A reunião entre o Presidente norte-americano, Donald Trump, o seu ‘vice’, JD Vance, e Volodymyr Zelensky teve transmissão em direto nas televisões e a tensão foi clara. Diante da imprensa, na Sala Oval da Casa Branca, Trump e Vance acusaram o líder ucraniano de ser “desrespeitoso”, com o Presidente norte-americano a avisar que seria “muito difícil” negociar com Zelensky e a afirmar repetidamente que o Presidente ucraniano deveria ser “grato”, depois de se ter colocado “numa posição muito má”.

“Você está a apostar com as vidas de milhões de pessoas”, acusou Trump. “Você está a apostar com a Terceira Guerra Mundial e o que você está a fazer é muito desrespeitoso com o país, este país que o apoiou muito mais do que muitas pessoas dizem que deveria ter sido feito”, acrescentou o chefe de Estado norte-americano.

Zelensky acabou por abandonar a reunião mais cedo do que o previsto e a conferência de imprensa que estava marcada para depois do encontro foi cancelada.

Nas redes sociais, o cientista político Ian Bremmer já classificou o momento a que o mundo assistiu em direto como inédito. “Nunca se viu uma agressão pública do Presidente americano a um aliado em tempo de guerra como esta”, escreveu.

Diante da imprensa, na Sala Oval da Casa Branca, Trump e Vance acusaram o líder ucraniano de ser “desrespeitoso”, enquanto Volodymyr Zelensky pedia compromissos de segurança de Washington.

Trump, que disse que seria “muito difícil” negociar com Zelensky, afirmou repetidamente que o Presidente ucraniano deveria ser “grato”, depois de se ter colocado “numa posição muito má”, assegurando que não tinha “as cartas na mão”.

“Você está a apostar com as vidas de milhões de pessoas”, acusou Trump. “Você está a apostar com a Terceira Guerra Mundial e o que você está a fazer é muito desrespeitoso com o país, este país que o apoiou muito mais do que muitas pessoas dizem que deveria ter sido feito”, acrescentou o chefe de Estado norte-americano.

O vice-presidente JD Vance, também presente no Salão Oval, acusou igualmente Zelensky de “desrespeitar” os norte-americanos.

Donald Trump alertou o seu homólogo ucraniano que ele teria que fazer “compromissos”, enquanto Zelensky rejeitou fazê-lo com “o assassino” Vladimir Putin.

“Não há acordo sem compromisso. Então, definitivamente haverá alguns compromissos, mas espero que não sejam tão grandes quanto algumas pessoas pensam”, disse Trump aos repórteres ao receber Zelensky na Sala Oval.

O Presidente ucraniano garantiu que a Ucrânia “não faria concessões a um assassino”, referindo-se ao Presidente russo. “Acho que o Presidente Trump está do nosso lado”, acrescentou.

Trump também disse que um cessar-fogo entre a Ucrânia e a Rússia estava “razoavelmente próximo” e comemorou um “acordo muito justo” sobre os recursos minerais da Ucrânia.

Zelensky acabou por abandonar a reunião mais cedo do que o previsto e a conferência de imprensa que estava marcada para depois do encontro foi cancelada.

O desafio que lançámos foi o de escrever uma quadra que incluísse as palavras “pequenina” e “corajosa”, que bem se aplicam à protagonista desta história, Emma.

Estes são então os nomes dos vencedores, autores dos textos mais criativos.

Lisboa

Adrian Nogueira Rico
Carolina Leonor Delgado Baúto
Constança Maria Ferreira Marques
Francisco Delgado
Íris Coelho Cardoso
Joana Peixoto Simões
Leonel Ferreira Coentro
Mariana Vaz Carrola Pereira
Martim Ferreira Coentro
Guilherme Santos

Porto

Carolina Neves Magalhães
José Magalhães

As sessões vão realizar-se no dia 2 de março (domingo) às 11 horas, no Porto, no Cinema UCI Arrábida Shopping; e em Lisboa, no Cinema UCI El Corte Inglés.Não te esqueças de levar o teu cartão de cidadão e levantar o convite 15 minutos antes.

