Miguel Arruda, eleito pelo círculo eleitoral dos Açores pelo Chega, vai passar a deputado independente, confirmou esta tarde uma fonte próxima do parlamentar à agência Lusa.

O político açoriano, que afirma estar inocente, acredita que esta “decisão individual” o deixa mais livre para preparar “provar a [sua] inocência sem levar o partido atrás”. À CNN Portugal, José Manuel Castro, advogado de Miguel Arruda, garantiu que o deputado “vai esclarecer com toda a brevidade o que se está a passar” e que não irá refugiar-se na imunidade parlamentar. “Quando se der um levantamento da imunidade parlamentar, que se o Ministério Público não pedir – que parece que irá pedir -, o próprio deputado Arruda irá fazê-lo com toda a brevidade. [Só aí] É que podemos esclarecer realmente, e ser esclarecidos, sobre o que é que se está a tratar”, defendeu.

De acordo com a mesma fonte da Lusa, Arruda pretende pedir, ainda hoje, a José Pedro Aguiar-Branco, presidente da AR, que levante a sua imunidade parlamentar para poder prestar esclarecimento sobre os factos de que é acusado junto das autoridades.

Arruda foi alvo de buscas da Polícia de Segurança Pública (PSP) na passada terça-feira pela alegada prática de furto qualificado e contra a propriedade. O agora antigo deputado do Chega é suspeito de furtar malas dos tapetes de bagagens das chegadas dos aeroportos de Lisboa e de Ponta Delgada, quando viajava de e para os Açores no início e no final da semana de trabalhos parlamentares. A PSP está a investigar o caso desde novembro do ano passado.

Foi na passada terça-feira que se ficou a conhecer as alegações contra o deputado açoriano do Chega, Miguel Arruda, suspeito de crimes de furto qualificado de malas dos tapetes de bagagens das chegadas dos aeroportos de Lisboa e de Ponta Delgada.

O caso tem suscitado, nos últimos dias, muitas piadas e “memes” pelas redes sociais, que têm feito as delícias dos internautas. No Instagram, Threads ou Facebook, são várias as partilhas de imagens, criadas pelos seus utilizadores, que pretendem dar humor ao assunto. Algumas marcas, como a Licor Beirão e a Feliciano Créditos & Seguros, também se juntam à tendência, tendo desenvolvido cartazes publicitários que fazem referência ao caso. 

Também na rede social X – anterior Twitter – têm sido partilhadas várias piadas e até alguns vídeos sobre o assunto.

Donald Trump já tinha falado durante a campanha presidencial da intenção de libertar Ross Ulbricht, o fundador do Silk Road, mercado online no qual traficantes de droga e outros criminosos conduziam atividades ilícitas avaliadas em mais de 200 milhões de dólares, usando criptomoedas. Ulbricht foi preso em 2013 e condenado a prisão perpétua em 2015. Agora foi libertado, depois de Donald Trump ter assinado um perdão “completo e incondicional”.

“A escumalha que trabalhou para o condenar tem alguns dos lunáticos que estavam envolvidos na moderna utilização do governo como arma contra mim”, afirmou Trump na rede social Truth Social. “Depois de uma década encarcerado, esta decisão oferece ao Ross a oportunidade de recomeçar, de reconstruir a sua vida e contribuir positivamente para a sociedade”, declarou o advogado de Ulbricht. A administração de Trump deve inverter a tendência começada durante a administração Biden para regular o setor das criptomoedas.

A prisão de Ulbricht foi justificada pelos defensores públicos para colocar fim a um mercado negro online que operou durante dois anos, desde 2011, e que foi usado por mais de cem mil pessoas para comprar e vender mais de 214 milhões de dólares em drogas, armas e serviços ilícitos. O mercado Silk Road operava no protocolo Tor para permitir comunicações anónimas e aceitar pagamentos em bitcoin, lembra a Reuters.

O pirata assumia online o nome de Dread Pirate Roberts, numa referência a uma personagem de um filme de 1987 e, segundo a acusação, tomou medidas extremas para proteger a operação, incluindo encomendar o assassinato de pessoas vistas como ameaças, embora não haja evidências de que estes assassinatos tenham chegado a acontecer.

A defesa, no entanto, alegava que Ulbricht criou o mercado sim, mas que terá entregado as rédeas a outros, tendo sido depois atraído de volta e acabado por ser condenado. “Quis empoderar as pessoas para poderem fazer escolhas nas suas vidas e ter privacidade e anonimato”, defendeu-se Ulbricht em 2015.

