O artigo 9° da Constituição da República Portuguesa diz que “são tarefas do Estado(…) f) Assegurar o ensino e a valorização permanente, defender o uso e promover a difusão internacional da língua portuguesa”.

Esta alínea é, não poucas vezes, citada para defender a rigidez conservadora que ainda prima na língua portuguesa.

Ora pois bem, proteger a língua não é condená-la ao conservadorismo linguístico, nem à irrelevância. É saber que num mundo globalizado qualquer língua será influenciada pelos filmes, pela música, pela emigração, pelos memes, pela internet.

O português de Camões não é o nosso: o nosso português é do mundo, é pop, é também da internet e dos jovens.

A própria forma de comunicar dos nossos políticos é anacrónica. Os grandes partidos portugueses do arco governativo ainda usam a linguagem do século XX, mesmo quando tentam abraçar temas do âmbito digital, como a inteligência artificial, as redes sociais, a desinformação e fake news. É isto também um reflexo de como se fala na nossa nação.

Nos últimos tempos, têm saído várias notícias que reportam o descontentamento de alguns pais por verem que os seus filhos estão a falar, cada vez mais, em português do Brasil. A crítica é legítima, cada família saberá o que acha melhor para os seus mais novos. Porém, as famílias têm um grande papel na aquisição da língua. Se uma criança está a falar português do Brasil é porque está a ser exposta a isso mesmo. Porventura, as horas excessivas no TikTok e no YouTube – algo que os pais devem controlar, é da sua responsabilidade – são uma causa deste “problema”. Ocupar os pequenotes com este tipo de conteúdos para não chatearem talvez seja má solução para pais que não valorizam a riqueza do português.

Para além disso, estranho seria se o país com mais falantes da língua portuguesa não influenciasse Portugal.

Se há país, neste momento, que defende a língua portuguesa com unhas e dentes, é o Brasil. A forma como integra expressões de outras línguas, como inventa novas palavras, como está presente nas redes sociais…

E se, em vez de se criticar o português do Brasil por evoluir, Portugal fizesse o mesmo e abraçasse o português do mundo atual, um português que sim, tem uma história riquíssima, mas que tem de dar o próximo passo, ou então corre o risco de morrer. O complexo colonialista de Portugal pode ser a morte a morte da língua. A defesa de uma língua portuguesa que já não existe não passa de uma tentativa mesquinha de glorificar um passado inventado.

Nós, portugueses, que tão bem conhecidos somos pela facilidade em aprender novas línguas, arriscamo-nos a matar a nossa por puro medo de um progresso que é natural, imposto apenas pelos tempos.

Somos dois países, uma língua. Aproveitemos a diversidade do português do Brasil. Só assim conseguimos cumprir a Constituição na defesa do português.

MAIS ARTIGOS DESTE AUTOR

+ O Sol de Karlsson

+ Mickey 17: biopolítica e capitalismo

+O que nos diz a cidade de Lisboa?

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Palavras-chave:

O recente embate entre as seleções nacionais de futebol de Portugal e da Dinamarca, a contar para os quartos de final da Liga das Nações, saldou-se numa expressiva vitória por 5 a 2 (ficando 5 a 3 no combinado das duas mãos).

Apesar de sofrida – Portugal só conseguiu a vitória no prolongamento e só garantiu o prolongamento quase no final do tempo regulamentar – a vitória de Portugal é demonstrativa da supremacia futebolística de Portugal face à Dinamarca: Portugal ocupa o 7º lugar no ranking UEFA de seleções masculinas, enquanto a Dinamarca ocupa o 16º e, com a passagem à “final four” da Liga das Nações, Portugal surge como uma das quatro melhores seleções da Europa da atualidade (conjuntamente com a Alemanha, a França e a Espanha).

Esta posição de destaque, ao nível europeu e mundial, que Portugal vem evidenciando no futebol de seleções tem poucos pares: nem nos outros desportos (excetuando o hóquei em patins), nem na economia, nem na ciência, nem na felicidade.

A questão da felicidade é crítica. O mais recente relatório mundial da felicidade – o World Happiness Report 2025 que sintetiza os dados de 2022 a 2024 – ilustra bem este contraste: Portugal, numa lista de 147 países, surge na posição 60 ao nível da felicidade (uma quebra de 5 posições face ao relatório de 2024). A comparação com a Dinamarca é cruel: é que a Dinamarca surge na 2ª posição. Na felicidade, os goleados somos nós.

