De acordo com a acusação, a que a agência Lusa teve acesso, o Ministério Público (MP) acusou formalmente 60 arguidos no âmbito do processo ‘Tutti Frutti’ pela prática de “crimes de corrupção ativa e passiva, corrupção ativa e passiva agravadas, branqueamento, prevaricação, tráfico de influência, falsificação ou contrafação de documento agravada e burla qualificada”. Entre os arguidos estão Luís Newton, presidente da Junta de Freguesia da Estrela, Carlos Eduardo Reis, deputado do PSD e Sérgio Azevedo, ex-deputado social-democrata.
Está em causa no processo “a prática de atos por parte de titulares de cargos políticos no exercício de funções, tendo o Ministério Público requerido ainda a condenação dos arguidos na perda dos mandatos referentes a cargos políticos de natureza eletiva que estes, então, se encontrem a desempenhar efetivamente, sem prejuízo da declaração de inelegibilidade em atos eleitorais”.
A nota do MP adianta ainda que foi “requerida a perda das vantagens obtidas pelos arguidos com a prática dos crimes” e realizado um despacho de “arquivamento relativamente a seis arguidos, dois dos quais são, atualmente, deputados à Assembleia da República”.
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O antigo presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, não foi acusado por, no entendimento do MP, não ter sido possível deduzir que Medina tivesse agido “com o propósito inequívoco” de beneficiar outros arguidos. “A conclusão que se impõe é a de que não se demonstrou a prática de factos suscetíveis de integrar os crimes de corrupção ativa e passiva, inicialmente referenciados, nem do crime de prevaricação imputado ao arguido Fernando Medina, nos moldes explanados”, pode ler-se.
A operação’Tutti Frutti’ investiga, desde 2018, alegados favorecimentos a militantes do Partido Socialista e do PSD, através de avenças e contratos públicos.
Pelo menos cinco pessoas ficaram feridas na sequência de um tiroteio com uma arma automática numa escola na cidade de Örebro, perto de Estocolmo, no que a polícia sueca está a chamar de “ameaça mortal”.
“Existe perigo para a vida”, explicou Lars Hedelin, porta-voz da polícia, citado jornal sueco Expressen. Entre os feridos estão agentes da polícia.
Gunnar Strommer, ministro da Justiça da Suécia, já condenou os ataques, que considera serem “muito graves”, e garantiu que o governo está em contacto permanente com as autoridades. “Os relatos de violência em Orebro são muito graves. A polícia está no local. O Governo está em contacto próximo com a polícia e a monitorizar de perto os acontecimentos”, explicou Strommer.
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Já foram mobilizados para o local vários meios de socorro e os serviços de urgência do hospital da cidade foram reorganizados para receber os feridos, segundo o jornal diário Aftonbladet. As autoridades estão a pedir à população para se afastar do local e para se manterem “em ambientes fechados” e “longe de janelas”.
Ainda não são conhecidas as motivações que terão levado ao incidente.
A aplicação Hot Tub está agora disponível para os utilizadores europeus através da loja alternativa AltStore PAL. De recordar que, apesar de a Apple não permitir “material declaradamente sexual ou pornográfico” na loja oficial do iPhone, esta aplicação conseguiu passar pelo processo de revisão de fraude, segurança e funcionalidades de Cupertino, explica Riley Testut, da loja de aplicações alternativa. Os responsáveis da Hot Tub descrevem a aplicação como um “navegador de conteúdos para adultos”, sem publicidade.
Steve Jobs declarou que a Apple tem “uma responsabilidade moral em manter a pornografia fora do iPhone” e sugeria que os utilizadores que quisessem este tipo de conteúdos deveriam “comprar um telefone Android”. Agora, com o Regulamento de Mercados Digitais na Europa, os utilizadores vão poder recorrer a uma loja de aplicações alternativa e gozar de maior liberdade de escolha.
A Apple já reagiu a esta disponibilização e o porta-voz Peter Ajemian declara, em comunicado, que “estamos profundamente preocupados com o risco de segurança que aplicações de pornografia hardcore constituem para os utilizadores europeus, particularmente crianças. Esta app e outras do género vão minar a confiança dos utilizadores e a confiança no ecossistema em que trabalhámos durante mais de uma década para tornar o melhor do mundo. Ao contrário das falsas declarações produzidas pelo criador do mercado alternativo, certamente que não aprovámos esta aplicação e nunca a disponibilizaríamos na nossa App Store. A verdade é que somos obrigados pela Comissão Europeia a permitir que seja distribuída por operadores de mercados como a AltStore e a Epic que podem não partilhar as nossas preocupações de segurança”, cita o The Verge.