Palavras-chave:

Uma norma que visava sancionar os militantes que pusessem em causa o “bom nome” do Bloco de Esquerda estava a causar mal estar entre as hostes bloquistas. Agora, Mariana Mortágua recua e altera a redação desta nova alínea dos estatutos, mas não deixa de apontar o dedo à oposição interna feita pela Moção E, também conhecida como Convergência.

A nova redação que irá agora a votos diz que é dever dos aderentes do BE “abster-se de conduta que prejudique o interesse público ou viole direitos fundamentais previstos na Constituição da República”.

A alteração foi apresentada na publicação do BE, Debates, na qual a direção encabeçada por Mariana Mortágua justifica esta proposta de alteração com a atitude de “um específico grupo interno” que, no entender da direção, “promoveu uma campanha mediática a propósito de uma norma aí contida”.

“Referiram-se ao Bom Nome do Partido como se dependesse da opinião pública a abertura de um iquérito interno. Essa avaliação pretendia desconhecer a proteção legal do Bom Nome, tanto de pessoas individuais como de pessoas coletivas. E que, neste caso, esta expressão visa proteger o Bloco de Esquerda de práticas ilícitas de aderentes que provoquem censura social. A expressão é banal em partidos políticos ou mesmo em associações recreativas e clubes desportivos. Chegou-se a declarar que a norma proposta visaria abrir uma “onda de expulsões”, apesar de nada permitir essa interpretação e durante os últimos quatro anos ter havido uma única exclusão de um aderente do Bloco”, lê-se no texto publicado na Debates.

Uma guerra interna

“Apesar de toda esta crítica ser instrumental para fins que não o da estabilidade legal conferida pelos Estatutos, vimos propor uma nova redação para a mesma norma, cientes de que é indesejável qualquer polémica prévia à apreciação pelo Tribunal Constitucional dos Estatutos do Bloco de Esquerda”, defende-se no texto que é subscrito por Mariana Mortágua, Adriano Campos, Joana Mortágua, Mafalda Brilhante, Isabel Pires, José Soeiro, Fabian Figueiredo, Jorge Costa, Moisés Ferreira, Catarina Martins, Pedro Filipe Soares, Luís Fazenda, José Gusmão, Miguel Cardina e Marisa Matias.

Esta não é a primeira farpa pública que a direção do partido faz à Moção E, depois de esta corrente interna ter anunciado que não iria a votos na Convenção que está marcada para os dias 31 de maio e 1 de junho. Quando foi anunciada a desfiliação de 70 militantes do BE em Portalegre, a direção emitiu um comunicado no qual afirmava que esse anúncio de saídas – das quais só 14 foram efetivadas – fazia parte de “uma ofensiva comunicacional contra o Bloco”. 

Nessa mesma altura, vários destacados bloquistas atiraram a matar à Moção E. “Pensei que, quando Trump e Putin dançam em cima da Ucrânia, a lição ficaria evidente. Ou ainda há quem ache que Putin se opõe a Trump? Pois foi o momento escolhido para a corrente de Pedro Soares, que recusou a posição do Bloco a condenar a invasão, avançar para a criação de um novo partido. O sectarismo nunca aprende nada”, escreveu Louçã no Instagram. “A corrente Convergência optou por não medir-se na Convenção e sair com estrondo. A sua posição de abandono da Ucrânia à Rússia nunca venceu no Bloco e ainda bem. Sair agora é mau, sair assim não faz jus à nossa história”, partilhou Catarina Martins na mesma rede social.

Neste último par de anos, como professor, já escrevi nalguns quadros. A minha caligrafia – infantil para a profissão -, é de seguida apagada, dando lugar a novas informações.

Ora, a questão é que os quadros, em Portugal, talvez em virtude da sua má qualidade, produzem o efeito mais surpreendente: em vez de apagarem realmente a tinta, relegam-na para um certo plano de fundo. A dado momento, exibem diversas camadas em profundidade, produzindo uma textura impossível, já, de apagar.

Assim, quando olhamos para um quadro, vemos os dias, as horas e os meses que eles comportam. Serviram a profissão, demonstrada nas cicatrizes da sua existência. O quadro é, também, o símbolo da perenidade, do transitório. Animado pelos dedos no ar e pela promessa de mais tinta, desfruta da sua utilidade. Mas o mesmo quadro, umas horas depois, verá sair a última pessoa, a luz que se apaga e o silêncio.