A Google anunciou novidades no Gemini que está integrado nos Galaxy S25 da Samsung. Pela primeira vez, o assistente da Google é o predefinido nos equipamentos Samsung, colocando a solução Bixby em segundo plano. Nestes telefones, o Gemini vai ser capaz de executar tarefas em diversas aplicações a partir de uma única interação do utilizador.

A Google deu como exemplos a possibilidade de se procurar uma tipologia de restaurante numa cidade e enviar os detalhes para um contacto ou procurar os jogos marcados de um clube e adicioná-los ao calendário, noticia o The Verge. A possibilidade de tarefas em múltiplas aplicações está disponível em várias aplicações da Google e algumas apps de terceiros, como o WhatsApp ou o Spotify, de forma limitada, chegando também a apps da Samsung, como o Calendário, as Notas, os Lembres ou o Relógio.

Também o Gemini Live, o assistente baseado em voz, vai receber melhorias, mas apenas para os Galaxy S24, S25 e Google Pixel 9, com os utilizadores a poderem partilhar imagens, ficheiros, vídeos do YouTube na interface do chat e pedir feedback ou mais informações ao Gemini. Para o futuro, a Google revela estar a trabalhar na partilha de ecrã e transmissão de vídeo em direto.

Outra novidade passa pelas melhorias no emparelhamento dos dispositivos Android com leitores de braille ou assistentes auditivos.

A sonda Rosalind Franklin vai partir em busca de sinais de vida em Marte em 2028, mas a Agência Espacial Europeia não vai ficar por aqui e já está a recolher a tecnologia e a preparar a capacidade para o envio de missões mais avançadas em meados da próxima década.

De acordo com um relatório publicado no mês passado, a agência recomenda que a Europa “avance os desenvolvimentos de sondas de entrada guiada e nas tecnologias associadas, evitando becos sem saída à medida que as capacidades progridem”. O objetivo, pelo que se percebe, é conseguir ter tecnologia para pousar uma sonda em Marte com precisão.

A meta está traçada para que em meados da década de 2030 ocorra um lançamento, mas a agência sugere que se comece este trabalho antecipadamente para se obter “elementos necessários para a prontidão tecnológica, cronologias de lançamentos e estimativas de orçamentos” para aumentar as probabilidades de a missão continuar depois de uma reunião importante do organismo, marcada para novembro.

De acordo com a notícia do Space.com, outra razão para esta iniciativa é que o ano de 2035 é o mais favorável para lançamentos na próxima década. As janelas de lançamento para Marte são períodos de poucas semanas que se registam a cada 26 meses devido ao posicionamento relativo dos dois planetas e representam fases em que se consegue fazer o lançamento usando o mínimo de combustível possível.

A Canon voltou a elevar a fasquia na área da captação de imagem com o lançamento de um novo sensor CMOS de 35 mm (full frame) e com 410 megapíxeis de resolução. Este sensor é capaz de captar imagens com 24.592×16.704 píxeis, o equivalente a 24K de resolução. Em termos comparativos, é 12 vezes superior à resolução 8K e 198 vezes superior à resolução HD.

O sensor capta imagens de 410 megapíxeis, o equivalente a 24K de resolução

Segundo a Canon, trata-se do maior número de píxeis jamais alcançado num sensor de 35mm. Por agora, este avanço não se destina às câmaras digitais de consumo. “O sensor foi projetado para aplicações industriais, como vigilância e medicina, que requerem resoluções extremas e estão dispostas a pagar um preço elevado”, explica a Canon em comunicado.

Inovação tecnológica

O novo sensor utiliza um padrão de circuito redesenhado e uma estrutura empilhada retroiluminada, na qual os segmentos de píxeis e de processamento de sinal estão intercalados. Graças a esta arquitetura, o sensor atinge uma velocidade de leitura de 3.280 megapíxeis por segundo, permitindo capturar imagens em resolução total a uma velocidade de oito fotogramas por segundo.

A Canon também desenvolverá uma versão monocromática deste sensor, equipada com uma função de “binning” (agrupar dados) de quatro píxeis. Esta técnica melhora a sensibilidade à luz fraca ao combinar quatro píxeis adjacentes como um só. Embora reduza a resolução geral, permite captar vídeos monocromáticos a 100 megapíxeis e 24 fotogramas por segundo.