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A AltStore PAL revela ainda que vai doar as receitas de fevereiro para “causas que suportem trabalhadores do sexo e elementos das comunidades LGBTQ+”. A loja alternativa foi uma das primeiras a surgir na Europa, em abril de 2024, oferecendo utilitários e aplicações como emuladores, clientes de torrentes e até jogos como Fortnite.
O nome já diz muito sobre o que este jogo é: o novo título da Rebellion não se apresenta como Sniper Elite 6, opta sim pelo cognome Resistance. Um sinal premonitório de que é uma evolução na continuidade, que aposta em manter os pontos fortes da saga e relega novidades para segundo plano.
Assim, a maior novidade é o facto de haver um novo protagonista. Agora assumimos o papel do britânico Harry Hawker, agente da divisão Special Operations Executive (SOE) com experiências em conflitos em África e Itália, que se destaca também por ser poliglota, já que o facto de ter avós russos e mãe francesa contribui para que consiga falar um pouco de francês, russo, hebreu e alemão. Contudo, falta carisma a Harry. A voz parece desfasada da personagem, acaba por soar demasiado formal, demasiado ar de gravada em estúdio, e graficamente o rosto merecia um tratamento mais realista. Sim, é um jogo na terceira pessoa, pelo que na maioria do tempo vamos estar a ver as costas do nosso sniper, mas os rostos, cabelos e pelos faciais de todas as personagens de maior destaque mereciam melhorias.
Arsenal ‘old school’
A nível de enredo, a ação decorre paralelamente à história de Sniper Elite 5. Em Resistance temos Harry Hawker colocado no coração da França ocupada de 1944 para trabalhar em conjunto com a Resistência para descobrir qual a nova arma secreta em que os nazis estão a trabalhar. Além da temática, também a jogabilidade permanece imutável. Assim, temos uma relativa liberdade no modo de concluir as missões, sendo que a discrição é fortemente aconselhada, seja na furtividade para eliminações corpo a corpo ou nos tiros a longa distância. Aliás, a ‘kill cam’, imagem de marca da franquia, continua a proporcionar momentos que têm tanto de ‘gore’ como de satisfatório – há qualquer coisa difícil de explicar ao ver, em modo raio-x e câmara lenta, os órgãos internos de um nazi serem despedaçados por um projétil disparado a dezenas de metros…
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O modo Campanha disponibiliza sete missões diferentes (mais o prólogo) e em cada uma delas é possível recolher um cartaz colecionável que dá posterior acesso ao correspondente Desafio de Propaganda. Este modo de jogo consiste em pequenos níveis repetíveis que podem ser de três géneros diferentes de contrarrelógio: ‘stealth’, em que cada inimigo eliminado nas sombras faz ganhar tempo adicional; combate, em que as mortes causadas por explosivos ou armas ‘pesadas’ são recompensadas; e ‘sniping’, em que o objetivo principal é atingir os inimigos com tiros na cabeça a longa distância.
Já o modo Invasão do Eixo está de regresso. Tal como acontecia em Sniper Elite 5, esta funcionalidade opcional permite que jogadores online invadam as missões de campanha de outros e assumam a função de sniper oponente. Assim, por um lado o gamer ‘anfitrião’ pode saber mais sobre a posição do invasor ao utilizar os telefones espalhados pelo mapa, enquanto o jogador ‘invasor’ pode dar informações aos soldados inimigos e torná-los extra vigilantes. É mais uma camada apelativa do jogo do gato e do rato. Saliente-se que se, como nós, jogar numa PlayStation vai precisar de ter uma subscrição Plus. Aliás, com ela poderá até jogar as missões da Campanha em modo cooperativo online. Nota-se uma aposta no multiplayer, pois também é possível jogar em esquadrões ou deathmatches, por exemplo.