Mas importa olhar com um pouco mais de detalhe e tentar perceber, nesse relatório, o que explica tamanha diferença.

Alguns atirarão, a correr, que é diferença no PIB dos dois países, a favorecer a Dinamarca, a principal causa. O relatório não suporta essa hipótese.

As dimensões que o relatório aponta como principais elementos explicativos da felicidade são: suporte social; PIB per capita; esperança de vida saudável; liberdade; generosidade; perceções de corrupção. De todas estas dimensões (excetuando a esperança de vida saudável, cujos dados não surgem nas tabelas de 2024), é no PIB pc que estamos numa posição mais aproximada: Portugal no lugar 32, Dinamarca no lugar 5 (27 posições de diferença). É nas outras dimensões que as distâncias aumentam: Suporte social, Portugal no lugar 51, Dinamarca no lugar 4 (47 posições de diferença); Liberdade, Portugal no lugar 40, Dinamarca no lugar 10 (30 posições de diferença); Generosidade, Portugal no lugar 111, Dinamarca no lugar 31 (80 posições de diferença); Perceções de corrupção, Portugal no lugar 122, Dinamarca no lugar 4 (118 posições de diferença!).

As ilações são claras: há muito que fazer em Portugal para se melhorar a felicidade, independentemente do que aconteça ao nosso PIB: baixar a percepção de corrupção, aumentar a generosidade, aumentar o suporte social e melhorar a sensação de liberdade serão elementos decisivos se nos quisermos aproximar dos melhores exemplos mundiais como a Dinamarca. E não será com as vitórias nos jogos de futebol que vamos conseguir ganhar o campeonato da felicidade.

OUTROS ARTIGOS DESTE AUTOR

+ Felicidade: a perceção fundamental

+ 8h de trabalho, 8h de descanso e 8h de lazer?

+ A alta performance é incompatível com a carga excessiva

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Vivemos na era da hiperconectividade, onde a informação (não confundir com conhecimento) nunca dorme e as nossas mentes tampouco. A avalanche de notícias, a pressão das redes sociais e a cultura da urgência de estar online minam silenciosamente a nossa resiliência emocional. O resultado? Um cansaço digital que exaure e desafia a capacidade de regular emoções, tomar decisões conscientes e manter uma saúde mental equilibrada.

Este fenómeno surge relacionado com o paradoxo da conectividade: nunca estivemos tão conectados e, ao mesmo tempo, tão isolados (uns dos outros e do mundo). A tecnologia e, em particular, as redes sociais proporcionam-nos interações instantâneas, acesso ilimitado a informação e a oportunidades de estarmos em rede em qualquer lugar e a qualquer hora. No entanto, esta mesma conectividade pode levar à sobrecarga cognitiva, à superficialidade nos vínculos interpessoais e à ansiedade gerada pela necessidade constante de estar online e atualizado. Não é um facto que a primeira coisa que fazemos quando acordamos é consultar o telemóvel?!

Um dos sintomas mais evidentes deste excesso de informação é o doomscrolling – o hábito de consumir notícias negativas de forma excessivamente continuada. A cada movimento infinito do polegar, alimentamos a nossa fadiga emocional, o que nos acarreta um sentimento de impotência diante do caos do mundo. Além disso, a fadiga de empatia – resultado da exposição constante a crises globais, conflitos e injustiças – deixa-nos emocionalmente esgotados, reduzindo a nossa capacidade de lidar tanto com desafios pessoais, como sociais.

Quer queiramos quer não, este cenário entra-nos casa adentro e afeta diferentes grupos sociais, sendo que os jovens representam um exemplo complexo e alarmante. Os adolescentes e jovens de hoje cresceram na era do WWW e, em consequência, enfrentam desafios emocionais preocupantes. Embora demonstrem compromisso e consciência sobre temas como direitos humanos, diversidade e sustentabilidade, também lidam com a pressão constante de re-agir num mundo digitalizado, onde a comparação social e a procura por aceitação e validação online podem minar a sua autoestima. Além disso, será essa consciência, efetivamente, consciente? Ou uma moda em que se não fizer parte dela, não faz parte de nada?!

