Na sessão de lançamento deste Vinil, no atelier da artista Joana Vasconcelos (filha do autor), em Alcântara, Lisboa, Jorge Pereirinha Pires (autor do posfácio) disse que Luís Vasconcelos foi uma das pessoas que mais contribuiu para construir uma imagem da música portuguesa nos anos 80, com destaque para o célebre boom do rock nacional – simbolicamente inaugurado com o sucesso do disco Ar de Rock, de Rui Veloso, lançado em 1980, com uma fotografia do autor deste livro na capa. Os mais distraídos poderão achar que é um desses exagerados elogios de circunstância, mas ao folhearem este novo livro vão sendo convencidos, página a página, de que a afirmação é totalmente justa.
A imagem da capa de “Ar de Rock”, disco histórico para o rock português, lançado em 1980 por Rui Veloso. Em 1977 e 1984, as Cocktail (Fernanda Sousa, ao centro, mais conhecida como Ágata, Maria Viana e Camélia Conde) foram precursoras, em Portugal, das girl bands. Fotos: Luís Vasconcelos
Podia não ter sido assim. Luís Vasconcelos vivia em Paris, onde criou uma editora de livros, a Germinal, quando a explosão de liberdade do 25 de Abril aconteceu em Lisboa. No dia 29 de abril de 1974 chegava a uma cidade em festa, que ele não conhecia lá muito bem. A juventude, e a descoberta da paixão pela fotografia, tinha acontecido na Beira, Moçambique, e tinha passado um ano e meio no Porto, a estudar Arquitetura, antes de, como muitos, dar o salto para a Europa livre, escapando à Guerra Colonial.
No regresso a Portugal fez-se, rapidamente, fotojornalista de agência (na ANOP, Notícias de Portugal e, finalmente, na Lusa, quando esta foi criada, em 1986; mais tarde marcaria as redações do Público e da nossa VISÃO, onde esteve de 1999 a 2008).
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Mas a música cedo se intrometeu no seu quotidiano de fotógrafo, não só na cobertura de concertos em Portugal e no estrangeiro mas também como fotógrafo muito solicitado pelas editoras para imagens de promoção e capas de discos num fervilhante meio musical, ansioso por novidades e por dar a banda sonora certa a um Portugal democrático, sintonizado com o mundo contemporâneo.
São esses dois registos – as poses ensaiadas e a espontaneidade nos palcos, não só de artistas nacionais – que fazem a força deste Vinil, grande viagem no tempo, a preto-e-branco e a cores.
Vinil (Tinta-da-China, 156 págs., €54,90) inclui mais de 130 fotografias de Luís Vasconcelos a músicos portugueses e estrangeiros realizadas nos anos 70 e 80 do século passado. O único texto nessas páginas é o posfácio de Jorge Pereirinha Pires que contextualiza o trabalho do fotojornalista que passou pela VISÃO, como editor de fotografia, entre 1999 e 2008
Ignorando todos os pedidos de cessar-fogo imediato, semana após semana, vindos de organizações de direitos humanos ou de países aliados, já para não falar do Tribunal Internacional de Justiça e das Nações Unidas, supostamente um farol mundial em matérias como a paz e a segurança, os direitos humanos ou a ajuda humanitária, Israel manteve-se firme, ao longo de todo o ano, no seu propósito de aniquilar o Hamas, arrastando para a morte, sob tal pretexto, mais de 45 mil palestinianos, a maioria crianças e mulheres, e impondo uma destruição brutal de uma ponta à outra da Faixa de Gaza.
O balanço de vítimas mortais é contabilizado desde o atentado de 7 de outubro de 2023 no sul de Israel, que desencadeou a ofensiva em larga escala sobre o território vizinho, com uma população estimada em quase 2,4 milhões antes dos acontecimentos dos últimos 15 meses. No atentado em solo israelita, cerca de 1200 pessoas foram assassinadas a sangue frio e outras 251 raptadas pela organização terrorista que controla Gaza desde 2007.
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Genocídio? É a conclusão a que chegaram a Amnistia Internacional e a Human Rights Watch, por identificaram uma intenção deliberada de destruir os palestinianos de Gaza LUSA/MOHAMMED SABER
Segundo um relatório do comité especial da ONU para a investigação de violações dos direitos humanos por parte de Israel contra o povo palestiniano, no início deste ano já tinham caído sobre a Faixa de Gaza “mais de 25 mil toneladas de explosivos, o equivalente a duas bombas nucleares”, o que “causou uma destruição massiva e o colapso dos sistemas de água e sanitário, devastação agrícola e poluição tóxica”.
Revelado a 14 de novembro, este relatório cobre o período do conflito até julho e concluiu que “Israel está intencionalmente a causar mortes” e a usar “a fome como arma de guerra”, “infligindo uma punição coletiva à população palestiniana”, ações “consistentes com as características de genocídio”.
Já neste mês de dezembro, a Amnistia Internacional (AI) e a Human Rights Watch (HRW) foram taxativas em classificar de genocídio o que está a acontecer em Gaza.
“Israel argumenta repetidamente que as suas ações em Gaza são legais e podem ser justificadas pelo objetivo militar de erradicar o Hamas, mas a intenção genocida pode coexistir com objetivos militares, não precisa de ser a única intenção”, sustentou Agnès Callamard, responsável máxima da AI, alegando que “as atrocidades” do atentado de 7 de outubro de 2023 “não podem nunca justificar o genocídio de Israel contra os palestinianos de Gaza”.
Na mesma linha, a ativista francesa dos Direitos Humanos defendeu que a presença de combatentes do Hamas entre a população não desobriga Israel de tomar “todas as precauções para poupar os civis e evitar ataques indiscriminados e desproporcionais”, acusando Israel de “manter um bloqueio sufocante e ilegal” sobre Gaza, além de “obstruir a entrega de ajuda humanitária”.
Em declarações à VISÃO, Jorge Moreira da Silva, o português que dirige a agência da ONU encarregada de coordenar a entrada e distribuição de bens essenciais em Gaza, confirma estas e outras dificuldades: “As quatro fronteiras abertas são insuficientes, o número de autorizações de Israel para os camiões circularem em Gaza é inferior ao necessário, mesmo com essas autorizações os veículos são afetados por bombardeamentos e, finalmente, a proliferação de assaltos a que se está a assistir nos últimos tempos, em virtude do desespero da população.”
Dor Imagens de sofrimento dos dois lados do conflito, que parece não ter fim à vista, apesar de decorrem conversações para um cessar-fogoGuerra EUA lançam ajuda humanitária por via aérea na Faixa de Gaza, em março; soldados israelistas detêm um palestiniano nos territórios ocupados da Cisjordânia, no início do ano
A fome grassa, mas a desidratação é outro grave problema e está na base das conclusões da HRW, que escreve no seu relatório que “as autoridades israelitas obstruíram deliberadamente o acesso dos palestinianos às quantidades adequadas de água para a sobrevivência”, ao destruírem várias infraestruturas e inviabilizarem reparações dos danos causados.
“Isto não é só negligência. É uma estratégia calculada de privação que levou à morte de milhares de pessoas por desidratação e doenças, o que constitui nada menos do que um crime contra a Humanidade e um ato de genocídio”, declarou a diretora executiva da ONG, Tirana Hassan.
Regras do Direito Internacional “como as que referem que os civis e as infraestruturas não podem ser atacados não têm sido respeitadas”
Jorge Moreira da Silva
No âmbito das suas responsabilidades logísticas em Gaza, Jorge Moreira da Silva passou pelo território no início do ano e, entre o que viu e os testemunhos das equipas da ONU no terreno, não hesita em afirmar que “houve uma forte restrição do acesso a água, alimentos e medicamentos durante estes 15 meses”, ressalvando que as Nações Unidas deixam para a Justiça a classificação dos acontecimentos. Ainda assim, sublinha que “várias regras do Direito Internacional não têm vindo a ser respeitadas, nomeadamente as que referem que os civis não podem ser atacados nem as infraestruturas civis, como escolas, hospitais e habitações, podem ser alvo de bombardeamentos indiscriminados, assim como restrições à circulação de ajuda humanitária dentro de Gaza e o ataque a funcionários nas Nações Unidas e organizações humanitárias não estão em conformidade com essas regras”.