Imagino que o mesmo se passe connosco, ao chegarmos às casas vazias. Imagino os velhinhos que se demoram no café, para fugir à solidão, a casa sempre limpa e as longas chamadas com uma filha já impaciente para ir fazer o jantar. E, já que aqui estamos, quem disse que isto de viver era fácil? E quem serei eu ou o que faço aqui, senão um montinho de memórias, pessoas e cheiros que passaram, como comboios a alta velocidade? Tudo isto é, em última análise, estranho. Estranho e bonito, porque amanhã conversarei finalmente com o velhinho do café.

E hoje, no fim da aula e só por prazer, deixarei o quadro por apagar.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

De acordo com fontes do setor, citadas pelo Automóvel Club de Portugal (ACP), o preço da gasolina deverá descer 2,5 cêntimos por litro e o do gasóleo 3 cêntimos já na próxima semana.

Desta forma, a gasolina simples poderá passar a custar, em média, 1,73 euros. Já um litro de gasóleo vai custar 1,64 euros.

Os valores podem variar, no entanto, consoante a região e posto de abastecimento.

Foi através de um comunicado divulgado esta tarde que a empresa de consultoria Spinumviva, detida pela mulher e filhos de Luís Montenegro, revelou a lista de clientes com que “mantém um vínculo permanente”. Para além do vínculo já conhecido com a Solverde – empresa de casino e hóteis – constam na lista as empresas:

  • Lopes Barata, Consultoria e Gestão, Lda. (empresa do ramo farmacêutico);
  • CLIP – Colégio Luso Internacional do Porto, SA;
  • FERPINTA, SA, Solverde, SA e Radio Popular, SA. (empresa da área do aço);
  • Radio Popular, SA. (cadeia de lojas de eletrónica);

Hugo Montenegro, filho de Luís Montenegro e atual sócio-gerente da empresa, garante na nota que a divulgação da lista de clientes foi feita com a “autorização dos mesmos”. “A relação contratual entre a Spinumviva, Lda e cada um dos seus clientes teve início numa altura em que o Senhor Dr. Luís Montenegro era sócio e gerente desta sociedade, mas não tinha qualquer atividade política. De resto, a prestação de serviços em causa é totalmente alheia a qualquer envolvimento político, razão pela qual se lamenta profundamente que uma relação puramente empresarial, seja agora afetada tão injustamente”, pode ler-se no comunicado que refere ainda que trabalham na empresa, desde 2022, apenas dois trabalhadores: a advogada Inês Patrícia e o jurista André Costa.

A Spinumviva enumera também os serviços que presta, referindo que os preços “cobrados e pagos” variam entre os mil euros e os 4500 mil euros mensais, consoante a “dimensão e complexidade dos trabalhos com cada cliente”.

Entre os serviços prestados estão:

  • Identificação dos responsáveis pelos tratamentos de dados e verificação do cumprimento das boas práticas;
  • Aconselhamento para aplicação de medidas corretivas face a práticas em
  • desconformidade;
  • Acompanhamento da evolução das orientações das autoridades de controlo e da legislação, doutrina e jurisprudência relativa à proteção de dados pessoais, bem como atualizar as práticas internas em conformidade com essas alterações;
  • Dar resposta aos pedidos de exercício dos direitos e solicitações dos titulares dos dados;
  • Contactos com a autoridade de controlo;
  • Elaboração de relatórios de análise e diagnóstico em matéria de tratamento de dados pessoais relativos às áreas de cada empresa;
  • Análise de tratamentos de dados pessoais no contexto laboral;
  • Verificação da licitude do tratamento, lealdade e transparência, minimização dos dados, limitação da conservação e segurança de clientes, alunos e trabalhadores (consoante os casos);
  • Elaboração ou revisão de documentos com vista a cumprir os deveres de informação, tais como, por exemplo, Termos e Condições de acesso a plataformas digitais ou espaços físicos;
  • Avaliação de serviços de apoio ao cliente, com vista a garantir o cumprimento das normas relativas à proteção de dados pessoais;
  • Elaboração de recomendações quanto à utilização dos sistemas de CCTV;
  • Análise de Plataformas e Softwares, tendo por base os princípios orientadores da proteção de dados e as recomendações da CNPD;
  • Identificação de entidades subcontratantes e verificação de responsabilidades em matéria de proteção de dados;
  • Elaboração de recomendações quanto à utilização de testemunhos de conexão (cookies) e acompanhamento da implementação de ferramentas;
  • Análise de questões relativas ao direito de imagem e elaboração de recomendações;
  • Avaliação de pedidos recebidos pelo Encarregado da Proteção de Dados e respetivo tratamento dos mesmos;
  • Análise de Incidentes relacionados com a proteção de dados pessoais;
  • Acompanhamento da evolução legislativa e adaptação, sempre que necessário, das operações de tratamento de dados pessoais a novas exigências legais;
  • Preparação de procedimentos relativos à criação de fichas de cliente, quer em loja física e loja online, a avaliação do serviço de apoio ao cliente e as atividades relacionadas com o marketing;
  • Realização de auditorias, com vista a acompanhar o processo de conformidade dos tratamentos com a legislação em vigor;
  • Realização de ações de formação, presenciais e online;
  • Análise de procedimentos relacionados com o tratamento de dados em contexto laboral, tais como o controlo de assiduidade, seguros de saúde, imagem em eventos, dados biométricos dos trabalhadores;
  • Auxílio dos departamentos de informática, de publicações e edições;
  • Elaboração e análise de Códigos de Conduta e Regulamentos Internos;
  • Avaliação de implementação de Inteligência Artificial do ponto de vista da proteção de dados;

O comunicado surge após uma notícia do jornal Expresso revelar que o grupo Solverde paga à Spinumviva uma avença mensal de 4500 euros por “serviços especializados de ‘compliance’ e definição de procedimentos no domínio da proteção de dados pessoais”. A notícia tem gerado muita polémica e levou o líder do Chega a defender esta sexta-feira que o primeiro-ministro deve demitir-se ou apresentar uma moção de confiança para ser votada no Parlamento.

Em declarações aos jornalistas esta manhã, no Porto, Luís Montenegro anunciou a convocação extraordinária de Conselho de Ministros para este sábado, após a qual deverá falar ao País, pelas 20 horas. “Amanhã às 20:00 comunicarei ao país as minhas decisões pessoais e políticas sobre esta matéria para que o Governo possa governar, possa centrar toda a sua atenção e toda a sua disponibilidade a servir o interesse do país e dos portugueses, resolvendo os seus problemas”, disse. 

O VOLT Live é um programa/podcast semanal sobre mobilidade elétrica feito em parceria com a Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos (UVE).

Neste VOLT Live, episódio 95, falamos com Bruno Alves da Espaço Mecânico sobre a eletrificação de máquinas industriais, como empilhadores, dumpers e escavadoras.

Em Polo Positivo e Polo Negativo comentamos a confirmação da fábrica de baterias da CALB em Sines, que poderá ser ainda maior do que o inicialmente previsto, e a estagnação do desenvolvimento das baterias de estado sólido.

Em Produto da Semana analisamos a tecnologia do Audi Q6 e-tron.

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O Kia EV Day 2025 foi o evento escolhido pela fabricante para mostrar a estratégia no que toca a veículos elétricos. A marca anunciou, em Espanha, os novos modelos EV4, PV5 e o Concept EV2, propostas que reforçam a eletrificação da marca e a “determinação em imprimir um novo ímpeto ao mercado global de EV [veículos elétricos]”, cita o comunicado.

O Kia PV5 é o primeiro modelo da gama PBV (de Platform Beyond Vehicle) e sublinha a rápida expansão da marca no segmento de soluções de mobilidade personalizada. Este veículo foi construído a partir de uma plataforma específica que abriu portas para outros desenvolvimentos em termos de hardware, software e processos de fabrico, desempenhando um papel fundamental no avanço e transformação do mercado.

Já o EV4, mostrado como concept car no Kia EV Day de 2023, é o primeiro sedan hatchback 100% elétrico da marca. Este modelo tem funcionalidades inovadoras orientadas para a família e que permitem satisfazer uma gama alargada de clientes.

Por seu lado, o Kia Concept EV2 é a antevisão de um novo SUV elétrico de segmento B que deve ser o próximo membro da família Kia EV. O esforço aqui é para tornar os automóveis elétricos mais acessíveis e com equipamentos e funcionalidades que vão além da sua classe.

