A nova tarifa corresponde à taxa da tarifa “recíproca” dos EUA imposta pelo Presidente Donald Trump esta semana.

O Ministério do Comércio em Pequim disse também, em comunicado citado pela AP, que vai impor mais controlos de exportação de terras raras, que são materiais utilizados em produtos de alta tecnologia, como semicondutores e baterias de veículos elétricos.

A tarifa de 34% anunciada por Pequim soma-se aos 20% já em vigor, elevando o total para 54 por cento.

Sábado passado fui à Caminhada pela Vida. E é importante começar assim: “fui”. Porque neste tema, o simples acto de estar já compromete, já queima, já classifica. E fui sabendo que aquilo é uma derrota com pernas. Começa logo no nome. “Caminhada.” Como quem vai ao pão. Como quem vai ali e volta já. Uma tentativa delicada, quase feminina, de não ferir ninguém com demasiada convicção. De não dizer “Marcha!”. Mas o que está em causa é precisamente isso: a convicção. Ou a falta dela.

Há muitos anos, colei cartazes, tive conversas difíceis, aborreceram-me — e, francamente, não era ali que escolheria estar numa tarde ensolarada de Sábado. Mas lá fui. Por obstinação. Por fidelidade. Mas sobretudo porque o meu amigo Filipe Costa Almeida — que se esquece de tudo menos disto — me avisou uma hora antes. Não é extraordinário? Soube uma hora antes. E sou, imagine-se, um católico informado.

Talvez essa falta de informação justifique o número: 145 pessoas e um mártir de fato e gravata — Paulo Lopes Marcelo, o secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros que espero não comprometer com esta crónica. 145: número suficiente para encher uma tenda de casamento. Um casamento tragicamente beto (até porque, hoje, ainda há quem se case).

É que esta é, talvez, a manifestação mais socialmente marcada de Lisboa. E, ainda assim, pouco tem de elitista. Há ali um tipo de beto muito específico: o beto-errado — para mim, o melhor tipo de beto e o único que eu quero ser. Quem lá está não são os da Comporta, nem os que jantam com cardeais por desporto. Esses têm outros fóruns — mais discretos, com melhor iluminação. Os que ali estavam eram outros. Uns
remediados que, se a vida nos corresse melhor, talvez ali não estivéssemos. Éramos os endividados com os filhos em colégios católicos e aquecidos com os casacos encerados herdados das primas – contei quatro iguais ao meu.

Gente deslocada, mas no sítio certo.

O mal-estar era geral. Houve até pessoas que, na mais abjecta pusilanimidade, atravessaram a rua para não terem de cumprimentar um conhecido. Há medo do tema, sim. Mas há sobretudo medo da companhia. Medo de serem confundidos. Com quem? Com os que rezam alto demais, com músicos já fora de moda, com professores celibatários, com os irmãos exagerados que preferem esconder. A vergonha é transversal e é democrática. Até uma senhora de um movimento religioso pedia aos de um outro que se calassem. Ninguém sabe muito bem qual é o tom certo. Poucos sabem escutar. Quase ninguém quer parecer demasiado entusiasta. Mas, ainda assim, lá estão. E isso vale qualquer hesitação.

Do outro lado, dois civilizadíssimos cavalheiros vestidos de linho e panamá comentavam com resignação: “Isto é mais do que uma questão religiosa. Isto é uma questão civilizacional. É uma coisa humanista.”

Havia também famílias. Muitas. Numerosas. Daquelas que hoje se olham com desconfiança. Mas estavam ali com uma serenidade difícil de classificar. Nem entusiasmo, nem vergonha. Apenas presença.

Talvez por isso só as crianças estejam realmente bem. As crianças e os pré-adolescentes. Esses ainda vão com aquela fé sem mancha que o mundo se encarregará de lhes roubar com o tempo. Os familiares mais velhos já não aparecem. Já perceberam que é mais seguro ficar em casa.