As Forças Armadas israelitas classificaram as acusações de genocídio como “infundadas” e lembraram que o Hamas viola a lei internacional quando “usa civis como escudos humanos e tem como alvos deliberados civis em Israel”. Grupos ligados ao Irão, como o Hezbollah e os rebeldes do Iémen, além do próprio Irão, também atacaram diretamente o território de Israel, em defesa do Hamas, alargando o conflito no Médio Oriente, sobretudo ao Líbano, onde o Hezbollah tem as suas bases e Israel entrou em força.
Guterres a falar sozinho
António Guterres tem sido das vozes mais ativas a condenar a investida israelita, mas parece ter sido só mais um a pregar no deserto durante todo este tempo, a ponto de Benjamin Netanyahu, o chefe do Governo israelita, ter deixado de lhe atender o telefone. Em janeiro, o secretário-geral da ONU salientou que “as operações militares de Israel espalharam destruição massiva e mataram civis numa escala sem precedentes” durante os oito anos que já leva no cargo. Em março, defendeu que “nada justifica os atos hediondos do Hamas no dia 7 de outubro”, assim como “nada justifica a punição coletiva do povo palestiniano”. Em julho, falou numa “situação de terror verdadeiramente dramática” e, dois meses mais tarde, classificou a Faixa de Gaza como “o lugar mais perigoso do mundo para a assistência humanitária”. Várias organizações de ajuda humanitária sofreram baixas, como a Médicos Sem Fronteiras ou a Save the Children, e muitas abandonaram o local. Só a ONU perdeu cerca de 230 funcionários no terreno.
“Apocalítica” foi o adjetivo que o português escolheu para descrever, já no início deste mês, a vida na Faixa de Gaza, que tem agora “o maior número de crianças amputadas ‘per capita’ do mundo”, com muitos dos feridos a serem “submetidos a operações cirúrgicas sem anestesia”.
Os bombardeamentos de Israel no Líbano, supostamente contra posições do Hezbollah, também atingiram os capacetes azuis da ONU e o exército libanês. Perante a chamada de atenção dos EUA, o então ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, desculpou-se com a proximidade de alvos do Hezbollah, que “usa missões de manutenção da paz como escudo para as suas atividades”.
Neste final do ano, decorrem negociações de paz no Qatar, e até tem havido sinais de algum otimismo de ambas partes no sentido de se chegar a um acordo desta vez, mas o conflito já dura há tanto tempo que manda a prudência não lhes atribuir muita importância até haver fumo branco.
Números do terror
Os reféns, as mortes e a devastação em Gaza
62
reféns que podem estar vivos Segundo a BBC, é esta a expectativa das autoridades israelitas, num total de 96 do grupo inicial de sequestrados a 7 de outubro de 2023 que ainda se encontram retidos pelo Hamas.
45 mil
Mortos em Gaza É a estimativa do Ministério da Saúde do Hamas, considerada credível pela ONU e pela Organização Mundial de Saúde. Há ainda mais de 10 mil desaparecidos, muitos sob os escombros, a que se soma o receio de o número real triplicar, devido às mortes indiretas, por fome, desidratação ou doença. Israel alega que matou cerca de 17 mil membros do Hamas.
88%
Das escolas foram danificadas Tal como mais de metade das casas, 47% dos hospitais, 68% dos campos agrícolas e 80% do comércio, divulgou a Al Jazeera, com base em dados oficiais até 18 de dezembro.
Testámos dezenas de produtos ao longo do ano, mas só os melhores dos melhores chegam a esta lista. Pela inovação que apresentam, pela conjugação de características únicas ou porque facilitam muito a forma como as pessoas usam e tiram partido da tecnologia. Mal podemos esperar para colocar à prova os sucessores.
As nódoas negras fazem parte da vida. São mais comuns na infância, fruto das brincadeiras da idade, e na velhice, porque os vasos sanguíneos ficam mais frágeis. Estes hematomas, que começam por ser vermelhos e, depois, assumem vários tons com o passar do tempo, como azul, preto, roxo, castanho, verde ou amarelo, são resultado de lesões nos vasos sanguíneos que causam hemorragia sob a pele, perto da sua superfície. As quedas ou embates em móveis, por exemplo, são as causas mais frequentes, mas há outros fatores que podem ser sinais de doença.
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1 – Doenças do sangue
O défice de plaquetas e a leucemia estão associados a uma maior facilidade em fazer nódoas negras. Se os hematomas aparecerem principalmente em locais onde esperaria bater – como nas canelas e nos cotovelos –, é menos preocupante do que no tronco ou noutras áreas de tecidos moles (músculos, tendões ou articulações).
2 – Falta de vitaminas
A vitamina C ajuda na produção de colagénio, uma das proteínas que mantêm os vasos sanguíneos saudáveis. Quando temos défice desta vitamina, estamos mais propensos a ter nódoas negras, especialmente os fumadores. O tabaco, ao causar estreitamento dos vasos sanguíneos, também leva a que as contusões demorem mais tempo a sarar. Podem igualmente ser sintoma do consumo excessivo de álcool, já que este é um vasodilatador.
3 – Demasiado sol
A exposição solar excessiva ao longo dos anos pode danificar as paredes dos vasos sanguíneos, o que, além de levar ao aparecimento de manchas nas mãos e nos braços, faz aumentar a propensão para ter hematomas.
4 – Medicamentos
Alguns medicamentos, incluindo esteroides, anticoagulantes e anti-inflamatórios, podem causar hematomas mais facilmente, assim como os analgésicos vendidos sem receita médica, como a aspirina ou o ibuprofeno.
(Artigo publicado originalmente na VISÃO Saúde nº 33 de dez 34/jan 24)
António Costa, modo de usar
O ex-primeiro-ministro não tem a unanimidade nacional para presidir ao Conselho. Mas não são os eurodeputados que decidem isso…
A visão de António Costa para a Europa tem provas dadas
Marta Temido, Cabeça de lista do PS às eleições europeias
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Não há vantagens em ter Costa [no Conselho Europeu]. O que interessa é o que as pessoas pensam e fazem, não o sítio onde nasceram
Cotrim de Figueiredo, Cabeça de lista da IL às eleições europeias
Por um voto se ganha, por um voto…
Desta vez, foram os socialistas a ganhar por “poucochinho”. A Aliança Democrática encontrou alento para sair de cabeça erguida
O PS venceu as eleições e é hoje a primeira força política em Portugal
Pedro Nuno Santos, Secretário-geral do PS
VS
O resultado dá-nos, muito, muito alento para cumprirmos a caminhada que nos trouxe até aqui
Luís Montenegro, Presidente do PSD
Mulheres à beira de um ataque de nervos
Definitivamente, a ministra da Justiça e a procuradora-geral da República entraram em rota de colisão
Precisamos de um novo procurador-geral que ponha ordem na casa. Os tempos modernos já não se compatibilizam com a ideia de que podemos estar fechados nos nossos gabinetes e não comunicarmos com os cidadãos nas sedes próprias
Rita Alarcão Júdice Ministra da Justiça
VS
Fiquei algo incrédula e perplexa. São declarações indecifráveis e graves, porque não mo disse numa audiência de três horas. Graves porque disse que o MP tem uma situação de falta de liderança, e que precisa de arrumar a casa. Rejeito essas críticas
Lucília Gago, Procuradora-geral da República
“
Sei o que fizeste…
Pedro Passos Coelho decidiu contar alguns segredos da coligação Portugal à Frente. Paulo Portas não achou muita graça
Para impedir uma humilhação do ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, obriguei o ministro das Finanças a assinar comigo e com ele a carta para as instituições. Julgo que ele não sabe isto. A Troika exigia era uma carta dele, assinada por ele, porque não confiava nele
Pedro Passos Coelho, Antigo primeiro-ministro
VS
Dava a entender que achava que a Troika era um bem virtuoso. Eu achava que era um mal necessário. Para aguentar aquele programa que resolvesse a falência de Portugal e nos permitisse recuperar a normalidade, era preciso coesão social na sociedade portuguesa
Paulo Portas, Antigo ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros
Quem nos trata da Saúde?
