas bombas ou novas estratégias militares. Uma IA, pelo contrário, pode decidir por si própria atacar um determinado alvo e pode inventar novas bombas, novas estratégias e até novas IA
Agora, com o lançamento de Nexus: História Breve das Redes de Informação, da Idade da Pedra à Inteligência Artificial, Harari mergulha mais uma vez no terreno pantanoso das transformações globais, oferecendo um olhar penetrante sobre como as tecnologias digitais, a Inteligência Artificial e as redes de conexão estão a redesenhar, de forma nunca vista, o tecido social e existencial da Humanidade. Nesta entrevista à VISÃO, por escrito, o historiador aborda, com profundidade, os dilemas e os caminhos que se colocam às sociedades na encruzilhada em que nos encontramos, face ao poder crescente das tecnologias. Mas também deixa os seus avisos e alertas para o que será um mundo com Donald Trump, aliado a Elon Musk, ao comando dos EUA.
Descreveu a Inteligência Artificial (IA) como uma “arma social de destruição maciça”. Acha que, com o regresso de Donald Trump à presidência dos EUA, essa ameaça poderá ser maior? Porquê?
Donald Trump prometeu tornar a América grande, outra vez. Mas os EUA já são o país mais poderoso do mundo. A economia dos EUA é muito maior do que a da China ou da União Europeia, e está a crescer. O Exército dos EUA é de longe o mais forte do mundo. E os EUA estão atualmente a ganhar a corrida à IA ‒ o que os tornará ainda mais ricos e fortes do que antes.
Mas os EUA não são o único concorrente na corrida à IA e, se esta corrida não estiver vinculada a quaisquer acordos ou regulamentos globais, a IA poderá destruir a civilização humana. A IA é a tecnologia mais poderosa alguma vez criada pela Humanidade, porque é a primeira tecnologia que pode tomar decisões e criar novas ideias por si própria. Uma bomba atómica não pode decidir quem atacar, nem pode inventar novas bombas ou novas estratégias militares. Uma IA, pelo contrário, pode decidir por si própria atacar um determinado alvo e pode inventar novas bombas, novas estratégias e até novas IA. Também pode inventar novos medicamentos, novas músicas e novos poemas.
Coleção de best-sellers
NEXUS (2024) A história ainda não contada e como as redes de informação fizeram e desfizeram o nosso mundo. Uma análise profunda e bem documentada sobre a complexa relação entre informação e verdade, burocracia e mitologia, sabedoria e poder. Com uma reflexão sobre as escolhas urgentes que a Humanidade enfrenta face à Inteligência Artificial.
SAPIENS (2014) Recomendado por Barack Obama e por Bill Gates, foi o primeiro best-seller do autor. Explora o passado da espécie humana, uma história com 70 mil anos em que “um primata insignificante se tornou dono e senhor do planeta Terra”. (Mais de 25 milhões de exemplares vendidos)
Homo Deus (2016) É um livro sobre o futuro e os desafios tecnológicos da Humanidade, “ponderando de que modo os seres humanos podem acabar por se tornar deuses”. (Dez milhões de exemplares vendidos)
21 lições para o século XXI (2018) As democracias liberais, os líderes populistas, as fake news, as migrações, as alterações climáticas, as desigualdades… As grandes questões do nosso tempo, em suma. (Seis milhões de exemplares vendidos)
A coisa mais importante a saber sobre a IA é que não é uma ferramenta nas nossas mãos ‒ é um agente autónomo, que faz coisas que não esperamos e inventa novas ideias que nunca nos ocorreriam. O que acontecerá à Humanidade quando milhões de agentes não humanos começarem a tomar decisões sobre nós e a criar coisas novas? Será realmente sensato criar algo mais inteligente do que nós, que possa escapar ao nosso controlo e escravizar-nos ou destruir-nos?
É claro que a IA também tem um enorme potencial positivo. Mas para usufruir dos benefícios da IA e, ao mesmo tempo, evitar os piores cenários, precisamos de alguns regulamentos e acordos globais. Infelizmente, a nova administração Trump é completamente alérgica à ideia de regulamentação e de acordos globais. A curto prazo, uma corrida à IA não regulamentada pode beneficiar os EUA. Mas, a longo prazo, é provável que acabe em desastre para todos os seres humanos. Quando os países não conseguem chegar a acordo sobre quaisquer regras ou valores comuns, cada país procurará naturalmente maximizar o seu poder, mesmo desenvolvendo tecnologias perigosas. Numa corrida à IA fora de controlo, o único vencedor será a IA e todos os seres humanos perderão.