No final, saímos com a sensação que Resistance é mais um DLC do que um verdadeiro novo Sniper Elite. Continua muito aprazível de jogar para os fãs de ‘stealth’ e a personalização das armas autênticas da II Guerra Mundial é cativante. Mas a nova personagem não é um caso de sucesso, os termos brasileiros utilizados demonstram pouco cuidado com a localização do título para Portugal e as novidades pecam por escassas para quem já conhece as manhas da saga.
Tome Nota Sniper Elite: Resistance | €59,99
Nota final: 3,9
Plataformas PS5 (testado), PS4, Xbox Series X/S, Xbox One, PC Estúdio Rebellion Developments Editora Rebellion Developments
Prós + Alvo a 224 metros? Dá! Esvazia o pulmão… Headshot! + Que belo momento gore ver o projétil despedaçar o cérebro de um nazi
Contras – ‘Nazista’… Continuamos na nossa luta por português de Portugal nas legendas e menus – Oui… Há aqui um bouquet a déjà-vu
Em certo sentido, a casa é o espelho de Maria Teresa Horta. À entrada, no pequeno apartamento na Avenida Defensores de Chaves, em Lisboa, estão os poetas, para que o visitante perceba, desde logo, onde está. «Não posso viver sem a poesia na minha vida», diz-nos a jornalista e escritora, autora de livros como Minha Senhora de Mim (1967) e As Luzes de Leonor (2011). As restantes divisões estão repletas de pormenores, livros, jornais, fotografias, gavetas e papéis, memórias de uma vida cheia que Maria Teresa – uma das mulheres-coragem que, em 1972, ousaram desafiar o regime com uma obra epistolar, Novas Cartas Portuguesas, sobre a liberdade e a condição feminina – desfia nesta entrevista à VISÃO História. Na qual também confidencia que ser desobediente sempre foi a sua maior qualidade.
(Entrevista publicada na VISÃO História nº75 de fevereiro-março 2023)
Da ditadura até ao presente, sempre a trataram como a feminista de serviço. Porque é que nunca recusou esse papel?
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Sim, é verdade, talvez desde os meus 20 e tal anos. Não posso dizer que não, não há muitas feministas… No tempo do fascismo, era perigoso falar; ser feminista, só por si, também era perigoso. A verdade é que, por duas vezes, fui presa apenas por ser feminista. Quando eles vinham, perguntava: “Então, e o que é que eu fiz agora? São capazes de me dizer?» Não se podia prender ninguém durante a noite, mas a PIDE batia à porta mal raiava a aurora. E eu sempre lhes disse: «Vocês têm muito maus hábitos, escutam, entram pela casa das pessoas adentro e, desde logo, tentam estrangulá-las!» Não ficava assustada, eles ficavam danados e possessos, mas a verdade é que dava um certo resultado.
Todos os homens daque’la altura estavam muito divididos em relação à posição das mulheres. A tradição convinha-lhes
Mas nessa altura nem sequer tinha começado a publicar…
Não, mas dizia coisas, todos nós, escritores, fazíamos e dizíamos coisas… A PIDE achava que nos mantinha as mãos atadas, mas nós não estávamos de mãos atadas, ora! E, depois, no meu caso, também tem a ver com uma certa imagem que se criou em torno de mim. E isso não os inibia. Desde cedo, logo desde o Filipa [Liceu D. Filipa de Lencastre, que Maria Teresa Horta frequentou], comecei a pensar em fazer, ser… diferente. Não queria ser aquilo que o resto da minha família era, sobretudo não queria ser como as mulheres da minha família. Era muito novinha, não sabia bem o que queria da vida, mas sabia que não era aquilo que queria.
Absolvidas O julgamento das Três Marias começou em 1973, mas a leitura da sentença acabou por sair já depois do 25 de Abril, a 7 de maio de 1974. O juiz considerou que o livro não era “pornográfico nem imoral”
Sobretudo, não queria que o seu pai, o médico Jorge Horta, decidisse por si.
Pois, na realidade o que eu não queria mesmo era ser exatamente como as mulheres da minha família… Casavam-se, eram criadas naquela educação de acordo com a qual as mulheres tinham o dever de obedecer. Ser mãe e ser mulher, ou melhor, ser esposa (como eles diziam), eram os papéis principais. E depois, muitas outras coisas por aí adiante, menos… ser escritora. Ser escritora dava muito mau aspeto, não era bem visto.