Resoluções tão altas geralmente exigem sensores maiores e equipamentos de grandes dimensões. Com esta tecnologia num sensor de apenas 35 mm, compatível com muitas lentes full-frame, torna-se possível desenvolver equipamentos de captação mais compactos.

O sensor vai ser exibido ao público no pavilhão da Canon na SPIE Photonics West, uma das principais conferências globais de ótica e fotónica, que decorrerá em São Francisco, nos EUA, de 28 a 30 de janeiro de 2025.

A Inteligência Artificial tem vindo a ganhar destaque de forma acelerada nos últimos anos. Quando falamos em “AI nas nossas mãos”, podemos advogar que as aplicações já andam neste mundo da inteligência artificial há bastante tempo. Os smartphones somam e seguem há mais de 15 anos e, como eles, nasceram as aplicações que mudaram, facilitaram e aceleraram a nossa vida e dia-a-dia. A Siri, por exemplo, já é uma adolescente com 13 anos.

Certo é que, desde que começámos a usar smartphones, até aos assistentes virtuais e às soluções de tradução automática, a IA tem vindo a moldar a forma como interagimos com a tecnologia no nosso dia-a-dia. Mais do que uma tendência, a IA é a espinha dorsal da evolução nas aplicações que usamos todos os dias e hoje 77% das empresas utilizam esta ferramenta ou estão a explorar formas de o fazer no futuro.

A personalização é, sem dúvida, um dos maiores trunfos da IA nas apps modernas. Ao entrar numa aplicação de música, por exemplo, a IA analisa frequentemente os gostos e preferências de quem a utiliza para sugerir novas músicas e até playlists, muitas vezes de forma imperceptível. Um exemplo claro disso são plataformas como o Spotify, que se tornam cada vez mais adaptadas ao comportamento dos utilizadores, proporcionando uma experiência mais agradável e personalizada.

A IA, no entanto, não se limita apenas à personalização. Também tem a capacidade de tornar as funcionalidades das apps mais inteligentes e práticas, como no caso da tradução automática. Ferramentas como o Google Translate ou o Translate Now utilizam IA para realizar traduções instantâneas de textos e até conversas, com uma precisão crescente. Temos também a geração dos QR codes, que passou a ser um forte aliado em processos de pagamento e compras online. Apps como o Calculator Air, por exemplo, oferecem funcionalidades avançadas de IA que vão muito além de cálculos simples e ajudam a resolver problemas matemáticos complexos, fornecer explicações detalhadas e suporte para os trabalhos de casa dos mais novos, tornando o processo de aprendizagem mais fácil. O mais interessante é que essas ferramentas continuam a melhorar à medida que são utilizadas – oferecendo um serviço cada vez mais adaptado às necessidades de cada pessoa.

Estas funcionalidades não se limitam às grandes empresas e plataformas. A IA tem um impacto direto em empresas de todos os tamanhos sendo que empresas que adotam esta ferramenta reportam aumentos de produtividade dos empregados de até 40%. As apps de atendimento ao cliente, por exemplo, são alimentadas por IA para fornecer respostas rápidas e úteis, melhorando a experiência do utilizador e ajudando as empresas a resolver problemas de forma eficiente. Este tipo de automação não só beneficia o consumidor, mas também permite que as empresas operem de forma mais ágil, otimizando recursos e tempo.

No âmbito empresarial, a IA também está a ser utilizada para melhorar os processos internos. Em 2024, 52% das empresas reportaram aumento de receita devido ao uso de IA. Cada vez mais, estas ferramentas estão a ajudar empresas a tomar decisões mais informadas, analisar grandes volumes de dados e até a otimizar campanhas de marketing. A automação de processos, a análise preditiva e a personalização dos serviços estão a mudar a forma como as empresas funcionam. Não é em vão que se prevê que a IA tem o potencial de contribuir com até 14 biliões de euros para a economia global até 2030.

Hoje, a IA já não é um luxo, mas uma necessidade para quem quer desenvolver apps que se destaquem e tragam valor aos utilizadores. Desde a personalização da experiência até à criação de funcionalidades inteligentes, a IA está a tornar as nossas interações com as apps mais naturais, rápidas e eficientes. O seu impacto é visível em praticamente todas as áreas, desde a saúde, educação, até ao e-commerce, e a tendência é que se torne cada vez mais presente, com mais soluções inovadoras e interativas. A Inteligência Artificial está, sem dúvida, a moldar o futuro das apps, e quem a souber integrar de forma eficaz, terá uma maior hipótese de se destacar no mercado.