Escreve, no seu livro, que Donald Trump é um revolucionário que quer construir uma nova ordem. O que acha que vai acontecer?
Líderes populistas como Trump têm trabalhado arduamente para destruir a velha ordem liberal. Esta velha ordem tinha os seus defeitos, mas também produziu as maiores melhorias no bem-estar humano alguma vez registadas. Assistimos, nesses anos, a uma diminuição dramática da pobreza e ao desaparecimento das guerras de conquista. Agora que populistas como Trump estão no controlo, não parecem ter qualquer ideia do que deve substituir a velha ordem. Como resultado, o caos está a espalhar-se.
A antiga ordem liberal baseava-se em regras e valores universais partilhados. Na ordem liberal, as fronteiras eram consideradas sagradas e as tentativas dos grandes Estados de engolir os seus vizinhos mais pequenos eram tabu. A cooperação internacional era considerada um ideal a que se devia aspirar e foram criadas muitas organizações globais para fazer cumprir as regras e promover interesses humanos comuns, desde os cuidados de saúde ao controlo de voo.
Temos agora a tecnologia da informação mais sofisticada da História e as pessoas estão a perder a capacidade de manter conversas racionais ou até de chegar a acordo sobre os factos mais básicos
Os populistas rejeitam todas as regras e valores universais e querem ver um mundo de fortalezas nacionais isoladas, sem organizações, regras e valores globais. Mas cada fortaleza quer mais terra, riqueza e poder para si própria à custa dos vizinhos. E, sem regras e valores partilhados, como podem fortalezas rivais gerir pacificamente as suas divergências? Estamos provavelmente a caminhar para um mundo muito mais violento e caótico. Receio que acontecimentos como a invasão russa da Ucrânia se tornem a nova norma e que a América deite fora a rede de cooperação internacional que ajudou a torná-la tão poderosa ‒ e ajudou a manter a paz no mundo. No novo mundo caótico, os acordos significativos para regular a IA ou abordar as alterações climáticas também parecem mais distantes do que nunca.
O que pensa sobre a associação de Donald Trump e Elon Musk no futuro da governação, da tecnologia e da Inteligência Artificial?
Elon Musk está a apostar que, ao juntar-se ao círculo de Trump, terá a oportunidade de tomar as decisões mais importantes da década. Trata-se de decisões sobre o desenvolvimento de novas tecnologias, nomeadamente a IA. Até agora, as empresas de Musk têm ficado para trás na corrida da IA. Mas agora ele posicionou-se como o árbitro da corrida. Tem a oportunidade de escrever as regras a seu favor.
Resta saber como isto vai acabar. Musk e Trump têm ambos a fama de serem pessoas com quem é difícil de trabalhar. Têm os dois grandes egos. Musk pensa que está a usar Trump e que é mais inteligente do que ele. Musk é certamente muito mais conhecedor do que Trump em coisas como a IA. Mas, quando se trata de política, Trump é provavelmente mais inteligente do que Musk. No final, Musk pode descobrir que foi usado, tal como tantas outras pessoas que foram enganadas por Trump.
Manifestou a sua preocupação com o poder crescente dos bilionários da tecnologia. De que forma este poder concentrado ameaça a democracia e a igualdade?
Muitas pessoas no setor da tecnologia têm uma visão ingénua da informação. Pensam que mais informação é sempre melhor, porque dá às pessoas mais conhecimentos. Vimos isto nos primeiros tempos da Internet. Nessa altura, havia a esperança de que uma tecnologia da informação mais sofisticada iria necessariamente difundir a verdade e o conhecimento. Acabou por se revelar um erro completo. Temos agora a tecnologia da informação mais sofisticada da História e as pessoas estão a perder a capacidade de manter conversas racionais ou até de chegar a acordo sobre os factos mais básicos. O problema é que a maior parte da informação é falsa. A verdade é um tipo raro de informação, porque a verdade é cara e complicada, enquanto a ficção é muito barata e simples. Por isso, se inundarmos o mundo com mais informação, a verdade dispendiosa e complicada será suplantada pela ficção barata e simples.