Já se repetiu muitas vezes. E o tempo passa. Mas a injustiça não: continua a ser cruel destruir uma vida quando, protegida, se desenvolve. A grande velocidade. Uma vida inocente. Que um dia todos fomos.

E eis que o aborto se tornou no grande interdito. A questão que ninguém quer tocar. O menos sensual dos temas, por ser aquele que estraga a sensualidade. E esta é a questão que me parece fundamental: porque é que este tema provoca tanta aversão? Por isto: há uma espécie de dogma sensual que todos interiorizámos e nos prende a alma.

E quem foge são, sobretudo, os católicos; os que há 20 anos ali estariam, ali estiveram. Fogem por pudor, por cansaço, por não saberem já como lidar. Porque, ao ser defendido, o tema obriga a olhar para a vida inteira. Posso exprimir-me em público contra o aborto e ser a favor da fornicação? Difícil. A organização vital das pessoas não está pensada para isso. Ser pelo aborto é ser pela fornicação e por um modelo de vida desconforme com a gramática dominante. E isso, para a burguesia, é imperdoável.

Hoje tudo tem de ser sexy. As causas têm de ser sexy. A ecologia é sexy. A Ucrânia é sexy. O aborto não. O aborto é o mais anti-sexo que existe: por destruição simbólica. Porque o aborto é corpóreo. É grotesco, suja, tem cheiro. Envolve sangue, sofrimento, consequência. O aborto vem dizer que o prazer não é um fogo-fátuo que desaparece por si só. Que há um depois. Que o sexo pode matar. E ninguém sabe lidar com isto. Dá um péssimo tote bag.

É o velho pudor burguês que Barthes descreveu. Não falamos das coisas. Do sexo, do dinheiro, do corpo. E o aborto faz bingo. Um tema que não pode ser discutido sem nos sujarmos.

No entanto, é exactamente por isso que vale a pena. Pela lama. Pela ausência de estilo. Porque não há estratégia. Não há esperança política. Mas há teimosia. E há fidelidade. E, de vez em quando, há a Graça. Ali, no meio daquela nossa coligação de desajeitados — pais e filhos, crentes anacrónicos.

A Graça nem sempre cheira a incenso. Muitas vezes cheira a gente. E talvez — pelo menos em Lisboa — seja essa a cruz desta luta: os bem-nascidos, mesmo sem brilho ou proveito, a defenderem os que, mal ou bem, ainda não nasceram.

Manuel Fúria é músico e vive em Lisboa.
Manuel Barbosa de Matos é o seu verdadeiro nome.

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Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Palavras-chave:

Às vezes, o silêncio no elevador diz mais sobre o mundo em que vivemos do que qualquer conversa.

Já percebeu como há dias em que parece mais fácil escrever um e-mail ao chefe do que manter uma conversa de 30 segundos no elevador? Como se a simples troca de um “bom dia” pudesse desencadear uma pequena crise interna?

Estamos ali, no mesmo espaço fechado com alguém que se conhece vagamente – até sabe que mora no 3º, mas nunca tem a certeza se é o esquerdo ou o direito. O silêncio instala-se. Um de nós sorri. O outro finge ler o visor do andar. E, quando a porta abre, saímos com um leve alívio… e a sensação estranha de que devia ter dito qualquer coisa.

Estas pequenas situações sociais – conversar no elevador, cruzar-se com um ex-colega no supermercado, escolher onde se sentar num café quase cheio – podem parecer banais. Mas, para muitas pessoas, são verdadeiros testes emocionais. Não é vergonha. É o cérebro em modo “ameaça social”. O desconforto em interações pequenas não é fraqueza, é biologia.

O nosso sistema nervoso, responsável por nos proteger de perigos, não distingue entre um leão à solta e a possibilidade de se sentir um estranho numa conversa informal. A resposta fisiológica pode ser semelhante: coração acelerado, respiração curta, pensamento em modo de alerta. E isto acontece com mais frequência do que se imagina.