Donald Trump chega pela segunda vez à Casa Branca, num registo entre o ovni político e o cowboy e sabemos uma coisa: há método na loucura. O pior que se pode fazer é subestimá-lo. Ele encarna a voz mais poderosa de uma revolução populista que quer governar o mundo. A sua ambição está expressa no livro de Kevin Roberts, prefaciado pelo vice-presidente JD Vance: Dawn’s Early Light, Taking Back Washington. O autor é o presidente da Heritage Foundation, o think tank conservador que criou o projeto 2025, um plano de grande envergadura para remodelar o governo americano. Como diz o autor, trata-se de realizar a “segunda revolução americana”, cujo desígnio fundamental é acabar com o “Estado Profundo”. Isto é, substituir a elite burocrática e financeira que domina a vida política americana desde os anos 80 por uma nova elite populista emanada do movimento MAGA de Trump.

Esta revolução de Trump tem duas grandes forças motrizes. A primeira é o neonacionalismo e o populismo, que utiliza como recurso sistemático o apelo ao povo e fórmulas simplistas para atacar o sistema e as instituições democráticas, acusadas de não resolverem os problemas das pessoas. O segundo é o que podemos chamar o complexo financeiro-industrial-tecnológico, que reúne à volta de Trump três setores cruciais da economia americana: as grandes empresas tecnológicas (Big Tech), petrolíferas (Big Oil) e financeiras (Big Money).

Programa: desmantelar o Estado

O Presidente Eisenhower, no seu discurso de despedida em janeiro de 1961, alertou os Estados Unidos da América e o mundo para o imenso poder acumulado pelo complexo militar-industrial no país e o perigo para as políticas públicas, que advinha da ligação umbilical das Forças Armadas com o setor industrial. Esta ligação cria distorções e facilita a obtenção para o setor privado da aprovação política do investimento em investigação, desenvolvimento e produção de armas, equipamentos, instalações. O discurso de Eisenhower foi premonitório e o complexo militar-industrial tomou muitas vezes conta das políticas públicas nos EUA com consequências desastrosas. A intervenção no Iraque em 2003, justificada com base em informações falsas, é apenas um exemplo.

Ecoando o discurso de Eisenhower, o Presidente Joe Biden, numa das suas últimas intervenções, alertou para os perigos para o país da “oligarquia que está a tomar forma e que com o seu poder, a sua riqueza e a sua influência ameaça a democracia” e da avalanche de desinformação propagada pelas redes sociais, que até já prescindem da verificação dos factos.

Estamos a entrar numa nova era em que o complexo financeiro-industrial-tecnológico pode vir a tomar conta das políticas públicas nos EUA e a infligir um duro golpe à democracia americana. Sejamos claros: Elon Musk é um génio da tecnologia, domina setores vitais da economia, como o espaço e o lançamento de foguetes com o SpaceX, dos satélites com o Starlink, da Inteligência Artificial com o OpenAI, das neurotecnologias e interfaces cérebro-computador com a Neuralink, da mobilidade elétrica com a Tesla, das redes sociais com a rede X. Tudo isto é fruto do seu trabalho e da sua capacidade de inovação e isso é uma coisa positiva. O problema é quando se parte daqui para conquistar Washington e querer governar o país e o mundo.

Dupla O casamento de Musk com Trump transporta para o centro da Administração o mais poderoso industrial da América e do mundo, que tem um programa: desmantelar o Estado Foto: WILL OLIVER/ LUSA

O casamento de Musk com Trump transporta para o centro da Administração o mais poderoso industrial da América e do mundo, que tem um programa: desmantelar o Estado; eliminar as instituições reguladoras que podem restringir a sua ação e os seus interesses; abolir as leis que criem o mínimo obstáculo ao desenvolvimento das suas atividades e das dos seus pares; criar condições para acumular ainda mais riqueza; abrir uma grande avenida política para servir a sua ganância sem escrúpulos.

Nesta trajetória, como representante da Administração Trump, Musk vai alargar a sua agenda ao resto do mundo, como o demonstram os seus recentes ataques às democracias inglesa e alemã, e o seu apoio aos movimentos populistas e de extrema-direita na Alemanha e no Reino Unido, procurando minar e debilitar as democracias europeias. Só um lunático pode apelar ao rei Carlos III para dissolver o Parlamento e acabar com o governo inglês porque a Inglaterra é uma tirania. Todos os autocratas do mundo e os inimigos da democracia esfregam as mãos de contentes.