Atualmente, vemos os líderes da revolução da IA a cometer um erro semelhante. Dizem que a IA resolverá todos os problemas do mundo se avançarmos o mais rapidamente possível. É pouco provável que isso aconteça. Sim, a IA trará muitos benefícios, mas, em vez disso, poderá inundar o mundo com falsidades e tornar-se um novo instrumento de opressão.
Vimos isso em muitas revoluções da informação anteriores. Cada uma delas teve os seus benefícios ‒ mas também teve o seu lado negativo. A invenção da escrita deu origem às primeiras autocracias centralizadas no mundo antigo. A revolução da imprensa no início da Europa moderna conduziu à maior vaga de guerras religiosas e de caça às bruxas da história europeia. As modernas tecnologias da informação, como o telégrafo e a rádio, tornaram possível o aparecimento de ditaduras totalitárias modernas.
Se não regularmos a IA de forma sensata, esta poderá levar ao aparecimento de regimes totalitários ainda piores do que aqueles a que assistimos no século XX. A Inteligência Artificial poderia dar aos futuros ditadores a capacidade de vigiar toda a gente a toda a hora. Um tal regime não necessitaria de espiões ou de informadores. Poderia utilizar a tecnologia para aniquilar completamente a privacidade. Ninguém seria poupado num tal sistema. Nem mesmo os multimilionários. É por isso que espero que tenham cuidado com o desenvolvimento desta tecnologia.
O primeiro passo crucial é concordar que precisamos de regulamentar as tecnologias da informação da mesma forma que regulamentamos outros produtos, como os medicamentos ou os automóveis
Que papel devem os governos desempenhar na regulação das atividades das poderosas empresas tecnológicas e dos bilionários?
Devemos partir do princípio de que toda a gente é falível. As empresas são falíveis, os bilionários são falíveis e os governos também. Por conseguinte, nunca devemos dar autoridade absoluta a uma única entidade. O poder de regular a tecnologia da informação deve ser distribuído entre o governo, as empresas, os tribunais, os meios de comunicação social, o meio académico e as ONG. Isto é complicado, mas a complexidade é uma caraterística da democracia. A ditadura é simples ‒ uma única pessoa dita tudo e nunca admite qualquer erro. A democracia é complicada ‒ muitas pessoas estão a conversar e a corrigir os erros umas das outras.
O primeiro passo crucial, porém, é concordar que precisamos de regulamentar as tecnologias da informação da mesma forma que regulamentamos outros produtos, como os medicamentos ou os automóveis. Quando uma empresa automóvel decide produzir um novo modelo, investe uma parte significativa do seu orçamento na segurança. Se uma empresa automóvel negligenciar a segurança, os clientes podem processá-la por danos e o governo pode impedi-la de vender os seus carros inseguros. Os governos até regulamentam os automóveis que se revelaram seguros. Há muitas leis que limitam onde os carros podem ir, quem os pode conduzir e a que velocidade se podem deslocar. Essas mesmas normas devem aplicar-se aos algoritmos.
Como se cruzam os desafios da IA, da regulamentação tecnológica e do poder dos multimilionários?
Muitos destes multimilionários são entusiastas da IA e defendem que, atualmente, não é necessário regulamentar a Inteligência Artificial. Dizem-nos que a regulamentação atrasaria o desenvolvimento e talvez desse uma vantagem a concorrentes mais impiedosos noutros países. Mas não aceitamos este argumento noutras áreas da vida. Imaginemos, por exemplo, que um fabricante de automóveis argumentava contra a regulamentação afirmando que um fabricante de outro país era livre de fabricar um carro sem travões que podia andar perigosamente depressa. Decidiríamos dar ouvidos a tal argumento? Seria uma loucura.
É do interesse dos bilionários da tecnologia, bem como de todos os outros, garantir que a IA é desenvolvida de forma segura. Mas, atualmente, a maior parte dos recursos está a ser canalizada para aumentar o poder da IA e muito poucos recursos estão a ser canalizados para aumentar a sua segurança. Precisamos de criar instituições vivas que possam identificar rapidamente problemas com estas tecnologias e reagir a eles. Uma regulamentação rígida não funcionará, porque ninguém pode prever antecipadamente o rápido desenvolvimento da IA. Atualmente, as pessoas mais talentosas no domínio da IA tendem a trabalhar para empresas privadas, que também têm imensos orçamentos de investigação. Em contrapartida, poucos especialistas talentosos em IA vão trabalhar para agências governamentais, centros académicos ou ONG ‒ e os seus orçamentos, em comparação, são minúsculos. Temos de criar novas instituições reguladoras com orçamentos suficientes e que atraiam alguns dos melhores talentos.