E tomou essas opções em confronto com o seu pai, um homem muito conservador.
O meu pai era um homem muito inteligente, muito culto, grande médico e muito bom professor, mas era também uma pessoa muito severa. Não queria que as mulheres lessem, o que desde logo constituía um problema… Por isso, eu sempre constituí um problema. Fui um problema para a minha família desde muito cedo: eu era sempre qualquer coisa que não devia ser, queria sempre qualquer coisa que não devia querer. A minha avó, que foi a pessoa mais espantosa da minha vida…
A sua avó Camila, que quando era pequenina a levava às reuniões das sufragistas?
Sim, a mãe do meu pai, a minha avó Camila foi a pessoa que me criou, foi a pessoa mais importante da minha vida. Éramos as duas unha com carne. Só muito mais tarde, quando voltei a encontrar a Maria Lamas, é que percebi que a tinha conhecido nessas reuniões das sufragistas, na Casa-Jardim, em Benfica. Ela lembrava-se muito bem de mim e eu lembrava-me de que ela tinha um casaco castanho e me dava rebuçados durante as reuniões das sufragistas [risos].
Do que se recorda dessas reuniões?
Eu era muito pequenina e adorava ir com a minha avó. Elas falavam do que queriam e eu, claro, não percebia nada do que conversavam. Mas gostava muito de ir: porque elas eram encantadoras comigo, levavam-me rebuçados, brinquedos e livrinhos da coleção Joaninha. Eram muito divertidas, riam-se imenso e falavam de tudo.
A seis mãos «Novas Cartas Portuguesas é um trabalho de luta – e nós conseguimos fazer desse trabalho de luta uma obra literária», diz Maria Teresa Horta (ao centro), sobre o livro que escreveu com Maria Isabel Barreno (à esquerda) e Maria Velho da Costa (à direita)
Estavam muito à frente para o Portugal daquela época?
Daquela?! Desta! Aí é que está, elas eram incríveis. Agora é que o percebo, evidentemente, mas elas eram incríveis porque falavam de tudo e, ao mesmo tempo, conseguiam divertir-se. Hoje, olho para essas reuniões e penso como é que aquelas mulheres, criadas como elas foram criadas, conseguiram ser assim. Garanto-lhe: para uma mulher ser feminista naquela época era preciso ser uma mulher com muita coragem.
De que maneira essa experiência influenciou, depois, a sua vida e todas as opções que veio a tomar?
Acho que sou feminista por causa da minha avó. Foi ela que me abriu os olhos para determinado tipo de coisas. Conto-lhe apenas um episódio (ponha-se naquela época): quando a minha mãe fez a malinha e se foi embora de casa, abandonando o meu pai, passadas 24 horas o meu pai tirou a fotografia dela do quarto e tudo aquilo que lhe pertencia.
A minha avó voltou a pôr tudo no sítio, entrou pelo escritório adentro, fechou a porta e, de repente, só a ouvi dizer: «Eu não admito que tu, Jorge, fales mal da Carlotinha à minha frente!» Acho isto espantoso, porque ela era mãe dele e, mesmo assim, defendia-a. A minha avó nunca deixou que dissessem mal da minha mãe lá em casa. Reagi muito mal à saída da minha mãe, não dizia nada, deixei de comer… E, pouco depois, quando a minha avó morreu, tudo ficou ainda pior. Já nem a minha avó me defendia do que se estava a passar na minha vida… Tudo se virou contra mim. Andava sempre com ela, eu atrás dela ou ela atrás de mim. Ainda hoje sinto que fazíamos uma pessoa só, como se houvesse duas idades nela e eu fosse aquela que tinha a idade mais baixa.
Que coisa tão bonita e comovente.
É, ela contava-me coisas que mais ninguém conta a crianças daquela idade. Nunca dizia que eu não tinha idade para ouvir, dizia sempre: «Se calhar, não vais perceber, mas eu conto-te.» Continua a ser a pessoa mais importante da vida, tenho todos os seus textos (foi a primeira mulher a escrever num jornal) e nunca vou para a cama sem dar um beijo na fotografia que ali tenho dela. Não faço ideia do que seria hoje se ela não tivesse existido na minha vida.
E quando é que decidiu ser jornalista, uma profissão que também era considerada pouco apropriada para mulheres?