O nosso cérebro está constantemente a avaliar o ambiente, à procura de sinais de aceitação ou rejeição. Interações mínimas podem ativar circuitos de stress, sobretudo se houver experiências passadas de crítica, exclusão ou vergonha. Como seres profundamente sociais, o medo da rejeição ativa mecanismos semelhantes aos do medo físico. É por isso que um simples “olhar desviado” pode soar como um ataque ao nosso valor. Por vezes, aquilo que o corpo sente é só o eco de algo que o cérebro interpretou como ameaça.

Vivemos cada vez mais centrados em nós, nas nossas rotinas e nos nossos círculos próximos. Acreditamos que estamos ligados ao mundo, mas quando damos por nós, não sabemos o nome do vizinho do lado. Passamos por pessoas todos os dias – no bairro, no trabalho, no autocarro – sem as vermos de verdade. Não por falta de vontade, mas porque o desconforto social tornou-se uma norma silenciosa. Estamos tão ligados aos nossos que esquecemos como é viver com os outros.

Há quem evite festas por não saber como iniciar conversas. Quem adie telefonemas porque não quer parecer invasivo. Quem pratique mentalmente o que vai dizer ao funcionário da padaria. Não se trata de timidez, mas de uma sensibilidade social que merece ser compreendida.

Falar sobre estas experiências, com leveza e empatia, ajuda a normalizá-las. E talvez o primeiro passo para quebrar o ciclo de desconexão seja este: reconhecer que há mais pessoas a sentir o mesmo.

Quem sabe, da próxima vez que o elevador parar, em vez de evitarmos o olhar do outro, possamos ser proativos num “bom dia”. Pode não parecer muito, mas é assim que começa a ligação e termina a desconexão.

Porque, no fundo, todos precisamos de sentir que somos vistos – nem que seja, apenas, pelo instante de três andares partilhados com alguém que, como nós, também precisa de ser notado.

 

Uma equipa de paleontólogos revelou ter encontrado um fóssil de um dinossauro herbívoro com 150 milhões de anos nas rochas do período Jurássico da Bacia Lusitaniana, em Portugal. O dinossauro é da família dos iguanodontes, mas ainda não foi encontrado material suficiente para ser possível dar-lhe um nome. Os iguanodontes caracterizam-se pelas bocas em bico e pelos corpos robustos.

“Por não haver diagnóstico robusto, não colocamos a hipótese de uma nova espécie formal para já. No entanto, este espécime representa uma taxonomia ainda não reportada que salienta uma diversidade maior do que a estimada anteriormente entre os iguanodontes do Jurássico e realça a importância da Europa na diversificação e dispersão de eventos deste clado”, afirmam os autores da descoberta em comunicado.

A descoberta foi feita na Bacia Lusitaniana, uma região rica em fósseis de dinossauros e os investigadores contam que este fóssil é particularmente pesado. Filippo Maria Rotatori, da Universidade Nova FCT e autor principal do estudo, confirma que “foi uma surpresa. Acreditávamos que a diversidade desde grupo de dinossauros já estava bem documentada no Jurássico Superior em Portugal e esta descoberta mostra que ainda temos muito para aprender e estas descobertas entusiasmam para o que possa ainda emergir no futuro”.

Além do fóssil, a equipa encontrou ainda vários fémures isolados o que, de acordo com Bruno Camilo, da Universidade de Lisboa, pode indiciar a presença de diferentes grupos etários.

O fóssil descoberto tem semelhanças com iguanodontes descobertos na América do Norte e na Europa, realçando que a Penísula Ibérica serviu, outrora, de ponte fundamental entre os continentes. A descoberta recebeu o nome de SHN.JJS.015 e está depositada na Sociedade de História Natural de Torres Vedras.

A 4 de abril de 1975, Bill Gates e Paul Allen lançavam a Microsoft, empresa que veio revolucionar o mundo da tecnologia. Do lançamento do MS-DOS, o sistema operativo dos PC da IBM, anos mais tarde, em 1980, ao início da utilização de Inteligência Artificial, a Microsoft – abreviação de micro-computer software – celebra esta sexta-feira meio século de vida e história.