O confronto entre a riqueza e o poder já aconteceu antes na História dos Estados Unidos da América, mas a grande nação americana soube parar os milionários egocêntricos e os tecnocratas sem escrúpulos. A História mostra que os EUA conseguiram evitar a transformação do regime político do país numa plutocracia, até hoje. No início do século XX, um dos industriais mais poderosos do mundo era o milionário americano John Rockfeller, dono da Standard Oil, a maior companhia de petróleo naquele tempo. Quando o superpoder industrial e financeiro começou a representar uma ameaça, o governo e as instituições americanas entraram em ação e criaram uma lei antimonopólios, o famoso Sherman Antitrust Act, que regula a competição entre empresas e salvaguarda a livre concorrência. Na altura levou ao desmantelamento da Standard Oil, que foi transformada em 34 diferentes empresas. A Exxon é uma das companhias que emanou dessa decisão histórica. O problema hoje é que Trump traz o lobo para dentro do galinheiro e isso não augura nada de bom para os Estados Unidos e para o mundo.

Reordenamento da economia mundial

O poder de Trump está reforçado com o controlo simultâneo das duas Câmaras do Congresso e do Supremo Tribunal. O que podemos esperar desta Administração no plano interno é o reforço do “discurso soberanista”, centrado na relevância das fronteiras, na estigmatização dos imigrantes e na sua deportação anunciada (que pode incluir portugueses), combinada com campanhas ferozes de perseguição aos adversários políticos, e não só, ressuscitando um clima de caça às bruxas, uma espécie de macarthismo aparatoso do século XXI, que o seu poder sem limites pode exponenciar.

Ao mesmo tempo, no plano interno, e com graves repercussões internacionais, vamos assistir à concretização do seu programa económico, o chamado Maganomics, que é um cocktail de contradições. Scott Bessent, o indigitado secretário de Estado do Tesouro tem insistido na fórmula 3-3-3, que significa 3% de redução do défice orçamental, 3% de crescimento do PIB e três milhões de barris por dia no aumento da produção de energia. O problema é que todo o programa repousa em contradições, algumas delas insanáveis. Não é possível reduzir o défice de 6,5% para 3,5% do PIB, enquanto se concretizam reduções de impostos, em particular para os mais ricos. Trump diz que os cortes nos impostos vão ser compensados com o maior crescimento económico, a redução das despesas do governo e as receitas das tarifas, mas atingir estes objetivos simultaneamente é praticamente impossível.

Trump quer reduzir a inflação, mas anuncia aumentos de tarifas de 60% para os produtos chineses, 25% para produtos do Canadá e do México e 20% para os produtos europeus. Uma das consequências do aumento de tarifas, como mostram as conclusões de estudos de entidades financeiras, é exatamente o aumento da inflação. Trump quer reduzir as taxas de juro, mas hostiliza o presidente da Reserva Federal e, com o seu poder discricionário, pode vir a violar uma das regras sagradas do funcionamento do sistema financeiro, que é a da independência do Banco Central do poder político.

Trump quer um dólar mais barato para estimular as exportações. Perora contra a hipervalorização do dólar, quer uma espécie de reordenamento da economia mundial, um novo Bretton Woods ou uma reprodução do Acordo Plaza, do G20, em 1985. No entanto, é o próprio Scott Bessent que diz que 2/3 do impacto do aumento das tarifas se reflete na valorização do dólar. Trump quer reduzir o défice comercial, mas ele e os seus aliados atacam a teoria clássica de David Ricardo, que postulou os pressupostos do comércio livre e aberto e dos benefícios que daí resultam para todos: os países exportam bens, ganham divisas e usam as divisas geradas para pagar as suas importações, sendo que cada país se especializa nos setores em que tem vantagens comparativas. David Ricardo deu na altura o exemplo dos tecidos ingleses e do vinho português. Trump tem uma visão protecionista e está contra o modelo “ricardiano” do comércio livre. A sua equipa proclama aos quatro ventos: “Ricardo está morto.” Em seu lugar Trump quer um novo paradigma no comércio mundial comandado pelo poder político, com as tarifas, a coação e as represálias. Como a História mostra, isso conduz ao aumento dos custos, à penalização dos consumidores e ao agravamento dos défices comerciais. Com as tarifas e a coerção política sobre o comércio, os próprios fluxos de capital de que hoje beneficiam os Estados Unidos podem ser condicionados.