Durante o EV Day, a Kia expôs um total de nove veículos, com o Concept EV2 a ser mostrado ao lado de quatro exemplares do EV4 (dois sedans e dois hatchbacks) e outras quatro variantes do PV4 (Cargo, Passenger, Wheelchar Access Vehicle e Crew).

Durante o evento, a marca apresentou a arquitetura E-GMP.S (Plataforma Modular Global Elétrica para Serviço) da gama PBV que permite configurações flexíveis através de um sistema de carroçaria modular e o AddGear, que permite aos clientes personalizar os seus modelos Kia PBV com uma vasta gama de acessórios para expandir a sua adaptação e necessidades específicas de uso pessoal ou profissional. Em paralelo, foi anunciada uma parceria com a Samsung Electronics que inclui a introdução do SmartThings Pro, um sistema otimizado de Internet das Coisas para PBV que oferece serviços Plug&Play.

O que já seria, em circunstâncias normais, uma espinhosa alteração à lei – por mexer com interesses imobiliários – tornou-se um novelo de suspeitas e ligações cinzentas que afetou a cúpula do Governo. Aqui fica o essencial sobre a polémica Lei dos Solos.

1
O que é a “Lei dos Solos”?

A nova Lei dos Solos consiste no Decreto-Lei n.º 117/2024, de 30 de dezembro de 2024, que altera o Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial (RJIGT). Entrou em vigor a 29 de janeiro de 2025 e permite a reclassificação simplificada de terrenos rústicos em urbanos, para construir habitação em locais onde, até aqui, a edificação não era permitida. A medida faz parte do programa “Construir Portugal”, anunciado em maio de 2024, e pretende aumentar a oferta de casas a preços acessíveis.

2
O que está na base desta iniciativa?

O Programa de Governo. O preâmbulo do decreto-lei explica que o Executivo prevê “orientar o planeamento do uso do solo para dar satisfação às prementes necessidades de habitação, bem como às atividades económicas, com respeito pela salvaguarda dos recursos naturais”. Tendo em conta a necessidade de garantir um aumento da oferta de habitação que acompanhe a procura, continua o documento, “foi aprovado o plano ‘Construir Portugal’ que visa, entre outras metas, a promoção da construção de habitação pública e acessível, a custos controlados, bem como a criação de soluções de venda a preços compatíveis com a capacidade financeira das famílias”.

3
Mas o problema da falta de oferta está na construção?

Além do aumento da procura, devido à imigração, é inegável que há uma clara crise de construção em Portugal. O decreto-lei dá um exemplo, comparando 2002 com o ano passado: passámos de 125 mil fogos construídos num ano para 22 mil. Quase seis vezes menos. Na origem desta queda drástica está sobretudo a crise de 2008-2010, que paralisou o setor imobiliário e praticamente fez colapsar a construção. Na altura, muitos trabalhadores procuraram outras áreas ou emigraram – e inúmeras pequenas e médias empresas de construção encerraram. O Sindicato da Construção de Portugal aponta para um défice atual de 90 mil trabalhadores qualificados.

Conflito de interesses Castro Almeida, ministro com a pasta da Lei dos Solos, vendeu a sua participação numa empresa imobiliária já depois da demissão de Hernâni Dias Foto: ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA

4
Como é que a reclassificação de terrenos rústicos em urbanos ajuda a resolver este problema?

O Governo e representantes do setor acreditam que o preço elevado dos terrenos fez aumentar exponencialmente o investimento inicial das empresas, que, por isso, deixaram de considerar atrativo o mercado de classe média e média-baixa e concentraram-se na habitação de luxo. No decreto-lei, admite-se que o custo dos terrenos não são “um fator exclusivo” da crise na construção, mas acrescenta-se que “a maior disponibilidade de terrenos facilitará a criação de soluções habitacionais que atendam aos critérios de custos controlados e venda a preços acessíveis”.