“Se pararmos para pensar como era o mundo há 50 anos, é difícil exagerar o impacto que a Microsoft teve nas cinco décadas seguintes de avanço tecnológico: impulsionando a revolução da computação pessoal, criando todo um ecossistema em torno dela e as muitas contribuições significativas para todas as plataformas tecnológicas que surgiram desde então”, referiu Kevin Scott, Diretor de Tecnologia da empresa.

Quando George Orwell escreveu 1984, o mesmo ficcionou uma comunidade à qual era exibido um programa televisivo intitulado Dois Minutos de Ódio. A ideia fundamental era a de criar momentos propagandísticos em que se exibiam os inimigos do Partido, fomentando a raiva coletiva e canalizando-a para uma entidade externa. A convicção da existência de um terceiro responsável pelos males próprios fomentava de forma eficaz o desprezo pelos supostos opositores, ao mesmo tempo que cultivava o crescimento de um sentimento de pertença ao grupo. No fundo, o que Orwell pretende destacar é o quanto a necessidade de um inimigo externo consubstancia uma ferramenta essencial para o controlo político e social das populações.

Apesar de escrita na década de 40 do século XX, esta ideia não é nova. Já no século XVI, Maquiavel, em O Príncipe, escrevia que os governantes se tornam grandes quando superam as dificuldades e as oposições que lhes são feitas, pelo que a sua maior fortuna é que lhe apareçam inimigos e que estes se movam contra ele. Nas palavras lapidares de Hannah Arendt, o maior perigo da manipulação moderna dos factos está na possibilidade da mentira completa”.

A este propósito, assistiu-se esta semana a mais um episódio de ataques sem precedentes ao poder judicial em países que constituem, historicamente, esteios da democracia, do Estado de Direito e dos Direitos Humanos. Na verdade, começam a ser tantos os exemplos em que líderes políticos de diversas latitudes optam por justificar determinados acontecimentos atirando responsabilidades e apontando interesses obscuros ao judiciário que, na verdade, estamos em crer que as comunidades mais moderadas e ponderadas não deixarão de começar a sentir o desconforto da manipulação.

Esta semana, na sequência da sentença proferida pelo Tribunal Correcional de Paris que condenou Marine Le Pen por desvio de fundos públicos em penas de multa e de prisão, em parte, efetiva, bem como na pena de inelegibilidade por cinco anos, com execução imediata, logo vozes se levantaram no sentido da constatação de uma Justiça politizada que mina a democracia. Le Pen foi até mais longe afirmando que uma “bomba nuclear” havia sido lançada pelo sistema judicial, a quem acusa de lhe terem “roubado” as eleições presidenciais, o que constitui um verdadeiro escândalo democrático.

No dia em que quisermos viver num mundo em que as regras basilares não sejam estas, em que a lei aprovada pelos representantes do povo e aplicada pelos tribunais de forma independente apenas tenha como destinatários certos cidadãos e não outros, ou em que o poder se concentre, sem quaisquer outros pontos de equilíbrio, nas mãos de apenas um dos pilares do Estado, podemos chamar-lhe o que quisermos, mas já não estaremos mais a viver em democracia

Simples e eficaz. Os responsáveis por todos os males estão encontrados. Os juízes têm poder a mais e o Povo é o principal prejudicado porque não pode escolher em quem quer votar. Tiremos então dois minutos para vociferar contra esses inimigos da democracia e, já agora, convoquemos manifestações, bem como o apoio de alguns reconhecidos “democratas” da cena internacional para darem eco à nossa indignação.