Testar a Europa até ao limite

Na cena internacional, Trump chega de novo à Casa Branca quando o mundo vive um dos momentos mais perigosos depois da II Guerra Mundial, com a crescente fragmentação geopolítica e geoeconómica. A União Europeia está mais frágil, mais hesitante e reativa, incapaz de tomar uma iniciativa estratégica e de se preparar para viver e agir num mundo cujas regras estão em erosão. A União Europeia reagiu bem à invasão da Ucrânia pela Rússia, reforçou a sua unidade, reforçou a sua participação na NATO, reforçou a relação transatlântica, mas a nova Administração americana vai testar a Europa até ao limite e de forma severa. Para Trump a Europa tem um interesse periférico, não a mencionou na campanha eleitoral e, quando pode, ataca os seus aliados europeus.

Acresce a isto que a Europa teve de se adaptar rapidamente e de forma abrupta. Tinha um modelo de desenvolvimento económico baseado no gás barato russo e nas exportações sobretudo da indústria automóvel e química, de que a Alemanha era um paradigma. Esse modelo ficou virado do avesso com a invasão da Ucrânia pela Rússia. A Alemanha está a fazer a sua reconversão industrial e mudou a sua política energética em 48 horas, com a célebre formulação do chanceler Scholz do Zeitenwende, do ponto de viragem, não só na energia como na política de defesa e armamento. Mas o resultado é que o gás russo tem vindo a ser substituído pelo gás natural liquefeito (LNG) importado dos EUA e do Qatar, que é mais caro. Isso tirou vantagens competitivas à indústria e às economias europeias, sendo que na Europa Central hoje os preços do gás são cinco vezes mais elevados do que nos Estados Unidos e os da eletricidade são três vezes maiores.

A Europa está assim numa grande encruzilhada e isto quando tem vindo a perder poder económico e competitividade. Em 2008 o PIB europeu era da mesma ordem de grandeza do PIB americano, e hoje é 20% inferior. O declínio do Ocidente é de facto um declínio da Europa, porque os EUA têm sabido preservar o seu poder económico no mundo e são hoje não só a maior superpotência económica, militar e tecnológica, mas são também uma superpotência energética, fruto da revolução do gás e do petróleo de xisto empreendida a partir da primeira década deste século.

Política do “quero, posso e mando”

Esta revolução energética levou ao desenvolvimento sem precedentes da produção de petróleo e gás nos Estados Unidos, que são hoje o maior produtor mundial de petróleo, à frente da Arábia Saudita, e são o maior produtor mundial de gás, à frente da Rússia e do Qatar. Os EUA têm três grandes bacias geológicas – a de Bakken, no Dacota do Norte, e as de Eagle Ford e Permian, no Texas – e cada uma destas bacias equivale a um país do Golfo Pérsico a produzir petróleo e gás dentro do território americano. Isto mudou a geopolítica e a geoeconomia mundiais. Esta independência energética dá a Trump ainda mais conforto para praticar a sua política do “quero, posso e mando”.

No entanto, o seu programa “drill, baby, drill” vai ter dificuldades no que concerne às companhias petrolíferas porque a procura mundial de petróleo está em declínio, resultado do fraco crescimento da economia. O mercado do petróleo está saturado com excesso de produção, a OPEP tem capacidade excedentária e os EUA atingiram um recorde de produção de petróleo em outubro do ano passado, tendo aumentado cerca de 18% nos últimos três anos, o que reduz a margem de crescimento futuro. Acresce a isto que o concurso para a perfuração do Refúgio de Vida Selvagem no Ártico, no Alasca, uma obsessão de Trump, ficou deserto pela segunda vez. As companhias temem os custos altos de perfuração onde não existem estradas nem infraestruturas e as grandes dificuldades de financiamento, pois os bancos não querem ficar associados a projetos de alto risco, não só técnico como ambiental. No que concerne ao gás, a situação é diferente porque a procura de gás no mundo está a crescer com a eletrificação da economia, o crescimento das classes médias dos países emergentes e os consumos dos Centros de Tratamento de Dados e da Inteligência Artificial.