Nos 45 anos do Serviço Nacional de Saúde, confrontam-se duas perspetivas para o seu futuro
Temos de fazer uma nova mudança estrutural, criando um SNS em mudança, mantendo o substrato, os seus valores do humanismo, do personalismo e do profissionalismo
Ana Paula Martins, Ministra da Saúde
VS
O Governo tem uma gestão sádica do SNS. Temos um Governo, uma ministra [da Saúde] que não dá aos hospitais as condições para poderem funcionar
Mariana Mortágua, Coordenadora do Bloco de Esquerda
Imigração, o tema que escalda
Carlos Moedas disse “imigração”, “desordem” e “redes criminosas” na mesma frase. O contexto explica o discurso ou nem por isso?
Não podemos aceitar uma política de portas escancaradas que conduz à desordem, dá espaço a redes criminosas e multiplica casos de escravatura moderna
Carlos Moedas, Presidente da Câmara Municipal de Lisboa
VS
A República também produz pequenos Napoleões. Foi lamentável a forma como o senhor presidente da Câmara de Lisboa se colou ao discurso de extrema-direita
Fabian de Figueiredo, Líder parlamentar do BE
Pensão ou bónus, eis a questão
O Governo propõe aumentar o Complemento Solidário para Idosos (CSI), mas o PS rejeita o “bónus” e quer o aumento permanente das pensões
Quando é que iriam dar [o CSI]? Em setembro, para se fazer sentir em cima das eleições autárquicas, em outubro? Estamos no limiar de uma demagogia
Alexandra Leitão, Líder parlamentar do PS
VS
Aumento das pensões sim, havendo a possibilidade de o País o fazer como aumento extraordinário num pagamento suplementar. Esta é uma posição mais responsável
Hugo Soares, Líder parlamentar do PSD
25 de Novembro, sempre?
Quase meio século depois, o 25 de Novembro de 1975 continua a dividir opiniões na sociedade (e na política) portuguesa
Com o 25 de Abril, ganhámos a liberdade. Com o 25 de Novembro, evitámos que a liberdade se perdesse (…) Novembro não se fez contra Abril
Paulo Núncio, Líder parlamentar do CDS
VS
A atual mistificação (…) do 25 de Novembro é uma manobra dos derrotados de Abril (…) Cá estaremos, quando chegar o dia de voltar a chamar a nossa democracia pelo seu único nome: Abril
Joana Mortágua, Deputada do Blocode Esquerda
As tarjas que “mancham”
O Chega “decorou” o Parlamento com tarjas sobre o aumento dos salários dos políticos. O MP abriu inquérito ao “protesto”
Lamento, repudio e é um incumprimento das regras da defesa do património nacional. A publicidade no exterior é proibida (…) não tem nada que ver com liberdade de expressão
Aguiar-Branco, Presidente da AR
VS
[Era] uma comunicação aos cidadãos de que estavam a ser roubados. Fui eu que tomei a decisão” [de colocar as tarjas] “e voltaria a fazê-lo se fosse hoje
André Ventura, Presidente do Chega
Entre amendoins, pistácios, cajus, avelãs, nozes ou amêndoas os frutos secos ocupam, nesta altura do ano, um lugar de destaque nas mesas festivas, a servir de acompanhamento ou aperitivo. Divididos entre oleaginosos e desidratados, os frutos secos são nutricionalmente muito ricos e contêm uma grande diversidade de vitaminas, fibras e minerais essenciais ao bom funcionamento do organismo e que ajudam a prevenir o aparecimento de doenças – como as cardiovasculares e neurológicas – a promover o bem-estar.
+ Leia mais sobre os benefícios dos amendoins aqui
As oleaginosas – tal como o nome indica – são frutos com um elevado teor de ácidos gordos polinsaturados, também designados por “gordura saudável” que contribuem, sobretudo, para a saúde do coração. Este é o caso das nozes e das amêndoas, frutos secos muito consumidos em Portugal e dos quais falamos neste artigo.
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As nozes, por exemplo, são uma fonte de gorduras polinsaturadas. Com origens na Pérsia – atual Irão -, China e Japão, passaram a ser de consumo comum no continente europeu durante a Grécia e Roma e antiga, sendo atualmente um fruto muito apreciado em Portugal e produzido nas regiões de Trás-os-Montes e Alentejo.
Contribuem para a saúde cardiovascular – Com elevados níveis de gorduras polinsaturadas – como os ácidos gordos ómega-3 – as nozes ajudam a diminuir o “mau” colesterol no sangue – também conhecido por LDL – e a prevenir problemas cardiovasculares. O ómega-3 tem ainda propriedades anti-inflamatórias.
Ricas em vitamina – Ricas em vitaminas B6, as nozes contribuem para a saúde do sistema hormonal, imunitário e nervoso e estimulam a produção de proteínas e glicogénio, que contribuem para a diminuição da sensação de cansaço e fadiga.
Propriedades anticancerígenas – Com propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, as nozes contribuem para o envelhecimento celular, contribuindo assim para a prevenção de alguns tipos de cancro.
Ajudam a evitar a malformação do feto durante a gravidez – Com elevados níveis de ácido fólico, este fruto de casca rija é também muito benéfico para mulheres grávidas ao contribuir para o normal desenvolvimento do feto e para prevenção de malformações.
São uma fonte de ferro – Um mineral muito importante na prevenção de anemia e para o sangue.
Promovem a saúde cognitiva – Com ácidos gordos essenciais, as nozes têm um impacto positivo na função cognitiva.
Apesar dos benefícios, as nozes são um fruto bastante calórico – mesmo promovendo a sensação de saciedade – e devem ser consumidas, à semelhança de outros alimentos, com moderação.
Já as amêndoas, também oleaginosas, são também muito ricas em fibras, nutrientes e vitaminas do complexo B2 e E. Consumidas também em épocas especiais – nomeadamente na Páscoa – as amêndoas, fruto da amendoeira, são originárias da Ásia Central, tendo sido os árabes a introduzir a sua produção em Portugal. As suas principais plantações, no país, estão localizadas no Algarve e em Trás-os-Montes.
Ajudam a prevenir o cancro – Ricas em vitamina E, as amêndoas são antioxidantes que ajudam a combater a presença de radicais livres no organismo, associado muitas vezes ao desenvolvimento de determinados tipos de cancro.
Reduzem a tensão arterial – Com um elevado teor de potássio na sua composição, o consumo deste fruto estimula a eliminação de sódio pela urina, contribuindo assim para o equilíbrio da tensão arterial. Também são muito ricas em magnésio, um mineral que ajuda a reduzir o cansaço e a fadiga.
Promovem a saúde cardiovascular e ajudam a controlar os níveis de colesterol – Com ómega 3,6 e 9, as amêndoas são bastante ricas em gordura saudáveis que possuem propriedades anti-inflamatórias, que estimulam a circulação sanguínea e que ajudam a reduzir os níveis de LDL no organismo. Os seus compostos promovem ainda o equilíbrio dos níveis de colesterol e de triglicéridos. De acordo com o Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável da Direção-Geral da Saúde, cerca de 28 gramas de amêndoas são suficientes para fornecer a um adulto “14 % das necessidades diárias de fibra alimentar”, uma “substância essencial ao bom funcionamento dos intestinos, à prevenção de determinados tipos de cancro e à regulação do colesterol”.
Ajudam a controlar a diabetes – O elevado teor de fibra presente nas amêndoas ajuda a diminuir a velocidade de absorção de açúcar no sangue e a controlar os níveis de glicose. No mesmo sentido, os antioxidantes, flavonoides e taninos que também se encontram presentes na sua composição contribuem para o bom funcionamento do pâncreas, órgão produtor e insulina.
Podem ajudar quem quer perder peso – Por serem ricas em fibras, as amêndoas (mas também as nozes) prolongam o tempo de digestão e contribuem para o sentimento de saciedade.
Ajudam a prevenir o aparecimento de doenças como o Alzheimer – A vitamina E e os flavonoides presentes nas amêndoas ajudam ainda a proteger as células nervosas e contra a ação dos radicais livres e a prevenir o desenvolvimento de doenças neurológicas como o Alzheimer ou a demência.
Fortalece os ossos – Ricas em minerais como o fósforo, magnésio ou cálcio, as amêndoas ajudam a fortalecer os ossos e a prevenir doenças como a osteoporose ou a reduzir o risco de fraturas.