Quando se trata de política, Trump é provavelmente mais inteligente do que Musk. No final, Musk pode descobrir que foi usado, tal como tantas outras pessoas que foram enganadas por Trump
Quais são as potenciais consequências de não se regulamentar a IA e outras tecnologias poderosas?
Algumas ameaças são fáceis de imaginar. O que acontecerá, por exemplo, se um tirano der à IA o controlo das armas nucleares do seu país, ou se os terroristas derem instruções à IA para criar uma nova pandemia? Mas há muitas outras ameaças. Por exemplo, imagine-se o impacto da IA não regulamentada nas Finanças. Para a IA, as Finanças são o recreio ideal, pois trata-se de um domínio puramente informativo e matemático. As IA continuam a ter dificuldade em conduzir um carro de forma autónoma, porque isso exige movimentar-se e interagir no mundo físico confuso, onde é difícil definir “sucesso”. Em contrapartida, para efetuar transações financeiras, a IA só precisa de lidar com dados e pode facilmente medir o seu sucesso matematicamente em dólares. Mais dólares representa missão cumprida.
Suponhamos que um fundo de investimento dá a uma Inteligência Artificial a tarefa de ganhar o máximo de dólares possível. A IA não só concebe novas estratégias de investimento como também cria dispositivos financeiros totalmente novos, muito mais complicados do que qualquer coisa que os humanos possam inventar ‒ ou compreender. Durante alguns anos, tudo parece maravilhoso. Os novos dispositivos financeiros inventados pela IA fazem disparar os mercados e os investidores ganham triliões de dólares. Depois, vem um crash ainda maior do que o de 2007/8. Acontece que os dispositivos financeiros inventados pela IA tinham algumas falhas perigosas, mas não foram regulamentados cuidadosamente, porque nenhum banqueiro ou político humano os compreendia realmente. Sem uma regulamentação adequada, dentro de alguns anos poderemos encontrar-nos numa situação em que nenhum ser humano ‒ incluindo qualquer Presidente ou banqueiro ‒ é capaz de compreender o sistema financeiro.
Numa escala ainda maior, para compreender a ameaça que a IA representa, consideremos a última grande revolução tecnológica da História ‒ a Revolução Industrial. Quando os seres humanos inventaram as máquinas a vapor e os telégrafos, estas tecnologias prometiam melhorar muito a vida das pessoas. No entanto, a Humanidade não tinha um modelo para saber como construir sociedades industriais benignas, pelo que as pessoas embarcaram em algumas experiências muito dispendiosas.
Os imperialistas argumentavam que, uma vez que a indústria depende dos mercados estrangeiros e das matérias-primas, a única sociedade industrial viável era um império. Entretanto, os comunistas e os fascistas defendiam que só o totalitarismo poderia controlar corretamente os novos e imensos poderes da indústria. Atualmente, a maioria das pessoas tem horror ao imperialismo industrial e ao totalitarismo, mas há um século essas teorias eram vistas por muitos como os melhores modelos disponíveis.
A própria existência de receitas concorrentes para a construção de sociedades industriais também levou a conflitos. As duas guerras mundiais e a Guerra Fria podem ser vistas como um debate sobre a forma correta de o fazer ‒ um debate que matou muitos milhões de pessoas e levou a Humanidade à beira da aniquilação. Além de todas estas catástrofes, a Revolução Industrial também minou o equilíbrio ecológico global, e ainda não conseguimos construir uma sociedade industrial que seja também ecologicamente sustentável.
Para usufruir dos benefícios da IA e, ao mesmo tempo, evitar os piores cenários, precisamos de alguns regulamentos e acordos globais. Infelizmente, a nova administração Trump é completamente alérgica à ideia de regulamentação e de acordos globais
Se ignorarmos a crise ecológica, podemos argumentar que a Humanidade acabou por aprender a construir sociedades industriais benevolentes e que, atualmente, a maioria dos seres humanos desfruta de condições de vida muito melhores do que há 200 anos. Mas se a Humanidade precisou de tantas experiências terríveis para aprender a gerir as máquinas a vapor e os telégrafos, quanto custaria aprender a gerir a Inteligência Artificial? Teríamos de passar por outro ciclo de impérios globais, regimes totalitários e guerras mundiais? No século XX, podemos dizer que a Humanidade teve uma nota quase negativa (um C menos) na lição sobre a utilização da tecnologia industrial. Apenas o suficiente para passar. No século XXI, temos de fazer melhor.