No ambiente de trabalho, a cultura do “sempre disponível” agrava ainda mais este intricado cenário. Os novos modelos de trabalho como o home office, as notificações incessantes e a pressão por produtividade e alta performance dissolvem as fronteiras entre vida profissional e pessoal (o tão aclamado work-life balance). Esta disponibilidade sobre-humana é uma fonte geradora de exaustão e dificulta a desconexão necessária para preservar o equilíbrio do nosso software interno, que faz de nós seres humanos.

Para navegar neste mundo altamente dependente das redes, sem sucumbir ao cansaço digital, a inteligência emocional torna-se uma aliada essencial nos nossos frenéticos dia-a-dias. Por exemplo, o desenvolvimento da autoconsciência permite-nos identificar quando a exposição digital pode estar a afetar o nosso bem-estar; por conseguinte, praticar a regulação emocional ajuda-nos a estabelecer limites saudáveis – criar espaços livres de telas, reduzir o consumo de notícias negativas e priorizar interações significativas são estratégias fundamentais.

Claro está que o desafio que se coloca não é rejeitar a tecnologia, mas aprender a usá-la de forma consciente e a favor do nosso desenvolvimento pessoal e emocional. Ao equilibrarmos certas dualidades antagónicas, como “conexão e desconexão”, “urgência e pausa”, “dedicação e descanso”, podemos construir uma relação mais saudável com o mundo digital e, ao mesmo tempo, fortalecer a nossa resiliência emocional.

OUTROS ARTIGOS DESTE AUTOR

+ Ser emocionalmente inteligente na era da inteligência artificial

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Palavras-chave:

Embora os primeiros anos de vida sejam feitos de grandes aprendizagens, o ser humano acaba por perder todas as recordações desta fase da sua vida à medida que cresce. Há décadas que diversas investigações procuram explicar o motivo para este esquecimento e, durante muito tempo, a Ciência acreditava que as memórias dos primeiros dois anos de um bebé não ficam registadas no cérebro porque o hipocampo – a parte do cérebro associada às emoções, memória e sistema nervoso autónomo – ainda não está completamente desenvolvido nesta idade e não tem a capacidade de codificar memórias.

No entanto, uma nova investigação científica, publicada na revista Science, sugere outra explicação. O recente estudo, desenvolvido por uma equipa de investigadores afetos à Universidade de Yale, concluiu que os bebés são capazes de codificar memórias específicas e que uma espécie de “amnésia infantil” pode ser, na verdade, o problema.

Para o estudo foram observados 26 bebés – com idades entre os 4,2 e os 24,9 meses -, divididos em dois grupos etários: os que tinham menos de 12 meses e os que tinham entre 12 e 24 meses. De forma a captar e registar a atividade no hipocampo dos bebés – e com recurso a ressonâncias magnéticas – os investigadores mostraram às crianças uma série de imagens de rostos e objetos. Passado algum tempo, os investigadores voltaram a mostrar a mesma imagem à criança e observaram se a mesma exibia algum sinal de reconhecimento ao que lhe estava a ser mostrado. “O hipocampo é uma estrutura cerebral profunda que não é visível através dos métodos habituais, pelo que tivemos de desenvolver uma nova abordagem para realizar experiências de memória com bebés dentro de uma máquina de ressonância magnética”, explica Nick Turk-Browne, principal autor do estudo.

Com esta experiência, os investigadores procuraram compreender se a atividade do hipocampo estava relacionada com a construção da memória dos bebés da amostra. De acordo com os resultados, quanto mais ativo estivesse o hipocampo da criança ao ver uma imagem pela primeira vez, mais provável era o reconhecimento dessa imagem – indicadores que levaram os especialistas a acreditar que as memórias podem ser codificadas nos primeiros anos de vida. Para além disso, o hipocampo esteve mais ativo nas crianças do grupo de faixa etária mais velha. “O cérebro do bebé sofre muitas alterações percetivas, linguísticas, motoras, biológicas e outras por esta altura, incluindo o rápido crescimento anatómico do hipocampo”, afirmou Turk-Browne.

Os menores foram ainda expostos a imagens, lado a lado, de algo que lhes era familiar e algo novo – por exemplo, fotografias de um familiar e um desconhecido – e foram observados os seus movimentos oculares de forma a perceber em que imagem se focaram mais tempo. “Quando os bebés já viram uma coisa uma vez, esperamos que olhem mais para ela quando a veem novamente”, disse Turk-Browne. “Por isso, nesta tarefa, se um bebé olhar mais para a imagem vista anteriormente do que para a nova imagem ao lado, isso pode ser interpretado como o facto de o bebé a reconhecer como familiar”.