Estamos a entrar numa nova era em que o complexo financeiro-industrial-tecnológico pode vir a tomar conta das políticas públicas nos EUA e a infligir um duro golpe à democracia americana

Uma área em que Trump pode ser altamente lesivo é na luta contra as alterações climáticas. Vai voltar a sair do Acordo de Paris, porá em causa o programa de 300 mil milhões de dólares, aprovado na COP29, em Baku, para ajudar a transição energética nos países em desenvolvimento. Internamente vai tentar acabar com os apoios do Presidente Biden às energias renováveis e dará carta-branca aos combustíveis fósseis. Isto é um caminho inaceitável quando o mundo assiste à deterioração crescente do sistema climático da Terra, com o cortejo de tragédias frequentes e o sofrimento indizível das populações, de que as inundações em Valência, Espanha, e os incêndios na Califórnia são exemplos.

No entanto, nem Trump com todo o seu poder vai parar muitas das mudanças em curso. Durante a primeira Administração Trump, o poder dos Estados e dos governos estaduais levou a que muitos deles continuassem a executar as suas políticas de combate às alterações climáticas e diminuíram as suas emissões. Isso vai voltar a acontecer. Da mesma forma, os eleitos do partido Republicano, que dependem da sua base eleitoral nos estados, vão ter um papel importante: das cerca de 900 empresas que os EUA atraíram ao abrigo da legislação do IRA (Inflation Reduction Act), de Biden, e que estão ligadas a tecnologias renováveis e limpas e aos respetivos equipamentos, cerca de 80% serão instaladas em estados republicanos. Vai ser interessante ver como é que as tensões vão ser geridas.

A questão das alterações climáticas oferece à Europa a possibilidade de construir grandes plataformas colaborativas no mundo para continuar a lutar e a minimizar os efeitos, reforçando o caminho justo que tem seguido para um planeta sustentável e pela sobrevivência da vida.

Preservar a relação transatlântica

Neste contexto, Trump pode de facto significar uma oportunidade para a Europa. É preciso fazer tudo para preservar a relação transatlântica e trabalhar com os EUA para uma solução da guerra da Ucrânia. Ao mesmo tempo, a Europa não pode esperar pelos EUA e ficar amarrada. Tem de ter iniciativa estratégica para desenvolver as suas indústrias de defesa, reforçar a sua segurança, colmatar o fosso tecnológico que deixou cavar para os EUA e a China, materializar as medidas do Relatório Draghi, reforçar a união política, abrir e/ou reforçar novas zonas de cooperação no mundo com o Mercosul e África, erigir grandes plataformas de cooperação com as democracias (Canadá, México, Brasil, África do Sul, Índia, Japão, Coreia do Sul, Austrália, Nova Zelândia e outros países) para lutar pela paz, defender os valores da liberdade, dos direitos humanos, do comércio livre e resolver problemas como as alterações climáticas e a luta contra a pobreza e as desigualdades, construindo um futuro de paz e prosperidade.

Um desafio para os EUA e para a Europa é que as autocracias, com a Rússia e a China à cabeça, estão mais assertivas, mais agressivas e desafiam a ordem democrática liberal instituída depois da II Guerra Mundial e liderada pelos EUA.

A fragmentação geopolítica e geoeconómica reflete-se no facto de as autocracias estarem a construir na Ásia um mercado “paralelo” para a energia, com a reconfiguração dos fluxos de petróleo e gás russos. A Rússia movimenta hoje uma frota-fantasma de petroleiros que se deslocam no oceano, com os sistemas de referenciação desligados, contrariando todas as regras da Autoridade Marítima Internacional, e abastecem com petróleo e gás barato múltiplos países asiáticos, desde logo a China e a Índia.

Ao mesmo tempo, tentam assegurar o controlo das matérias-primas críticas, como as terras raras, o manganês ou o lítio, e o controlo dos três estreitos que são fundamentais para o funcionamento da economia mundial: o Bósforo, para os cereais; o estreito de Ormuz, para o petróleo e o gás; o estreito de Taiwan, para os microchips e os microprocessadores.

Regresso definitivo da lei do mais forte

A nova Administração Trump arrisca-se a transformar a geopolítica num negócio em que ganha quem paga melhor, e isso vai favorecer as autocracias e debilitar o campo democrático. A mentalidade transacional do Presidente americano e a sua atração pelos autocratas pode contribuir para a maior erosão da ordem internacional e o regresso definitivo da lei do mais forte, transformando a comunidade internacional numa selva em que todos vão estar em guerra com todos.