Tem benefícios na pele – Além dos benefícios nutricionais, as amêndoas têm efeitos positivos na pele. O óleo de amêndoas doces ajuda a hidratar e proteger a pele e a prevenir o aparecimento de estrias, sendo sobretudo indicado para peles sensíveis.
“Esta riqueza mineral e vitamínica, ainda por cima sem colesterol e sal, tornam a amêndoa um alimento interessante para ser consumido regularmente ao longo da semana e integrado numa alimentação saudável”, lê-se no site da DGS. À semelhança das nozes, são também um fruto com um valor calórico elevado.
Será necessário ter em consideração que a grande maioria das misturas de frutos secos que, geralmente, se encontram em pequenos pacotes nos supermercados são de evitar dado que, por norma, o seu teor de sal é bastante elevado e poderá ter consequências na saúde.
Gisèle Pelicot fez tudo ao contrário do que seria esperado ou, pelo menos, do que ditavam os conselhos mais prudentes. Os seus advogados começaram por querer que o julgamento decorresse à porta fechada. Mas ela insistiu que fosse público. Depois, ainda defenderam que se evitasse a exibição das imagens e dos vídeos que são a prova da miséria moral e da barbárie. E ela voltou a insistiu que estes fossem mostrados. A francesa de 72 anos – que, entretanto, foi transformada num símbolo do feminismo à escola global e que, por isso mesmo, é uma das mulheres que se destacaram durante 2024 – não só não se escondeu como fez ainda questão de comparecer a todas as sessões no tribunal.
Em todas essas situações, a intenção seria boa, tinha como objetivo protegê-la, tinha passado pelo inferno na Terra e estava fragilizada. Gisèle Pelicot não quis propriamente exibir-se, mas dispensou todos esses cuidados. Queria transformar o seu drama individual numa causa pública, explicou. Os próprios advogados acabaram por compreender: “Ela quer que as pessoas saibam o que lhe aconteceu e acredita que não tem motivos para esconder. Goste-se ou não, este julgamento ultrapassa os limites deste tribunal. E ficar de portas fechadas também significa pedir à minha cliente que seja trancada num lugar com aqueles que a atacaram.”
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Sentença O tribunal condenou os 51 homens que se sentaram no banco dos réus. À saída, Gisèle Pelicot disse pensar “nas vítimas não reconhecidas cujas histórias permanecem na sombra” Foto: LUSA
Mesmo quando falou, mesmo quando diante dos que a maltrataram disse sentir-se uma “boneca de trapos” e “um campo de ruínas”, a septuagenária revelou sempre a calma e a serenidade dos que mantêm toda a dignidade, apesar da tragédia humana em que se veem envolvidos. Contou em tribunal o caos em que a sua vida se transformou quando soube a verdadeira razão que estava por detrás dos problemas ginecológicos de que sofreu, das doenças sexualmente transmissíveis que contraiu, da queda de cabelo, das enxaquecas, dos apagões de memória que, por ingenuidade, atribuía à doença de Alzheimer.
O julgamento dos crimes de Mazan, uma localidade de seis mil habitantes, na periferia de Carpentras, começou no princípio de setembro, em Avignon. Foi um julgamento rápido, durou pouco mais de três meses, até à sentença. A certa altura, Gisèle Pelicot tirou os óculos de sol que inicialmente lhe ocultavam o olhar e enfrentou, olhos nos olhos, os 51 homens que se sentaram no banco dos réus: o seu ex-marido, Dominique Pelicot, e mais outros 50 por ele recrutados num chatroom (e estes 50 são apenas os que, entre os 72 suspeitos, as autoridades francesas conseguiram identificar). “Fui sacrificada no altar do vício”, afirmou no tribunal. “Que mulher podia suportar isto?”
Combate por um mundo melhor
Gisèle Pelicot dispensou protagonismos e mediatismos, mas sempre agradeceu a atenção. Durante o julgamento, foi recolhendo apoios de todos os cantos do mundo. Chegou a usar um lenço que lhe foi enviado da Austrália por uma organização ligada à violência sexual sobre mulheres mais velhas. Involuntariamente, fez-se heroína, porque foi capaz de transpor o sentimento da vergonha – associada às vítimas de violência sexual – para o lado dos agressores. Quando, na semana passada, foi lida a sentença, relataram os jornalistas presentes na sala que a maioria dos homens chorou em silêncio e baixou a cabeça.
Revelou sempre a calma e a serenidade dos que mantêm toda a dignidade, apesar da tragédia humana em que se veem envolvidos
O caso Pelicot começou por chocar a França e, depois, as suas ondas de choque estenderam-se pelo mundo fora. O impacto foi tal ordem que o tribunal de Avignon recebeu centenas de pedidos de acreditação de órgãos de informação vindos de todo o lado. A discreta avó francesa – que apenas tencionava ter uma reforma tranquila na região da Provença, ao lado do homem com quem partilhou 50 anos de vida em comum – não se conformou e, na medida do que estava ao seu alcance, quis mudar o mundo. Transformou o insustentável drama da sua vida – durante dez anos, foi drogada, agredida e violada pelo marido, o qual recrutou na internet dezenas de outros homens para a violarem também – num combate por um mundo melhor. Quando lhe chamaram corajosa, ela foi clara e respondeu: “Não é bravura, é a vontade e a determinação em mudar a sociedade.”
Na semana passada, quando o Tribunal Criminal de Vaucluse, em Avignon, no Sul de França, condenou todos os homens que abusaram dela, à porta do tribunal, houve gritos e sobretudo houve aplausos. E cartazes, palavras de ordem por todo o lado: “Bravo, madame”, “merci, Gisèle”.
Dominique foi condenado à pena máxima, 20 anos de prisão. Os outros 50 homens também foram considerados culpados, com penas entre os três e os 15 anos de cadeia (algumas das penas são inferiores às que foram solicitadas pelos procuradores e, por isso, sofreram algumas críticas, nomeadamente, dos filhos de Gisèle). No total, houve 46 condenados por violação, dois por tentativa de violação e outros dois por agressão sexual.
Iranianas de coragem
Em novembro, a estudante Ahoo Daryaei protestou contra o assédio da “polícia da moralidade” para usar o hijab, o lenço islâmico obrigatório, sem bandeiras nem pedras, sem cartazes nem multidão. Simplesmente, despiu-se e, em roupa interior, fazendo do corpo um manifesto, caminhou pela Universidade Islâmica Azad, em Teerão – até ser forçada a entrar num carro misterioso. As autoridades comunicaram que foi levada para um hospital psiquiátrico porque sofria de problemas mentais – o argumento mais usado para conter os protestos das iranianas, confrontadas com a crescente e violenta repressão, e a que a Amnistia Internacional apelida de “guerra contra as mulheres e as raparigas”. Agora, o Irão suspendeu (temporariamente?) a promulgação de uma lei duríssima sobre o uso do hijab, com sanções severas até prisão por 15 anos. Dizem os analistas que foi por receio de um reacender dos protestos, ocorridos no pós-assassinato de Mahsa Amini, por uso indevido do lenço, em 2022. A coragem das iranianas está a abrir rachas no regime?
No final da sentença, Gisèle trazia uma mensagem para ler. “Foi um processo muito difícil e, neste momento, penso sobretudo nos meus três filhos: David, Caroline e Florian. Penso também nos meus netos porque eles são o futuro. Também foi por eles que travei esta batalha. Gostaria de exprimir a minha gratidão a todas as pessoas que me apoiaram. Penso também em todas as outras famílias afetadas por esta tragédia. Por fim, penso nas vítimas não reconhecidas cujas histórias permanecem muitas vezes na sombra”, disse.
Numa declaração sem ponta de raiva ou de rancor, Gisèle dirigiu-se a todas as outras vítimas e, sobretudo, às que preferem manter o anonimato: “Quero que saibam que partilhamos o mesmo combate. Quando abri as portas do processo, a 2 de setembro, era exatamente isso que queria fazer: que a sociedade possa apreender os debates que ali tiveram lugar. Nunca me arrependi dessa decisão.”
Com a mesma serenidade, Gisèle Pelicot falou ainda no futuro: “Estou agora confiante na nossa capacidade de aproveitar coletivamente um futuro em que todos, mulheres e homens, possam viver em harmonia, com respeito e compreensão mútuos.”