Como vê o impacto da IA no mercado de trabalho e na economia. nos próximos 5 a 10 anos?
A IA terá um enorme impacto no mercado de trabalho, mas é difícil prever exatamente quais os empregos que vão mudar ou desaparecer. Muitas das nossas intuições podem ser enganadoras. Por exemplo, pensa-se normalmente que os médicos são mais importantes do que os enfermeiros – pelo menos se os julgarmos pelos seus salários e estatuto social. Mas seria provavelmente mais fácil para as IA substituir os médicos do que os enfermeiros. Porquê? Porque o trabalho de muitos médicos consiste principalmente em analisar dados. Os médicos recebem uma grande quantidade de dados sobre os meus sintomas e o meu historial médico. Analisam esses dados, diagnosticam a minha doença e recomendam um tratamento. Esta análise de dados é exatamente o tipo de coisa que a IA em breve fará muito melhor do que os humanos. Os enfermeiros, por outro lado, não se limitam a analisar dados. Precisam de boas capacidades motoras e sociais para mudar uma ligadura ou dar uma vacina a uma criança que chora. É algo muito mais difícil de automatizar. Por isso, é provável que venhamos a ter médicos com IA muito antes de termos enfermeiros robôs.
A IA está a mudar o mercado de trabalho tão rapidamente que não podemos prever quais as competências que serão necessárias no futuro. Pode pensar que deve aprender a programar computadores, porque os computadores são o futuro. No entanto, dentro de alguns anos, a IA poderá codificar melhor do que os humanos, pelo que haverá pouca necessidade de programadores humanos. Em vez disso, talvez haja uma enorme procura de filósofos e psicólogos, porque as rápidas mudanças no mundo vão criar desafios psicológicos e até filosóficos agudos. Por exemplo, para permitir que um veículo totalmente autónomo conduza sozinho, alguém tem de codificar regras éticas no veículo. Em caso de emergência, deverá o veículo pôr em perigo os seus próprios passageiros para salvar um peão? Talvez não sejam necessários programadores humanos para resolver este problema, porque a IA pode fazer a codificação sozinha, mas são necessários filósofos humanos para decidir sobre as regras éticas.
Saindo da Inteligência Artificial e debruçando-nos sobre a inteligência atualmente disponível, vê alguma saída para o atual conflito no Médio Oriente?
Líderes como Viktor Orbán ou Marine Le Pen afirmam que querem enfraquecer a UE para salvaguardar a independência dos seus próprios países. Mas, na realidade, estão a destruir a única hipótese que os seus países têm de se manterem independentes
Não existe uma razão objetiva para o conflito entre israelitas e palestinianos. Há terra suficiente entre o mar Mediterrâneo e o rio Jordão para construir casas, escolas e hospitais para todos. Há comida, água e energia suficientes para todos. O conflito resulta do facto de cada uma das partes se recusar a reconhecer o direito à existência da outra parte. Cada uma das partes considera que para garantir a sua própria justiça é necessário o desaparecimento da outra.
Para alcançar a paz, todos devem reconhecer a humanidade comum de judeus e palestinianos e o direito igual de palestinianos e judeus a desfrutarem de uma vida segura, respeitosa e próspera no país onde nasceram, o pedaço de terra entre o mar Mediterrâneo e o rio Jordão. O facto é que há mais de sete milhões de palestinianos a viver nesta região. Quase todos eles nasceram lá, não têm mais nenhum sítio para onde ir e têm uma profunda ligação histórica a esta terra. Têm o direito de aí existir. Ao mesmo tempo, é também um facto de que há mais de sete milhões de judeus a viver nesta região. A maioria deles nasceu ali, não tem outro sítio para onde ir e tem uma profunda ligação histórica a esta terra. Também eles têm o direito de aí existir.
Não só os judeus e os palestinianos, mas também muitas outras pessoas em todo o mundo, parecem incapazes de reconhecer estes dois factos ao mesmo tempo. Demasiadas pessoas só conseguem ver metade da realidade e negam a outra metade. Mas os seres humanos deveriam ser capazes de manter dois factos nas suas mentes. Quando um número suficiente de pessoas for capaz de manter estes dois factos juntos, o caminho para a paz estará aberto.