Mas, se as memórias são codificadas mais cedo do que se pensava, o que leva a que nos esqueçamos delas?

De acordo com os investigadores, existem dois tipos de memórias que utilizam diferentes vias neuronais no hipocampo: a aprendizagem estatística – relacionada com o reconhecimento de padrões e que surge primeiro – e a memória episódica – que lida com eventos específicos. “A aprendizagem estatística consiste em extrair a estrutura do mundo que nos rodeia”, referiu o autor do estudo. “Isto é fundamental para o desenvolvimento da linguagem, da visão, dos conceitos e muito mais. Por isso, é compreensível que a aprendizagem estatística possa surgir mais cedo do que a memória episódica”, acrescentou. Então porque é que estas aprendizagens são esquecidas?

De acordo com os investigadores, existem algumas possibilidades para responder a esta questão. Primeiramente, as memórias podem não ser convertidas em armazenamento a longo prazo e, assim, não duram muito tempo. Outra teoria sugere que as memórias construídas nesta época continuam a existir muito tempo depois da sua codificação embora não seja possível acendê-las.

A equipa da Universidade de Yale está agora a analisar se os bebés, crianças pequenas e crianças mais velhas conseguem lembrar-se de momentos gravados através de vídeos caseiros enquanto eram bebés. Os resultados desta investigação mostram que estas memórias podem persistir até à idade pré-escolar antes de desaparecerem. “Estamos a trabalhar no sentido de acompanhar a durabilidade das memórias do hipocampo ao longo da infância e até a começar a considerar a possibilidade radical, quase de ficção científica, de que possam perdurar de alguma forma na idade adulta, apesar de serem inacessíveis”, explicou. 

Palavras-chave:

Portugal volta ao pesadelo vivido pelos navegadores quando se encontraram no cabo das tormentas. À medida que os anos avançam, os bancos e seguradoras do País veem-se encruzilhados entre a tradição e a inovação, lutando para manobrar o poder transformador da tecnologia de marketing (MarTech) num mundo maioritariamente digital.

Ao entrarmos em 2025, o setor financeiro global está a testemunhar uma onda sem precedentes na adoção de MarTech. Inteligência Artificial (IA), machine learning e análise de dados já não são conceitos futuristas, mas ferramentas essenciais para a sobrevivência e crescimento do mercado. As instituições financeiras portuguesas, no entanto, encontram-se em diferentes estágios desta transformação digital. Enquanto os grandes bancos avançam a passos largos na adoção de MarTech, as instituições mais pequenas e muitas seguradoras lutam para acompanhar o ritmo. Esta disparidade está a criar um setor financeiro a duas velocidades que poderá ter implicações a longo prazo no panorama económico nacional, como se tivéssemos metade do País a navegar em caravelas e a outra metade em submarinos nucleares. Estes silos aumentam, em grande parte, pela falta de conhecimento do mercado, das experiência dos clientes e sobretudo das necessidades de adaptação com criação de novos serviços e da melhoria da operação, tornando os processos mais ágeis. 

Não podemos ser naifs e não afirmar que a jornada em direção à adoção de MarTech no setor financeiro português está repleta de desafios. Basta conhecer minimamente o setor para saber que a confusa infraestrutura de IT é praticamente uma marca registada da maioria dos bancos a operar em Portugal. Este tópico representa um obstáculo significativo, pois sistemas obsoletos, profundamente enraizados nas operações diárias, resistem à integração de soluções MarTech modernas, criando uma inércia tecnológica difícil de superar. É como se tentássemos instalar um motor de um cruzeiro num barco à vela – pode parecer uma ideia brilhante, mas a execução é, no mínimo, complicada e improdutiva.

Além disso, o panorama demográfico único de Portugal apresenta um paradoxo para os profissionais de MarTech. Por um lado, uma corrente crescente de millennials tecnologicamente experientes que exigem experiências digitais perfeitas e serviços personalizados. Por outro, uma parte significativa da população, particularmente nas áreas rurais, permanece desconfiada da banca digital, preferindo interações tradicionais cara a cara. No entanto, este fator, na minha opinião deve ser visto como uma oportunidade e não uma ameaça.