5
E como é que esta Lei dos Solos vai fazer diminuir o preço dos terrenos?

Apoia-se na lei da oferta e da procura: se houver mais terrenos onde é permitido construir, o seu valor tenderá a baixar, reduzindo o investimento inicial das empresas e assim estimulando a construção para a classe média. A lei, no entanto, não entrega tudo nas mãos ávidas do mercado: a reclassificação dos terrenos para uso urbano está “limitada aos casos em que a finalidade seja habitacional ou conexa à finalidade habitacional e usos complementares, sujeitando-se, ainda, ao cumprimento cumulativo de um conjunto de requisitos que visam salvaguardar a preservação dos valores e funções naturais fundamentais”. As novas normas têm de assegurar que 70% “da área total de construção acima do solo se destina a habitação pública ou a habitação de valor moderado.”

6
Qual o impacto desta iniciativa legislativa no preço da habitação?

As estimativas do Governo apontam para uma redução de 20% no preço das novas casas nas áreas metropolitanas e nas capitais de distrito (preço esse que é 50% superior ao das casas usadas, segundo o INE), ajudando, espera-se, a combater a especulação imobiliária e a baixar os preços da habitação em geral. “Poder comprar casas novas em que o limite máximo de preço fica 20% abaixo dos atuais preços de mercado não só previne como impede a especulação”, afirmou o ministro da Coesão Territorial, Manuel Castro Almeida. Os preços das casas devem respeitar um teto máximo, baseado em 125% do valor mediano de venda de habitação nova no concelho.

7
O que significa reclassificar terrenos rústicos em urbanos e como se processam estes casos?

Terrenos rústicos são áreas destinadas à agricultura, pecuária, silvicultura ou conservação ambiental; terrenos urbanos são aptos para construção habitacional ou industrial. Com a nova lei, as câmaras podem propor às assembleias municipais a reclassificação de solos rústicos em urbanos, sem necessidade de aprovação de instâncias superiores, como as Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR). A requalificação, contudo, “depende da existência, na continuidade da área abrangida, de um regime de uso do solo que permita uma unidade harmoniosa” e o acesso a infraestruturas básicas, como água, eletricidade e saneamento – que seja compatível, portanto, com as áreas urbanas existentes.

Rural para urbano Ambientalistas temem perdas para os ecossistemas e para a biodiversidade, além da abertura de novas portas para casos de corrupção. Foto: NUNO VEIGA/LUSA

8
Há prazos para a construção em terrenos requalificados?

Após a reclassificação, as obras devem ser concluídas no prazo de cinco anos. O prazo pode ser prorrogado uma vez, por razões excecionais e desde que a construção já tenha começado. O objetivo é evitar que terrenos sejam classificados para especulação imobiliária e sem aproveitamento efetivo, obrigando as empresas a acelerarem os trabalhos, para que a oferta de habitação cresça mais rapidamente.

9
Qualquer terreno agrícola pode, então, ser reclassificado pelas autarquias como urbano?

Não. A lei exclui as terras e os solos rústicos de Reserva Agrícola Nacional (RAN) com aptidão elevada para o uso agrícola (A1, A e B). No caso da Reserva Ecológica Nacional (REN), há também várias restrições, que incluem faixas marítimas e terrestres de proteção costeira, praias, sapais, margens de cursos de água e zonas ameaçadas por cheias. Ficam igualmente excluídas áreas integradas no Sistema Nacional de Áreas Classificadas (áreas protegidas). O ministro Castro Almeida garante que, “para resolver todos os problemas da habitação no País, será preciso muito menos do que 1% de todos os terrenos rústicos disponíveis”.

10
Então qual é a razão para tanta polémica?

Além das questões relacionadas com interesses imobiliários de deputados e membros do Governo, incluindo o primeiro-ministro (já lá vamos), há receios de que a nova lei incentive a especulação imobiliária em áreas agrícolas e ponha em causa valores naturais importantes. A autonomia dada às autarquias na reclassificação de terrenos é também alvo da preocupação por parte de muitos ambientalistas e de outros críticos, que temem perdas para os ecossistemas e para a biodiversidade, para lá da abertura de novas portas para casos de corrupção; argumenta-se que a lei pode gerar mais-valias milionárias para proprietários e construtores, sem garantir claramente habitação acessível, especialmente em zonas como Lisboa e Porto, onde há poucos terrenos rústicos. O Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável (CNADS) deu parecer negativo, por unanimidade, ao decreto-lei, invocando a “desregulamentação do sistema de gestão territorial, em detrimento da reforma da política de solos”.