Convém puxar um pouco a fita da história para trás. O caso em apreço reporta-se a uma investigação criminal iniciada em 2015, pelo então presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, que o encaminhou para o Organismo Europeu de Luta Antifraude (OLAF) e que consiste num organismo criado para proteger os interesses financeiros da União Europeia (UE). Posteriormente, o tribunal considerou provado que cerca de 2,9 milhões de euros de fundos públicos europeus foram desviados pela Frente Nacional durante mais de onze anos, entre 2004 e 2016, tendo sido usados para remunerar assistentes parlamentares de deputados europeus que, na realidade, trabalhavam para o partido.

Esta, como a generalidade das decisões judiciais, é passível de recurso. Contudo, a lei francesa prevê que, no que se refere à pena de inelegibilidade, o recurso não tenha efeito suspensivo, o que determina que a mesma passe a vigorar de imediato até que o tribunal de recurso decida se a mantém ou se a revoga. Do mesmo modo, esta como outras leis não foram elaboradas e aprovadas pelo poder judicial que as aplica, mas pelo poder legislativo francês. De resto, em tempos, a própria visada defendeu publicamente a inelegibilidade definitiva, entre outros, para casos de corrupção, fraude fiscal ou desvio de fundos públicos, tendo inscrito a defesa de tal ideia no respetivo programa eleitoral.

Não é possível defender-se a democracia só na parte que nos interessa. A democracia é um bloco incindível. Um sistema que só em parte é democrático, passa a ser coisa distinta. Aceitar a democracia é querer conviver numa organização social em que os poderes legislativo, executivo e judicial se encontram em pé de igualdade na arquitetura do Estado, atuando separadamente. É perceber que ninguém pode ficar imune à aplicação das leis que o Parlamento aprova e que os tribunais aplicam, sejam eles figuras mediáticas ou cidadãos anónimos. É conviver numa estrutura constitucional em que são conferidos direitos aos cidadãos, em que esses direitos podem entrar em colisão e em que o sistema tem o dever de ponderar qual dos direitos deve prevalecer. É perceber que estamos perante uma estrutura em que as decisões judiciais têm que ponderar e decidir sobre interesses conflituantes, mas em que aquelas são recorríveis, corrigíveis ou alteráveis nos termos exatos em que a lei definir. E é, sobretudo, um sistema em que a Justiça jamais pode ser feita pelas próprias mãos.

Nesta sequência e na sequência de ameaças feitas aos juízes, o Conselho Superior da Magistratura Francês veio manifestar preocupação face às “reações violentas suscitadas pela decisão proferida”, sublinhando que “essas reações são suscetíveis de colocar gravemente em causa a independência da autoridade judicial, que é um dos pilares do Estado de direito e da qual o Conselho Superior da Magistratura é o garante constitucional”. Aliás, num verdadeiro exercício de defesa democrática, aquele Conselho Superior explica que a preservação da independência judicial exige que os debates judiciais decorram em clima sereno, sendo que as ameaças dirigidas pessoalmente aos magistrados responsáveis são inadmissíveis numa sociedade democrática. Mais explica que as penas aplicadas pelos tribunais são as que constam da lei, aprovadas pela representação nacional, e que o respeito pelo princípio da legalidade é assegurado pelo exercício dos meios de recurso.

No dia em que quisermos viver num mundo em que as regras basilares não sejam estas, em que a lei aprovada pelos representantes do povo e aplicada pelos tribunais de forma independente apenas tenha como destinatários certos cidadãos e não outros, ou em que o poder se concentre, sem quaisquer outros pontos de equilíbrio, nas mãos de apenas um dos pilares do Estado, podemos chamar-lhe o que quisermos, mas já não estaremos mais a viver em democracia. A democracia não é vivência seletiva em torno das conveniências de setores da sociedade, mas antes um compromisso coletivo que só se mantém intacto quando aceite em bloco.