Claudia Sheinbaum
A lutadora
Vencedora das eleições presidenciais com 59% dos votos, Claudia Sheinbaum, a primeira mulher Presidente do México, prometeu logo às horas iniciais: “Não vou desiludir-vos.” Mas os desafios serão muitos a testar a determinação da “dama de gelo” na gestão de uma das maiores potências sul-americanas. Física de formação, filha de académicos e neta de emigrantes judeus oriundos da Lituânia e da Bulgária, governadora da megalópole Cidade do México durante a pandemia, esta política de esquerda, “filha do Maio de 68”, tem currículo estelar. Os analistas apontam-lhe um estilo assente em racionalidade, gestão e cálculo. Qualidades que serão postas à prova quando o próximo inquilino da Casa Branca, Donald Trump, a pressionar sobre imigração, fecho de fronteiras e tráfico de drogas – como, aliás, já o fez num telefonema. A Presidente respondeu-lhe que “a posição do México não é fechar fronteiras, mas construir pontes entre governos e entre povos”. As próximas conversas poderão alterar radicalmente o equilíbrio de forças (e as economias?) destes vizinhos.
O caso Pelicot terá ultrapassado fronteiras pela recusa de Gisèle em manter-se na sombra, mas também pela escala de horror e depravação que envolve. Ler e ouvir as descrições é uma verdadeira descida aos infernos. É preciso recuar a 2 de novembro de 2020, quando a francesa foi chamada à polícia. O marido – um pai dedicado e um avô extremoso – foi apanhado em flagrante numa mercearia a tentar filmar por baixo das saias das mulheres. Foi nessa investigação que a polícia encontrou uma drive com 20 mil ficheiros de imagem e vídeo de Gisèle a ser agredida e violada por dezenas de homens. Também foram encontradas fotografias da filha do casal, Caroline, e das noras. Apesar de Dominique negar, Caroline acredita ser sido também abusada sexualmente pelo pai. Escreveu um livro, que já teve edição inglesa, intitulado Et J’ai Cessé de T’Appeler Papa (E Deixei de te Chamar Pai).
“Sou um violador”
Durante os últimos quatro meses, os que se sentaram no banco dos réus ficaram conhecidos por monsieur tout-le-monde, por serem homens comuns, com profissões e contextos familiares ditos normais, jornalistas, enfermeiros, motoristas, funcionários públicos, bombeiros… Muitos deles são pais – um deles até tinha em curso um processo de adoção de uma criança. Com idades compreendidas entre os 26 e os 74 anos, foram todos recrutados por Dominique num chatroom, um tenebroso subterrâneo da internet que, entretanto, já foi encerrado (embora não tenha sido suspenso na sequência deste caso, por incrível que pareça).
Dominique Pelicot confessou todos os crimes. “Sou um violador”, respondeu logo na primeira vez que foi ouvido no tribunal. “Sou culpado do que fiz. Peço à minha mulher, aos meus filhos, aos meus netos… que aceitem as minhas desculpas. Peço-lhes perdão, mesmo que não seja aceitável”, continuou.
Dos 50 homens, cerca de 30 argumentaram que Gisèle tinha consentido as agressões. Como se tudo fizesse parte de um jogo sexual
Dos 50 homens, cerca de 30 argumentaram que Gisèle tinha consentido as agressões e que todas as situações tinham sido previamente combinadas com o casal. Como se tudo fizesse parte de um jogo sexual, ainda tentaram denegrir Gisèle. À acusação, bastou-lhe passar os vídeos que atestam a barbárie para ser evidente, justificaram os advogados, “o estado de torpor mais próximo do coma do que do sono”, induzido por uma mistura de ansiolíticos e comprimidos para dormir. Uns admitiram desconhecer o conceito de consentimento e outros ainda alegaram julgar que bastava a presença de Dominique para que existisse consentimento. Também houve homens que disseram ser homossexuais: declararam que, quando entraram na casa dos Pelicot, pensaram que iriam ter sexo com Dominique…
O caso Pelicot não só promoveu o debate em torno do consentimento e da agressão sexual como, do ponto de vista legislativo, é provável que venha suscitar alterações. Politicamente, a França continua no arame e, por isso, é mais do que natural que tudo isto demore o seu tempo a ser concretizado. Há um mês, o antigo primeiro-ministro francês, Michel Barnier, já tinha anunciado que, até ao fim de 2025, iriam simplificados os procedimentos para apresentar queixa de violência doméstica nos hospitais franceses. Independentemente disso, de agora em diante, haverá sempre um antes e um depois deste caso.
Quatro meses bastaram para que muitos considerassem que Gisèle Pelicot deveria ser escolhida como uma das mulheres do ano. Pelo testemunho, por não se ter escondido, por não ter assumido a vergonha como sendo dela. Pelo facto de ter aceitado ser o rosto sereno da coragem, por ter feito tudo ao contrário do que era esperado. Por não ter desistido, mesmo quando isso significava mostrar ao país e ao mundo que tinha vivido 50 anos, mais de metade da sua vida, ao lado de um homem que agora é “o diabo” (a imagem é de um dos filhos do casal, Florian). Para travar a sua luta, Gisèle pensou, muito provavelmente, nos seus três filhos e, sobretudo, nos seus sete netos. Como ela própria proferiu, à porta do tribunal, eles são o futuro. E todos – a começar por Gisèle, aquela que se reconstruiu – têm o futuro pela frente.
Ursula von der Leyen
Ursula maior
Reeleita para um segundo mandato na presidência da comissão europeia, Ursula von der Leyen lutou pela paridade de género – apesar da relutância de vários Estados-membros, fez subir as nomeações de mulheres para o novo colégio, de 22% para 40%. A sua equipa tem 11 mulheres, incluindo quatro vice-presidentes. Kaja Callas, primeira-ministra da Estónia, agora Alta Representante da União Europeia para Relações Externas e Política de Segurança, é uma crítica vocal de Putin; Teresa Ribero, ministra espanhola do Ambiente que sucede à carismática Margrethe Vestager, lidera a Transição Verde e a Concorrência – e é uma opositora aos combustíveis fósseis e à energia nuclear; a finlandesa Henna Virkkunen, comissária europeia para a Tecnologia, tem a cargo Soberania Digital, Segurança e Democracia – com a Inteligência Artificial à porta; a romena Roxana Mînzatu assumiu Pessoas e Competências – o capital humano de um continente em perda competitiva. A portuguesa Maria Luís Albuquerque tem os Serviços Financeiros e União da Poupança e Investimento.
Os tablets querem-se grandes – e quanto melhor for o ecrã, mais perto ficarão estes equipamentos de cumprir impecavelmente a missão para a qual foram feitos. O que, no caso destes dispositivos, envolve acima de tudo o consumo de vídeos, redes sociais, sites de notícias, serviços de streaming, jogos e aplicações de desenho. Este Samsung Galaxy Tab S10 Ultra dá-nos tudo isto, mas num formato XXL e agora também com muitas funcionalidades de Inteligência Artificial.
É difícil não ficarmos ‘em sentido’ assim que tiramos o tablet da caixa. Tão grande que ele é… e tão fino. Dois atos que, quando feitos em simultâneo, sabemos que são difíceis de conjugar. Mas a Samsung fá-los com gabarito. Temos, por um lado, uma espécie de supertablet, com um ecrã de 14,6 polegadas e que, por exemplo, é inclusive maior do que o ecrã de muitos portáteis de trabalho… E que ecrã, caros leitores. Como é típico dos equipamentos da Samsung, há muita nitidez, muito brilho, mas há acima de tudo cores fortes, expressivas (ainda que com um perfil quente) e contrastes apurados, o que torna a visualização de conteúdos um mimo para os olhos.
Temos, por outro, um tablet que é muito fino, o que facilita bastante no agarrar. A questão é que em termos de ergonomia e usabilidade do hardware, este é um tablet muito difícil de manobrar. É que por muito fino que seja, o formato XXL tem influência noutros elementos, neste caso o peso (é demasiado pesado para se segurar apenas com uma mão e torna-se cansativo ao fim de algum tempo) e no próprio manuseamento.