11
Quais foram as reações na Assembleia da República?

O Parlamento debateu o decreto-lei, após pedidos de apreciação parlamentar. Propostas de revogação do BE, PCP, Livre e PAN foram rejeitadas, mas o PS sugeriu alterações, aceites pelo PSD, como substituir “valores moderados” por “custos controlados” e “arrendamento acessível”, limitar a reclassificação à “inexistência de áreas urbanas disponíveis” e proibi-la em áreas de REN “estratégicas de infiltração e de proteção e recarga de aquíferos”, de “elevado risco de erosão hídrica do solo” e de “instabilidade de vertentes”. Soma-se ainda a exigência de pareceres das CCDR em certos casos. Essas mudanças estão em discussão na especialidade – era suposto a votação ter ocorrido no dia 19, mas foi adiada a pedido do Chega. Os municípios, contudo, já têm luz verde desde o final de janeiro para iniciar processos de reclassificação.

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Li, ali atrás, qualquer coisa sobre interesses imobiliários de membros do Governo…

A 27 de janeiro, o programa A Prova dos Factos, da RTP, noticiou que Hernâni Dias, secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território, criou duas empresas que poderiam vir a beneficiar com a nova Lei dos Solos – lei essa criada sob a alçada da sua secretaria de Estado. Hernâni Dias pediu a sua demissão ao primeiro-ministro, que a aceitou imediatamente.

13
Assunto arrumado, então?

Nem de perto: a demissão do secretário de Estado foi só o início de uma controvérsia sobre interesses imobiliários que rapidamente atingiu o próprio Luís Montenegro, quando se descobriu que o primeiro-ministro fundou uma empresa de consultoria com atividade no ramo imobiliário (chamada Spinumviva), que hoje se encontra em nome da mulher e dos filhos. Foi mais do que suficiente para o Chega, embrulhado em sucessivos casos de crimes, ver aqui o que os outros partidos consideraram ser uma estratégia para desviar as atenções, avançando com uma moção de censura ao Governo por alegado conflito de interesses. Durante o debate, Montenegro esclareceu que a empresa “tem um vasto objeto social”, no qual se inclui “o comércio e a gestão de bens imóveis, próprios e de terceiros”. Considerou, no entanto, “manifestamente despropositado” chamar à Spinumviva uma empresa imobiliária. Entretanto, vieram à tona outros casos de ligações a imobiliárias, incluindo o próprio ministro da Coesão Territorial, Castro Almeida, e da ministra da Justiça, Rita Alarcão Júdice – além de quatro deputados do Chega…

Chamuscados pela lei

Devido à nova Lei dos Solos, os portugueses ficaram a perceber que muitos políticos têm ligações ao ramo imobiliário

Luís Montenegro
O primeiro-ministro criou uma empresa de consultoria, com atividade na compra e venda de imóveis, que está hoje em nome da família. Montenegro garante que não há qualquer conflito de interesses.

Manuel Castro Almeida
O ministro Adjunto e da Coesão Territorial, pasta responsável pela nova lei, era detentor de 25% de uma sociedade de investimentos imobiliários, de que se desfez em fevereiro “para afastar qualquer suspeita”, justificou.

Rita Alarcão Júdice
A ministra da Justiça tem participações em quatro empresas familiares do ramo imobiliário, mas já fez saber que não pretende vendê-las, uma vez que, garante, “não têm quaisquer imóveis com vocação para poderem beneficiar da lei dos solos”.

Maria do Rosário Palma Ramalho
A ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social detém a maioria (95%) do capital de uma empresa com atividade de consultoria em diversas áreas e “atividades de gestão de património imobiliário”.

Hernâni Dias
Um caso diferente dos outros: o (agora ex) secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território criou duas empresas imobiliárias já enquanto governante e responsável pela Lei dos Solos.

Filipe Melo
No debate da moção de censura proposta pelo Chega, Hugo Soares, líder parlamentar do PSD, revelou que quatro deputados do partido de André Ventura têm empresas imobiliárias: José Dias Fernandes, Pedro Pessanha, Felicidade Vital e Filipe Melo – coordenador da Comissão de Economia, Obras Públicas e Habitação.

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