Sabemos que à nossa volta existe perigo quando se proclama aos sete ventos a existência de um inimigo externo. E se esse inimigo fictício representar um poder independente, constitucionalmente encarregue de dizer o direito e de dirimir os conflitos, como é o caso dos tribunais, então sabemos que o núcleo do Estado de Direito está já sob ameaça direta, remetendo-nos diretamente para uma frase que, por estes dias, também tem circulado pela internet: Make Orwell Fiction Again.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Palavras-chave:

Desde de pandemia que não chumbavam tantos alunos do Ensino Secundário, revelou esta sexta-feira uma análise feita pela agência Lusa aos dados do Ministério da Educação. No ano letivo de 2022/2023, 23% dos alunos do secundário chumbaram ou desistiram dos estudos, ou seja, dos cerca de 64 mil jovens que deveriam ter concluído o ensino secundário no verão de 2023, apenas 45 mil o conseguiram fazer, tendo chumbado cerca de 15 mil alunos. Dados que contrariam a tendência de melhoria gradual, verificada nos últimos anos.

A análise sugere ainda que apenas 77% dos alunos foi capaz de concluir o ensino secundário sem qualquer percalço e que são os alunos do 10.º e 12.º que mais desistem ou ficam retidos (12% e 11%). No 11.º ano, apenas 4% dos alunos chumbam ou abandonam a escola.

São os alunos de Artes Visuais os que mais reprovam (69%), seguindo-se as Ciências Socioeconómicas e Línguas e Humanidades (75% de sucesso) e os alunos de Ciências e Tecnologias (79%).

Segundo as médias nacionais, em mais de 500 escolas, há oito estabelecimentos de ensino onde a maioria dos alunos não consegue fazer os três anos sem chumbar – duas em Lisboa, duas em Odivelas e as restantes na Amadora, Loures, Sintra e Cascais. Fora de Lisboa, há também oito escolas com elevadas taxas de chumbos – Vila Flor, Alfandega da Fé e Vinhais (distrito de Braga), Porto, Paredes e Vila Nova de Gaia (Distrito do Porto) e uma escola em Mora e em São João da Pesqueira.

Resultados dos exames são mais elevados no ensino privado

Os dados demonstram também que os alunos que frequentam colégios privados têm melhores resultados nos exames do ensino secundário. O ranking – que engloba 448 escolas públicas e 76 privadas – abre com o O Grande Colégio Universal (Porto), com uma média de 16,51 valores em 191 provas. Para a lista, foram contabilizadas as 525 escolas que realizaram pelo menos 100 exames do ensino secundário no verão do ano passado.

Na lista seguem-se o Colégio Nossa Senhora do Rosário (Porto), com 16,42 valores, o Colégio Efanor (Matosinhos), com 16,36 valores, D. Diogo de Sousa (Braga) com 15,91 valores. Na região de Lisboa distinguem-se o Colégio de S. Tomás, os Salesianos de Lisboa – Colégio Oficinas de São José e o Colégio Campo de Flores (Almada).

A primeira escola pública a surgir no ranking, em 33.º lugar, é a Escola Básica e Secundária Dr. Ferreira da Silva, em Oliveira de Azeméis, onde o uso de telemóveis está proibido desde janeiro. As escolas com melhores resultados médios nos exames situam-se no norte.

Média nacional melhorou

Segundo a análise de mais de 181 mil provas realizadas, a média nacional dos resultados nas provas do 9.º ano, realizadas no ano letivo 2022/2023 melhorou mas a maioria das escolas não conseguiu chegar à positiva, Os resultados da disciplina de Português desceram ligeiramente face ao ano anterior mas as notas a Matemática subiram, contribuindo para a melhoria da média nacional, de 2,79 para 2,91 valores (numa escala de zero a cinco ).

Condições socioeconómicas continuam a condicionar o desempenho dos alunos mas não são determinantes

A análise revela ainda que as condições socioeconómicas continuam a condicionar o desempenho dos alunos. No entanto, estas não são determinantes, existindo escolas que conseguiram minimizar o impacto das condições socioeconómicas no desempenho académico dos alunos.

No ano letivo 2022/2023, 1 228 escolas alcançaram níveis positivos de equidade – cerca de 56,48% do total de estabelecimentos de ensino analisados. É sobretudo entre o 5.º e 6.º ano de escolaridade que as escolas foram capazes de minimizar o impacto do contexto socioeconómico nos resultados dos estudantes. 