Sempre quis ser jornalista, desde sempre. O meu pai lia muitos jornais e eu sempre tive esse imaginário dos jornais dentro de mim. Os jornais eram aquilo que trazia as notícias do mundo, que nada tinham que ver com aquela coisa horrível que era a nossa casa. Imagine: o meu pai todos os dias comprava O Século, o Diário de Lisboa e o Diário Popular. Almoçávamos todos juntos, mas os jornais só ficavam do lado dele. Só ele os podia ler!
Como é que começou a trabalhar nos jornais, como é que chegou a esse mundo?
Eu sabia que ficava mal ser jornalista, mas era jornalista que eu queria ser. O meu pai dizia que eu era doida, que não regulava bem da cabeça. E a minha madrasta ainda ajudava mais: dizia que eu só queria coisas que não devia querer. Um dia, fui à Baixa e fui direitinha ao República, onde expliquei que queria ser jornalista e perguntei se não me podiam ensinar. Eles ainda me perguntaram: «Então, e o seu pai não se importa?» Ao que eu repliquei: «Não, ele vai ficar muito satisfeito.» [risos]
Portanto, foi no República que aprendeu o ofício?
Sim, eles eram poucos e, por isso, precisavam de mim. Como também não tinham dinheiro, eu trabalhava de graça. Ensinaram-me imenso, ensinaram-me tudo o que sei. Tinha para aí 17 anos… Eram muito poucos, mas havia um deles que me dizia: «Eu gosto dos seus textos, mas os seus textos precisam de ter pontuação. Tal como estão, os seus textos são como uma mulher muito bem vestida sem sapatos.» Adoro esta comparação! Acho uma coisa lindíssima porque, na realidade, eu sempre preferi ter um texto sem pontuação, nunca quis parecer uma mulher muito bem vestida com sapatos. [risos]
Mesmo quando sai do Diário de Lisboa para A Capital, ainda eram muito poucas as mulheres que trabalhavam nas redações…
Havia as revistas femininas, mas, fora isso, havia muito poucas. Nem meia dúzia. Mas sempre tive muitos amigos nos jornais. O Batista Bastos, por exemplo, foi uma pessoa muito importante na minha vida, era um indivíduo tresloucado da cabeça, mas era muito humano.
Muitos outros escritores, como José Cardoso Pires, também a adoravam.
O Zé [Cardoso Pires] era muito meu amigo e eu também era muito amiga dele. Era muito aborrecido porque, de vez em quando, queria que eu fosse almoçar com ele e obrigava-me a beber. Ora, eu sou abstémia, nasci assim, não consigo beber álcool, fico maldisposta, agoniada… E ele, mesmo sabendo disto, insistia. Ele tinha um feitio muito difícil, mas ao mesmo era muito generoso. Foi o primeiro escritor que vi escrever, sentado ao meu lado, a escrever. É tão interessante…
Escrever aquele livro [Novas Cartas Portuguesas], naquela altura, era perigoso. E nós sabíamos isso. Éramos jovens, mas não éramos ingénuas
Era muito exigente, porventura demasiado…
Era um homem muito, muito difícil. Era um homem que exigia muito de si e muito dos outros também. E depois estava à espera que tudo fosse ótimo. E que todos obedecessem, nomeadamente as mulheres. Se não obedeciam era porque não obedeciam, se obedeciam era porque eram aborrecidas…
Tinha um lado conservador?
Muito, um lado conservador muito grande. No fundo, acho que todos esses homens daquela altura estavam muito divididos em relação à posição das mulheres. A tradição, de alguma maneira, convinha-lhes.
Quando falavam disso, ele não se zangava consigo?
Não, e aliás falávamos imenso sobre isto. Mas ele achava que eu era doida. E, muitas vezes, também me dizia que o meu grande defeito era ser desobediente. Ao que eu sempre repliquei: «Ora, eu acho que isso é a minha grande qualidade, desde pequenina!»
Hoje, quando olha para trás, acha que é por ter sido educada num ambiente muito católico, rígido, conservador que se tornou tão desobediente?
Sim, é provável que também tenha tido influência. Mas foi sobretudo por causa da minha avó Camila. No fundo, ela queria que eu fosse diferente.
Quando se aproximou do Partido Comunista, também sentiu essa dualidade no que diz respeito à forma como viam o papel da mulher?