O ambiente regulatório em Portugal adiciona outra camada de complexidade. Enquanto a implementação da PSD2 abriu portas para a banca aberta e inovação fintech, a ausência de uma sandbox regulatória abrandou o ritmo para adoção de soluções MarTech. Os reguladores do País têm como prioridade a estabilidade financeira e a proteção do consumidor, pelo que adotaram uma abordagem cautelosa à inovação digital, criando inadvertidamente um panorama MarTech mais conservador em comparação com alguns dos homólogos europeus de Portugal. É como se estivéssemos a tentar navegar num oceano digital com um mapa desenhado por Ptolomeu. Claro que este cenário permite a qualquer fintech, seja uma startup ou scaleup ganhar terreno aos colossos mas tradicionais bancos nacionais.

Talvez em nenhum outro mercado uma visão de MarTech seja tão impactante como no contraste entre os gigantes bancários de Portugal e os seus homólogos mais pequenos. Grandes instituições estão a investir fortemente na transformação digital, lançando chatbots alimentados por IA, plataformas avançadas de análise de dados e soluções bancárias mobile-first. Estes bancos estão a aproveitar o seu músculo financeiro para se manterem competitivos num mercado cada vez mais digital. Em contrapartida, bancos menores encontram-se numa encruzilhada. Limitados por orçamentos mais apertados e equipas de TI mais pequenas, estas instituições lutam para igualar os investimentos em MarTech dos seus rivais de maior dimensão. O risco é claro: à medida que as expetativas dos clientes evoluem, num panorama bancário digital-first, estes bancos mais pequenos podem tornar-se cada vez mais irrelevantes. Esta disparidade levanta questões importantes sobre o futuro do setor bancário português. Veremos uma onda de consolidação à medida que os bancos mais pequenos, incapazes de acompanhar a revolução MarTech, se tornam alvos de aquisição? Ou surgirão players de nicho, aproveitando soluções MarTech direcionadas para criar segmentos de mercado especializados?

Enquanto as atenções têm estado focadas na banca, o setor segurador português está a passar pela sua própria revolução MarTech. Tradicionalmente mais lentas na adoção de tecnologias digitais, as seguradoras estão agora a reconhecer o potencial transformador do MarTech em áreas como aquisição de clientes, avaliação de riscos e processamento de sinistros. A IA e o machine learning estão a revolucionar os processos de subscrição, permitindo avaliações de risco mais precisas e modelos de preços personalizados. As startups insurtech estão a desafiar os players estabelecidos, oferecendo produtos de seguros on-demand e aproveitando dispositivos IoT para apólices baseadas no uso. No entanto, tal como os seus homólogos bancários, muitas seguradoras portuguesas estão a lutar com sistemas antiquados e multifacetados devido às aquisições e falta de visão para uma arquitetura de sistemas e agilização de processos. Este ambiente é fértil à resistência à mudança e à desinformação devido à irregularidade de dados, falta de capacidade de correlação e em muitos casos à baixa qualidade dos mesmos. Quase podemos assumir que este duelo se compara ao de Davi contra o gigante Golias, onde só através do foco, do conhecimento e do empenho é possível evoluir para um sistema melhor e mais capaz.

No coração da revolução MarTech estão os dados – o novo ouro da era digital. As instituições financeiras portuguesas sentam-se em cima de caixas fortes cheias de ouro, ou seja, de dados de clientes, uma mina para as relações personalizadas e desenvolvimento de novos produtos. No entanto, o uso destes dados representa desafios técnicos e éticos. Muitas instituições lutam com silos de dados, onde informações valiosas dos clientes estão dispersas por diferentes sistemas e departamentos. Criar uma visão unificada do cliente, essencial para estratégias MarTech eficazes, requer um investimento significativo em plataformas de integração e análise de dados. Hoje, em muitas empresas, quase que cada departamento tem uma parte do mapa para chegar ao tesouro, mas ninguém consegue juntar todas as peças. Para mim é muito claro que a adoção de MarTech é um dos principais fatores diferenciadores para o setor financeiro português. As instituições que aproveitarem com sucesso esta abordagem vão estar posicionadas para prosperar num panorama cada vez mais competitivo. Até porque, qualquer nova entrada no mercado já terá por base uma visão totalmente digital e ágil, ou seja, este tem de ser o status quo e não uma side quest nos planos de desenvolvimento arquivados numa apresentação. Atenção que, com isto, não podemos assumir que basta somente ter o tema em conta, o ritmo da mudança tecnológica é implacável, e as soluções MarTech de hoje podem rapidamente tornar-se o sistema obsoleto de amanhã. As instituições têm de encarar a inovação contínua e a cultura de experimentação digital como um valor basilar das suas marcas.