Por si só, um país como a Hungria, Portugal ou mesmo a França, é demasiado pequeno para se manter independente na era da Inteligência Artificial. Se os países europeus dependerem da tecnologia e das infraestruturas de IA norte-americanas, tornar-se-ão colónias norte-americanas
A guerra é a tentativa das mentes pequenas de erradicar a complexidade da realidade. Quando as mentes pequenas encontram uma parte da realidade que consideram difícil de conter, tentam destruir essa parte da realidade, mesmo que seja um povo inteiro. A paz surge quando expandimos as nossas mentes de modo a podermos conter mais da realidade.
O que é que lhe dá esperança para o futuro?
Muitos dos problemas da nossa época resultam de uma visão muito cínica dos seres humanos, que é comum, de forma igual, na extrema-direita e na extrema-esquerda. Tanto os populistas como os marxistas defendem que os seres humanos só se interessam pelo poder e que todas as interações humanas são lutas pelo poder. Segundo esta visão cínica, quando as pessoas falam umas com as outras, não estão interessadas em descobrir a verdade ‒ estão apenas a tentar enganar-se mutuamente e ganhar mais poder para si próprias. Sempre que alguém diz alguma coisa, os populistas e os marxistas perguntam imediatamente: “A quem é que isso serve? Quem ganha e quem perde?” Esta atitude faz com que as pessoas percam toda a confiança em instituições como centros de investigação ou jornais, porque se assume que são apenas conspirações da elite para ganhar poder.
Esta é uma atitude muito perigosa. Ao destruir toda a confiança nas instituições e nas outras pessoas, esta visão cínica dos seres humanos destrói os alicerces da democracia. A democracia precisa de confiança para funcionar. Se as pessoas não confiam em ninguém, a democracia entra em colapso e o único sistema que ainda pode funcionar é a ditadura. Porque a ditadura não precisa de confiança ‒ baseia-se no terror.
No entanto, mantenho a esperança, porque sei que esta atitude cínica em relação aos seres humanos é errada. Ela ignora algo muito importante sobre os seres humanos. Sim, os seres humanos, por vezes, querem poder, mas temos um desejo ainda mais profundo de verdade. Queremos saber a verdade sobre nós próprios e sobre o mundo. Trata-se de uma necessidade profunda porque, sem sabermos a verdade sobre nós próprios, nunca poderemos ser felizes. Se não soubermos a verdade sobre nós próprios, isso significa que não conhecemos as causas profundas da nossa miséria e, portanto, nunca poderemos erradicar essas causas. Mesmo que seja a pessoa mais poderosa do mundo, sem saber a verdade estará a desperdiçar todo o seu poder na tentativa de resolver os problemas errados. Se olharmos para as pessoas obcecadas pelo poder e que não se preocupam minimamente com a verdade ‒ como Putin, Netanyahu ou Trump ‒ vemos pessoas muito poderosas que também são muito infelizes.
Uma vez que todos os seres humanos têm uma necessidade profunda da verdade, penso que construir confiança entre as pessoas não é impossível. Não importa quantas mentiras e fantasias inundem o mundo, uma parte profunda de nós estará sempre a ansiar pela verdade. Não devemos ser demasiado cínicos em relação aos seres humanos. Quando alguém nos diz algo, o melhor é ter uma atitude caridosa e generosa em relação a isso. Não lhe dê a pior interpretação possível. Comece por assumir que a outra pessoa é um ser humano como você, que também quer saber a verdade sobre a vida.
Que tipo de papel considera que um pequeno país como Portugal pode desempenhar no mundo atual?
A maior parte dos países do mundo são pequenos. Não podem competir com os gigantes como os EUA e a China. A sua única hipótese de conter os gigantes e proteger os seus próprios interesses é através da cooperação. Portugal tem sorte, porque já faz parte da União Europeia, que possui os recursos financeiros, tecnológicos e culturais para ser um ator independente no mundo e para conter os EUA e a China. Mas só se os países da UE se mantiverem unidos.