Sim, em muitos deles. Eles preferiam… Digamos de outra maneira: não eram capazes de dizer nem de o reconhecer perante os outros.
Na Soeiro Pereira Gomes também era a feminista de serviço?
Não, aí eu era a malvista de serviço [risos]. Um dia, a [jornalista e hoje investigadora] Helena Neves foi com um camarada à revista Mulheres, de que eu era chefe de redação, para me dizer que o partido ia acabar com a revista. Levantei-me e pedi licença para passar. Perguntaram-me aonde é que eu ia e eu respondi: «Vou ao Sindicato dos Jornalistas. Estão a pôr-me na rua, é para estas ocasiões que serve um sindicato.» Ficaram estarrecidos, varados.
A propósito dos 50 anos da publicação, voltou a falar-se muito de Novas Cartas Portuguesas. Hoje, vê-o como um livro de luta pela liberdade ou pela igualdade das mulheres?
As duas coisas, sem dúvidas.
Em certo sentido, não é também um livro que resulta de um impulso?
Sim, completamente. Todas as semanas almoçava com a Isabel [Barreno] e com a Fátima [que assinava como Maria Velho da Costa], que era como nós lhe chamávamos. E houve um dia que cheguei lá num estado comatoso, tinham-me batido e eu estava toda desfeita. E, vai daí, a Fátima é que se lembrou de sermos as três a escrever. No almoço seguinte, a Isabel, que inicialmente até tinha ficado aborrecida com a ideia porque tinha começa a escrever A Morte da Mãe e não queria interromper, já tinha o primeiro texto para nos dar a ler.
Ainda mantém aquela sensação de que estavam a fazer algo de muito diferente do que o habitual?
Quando começámos a escrever, foi do princípio ao fim. Foi uma coisa muito bonita, foi das coisas mais belas da minha vida. Porque não é só literatura. Nas Novas Cartas Portuguesas, há uma conivência muito grande, um trabalho de luta. Isto não é apenas a obra literária.É um trabalho de luta – e nós conseguimos fazer desse trabalho de luta uma obra literária.
Protestos: Maria Teresa Horta numa manifestação do Movimento Democrático das Mulheres (MDM), em Lisboa, em 1974, com um cartaz na mão; e manifestação em Nova Iorque a favor das Três Marias
Por ser uma obra coletiva?
Sim, por sermos as três. Nunca mais ninguém fez uma coisa assim.
Foi também resultado de uma grande cumplicidade?
Mais: de uma grande cumplicidade, mas até de uma grande conivência, de uma grande generosidade. Houve, inclusivamente, uma grande cumplicidade política. Veja: apanhei uma grande tareia e elas, por solidariedade, escrevem isto comigo.
Como se a dor passasse para as outras, como que por osmose?
Sim, é isso, elas foram coniventes comigo. Escrever isto, naquela altura, era perigoso. E nós sabíamos isso. Éramos jovens, mas não éramos ingénuas. Se escrevêssemos isto agora, tenho a certeza absoluta de que já não era perigoso. Embora continue a fazer todo o sentido…
O que não quer dizer que não haja muito por fazer…
Ai, claro que há tanto por fazer, ainda mal se começou [risos].
O livro e o processo
Em abril de 1972, três escritoras, nascidas no final dos anos 30, denunciavam o Estado Novo e tudo o que este interditava. O livro levou nove meses a ser gerado, chamou-se Novas Cartas Portuguesas e as autoras – Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa – ficaram conhecidas como as Três Marias por causa do processo judicial que a ditadura lhes pôs. Foram acusadas de atentar contra a moral vigente: «Conteúdo insanavelmente pornográfico». O julgamento teve início a 25 de outubro de 1973, mas por causa dos sucessivos adiamentos, a leitura da sentença acabou por sair já depois do 25 de Abril. A 7 de maio de 1974, o jovem juíz Lopes Cardoso absolveu-as: «O livro não é pornográfico nem imoral. Pelo contrário: é obra de arte, de elevado nível, na sequência de outras obras de arte que as autoras já produziram.»
A última das “Três Marias” morreu esta terça-feira, aos 87 anos, em Lisboa, anunciou a editora Dom Quixote.