Estes sintomas tornam-se claros com as posições recentes de Trump sobre o Canal do Panamá, a Gronelândia e o Canadá, que fazem lembrar o imperialismo dos EUA no fim do século XIX, quando anexou Porto Rico e Guam. É o regresso da Doutrina Monroe, que vê o Hemisfério Ocidental como uma área de influência dos EUA, que querem também afirmar-se como uma potência do Ártico, tendo em conta os recursos minerais enormes desta área do mundo e a sua importância na reconfiguração das rotas marítimas, que advém do desaparecimento de grandes massas de gelo com os efeitos do aquecimento global. A posição unida da Europa no apoio à Dinamarca e ao Canadá pode ser importante para defender com firmeza os princípios que norteiam a ordem internacional se o mundo se confrontar com uma deriva imperialista e discricionária americana.

Como representante da Administração Trump, Musk vai alargar a sua agenda ao resto do mundo, como o demonstram os seus recentes ataques às democracias inglesa e alemã, e o seu apoio aos movimentos populistas e de extrema-direita na Alemanha e no Reino Unido, procurando minar e debilitar as democracias europeias

Finalmente, Trump parece apegado à preocupação da busca da paz no mundo e isso é uma boa notícia. No entanto, para a Ucrânia a notícia só será boa se se conseguir um acordo de paz que respeite os direitos fundamentais do povo ucraniano e não o sujeite a uma humilhação, que seria também uma humilhação para a Europa. Por isso, é importante esta não se deixar marginalizar para ser confrontada com factos consumados. Uma reunião a sós de Trump e Putin para definir o futuro da Ucrânia pode não ser o melhor caminho.

Também o Médio Oriente está cansado da guerra e a influência de Trump sobre o governo de Israel pode ser decisiva para alcançar as tréguas, trabalhando na base da arquitetura de negociações definida por Biden. O risco aqui é deixar o governo de Israel de mãos livres, o que pode levar ao espezinhar completo dos direitos do povo palestiniano e ao agravamento das consequências do genocídio em Gaza, o que é inaceitável. Os últimos eventos no Médio Oriente levaram ao colapso do regime repressivo sírio de Bashar al-Assad, ao enfraquecimento do Irão e à destruição das lideranças terroristas do Hamas e do Hezbollah. O Médio Oriente pode entrar numa nova etapa, mas todos os demónios estão vivos, assim como todas as feridas, e podem regressar a qualquer momento. Acresce a isso que os dinossauros que governam Israel, a Turquia e o Irão há décadas têm cada um a sua agenda. Se não houver entendimento e o envolvimento e o empenho dos países árabes como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos ao lado do Qatar, o pior pode voltar a acontecer, com ou sem Trump.

O mundo entra numa nova era repleta de incertezas e desafios e, sendo verdade que o pior nem sempre acontece, todos os sintomas são a favor do caos e da instabilidade. Por isso o papel da Europa pode ser importante se não quiser ser apenas um museu, mas um participante ativo para resolver os problemas deste tempo.

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Depois de uma semana marcada pelos ventos e chuvas fortes, cortesia da depressão Garoe, uma nova depressão vai voltar a deixar Portugal sob aviso devido ao mau tempo, já na próxima semana.

A tempestade Éowyn deverá afetar primeiro as ilhas britânicas, sendo já considerada a “pior do século” na Irlanda, onde se estima que os ventos ultrapassem os 130 km/hora. Foi emitido um alerta vermelho para a região. “Fiquem em casa, não há necessidade de sair. Algumas das velocidades de vento que estamos à espera estão nos níveis mais extremos que já vimos”, alertou a meteorologista Elizabeth Coleman.

Continente volta a estar sob aviso amarelo a partir de sexta-feira

Em Portugal, a região autónoma dos Açores deverá ser a primeira a sentir os efeitos da tempestade, já a partir de quinta-feira. São esperados ventos fortes e ondas que podem chegar aos 10 metros. Já na sexta-feira e sábado, os arquipélagos da Madeira e Açores voltam a estar sob aviso amarelo devido às condições meteorológicas adversas.

A depressão só deverá começar a fazer-se sentir no continente no final da tarde de sexta-feira, existindo um aviso amarelo do IPMA devido a forte agitação marítima e precipitação para os distritos do Porto, Aveiro, Viana do Castelo e Braga entre as 18:00 de sexta-feira e as 00:00 de sábado.

Para os distritos Lisboa e Leiria está previsto o aviso amarelo entre as 18:00 de sexta-feira e as 18:00 de sábado, mas devido apenas a agitação marítima.