Atualmente, há demasiados líderes europeus a trabalhar para minar a unidade e a eficácia da União Europeia. Líderes como Viktor Orbán ou Marine Le Pen afirmam que querem enfraquecer a UE para salvaguardar a independência dos seus próprios países. Mas, na realidade, estão a destruir a única hipótese que os seus países têm de se manterem independentes. Por si só, um país como a Hungria, Portugal ou mesmo a França, é demasiado pequeno para se manter independente na era da Inteligência Artificial. Se os países europeus dependerem da tecnologia e das infraestruturas de IA norte-americanas, tornar-se-ão colónias norte-americanas. Se Trump disser “saltem”, eles terão de saltar. Se quiserem evitar este destino, confiando mais na tecnologia e nas infraestruturas de IA chinesas, tornar-se-ão apenas colónias chinesas. Se Xi Jinping disser “salta”, terão de saltar. Para se manterem verdadeiramente independentes, a Hungria, Portugal e a França têm de ser concorrentes independentes na corrida à IA, capazes de desenvolver a sua própria tecnologia e infraestruturas de IA. E só o podem fazer se cooperarem e juntarem os seus recursos.
A situação é comparável ao que aconteceu no século XIX com a Revolução Industrial. Os poucos países que lideraram a Revolução Industrial conquistaram impérios gigantescos e dominaram o mundo inteiro. A maioria dos países não compreendeu o que estava a acontecer e perdeu a sua independência. No século XIX, os europeus lideraram a revolução. Agora estão a ficar para trás. A Europa parece-se um pouco com África no século XIX. Os reinos africanos digladiavam-se entre si e não se preocupavam muito com as novas tecnologias que estavam a ser desenvolvidas na Europa. Depois, os europeus chegaram com navios a vapor e metralhadoras e conquistaram toda a África. Algo de análogo pode acontecer agora com a Europa.
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A Motorola está de regresso a Portugal. Para a marca, que faz parte da Lenovo desde 2014, o grande objetivo passa por consolidar a presença no mercado nacional, dentro de uma estratégia global para a Península Ibérica, mas também de expansão na região EMEA (Europa, Médio Oriente e África), como deixou claro num recente evento em Lisboa, em que a Exame Informática participou.
A decisão de voltar a Portugal surge num momento de crescimento. Como detalhado por Fabio Capocchi, EMEA General Manager da Motorola, ao longo dos últimos anos, a marca passou por um conjunto de “altos e baixos”. Após a compra pela Lenovo, a Motorola atravessou um período desafiante, em que foi necessário “lutar para sobreviver” e tomar várias decisões difíceis para conseguir garantir a sustentabilidade do negócio.
À medida que o negócio foi recuperando, a rentabilidade permitiu voltar a investir em áreas-chave, como, por exemplo, em R&D, mas também mudar o foco para uma estratégia centrada na transformação e crescimento. E a aposta está a dar frutos.
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De acordo com dados partilhados durante a apresentação, houve um crescimento de 35% nas receitas no mercado EMEA durante o segundo trimestre do ano – o mais elevado de sempre para a marca. A este crescimento junta-se uma subida de 32% nas ativações, assim como de 56% nas ativações no segmento premium.
Fabio Capocchi, EMEA General Manager da Motorola
Nas palavras de Andrea Monleón, General Manager para a Península Ibérica, “Portugal é um país estratégico para o mercado EMEA da Motorola”. Segundo a responsável, a expansão para o país não é apenas uma questão de negócios, mas também se afirma como uma forma de reforçar o compromisso no que respeita a ouvir as necessidades dos consumidores.
Em entrevista à Exame Informática, Fabio Capocchi conta que, há cerca de três anos, a marca tinha uma oportunidade para regressar a Portugal. No entanto, “os recursos a nível humano não eram suficientes para assegurar que todos os produtos que estávamos a lançar estavam perfeitamente testados para o mercado português”.
“Ao mesmo tempo, sabemos que os portugueses gostam da estética e querem identificar-se com uma marca. Nesse momento, a nossa oferta não era tão ‘clara’ quanto é agora, porque estávamos numa grande transição”, afirma o responsável.
“Agora, o que podemos dizer é que ao longo de todas as nossas linhas, quando olhamos para qualquer um dos produtos, conseguimos dizer que é um [equipamento] Motorola”.
Além disso, ter uma equipa local era outro dos grandes objetivos da marca. “O que não queríamos era gerir Portugal a partir de outro país”, realça Fabio Capocchi. “Queremos fazer as coisas a longo prazo e queremos fazê-las corretamente”.
Um ecossistema de lifestyle tech
“Estamos a regressar ‘em força’ e a nossa filosofia é ser uma marca líder”, afirma Fabio Capocchi. Para tal, a aposta passa por inovar com propósito, posicionar a Motorola como uma marca de lifestyle tech e construir um ecossistema, numa estratégia que não esquecer aspectos como design e experiências, mas também parcerias com outras empresas, da Google à Bose, passando ainda pela Corning e Pantone.