Com uma vasta obra de poesia e ficção, iniciada em 1960, e com mais de quatro dezenas de livros editados, a destacada feminista portuguesa, recebeu ainda distinções como a Medalha de Mérito Cultural, atribuída pelo Ministério da Cultura, e Ordem da Liberdade, pelo Presidente da República. Era também, desde 2004, Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, numa distinção entregue pelo então chefe de Estado, Jorge Sampaio.
Em dezembro, Maria Teresa Horta foi incluída numa lista elaborada pela estação pública britânica BBC de 100 mulheres mais influentes e inspiradoras de todo o mundo, que incluía artistas, ativistas, advogadas ou cientistas.
A Tesla anunciou que a Powerwall 3, a geração mais recente de bateria doméstica da marca, já está disponível em Portugal. Este modelo pode alimentar a maioria das casas europeias com uma unidade e permite poupanças através do armazenamento do excesso de energia solar gerada durante o dia para ser usada à noite, durante as horas dos picos de preços. As estimativas da fabricante é que os clientes portugueses possam reduzir a sua dependência da rede elétrica em 71%.
O sistema tem uma funcionalidade que permite que os proprietários de um plano de tarifas variável consoante a hora do dia possam configurar a Powerwall para maximizar as poupanças: carregar a partir da energia da rede quando os preços são baixos e usar a energia armazenada para alimentar a casa quando os preços são elevados. Esta estratégia pode permitir poupanças de até 1.044 euros anuais ao abastecer a casa com a Powerwall 3 emparelhada com energia fotovoltaica.
Outra vantagem desta bateria passa pela proteção de reserva, que deteta automaticamente cortes de energia e torna-se a fonte de energia quando a rede elétrica falha. O inversor pode produzir entre 3,68 kW e 11,04 kW em toda a Europa, permitindo uma reserva para uma variedade de aparelhos.
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O inversor solar incorporado permite uma maior eficiência energética, cria uma instalação de aspeto mais limpo com menos caixas na parede e reduz a necessidade de aquisição de um inversor a terceiros, explica a Tesla em comunicado.
A bateria pode ser instalada no interior ou no exterior, funciona a temperaturas entre os -20 e os 50 graus centígrados e resiste a condições meteorológicas adversas, como condições de humidade elevada ou inundação até 60 cm de água.
A Powerwall 3 pode ser gerida através da aplicação Tesla e, quando utilizada para carregar veículos da Tesla, desbloqueia funcionalidades como o Carregamento com Solar, que carrega o carro apenas com o excesso de energia produzida pelo sistema solar Tesla.
Saiba mais sobre a solução e como solicitar orçamentos para a instalação aqui.
Perceções, perceções e mais perceções: nunca a arte de percecionar esteve tão em voga em Portugal. Sempre se ouviram perceções, claro, isto é não é uma novidade: “tenho ideia que aquele restaurante é bom, tem sempre tanta gente…”; “acho que aquele filme é bom, é a perceção que tenho pelo que tenho ouvido…”; “o último álbum da Beyoncé deve ser fantástico, digo eu…”. Todos temos uma ideia sobre tudo. Agora a moda pegou nos políticos portugueses, que, alguns, de tanto percecionarem, começaram a ter dificuldades em ler e analisar documentos de entidades públicas. Porém, há algo mais a dizer sobre o facto de a perceção de que a criminalidade em Portugal se agravou estar a ganhar uma popularidade significativa.
Se a perceção de que a insegurança e a criminalidade aumentaram está a ganhar uma proporção relativamente grande, é porque quem defende a perceção oposta não está a fazer o suficiente – longe disso – para contrariar esta ideia. Apresentar gráficos? Citar números de cor e salteado? As pessoas não são uma prova de defesa de mestrado ou uma instituição a quem se apresenta uma versão curta de um relatório maior. Que algo fique claro: sim, os números provisórios que a PSP divulgou acerca da criminalidade revelam que Portugal está a fazer um bom trabalho na redução da criminalidade, visto que a tendência mostra que esta está, precisamente, a diminuir. Mas isto por si só não basta. Há outra coisa que deve ficar absolutamente nítida: não são relatórios que vão mudar as ideias dos cidadãos.