A revolução MarTech oferece oportunidades sem precedentes para aproximar o cliente das instituições, com eficiência operacional e inovação dos produtos. No entanto, para alcançar estes benefícios há que superar desafios significativos – arquitetura de informação e de sistemas, uma visão estratégica tecnológica, trabalhar usando os regulamentos e liderar o combate à resistência à mudança através de literacia e resultados. Não é apenas uma mudança tecnológica, é uma reimaginação fundamental da relação entre as instituições financeiras e os clientes. O futuro das finanças é o digital, e o MarTech é a chave para desbloquear esse futuro. É hora de Portugal embarcar numa nova era de Descobrimentos – não por mar, mas com dados e tecnologia!

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

A notícia da morte de Han Jong-Hee abalou a gigante tecnológica sul-coreana, onde Han desempenhava um papel fundamental desde 2022, supervisionando as divisões de eletrónica de consumo e dispositivos móveis.

Nascido em 1962, Han Jong-Hee construiu uma carreira de mais de 37 anos na Samsung, ingressando na empresa em 1988 após concluir a sua licenciatura em engenharia elétrica pela Universidade de Inha. A trajetória deste executivo foi marcada por contribuições significativas, especialmente no desenvolvimento da divisão de televisões da Samsung, que sob a sua liderança, alcançou reconhecimento global.

Em 2022, Han foi nomeado vice-presidente e co-CEO da Samsung Electronics, solidificando o seu papel na liderança da empresa. A sua experiência e visão estratégica foram reconhecidas pela Samsung em comunicado interno, onde a empresa expressou as suas condolências à família e recordou o seu legado de inovação.

Com o falecimento de Han Jong-Hee, Jun Young-Hyun, que liderava a divisão de semicondutores, assumirá a liderança única da Samsung Electronics.

Palavras-chave:

Sempre que há eleições regionais na Madeira, mais cedo ou mais tarde ouvimos dizer: “Não se podem fazer leituras nacionais, não se podem extrapolar os resultados para o contexto nacional…”. Numa região autónoma onde, na prática, não tem havido alternância democrática em 50 anos de democracia, com o PSD sempre no poder, há sempre um fundo de verdade óbvia nessa observação.
Mas desta vez é um pouco diferente… Quando estas eleições regionais foram marcadas ninguém imaginava que aconteceriam menos de dois meses antes de novas eleições legislativas em Portugal. Só esse acaso, na montanha russa em que se transformou a politica nacional, convida a leituras nacionais e, sobretudo, a que os líderes políticos tentem capitalizar ganhos e relativizar perdas.
E há algumas semelhanças nestas duas eleições. Ambas foram antecipadas e funcionam como uma espécie de plebiscito sobre o governante em funções. Miguel Albuquerque é arguido e suspeito da prática de vários crimes graves(incluindo corrupção ativa e passiva e abuso de poder) e o seu governo caiu na sequência de uma moção de censura. Luís Montenegro não é arguido mas enredou-se numa teia de respostas a conta-gotas, ou falta de respostas, quanto a suspeitas relacionadas com a empresa familiar Spinumviva (incluindo o recebimento mensal de uma avença da empresa de casinos Solverde). O seu governo caiu na sequência de uma moção de confiança.
Ora, Miguel Albuquerque conseguiu a sua maior vitória desde que é líder do PSD-Madeira

Este artigo é exclusivo para assinantes. Clique aqui para continuar a ler

As autoridades brasileiras repatriaram de Portugal um bebé de um ano e quatro meses que foi vítima de uma rede internacional de tráfico de seres humanos pouco depois de nascer, anunciou na segunda-feira a Polícia Federal do Brasil.

Em comunicado, as autoridades explicam que “o resgate e a repatriação do bebé brasileiro, hoje com 1 ano e 4 meses, ocorreram em virtude da ação de diferentes órgãos públicos e entidades privadas nos dois países”.