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Samsung Galaxy Tab S10 Ultra
Por exemplo, é difícil arranjar uma posição confortável para ‘agarrar’ o tablet em cima do nosso colo enquanto estamos no sofá a ver uns vídeos e torna-se quase impossível jogar de forma confortável jogos como Diablo Immortal ou Call of Duty Mobile… Fica uma sugestão para uma futura versão – um tablet deste tamanho tem de trazer, de alguma forma, um suporte na parte traseira que o torne um pouco mais prático e funcional.
Galaxy Tab S10 Ultra: Desempenho para dar e vender
O Ultra no nome não é, obrigatoriamente, uma referência apenas para o tamanho. É que do ponto de vista do desempenho este tablet também é um ‘martelão’, tendo conseguido os melhores resultados nesta categoria nos nossos típicos testes de desempenho. O que isto significa na prática? Uma elevada fluidez em tudo o que fazemos neste tablet – independentemente da aplicação, incluindo os jogos já referidos com as definições no máximo, e até mesmo quando temos mais do que uma aplicação em aberto em simultâneo, algo que deverá aproveitar num dispositivo deste tamanho.
A área na qual ficamos mais agradavelmente surpreendidos foi nas integrações de Inteligência Artificial que a Samsung faz. O pacote de funções Galaxy AI aqui é trabalhado para fazer mais sentido no formato de tablet. A nossa funcionalidade preferida chama-se “Esboço para imagem” e permite, tal como o nome indica, transformar um rabisco num desenho muito mais composto, através da geração por IA.
Nas “Notas escritas à mão”, o tablet é capaz não só de formatar o texto que apontamos, como é ainda capaz de gerar resumos ou traduzir – o que mostrou um elevado nível de eficácia e surpreende, já que aqui a conversão é de escrita manual para escrita de máquina com interpretação pelo meio. Há ainda outras funcionalidades úteis, como o sistema de tradução de PDF ou páginas web inteiras e que, pouco a pouco, se tornam aliados úteis na nossa vida digital. Mas também é justo dizer que nos parece que há uma ‘sobrecarga’ de funções de IA e que acabarão por se perder no tempo – por exemplo, queremos mesmo que o fundo de ambiente de trabalho mude com base na hora e na meteorologia?
Ainda a respeito da Inteligência Artificial, uma achega sobre como estes sistemas funcionam. A Samsung tem uma opção que, quando ativada, permite “processar dados apenas no dispositivo”, uma escolha que muitos nos agrada ver e que nos parece importante à medida que a IA vai invadindo as nossas vidas. Mas assim que tentamos, por exemplo, usar o assistente de fotografia para transformar uma selfie nossa num desenho animado 3D, recebemos a notificação a dizer que precisamos de desligar a opção do processamento no dispositivo… E quando desligamos para um, desligamos para todos. No limite, esta opção deveria poder ser controlada função a função. Fica mais uma dica.
Já aqui falamos na aplicação da IA ao desenho, mas esta vertente do tablet merece uma nota à parte. Para começar, o Galaxy Tab S10 Ultra traz o estilete S Pen de origem, o que é a opção certa, na nossa perspetiva, neste tipo de tablet e segmento de preço. E a experiência é de facto muito boa. Temos uma latência praticamente inexistente, o que conjugado com a elevada taxa de fluidez do ecrã e a ponta em borracha, tornam o deslizar muito suave e natural.
Há elementos neste Galaxy S10 Ultra que, apesar de tudo o que já foi dito do lado positivo, merecem uma nota para enquadramento importante dos utilizadores: a autonomia pode ser considerada muito boa olhando para o tamanho gigantesco do ecrã, mas no grande esquema dos tablets fica abaixo do que estamos habituados; vemos o entalhe das câmaras frontais como desnecessário (e uma câmara provavelmente bastaria…) e o tamanho acima do habitual faz com que muitas vezes a interface seja distinta do que estamos habituados, pelo que exige alguma curva de aprendizagem.
Além disso, não pensamos que seria necessário escrever algo do género numa análise nos dias que correm, mas o sistema de vibração do tablet é… estranho? A vibração é muito seca e parece estar posicionada só de um lado, o que torna desagradável os feedbacks que o equipamento vai dando (claro, podemos desligar isto por completo). Em contrabalanço, podemos destacar o bom desempenho global das câmaras incorporadas, o sistema de som pujante e com muito volume, e o facto de este tablet manter aquelas que são funcionalidades de nicho, mas que distinguem positivamente a Samsung, como o DeX, que permite usar este tablet num modo quase como se fosse um PC.
Há um outro enquadramento importante – esta até é a versão baratinha do tablet… a versão com 1 TB de armazenamento e suporte para redes 5G custa 1999,83 euros. Pelo que todos os prós e contras devem ser muito bem pesados na hora de fazer o investimento.
Chegados aqui, é justo dizer que o Galaxy Tab S10 Ultra é um dos melhores, mais completos e mais funcionais tablets que já nos passaram pelas mãos. Mas o nível de preço no qual se insere só se justifica por completo para, por exemplo, artistas digitais para quem o tamanho e a potência extra do tablet podem ser monetizadas.
Tome Nota Samsung Galaxy Tab S10 Ultra | €1429,90 samsung.com/pt
Benchmarks Antutu: 1811991 • CPU 481727 • GPU 680828 • UX 298006 • Memória 351430 • 3DMark: Wild Life Extreme 4842 (29 fps) • Solar Bay 7894 (30 fps) • Steel Nomad Light 1722 (12,7 fps) • PCMark Work 3.0 16760 • Autonomia 9h20 • Geekbench Single/Multi 2084/7085 • GPU 12113
Ecrã Excelente Software Excelente Construção Excelente Autonomia Bom
Características Ecrã Dynamic AMOLED 2X 14,6″, 2960×1848 p, 120 Hz, 930 nits (máx.) • Proc. MT Dimensity 9300+, GPU Immortalis-G720 MC12 • 12 GB RAM, 256 GB armaz. • Câmara 13 MP (f/2.0), 8 MP (ultra grande angular), 12 MP (selfie), 12 MP (selfie ultra wide) • 4x altifalantes • BT 5.3, Wi-Fi 7, USB-C (45 W) • Samsung OneUI 6.1, Android 14 • Bateria: 11.200 mAh • Resistência a pó e água (IP68) • 208,6×326,4×5,4 mm • 718 g
Primeiro, senti-me comovida ao recordar a minha mãe, ao lado da minha cama de hospital, a dar-me um pão com fiambre. Mais tarde, lembrei-me da excitação de me esconder dos médicos na ronda matinal, a acreditar com todo o meu coração que eles não me viam. Duas memórias da minha hospitalização, aos 4 ou 5 anos, regressaram quando, no passado mês de julho, estive vários dias internada, exatamente no mesmo hospital. Aos 48 anos, voltei a perceber a maravilha de ser criança, porque agora não posso fugir aos médicos, nem fantasiando.
São poucas as memórias que temos da nossa infância. Afinal, “até aos 2 anos, o hipocampo ainda não está maturado para podermos recordar no futuro. Até aos 5 anos, a nossa linguagem não está bem desenvolvida e, enquanto adultos, para recordarmos, pedem-nos para usarmos um código linguístico”, explica Pedro Albuquerque, professor no departamento de Psicologia Básica da Escola de Psicologia da Universidade do Minho. “Às vezes, digo aos meus alunos que, até aos 5 anos, as memórias são guardadas em gavetas com cores: episódios azuis, amarelos, vermelhos…”, acrescenta.
Estas lembranças serão apenas histórias contadas pelos meus pais? Seja como for, passaram a fazer parte de mim. “É raro recordarmo-nos de algo que tenha ocorrido antes dos 3 – 4 anos. A partir daqui, começamos a reter memórias (consciente e inconscientemente, memória explícita e implícita) que vão estruturando a nossa forma de ver o mundo e de nos comportarmos nele. A personalidade vai-se estruturando naquilo que vamos experienciando e retendo dessas experiências”, explica Diogo Telles Correia, médico psiquiatra, psicoterapeuta, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL) e diretor da Clínica Universitária de Psiquiatria e Psicologia Médica da FMUL.