Tenho visto muitos comentadores que defendem o que está nos relatórios – é a única posição decente, evidentemente – de forma pouquíssimo eficaz. Enquanto a extrema-direita constrói realidades paralelas, os moderados e a esquerda mostram setas em gráficos e tabelas de Excel. Torna-se óbvio o porquê de uma simples verdade – Portugal não tem um problema de criminalidade – estar a ser tão colocada em causa. Até comentadores mais jovens – como eu – que têm a obrigação de saber que o mundo mudou e a comunicação está totalmente diferente daquilo que era, não se vá tão longe, há 10 anos, estão a usar as ferramentas dos mais velhos – muito mais velhos… – e incorrem em explicações técnicas e matemáticas. Muitos deles são até consultores políticos e por essa razão ainda mais me aflige que não saibam, eles próprios, comunicar bem no sentido de construir uma narrativa que ilustre os factos e não que os deixe soltos por aí, ao sabor do vento e de quem os quiser utilizar. Os factos não andam por si mesmos. Os números são manipuláveis e encaixam onde os quisermos encaixar. Os gráficos são, perdoe-me a ousadia, caro leitor, uma seca que nenhum trabalhador quer aturar após chegar a casa do trabalho às 19h30 da noite. Narrativa, narrativa, narrativa. É aqui que os moderados e a esquerda se devem concentrar e não em cedências ao vocabulário da extrema-direita: “valores europeus”, “a cultura do país”, “modo de vida”. Haja paciência. Os valores europeus são os do respeito por todos, independentemente da sua cor, do seu país, da sua língua e da sua religião. A cultura de Portugal é a cultura da imigração, de um povo trabalhador que ainda luta por uma economia mais especializada e robusta. O modo de vida é o da paz social, da integração e da capacidade de crescer com as culturas à sua volta.
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Há quem tente turvar propositadamente os tópicos da integração e a segurança do País, exaltando os medos e receios do desconhecido. Pois bem, a segurança é um desígnio nacional da maior relevância e que deve ter todos os meios para ser eficaz. Aliás, apenas num país seguro é possível existir prosperidade. Esse motivo devia ser por si só o mote para uma maior valorização das carreiras dos profissionais de segurança pública e um maior investimento nos recursos necessários para que os mesmos possa fazer o seu trabalho bem feito. O que se não deve fazer é instrumentalizar os profissionais de segurança para batalhas políticas. Estas entidades estão, antes de mais nada, ao serviço do povo, do bem comum, de todos os cidadãos: protegem-nos todos os dias e garantem que as nossas ruas são seguras. Há que respeitar mais este trabalho. E isto não é incompatível com uma defesa de políticas de integração de migrantes, de proteção dos mais vulneráveis e de legalização de quem quer cá trabalhar e constituir vida. Devem aliás, estes dois pontos, andar de mãos dadas. Forças de segurança bem preparadas e munidas de recursos técnicos e processos ágeis de legalização e receção de migrantes fazem parte de uma política pública sensata e moderada.
São as dicas que deixo aos demais moderados e defensores dos factos: comunicação mais eficaz, construção de uma narrativa simples e apelativa, não usar as forças de segurança enquanto arma política e defender investimentos significativos nos processos de legalização para que ninguém fique em situações frágeis e vulneráveis. Integrar é a nossa maior arma.
Depois de todo o alarido e das ameaças veladas aos seus três principais parceiros comerciais, Donald Trump, confrontado com a realidade e com as retaliações anunciadas pelo Canadá e México, recuou em toda a linha e retirouas tarifas de 25% sobre os produtos importados dos seus países vizinhos, que deveriam entrar hoje em vigor, mantendo, pelo menos por agora, uma taxa de 10% sobre os produtos da China.
Alegadamente, este não foi um recuo, mas sim um adiamento por 30 dias. Segundo Donald Trump, a decisão foi tomadaapós conversas telefónicas com a presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, e com o primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, que prometeram reforçar o policiamento das fronteiras. Contudo, para muitos analistas, este argumento não passou de uma desculpa de última hora para que Trump não perdesse a face, e pudesse recuar numa política que poderia atirar a economia norte-americana para uma das piores recessões de sempre. Osalertas vieram de todo o lado. Desde o prestigiado economista Paul Krugman, Nobel de Economia e antigo professor do MIT e da Universidade de Princeton, que classificou estas tarifas de “muito, muito destrutivas” para a economia norte-americana.