A ação faz parte de uma investigação da Polícia Federal brasileira que, no final de 2023, descobriu uma rede dedicada ao “tráfico internacional de recém-nascidos” para a Europa no interior do estado de São Paulo, na cidade de Campinas.

Segundo a Lusa, a investigação teve início no dia 30 de novembro de 2023 após uma denúncia junto do Ministério Público brasileiro de que um bebé recém-nascido na cidade de Valinhos, no estado de São Paulo, tinha sido abandonado pela mãe e registado como filho de um homem de nacionalidade portuguesa.

Na ocasião, em declarações à Lusa, a Polícia Federal do Brasil confirmou que um cidadão português tinha sido colocado em prisão preventiva por suspeita de tráfico internacional.

“O trabalho conjunto da Polícia Federal com a Polícia Judiciária de Portugal, ainda naquele ano, permitiu uma ação humanizada ao bebé, que já havia saído do Brasil e já se encontrava no país europeu, tendo sido encaminhado com o devido cuidado pelos órgãos de Assistência Social de Portugal para família acolhedora no local”, detalharam as autoridades.

O bebé permaneceu em Portugal até se confirmar que efetivamente não se tratava de criança portuguesa, já que os registos de nascimento tinham sido falsificados.

De acordo com a Polícia Federal brasileira, “após confirmada a nacionalidade brasileira do bebé, foi expedida ordem judicial portuguesa, que reconheceu a necessidade de repatriação para o Brasil”.

Na sua chegada ao Brasil, o bebé foi entregue aos cuidados de uma instituição local.

As negociações entre as autoridades norte-americanas e russas sobre o conflito na Ucrânia terminaram na segunda-feira à noite, após mais de 12 horas, segundo a agência a agência de notícias Tass.

Os meios de comunicação russos avançam que Moscovo e Washington concordaram com o conteúdo de uma declaração conjunta, mas os resultados das negociações só serão anunciados esta terça-feira.

A declaração será divulgada na terça-feira pela Casa Branca e pelo Kremlin, segundo a Tass, que cita uma fonte da delegação russa.

Ao longo da reunião, os negociadores fizeram três pausas para descansar ou realizar consultas com as respetivas capitais, de acordo com fontes próximas da delegação russa.

O diplomata russo Grigory Karasin, que liderou a equipa russa nas negociações, manifestou otimismo sobre o progresso das negociações, embora não tenha mencionado as questões que estavam a ser discutidas. “As negociações estão a todo o vapor. Está a decorrer uma discussão interessante sobre as questões mais urgentes”, destacou o diplomata, à agência de notícias Interfax, salientando, contudo, que “nem toda a negociação termina necessariamente com algum tipo de documento ou acordo de longo alcance”.

O Kremlin afirmou na segunda-feira que a prioridade da Rússia nas negociações é a segurança da navegação no mar Negro, embora os EUA tenham insistido nos últimos dias em estabelecer as bases para um cessar-fogo em Riade. Também o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou que Moscovo não planeia assinar qualquer documento no final das negociações com os Estados Unidos na capital saudita.

“Não. Não está previsto assinar nenhum documento”, garantiu Peskov horas antes do fim das negociações.

Responsáveis pela segurança nacional, incluindo o secretário da Defesa da Trump, enviaram por mensagem os planos de guerra para os próximos ataques militares no Iémen, numa conversa de grupo numa aplicação de mensagens segura. Só que o grupo incluía o editor-chefe da The Atlantic, conforme revelou a revista num artigo publicado esta segunda-feira. O Conselho de Segurança Nacional já disse que a cadeia de texto “parece ser autêntica”.

Duas horas e meia depois de a notícia ter sido publicada, Trump disse aos jornalistas que não tinha conhecimento de que a informação sensível tinha sido partilhada.

A mensagem “continha pormenores operacionais de ataques futuros aos rebeldes hutis apoiados pelo Irão no Iémen, incluindo informações sobre alvos, armas que os EUA iriam utilizar e sequência de ataques”, segundo o editor-chefe da The Atlantic, Jeffrey Goldberg.

De acordo com a Associated Press, ainda não é claro se os pormenores da operação militar eram confidenciais, mas trata-se, garantidamente, de informação sensível.

Os hutis estão na mira dos EUA desde que o grupo começou a atacar navios comerciais e militares no Mar Vermelho em novembro de 2023.