A Bang & Olufsen estabeleceu uma parceria com a empresa italiana de mármores e granitos Antolini para criar uma coluna que tem uma base de mármore. Segundo a marca, o material foi escolhido não só pela componente estética, mas também por elevar o aparelho à altura ideal para reproduzir o melhor som possível.

O utilizador pode escolher de entre vários materiais para a base da Beosound Balance Natura, desde mármore, quartzo, madeira petrificada ou fossilizada. Em comum a todas elas está um anel de alumínio anodizado que serve para a transição entre o material da base e o fundo da coluna, explica o Engadget.

Além da coluna, a B&O está a mostrar a televisão Beovision Theatre de 55 polegadas e um par de colunas Beolab 28, tudo durante a Milan Design Week e tudo em parceria com a Antolini. No certame, a empresa está a aceitar encomendas, mas os preços só são revelados sob consulta.

Os testes clínicos ao Mavoglurant foram agora revelados pela Novartis e conclui-se que o tratamento pode ajudar a reduzir o uso de cocaína por parte de pessoas que estejam viciadas na droga. Numa amostra de 68 pessoas com o vício diagnosticado, concluiu-se que foi possível reduzir a tendência para consumir cocaína e álcool nos três meses seguintes à administração do tratamento. Numa altura em que o uso de estimulantes (cocaína e outras drogas semelhantes) está a registar uma subida, a descoberta de potenciais ‘armas’ contra o vício é uma notícia importante.

Atualmente, o tratamento disponível para quem abusa de substâncias estimulantes passa apenas por aconselhamento ou terapia comportamental, sem que haja qualquer medicação aprovada para reduzir as necessidades de cocaína que estas pessoas apresentam.

A Novartis começou a desenvolver a Mavoglurant para o tratamento de uma doença genética, mas não foi bem-sucedida para esse intuito. Sabendo-se que a droga bloqueia um recetor chamado mGluR5, que alguns estudos apontam como tendo um papel na regulação da resposta de recompensas a estimulantes no organismo, os investigadores ajustaram-na para funcionar como tratamento para adições em estimulantes, explica o Gizmodo.

Nos testes mais recentes, os pacientes tomaram um placebo ou o mavoglurant sob a forma de comprimido, duas vezes por dia, durante 98 dias. O uso de cocaína foi monitorizado por declarações dos próprios e por análises ao sangue e ao cabelo. Globalmente, concluiu-se que as pessoas que tomaram a droga reduziram o uso de cocaína e de álcool nos meses seguintes, quando comparado com quem tomou o placebo. Entre os efeitos secundários registados estão dores de cabeça, tonturas e náuseas.

O estudo foi publicado no Science Translation Medicine e a equipa pretende conduzir novos testes, com mais pessoas e com maior longevidade antes de poder propor a droga como um tratamento eficaz.

“Nós vendemos personalidade, não vendemos pornografia”. A frase está num guião que foi parar às mãos de uma amiga através de um anúncio de trabalho. A empresa oferece mais de 10 mil euros por mês a quem se queira fazer passar por celebridades nos chats da OnlyFans, uma plataforma que é uma espécie de Instagram erótico onde se paga para aceder aos conteúdos daqueles que seguimos. Dito assim, parece tentador, mas quando a minha amiga começou a perceber o que significava ficar no lugar das que dão a sua imagem mas não querem perder tempo a alimentar relações virtuais, rapidamente desistiu da ideia. “Acho que ia fritar da cabeça”, disse-me enquanto tomávamos um café e ela me punha a par deste maravilhoso mundo novo da prostituição emocional virtual.