Como explica Alexandre Caldeira, EMEA product operations director, a abordagem do lifestyle tech passa por “ir além das especificações técnicas” e trazer à vida novos produtos que, independentemente da gama, sejam capazes de fazer a diferença na vida dos consumidores, que consigam responder verdadeiramente às suas necessidades e que tenham um estilo próprio com o qual os utilizadores se possam identificar.
Para responder às necessidades do mercado português, a Motorola está a avançar com uma linha de smartphones, onde se incluem a mais recente gama de dobráveis Razr, as famílias Motorola edge, moto g e moto e. Em destaque está também o novo motorola edge 50 neo, na Cor do Ano de 2025 da Pantone, chamada Mocha Mousse, que chegará ao mercado português no primeiro trimestre de 2025, incluindo numa versão do dobrável motorola razr 50 ultra.
Veja os novos smartphones da Motorola com mais detalhe
Mas o ecossistema da Motorola vai além de smartphones, passando pelas soluções de áudio, como auriculares sem fios Motorola buds+, desenvolvidos em parceria com a Bose, e funcionalidades com Inteligência Artificial. Na ‘calha’ estão ainda outros gadgets, como as etiquetas inteligentes Moto Tag e um novo carregador com porta dupla, previsto para o final do ano.
Deste ecossistema não fica de fora a Inteligência Artificial, com o sistema moto AI, concebido para ajudar os utilizadores a realizar uma variedade de tarefas, mas sendo também capaz de antecipar necessidades, avança Alexandre Caldeira.
A par de algoritmos de melhoria de imagem e de estabilização na fotografia, o sistema moto AI conta com ferramentas de criação inteligente, como o Magic Canvas ou o Style Sync, que tiram partido da tecnologia de IA generativa.
Já no capítulo da assistência ao utilizador destacam-se funcionalidades como Catch me Up (ou Ver as novidades, em português), feita para ajudar os utilizadores a recuperar informação ‘perdida’ quando estavam longe do smartphone; Remember This (ou Memorizar isto), para guardar rapidamente notas de texto, capturas de ecrã ou fotografias; Pay Attention (ou Prestar Atenção), que transcreve e resume gravações de áudio.
As funcionalidades do moto AI já podem ser testadas em smartphones compatíveis, incluindo nos dobráveis razr 50 e no Motorola edge 50 ultra, através do programa beta aberto, lançado no final de novembro.
As novidades da Motorola já estão disponíveis nas principais lojas em Portugal, entre Worten, Fnac, Rádio Popular e Media Markt, assim como através de operadoras como a MEO e Vodafone. Em breve também estarão disponíveis através do website oficial da Motorola em Portugal, avança a marca.
O antigo chefe da Casa Civil do Presidente Cavaco Silva, José Nunes Liberato, foi eleito como presidente do Centro Português de Fundações (CPF), sucedendo a nomes como Rui Vilar, Artur Santos Silva, Maria do Céu Ramos, entre outros. Nunes Liberato foi secretário-geral do PSD, nos anos 90, coincidindo com o último governo de Cavaco. Rapidamente se tornou uma figura incontornável, imprescindível para o então presidente do PSD e primeiro-ministro, que o foi buscar para seu braço direito, nos dez anos de Presidência.
Licenciado em Economia, foi membro do Governo Regional dos Açores (1979-1984) e esteve na equipa de negociação para a entrada de Portugal nas Comunidades Europeias. Secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território em três governos de Cavaco Silva (saiu em 1992), deputado, presidente do Conselho de Jurisdição Nacional do PSD, foi diretor das Políticas Comuns, das Relações Externas, da Imprensa e Porta-Voz do Parlamento Europeu. Chefe da Casa Civil do Presidente da República entre 2006 e 2016, é, atualmente, Assessor do Conselho de Administração da Fundação Champalimaud, uma espécie de “fundação de turno” para o novo mandato, na liderança do Centro Português de Fundações. O CPF representa o setor fundacional em Portugal, contando com cerca de 150 fundações associadas e, entre os seus objetivos, visa desenvolver o movimento da filantropia em Portugal e contribuir para o reconhecimento social da importância das fundações, a preservação do bom nome e a confiança pública no setor fundacional.