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“A raiva é muito ativadora da memória e a tristeza é desativadora”
Pedro Albuquerque, Professor no departamento de Psicologia Básica da Escola de Psicologia da Universidade do Minho
“A linguagem não é apenas uma forma de comunicação (e expressão), mas também uma forma de representarmos o mundo na nossa mente. Deste modo, é possível que a linguagem esteja implicada no processo de retenção da memória, mas também no processo de evocação desta memória”, acrescenta Diogo Telles.
As recordações mais antigas, muitas vezes, acabam por vir à superfície, ativadas por um odor ou um som e não por uma palavra. Precisamos do estímulo certo para lembrar. É isso que explica Pedro Albuquerque: “A melhor pista para recordar hoje um episódio é aquela que eu usei quando processei esse episódio. Se associei uma memória a uma música, quando ouvir a música, é mais provável que essa memória seja recordada.” Inserida naquele ambiente hospitalar, talvez tenha encontrado não uma, mas muitas pistas nos cheiros, ritmo e sons.
Criar e reter memórias
Como se formaram e conservaram aquelas lembranças ao longo de tanto tempo? Os especialistas decifram: a memória existe em diferentes formatos (ver caixa “Os vários tipos de memória”) e a sua geração depende de três mecanismos: codificação, retenção e recuperação. “O processo de codificação ou de aquisição corresponde ao momento em que nos confrontamos com o episódio. Se der mais atenção à informação, é mais provável que mais tarde a recorde”, constata Pedro Albuquerque.
Também é preciso reter esses dados usando dois elementos fundamentais. Em primeiro lugar, guardamos melhor aquilo que faz mais sentido para nós. Pedro Albuquerque recorre à metáfora da biblioteca para clarificar: “Se coloco a informação numa estante que conheço, quando precisar dela vou exatamente ao local onde está a informação. A consolidação ocorre na retenção – é a transformação das memórias que estão num estado volátil, não solidificadas.”
Outro elemento crucial é a qualidade do sono. “O sono tem uma série de ciclos REM e não REM, que produzem uma proteína associada a neurotransmissores que ajudam à consolidação das memórias processadas durante o dia”, constata Pedro Albuquerque. “Para se consolidarem, as memórias têm de seguir mecanismos neurobioquímicos, passando de um processamento no hipocampo para um processamento cortical [no córtex cerebral]”, acrescenta.
Existe ainda o momento da reconsolidação das memórias. Quando voltamos a relatar um evento passado, a memória regressa a um estado de fragilidade, de volatilidade, antes de ser novamente consolidada. Segundo Pedro Albuquerque, “isto tem vantagens e problemas. A memória pode ser mudada. A reconsolidação pode levar a novos dados, novas informações, algumas verdadeiras, outras falsas”.
Do Minho para a polícia de Los Angeles
A polícia de Los Angeles, nos Estados Unidos da América, começou a utilizar, na formação dos seus detetives, uma técnica de entrevista a testemunhas de crimes desenvolvida na Universidade do Minho (UM). “É uma entrevista cognitiva para ajudar testemunhas cooperantes a recordar mais detalhes”, conta Pedro Albuquerque, professor no departamento de Psicologia Básica da Escola de Psicologia. “Desenvolvemos a técnica de recordação por categorias, ou seja, se se relatar primeiro tudo sobre as pessoas, depois tudo sobre o local e, a seguir, tudo sobre os objetos, etc., aparecem mais detalhes”, acrescenta. A investigação foi desenvolvida durante a tese de doutoramento do seu aluno Rui M. Paulo. Esta é uma das muitas estratégias que as polícias, um pouco por todo o mundo, adotam para recolher dados fidedignos. Afinal, se as testemunhas cooperantes não fizerem de imediato o seu relato, podem estar sujeitas à informação, correta ou errada, que surge nos média ou numa conversa de café. “Por vezes, a memória altera-se com traços que julgamos associados ao episódio inicial, mas que, na verdade, são o conjunto de informação que vamos absorvendo. Criam-se memórias falsas”, explica o investigador.
Por isso, algumas polícias, como a inglesa, quando estão perante dezenas de testemunhas para entrevistar e têm pouco tempo e recursos, “entregam um caderninho em que as pessoas fazem um relato escrito do que viram. Isto permite que a testemunha esteja menos sujeita à desinformação”, refere Pedro Albuquerque. Outras estratégias são utilizadas, por exemplo, na parada de identificação de suspeitos, de modo a reduzir a condenação de inocentes. Se dissermos à testemunha que “o suspeito pode não estar presente, a pessoa precisa de muito mais informação para decidir e, assim, diminui drasticamente a quantidade de falsos positivos”, alerta o professor.
Amor, raiva, medo, alegria e tantas outras emoções têm um papel na criação de recordações. Uma relação íntima que também começa no processamento cerebral: o hipocampo (a estrutura inicial da memória) e o córtex (a região onde, entre outras funções, processamos as memórias de longo prazo) também são utilizados pelo sistema límbico, responsável pelas emoções.
O maior ou menor vigor das emoções faz com que o processo de codificação, retenção e recuperação seja mais ou menos eficiente. “A retenção de situações que ocorreram na presença de emoções mais intensas (agradáveis, por exemplo) poderá, nalguns casos, estar aumentada. No entanto, em determinadas situações extremas (emoções geralmente mais desagradáveis), pode ocorrer o contrário: períodos de amnésia. Este último caso acontece, por vezes, em situações-limite (cenários de guerra, violação, etc.), e pode inclusive ter um papel aparentemente protetor”, afirma o psiquiatra Diogo Telles.
Esta ligação entre emoção e memória revela-se de outras formas, mas especialmente na capacidade de recordação de detalhes. “A raiva é muito ativadora da memória e a tristeza é desativadora. Quando as emoções são muito ativadoras, recordamos os detalhes centrais e esquecemos os detalhes periféricos. É como se passasse a usar palas; processo apenas uma parte e o resto fica mais diluído”, relata Pedro Albuquerque.
Memórias têm presente e futuro
É a esta base de dados feita de experiências passadas e de emoções que vamos buscar a informação necessária para gerir situações presentes e criar cenários para pensar o futuro. Isto permite, por exemplo, que uma pessoa com medo de fazer um discurso reconheça outros episódios passados e comece a antecipar ou a preparar-se para reduzir a ansiedade.
“Tudo na vida/Se faz por recordações”, antecipou Alberto Caeiro. E, como constatam os especialistas da área, estes episódios que guardámos ao longo dos anos ajudam-nos a ficar com uma ideia de nós próprios. O melhor exemplo disso são as recordações dos mais idosos. “As pessoas com 70 e 80 anos recuperam melhor episódios entre os 18 e os 30 anos”, atesta Pedro Albuquerque. Nesse período, há eventos importantes, muitos deles que acontecem pela primeira vez. No entanto, acrescenta, “é justamente nesse momento que a nossa personalidade se define. Aquilo que sou aos 70 anos (pai, com uma profissão, etc.) dependeu, em grande parte, daquilo que vivi entre os 18 e os 30. Quando estamos a recuperar memórias nossas, a pista que temos para as recuperar é a autorreferência, é o próprio”.
São as memórias que conduzem todas as nossas escolhas e determinam o nosso futuro
Diogo Telles Correia, Médico psiquiatra, psicoterapeuta e diretor da Clínica Universitária de Psiquiatria e Psicologia Médica da FMUL
Diogo Telles clarifica a importância da memória no nosso quotidiano: “Os nossos comportamentos e atitudes no presente resultam sempre da evocação das memórias passadas. Nós somos um conjunto de memórias (conscientes e inconscientes), e são elas que conduzem e orientam todas as nossas escolhas e que determinam o nosso futuro.” Aliás, acrescenta, “é normal que tudo o que podemos projetar para o futuro tenha que ver com aquilo que retivemos do passado, com as experiências vividas e assistidas e de modificações que fazemos sobre o material que temos apreendido”.
Podemos esquecer?
O esquecimento ocorre de forma orgânica, quando há “uma lesão/ alteração visível no cérebro, por exemplo. Este pode ser o caso da demência”, explica Diogo Telles. Nos outros tipos de amnésias, “não é visível nenhuma alteração estrutural; ocorrem em situações psiquiátricas. O diagnóstico destas situações é complexo, embora a amnésia psicogénica costume ser seletiva (apenas para determinados acontecimentos que tenham uma importância específica)”.