Explicaram-lhe que ia ter de tirar notas sobre as conversas que tinha com cada um dos clientes e tinha de estudar a fundo cada uma das personalidades que ia substituir nestes chats. Não podia haver qualquer erro que denunciasse o logro. É suposto quem paga acreditar que está a falar com as modelos, atrizes e cantoras que recebem (muito) dinheiro para partilhar imagens de partes do seu corpo ou vídeos de teor sexual.

O guião apresenta os princípios básicos deste trabalho: “Concentra-te em construir relações, não só em vender”; “conhece o teu cliente”, “os clientes gastam mais quando estão excitados ou emocionalmente ligados”. E as estratégias base: “começa por os conhecer”, “constrói uma ligação emocional”, “deixa-os iniciar os tópicos sexuais”, “vende gradualmente, aumenta a excitação até eles pediram por mais”.

O objetivo, explica-se, é tentar vender um mínimo de 100 dólares por minuto. Para isso, nota a empresa, é importante “não ser robótico, tratá-los como alguém que se está a conhecer” e, claro, “tirar notas detalhadas sobre os clientes para dar continuidade”. A importância da “continuidade” é apontada várias vezes neste guião sobre como atrair e enredar homens numa teia emocional que os faça gastar o mais possível para manter um contacto virtual com alguém que nem sequer é quem eles pensam que é.

Depois de uma rápida pesquisa, a minha amiga ficou a saber que há cada vez mais empresas a recrutar pessoas com um nível elevado de inglês para estas tarefas. Num dos sites, explica-se que o trabalho começa com duas a quatro semanas não pagas de uma espécie de estágio, onde se tem uma formação sobre “chatting psychology” para se aprender a “trocar mensagens de teor sexual com um subscritor e compreender a psicologia do subscritor” destes conteúdos.

Em vários destes casos, estas agências pedem, além do inglês fluente, qualificações em psicologia, comunicação e marketing para, como resume a minha amiga, “representar as celebridades influencers que não querem queimar o cérebro a falar com pessoas”.

Por momentos, hesitou sobre se deveria ou não aceitar o trabalho. A ideia de poder trabalhar à noite para poder passar mais tempo com o filho de dia era tentadora. A renda está cada vez mais cara. E, para quem trabalha na área da comunicação, é cada vez mais difícil encontrar trabalho, muito menos com níveis de rendimento como este.

Afinal, era só fazer conversa com homens que nunca teria de conhecer e que também nunca saberiam quem é. Mas, quando começou a pensar melhor, a minha amiga percebeu que ela era também a mercadoria, mesmo que não fosse seu o corpo a ser exibido, mesmo que estivesse a fingir ser quem não era. E até a ideia de que este trabalho a poderia deixar mais disponível para acompanhar o filho começou, à medida que pensava mais no assunto, a parecer enganadora. Ia ter de estar disponível muitas horas por dia para tentar envolver emocionalmente estranhos, garantindo que não se esquecia de nada importante, que não os confundia e que não era apanhada em falso.

Imagino que muito em breve estes trabalhos de social media chatter se tornem completamente obsoletos. À medida que a Inteligência Artificial avança, é fácil imaginar que deixarão de ser precisas pessoas para enganar quem segue estes perfis.

Até lá, esta nova profissão desenvolve-se na economia da atenção em que vivemos. As pessoas são a mercadoria. O seu tempo, os seus dados, a sua imagem. Somos explorados e exploradores, apanhados num scroll infinito, que nos deixa viciados, desligados do mundo e cada vez mais sozinhos. Tão sozinhos, que isso nos torna ainda mais dependentes desse mundo virtual e artificial.

E toda esta vida virtual, que cada vez mais toma conta do que somos e fazemos, acontece em plataformas treinadas para nos manter ligados, capazes de prever o que vamos querer ou fazer a seguir, por causa dos dados que lhes fornecemos, e com regras que não temos maneira de controlar ou sequer escrutinar.

Não tenho nenhuma certeza sobre qual será a melhor forma de lidar com tudo isto. Mas há uma coisa que intuo: estamos a lidar com quem sabe tudo de nós, é bom começarmos a perceber como estas coisas funcionam.