Mais do que esquecer, para funcionarmos no quotidiano, temos de inibir memórias. Isto porque, segundo Pedro Albuquerque, “a memória é ilimitada e, provavelmente, até ao último dia das nossas vidas estaremos a processar informação”. Para se recordar algo, acrescenta, “não podem vir à memória todos os episódios relacionados com o tema”. Por essa razão, quando enfrentamos episódios traumáticos, podemos tentar esquecer. Como observa este especialista, “não significa que se esqueça realmente; o nível de ativação destas memórias vai diminuindo e em qualquer altura um episódio qualquer pode reavivá-las”.
Em situações extremas, estas memórias reprimidas podem estar ligadas a mecanismos dissociativos. “A situação é tão violenta do ponto de vista psicológico e físico que a única forma que a pessoa tem de lidar com isso é criando um ambiente que a dissocia daquele evento”, explica Pedro Albuquerque, usando como exemplo o filme A Vida é Bela, de Roberto Benigni. “O pai está com o filho no campo de concentração e transforma tudo num jogo… tem de se esconder para não ser apanhado… Uma estratégia para que o sofrimento seja, de alguma forma, diminuído”, elucida.
As minhas memórias de internamento em criança, longe de estarem reprimidas, estavam apenas escondidas, à espera do estímulo certo para me darem conforto.
Os vários tipos de memória
Para se compreender melhor a memória, é importante conhecer os diferentes tipos em que se divide. Nesse sentido, o médico psiquiatra Diogo Telles vai beber diretamente ao manual de psicopatologia que escreveu, no qual explica que “a memória permite a capacidade de fixar, conservar e rememorar informação, experiências e factos”:
► Imediata: com a duração de segundos;
► Curto prazo ou de trabalho: dura segundos a minutos;
► Remota ou a longo prazo: prolonga-se desde minutos a décadas.
Consoante as modalidades cognitivas, poderá também falar-se de memória:
► Explícita ou declarativa: centra-se habitualmente em factos e acontecimentos, e o próprio está consciente da utilização da memória;
► Semântica: não existe referência ao tempo ou ao espaço (situações de conhecimento geral, mais teóricas, por exemplo, “o mundo é redondo”);
► Episódica, biográfica ou histórica: referente a experiências do próprio (por exemplo, “hoje à tarde, comi uma sanduíche”). A memória autobiográfica corresponde a eventos da vida;
► Implícita ou de procedimento: as memórias são obtidas automaticamente e utilizadas de forma inconsciente (por exemplo, conduzir, andar de bicicleta). Refere-se a hábitos e capacidades motoras, sensoriais ou eventualmente linguísticas;
► Memória de procedimentos: competências motoras (“o saber-fazer”);
► Memória percetiva ou priming: permite identificar, por exemplo, formas e reconhecer imagens vistas anteriormente;
► Memória de condicionamento (associativa): aprendizagem através dos processos de condicionamento;
► Memória não associativa: envolvida no desenvolvimento de reflexos, habituação e sensibilização.
José Pedro Aguiar-Branco
O advogado de 67 anos, natural do Porto, PSD, foi eleito como 16.º presidente da Assembleia da República – um acordo com o PS permite que lidere o hemiciclo até meio desta legislatura. Após ter sido ministro da Justiça (2004-2005) e da Defesa (2011-2015), manteve-se distante dos palcos políticos. Visto como um homem dialogante, não se tem livrado de polémicas, principalmente as que envolvem o Chega, pela sua postura, alegadamente, demasiado tolerante. Está referenciado como um possível candidato a Belém..
Keir Starmer
Keir Starmer. Foto: Kirsty O’Connor/ No 10 Downing Street
Esteve quatro anos como líder do Partido Trabalhista, e da oposição, até conquistar o cargo de primeiro-ministro do Reino Unido, em julho, com uma esmagadora maioria nas eleições (411 dos 650 lugares na Câmara dos Comuns) – foi o primeiro trabalhista a vencer desde Tony Blair. Visto como uma figura pouco carismática, embora séria e competente, o desgaste de catorze anos de governo Conservador jogaram a seu favor, assim como os maus resultados da economia britânica e a degradação dos serviços públicos. Fez uma campanha eleitoral de promessas vagas, a descolar-se da esquerda. Nos cinco primeiros meses de governação, baixou a popularidade e não conseguiu impulsionar a economia. Questionado se faria algo diferente, Sir Keir Starmer respondeu com um categórico “não”.
Amadeu Guerra
O novo procurador-geral da República, de 69 anos, sucessor de Lucília Gago, tomou posse a 12 de outubro. No discurso inaugural, prometeu combater a corrupção e o atraso nas investigações, sublinhando a necessidade de envolver mais a Polícia Judiciária. Figura discreta, obteve resultados assinaláveis nos dois mandatos à frente do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), dedicado à criminalidade complexa, avançando com uma reorganização profunda. Passou também pela Comissão Nacional de Proteção de Dados (entre 1994 e 2006) e pela Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos (entre 2001 e 2006).
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Patrícia Sampaio
A judoca tem tido um ano em grande: nos Jogos Olímpicos de Paris, conquistou a medalha de bronze (a primeira no torneio para Portugal), na competição de menos 78 kg; neste mês, ficou em terceiro lugar no Grand Slam de Tóquio, o berço do judo. Natural de Tomar, com 25 anos, continua fiel às raízes e ao clube da terra, a Sociedade Filarmónica Gualdim Pais, onde é treinada pelo irmão, Igor Sampaio. Neste momento, ocupa o 10.º lugar do ranking mundial.
Lamine Yamal
Com apenas 17 anos, o futebolista foi uma das estrelas do último Campeonato Europeu de Futebol (aliás, começou o torneio com 16 anos, o mais novo de sempre), ao ajudar a seleção espanhola a conquistar mais um título. O prodigioso atacante, com um magnífico drible – é muitas vezes comparado com Messi –, estreou-se como jogador da equipa principal do FC Barcelona aos 15 anos, sendo o mais jovem de sempre a jogar na La Liga. Descendente de marroquinos e equatoguineenses, de origens humildes, é o orgulho do bairro Rocafonda, em Mataró, município da Catalunha.
Novos líderes parlamentares
A renovação dos líderes das bancadas do hemiciclo foi profunda: Paulo Núncio no CDS; Alexandra Leitão no PS; Hugo Soares no PSD; Fabian Figueiredo no BE; Mariana Leitão na IL; e Isabel Mendes Lopes no Livre. Alguns são mais experientes na política (e já ocuparam, inclusive, cargos governativos), como Paulo Núncio, Alexandra Leitão e Hugo Soares. Outros saem da sombra dos gabinetes parlamentares, como Mariana Leitão, Fabian Figueiredo e Isabel Mendes Lopes. Apenas Paula Santos e Pedro Pinto se mantêm como líderes parlamentares, respetivamente, do PCP e do Chega.
André Villas-Boas
Andre Villas-Boas. Foto: Manuel Fernando Araújo/Lusa
Tomou posse a 7 de maio como presidente da SAD do Futebol Clube do Porto (FCP), após uma vitória avassaladora nas urnas, com 80,25% dos votos. Com 47 anos, o antigo treinador do emblema do dragão – na temporada 2011/2011, conquistou uma Supertaça Cândido de Oliveira, um Campeonato Nacional, uma Liga Europa e uma Taça de Portugal – assentou a sua campanha num discurso de contas certas, decisivas para ultrapassar os graves problemas financeiros do FCP. “Se não tivéssemos sido eleitos, penso que o clube teria sido vendido a um fundo norte-americano dentro de um ou dois anos, no máximo”, afirmou na semana passada, em entrevista ao jornal francês L’Équipe. “Havia oito mil euros na conta à ordem” do clube, acrescentou o novo líder portista.
Nuno Borges
Este ano, o número um do ténis português, natural da Maia, conseguiu entrar no top 30 mundial. Foi apenas o segundo tenista português a alcançar o feito (o primeiro foi João Sousa, que chegou ao 27.º lugar, e este ano abandonou as competições). Em setembro, Nuno Borges ocupava o 30.º posto da hierarquia. Para isso, contribuiu o facto de ter chegado aos oitavos de final em dois torneios do Grand Slam: o Open da Austrália e o Open dos Estados Unidos.