Se pensarmos numa cidade em que o contemporâneo não deu cabo do tradicional, é Olhão que nos aparece na memória. Normalmente encarada apenas como ponto de passagem e porto de saída para as ilhas da Armona, da Culatra e do Farol, tem muito para contar pelas suas ruas.

De manhã, junto ao irresistível mercado – são dois, na verdade, um de peixe, outro de frescos –, o ritmo é acelerado e intercultural. Cruzamo-nos com muita gente, local e nem por isso, que anda às compras ou a tomar o pequeno-almoço numa das esplanadas que circundam estes peculiares edifícios de 1916 (renovados já no século XXI). Tudo isto se passa lado a lado com a ria Formosa – estamos em pleno parque natural.

A comunidade estrangeira, que costuma ser mais atenta a estes nichos de genuinidade, já se fixou há anos em Olhão. A Re-Criativa República 14 iniciou a sua atividade, precisamente, com aulas de português para estrangeiros. Ao reabilitar o edifício da antiga Sociedade Recreativa Olhanense, esta associação cultural devolve à comunidade a antiga casa senhorial construída no século XIX de cada vez que organiza sessões de cinema, exposições, concertos, mercados e aulas de ioga ou capoeira.

No meio de outras surpresas arquitetónicas e culturais, encontramos algumas lojas fechadas e abandonadas, menos as que vendem souvenirs de gosto duvidoso – prefira-se o oásis Pinta Roxa, com objetos de decoração e artesanato relacionados com o património algarvio feitos por artistas locais.

Mesmo na sua decadência, conseguimos adivinhar-lhes o charme de outras épocas. Até porque também se veem vários exemplares, ainda mais antigos, bem recuperados, para que possamos perceber a razão pela qual Olhão ganhou o epíteto de cidade cubista – a única localidade europeia com características mouriscas construídas de raiz e muito depois da permanência islâmica no território.

Paragens obrigatórias

Marina com Noélia
O ainda novo restaurante de Noélia Jerónimo fica na zona mais recente da cidade, onde atracam os barcos de recreio. Nesta nova sucursal, com 90 lugares, a maioria ao ar livre, a ementa está muito baseada na ria e no mar, como já nos habituou esta chefe algarvia.
Real Marina Hotel & Spa, Av. 5 de Outubro > T. 91 330 8129 > seg-dom 12h30-23h

Salinas do Grelha
Como o sol algarvio é generoso o suficiente para nos fazer sentir quentes, mesmo fora da época balnear, experimentar flutuar nestas salinas bem temperadas, junto a Olhão, será sempre uma alternativa adequada. Além de se poder comprar, no local, o sal e a sua flor produzidos artesanalmente.
Cova da Onça, Belamandil > T. 96 775 3496

Casa Amor
Este recente boutique hotel, de apenas dez quartos, fica num edifício do século XIX recuperado para o efeito, respeitando a traça, das paredes caiadas às abóbadas e às pedras ocre. Além de poder ficar a dormir nesta casa típica olhanense, as suas portas também estão abertas à comunidade. Há a pastelaria, onde se encontram as criações deliciosas de Walter, assim como uma seleção de produtos locais, de pequenos produtores.
R. Dr. Pádua, 24A > T. 91 066 9436 > a partir de €127,50 > pastelaria: ter-sáb 9h-15h

Passeios Ria Formosa
Nesta empresa, os passeios com partida de Olhão adaptam-se ao que cada um procura, desde uma simples ida às ilhas das redondezas a um mergulho profundo no mar.
T. 96 215 6922

Re-Creativa República 14
Av. da República, 14 > T. 91 051 3614

Pinta Roxa
Av. 5 de Outubro, 28 > T. 91 638 0557

FESTIVAL
Todos os verões, em agosto, a cidade recebe milhares de visitantes para saborear o marisco fresco que chega ao mercado

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O castelo espreita lá no alto, anunciando a chegada à “cidade branca” de Estremoz. Se a visita se fizer a um sábado, não estranhe a enchente de pessoas à roda do Rossio Marquês de Pombal. É na maior praça do País que acontece o mercado tradicional, onde produtores locais trazem hortícolas, queijos, fruta, enchidos, e os negociantes de velharias e antiguidades apresentam os últimos achados.

Abastecer-se no mercado abre o apetite para outras incursões gastronómicas naquele que é um dos cinco municípios eleitos Cidade do Vinho 2025 (todos da região da serra d’Ossa), com uma série de iniciativas a acontecer ao longo do ano, ligadas também à gastronomia e ao património.

Na Herdade das Servas, um dos produtores do concelho, as visitas e provas são complementadas com um restaurante, o Legacy, onde a cozinha chefiada por Emanuel Rodriguez apresenta sugestões como a perna de cabrito de leite assada com batatinhas e bimi, evocando um dos produtos endógenos. No centro da cidade, não muito longe do Rossio, o Howard’s Folly também casa o vinho e a comida. Esta adega urbana é um lugar que surpreende não só pelos vinhos, mas também pela promoção da arte e de novos artistas. A tudo isto acrescente-se o bar, com uma seleção de cocktails, e o restaurante The Folly, de ambiente cosmopolita e pratos inspirados na gastronomia do mundo, como as puntilhitas, aioli nero e o bao de camarão, alho-francês, molho wasabi.

Identidade Prato de borrego do restaurante Legacy, o figurado de Estremoz e o chefe Rúben Trindade Santos, da Casa do Gadanha. Foto Alvaro Isidoro

Em Estremoz, come-se em tascas e restaurantes de comida tradicional, mas também em lugares sugeridos no Guia Michelin, como a Casa do Gadanha e a Mercearia do Gadanha, projetos dos chefes Rúben Trindade Santos e Michele Marques, que dão a conhecer as suas versões da cozinha tradicional, com base nos produtos e fornecedores locais. Da identidade desta cidade alentejana também faz parte outro património que não se serve nem se prova à mesa, como o figurado de Estremoz, classificado Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO e com um centro interpretativo de visita obrigatória. Suba-se ainda ao Conjunto Monumental da Alcáçova de Estremoz, para conhecer o castelo, a Igreja de Santa Maria e, para memória futura, espreitar a vista.

Paragens obrigatórias

Museu Berardo Estremoz
Dedicado à azulejaria, expõe mais de 4 500 exemplares, do século XIII até ao século XXI, a maior coleção privada deste género em Portugal.
Lg. Dragões de Olivença, 100, Estremoz > T. 268 080 281 > €3,50

Centro de Ciência Viva de Estremoz
Um sistema solar à escala do concelho de Estremoz ou um vulcão com quatro metros de altura são alguns módulos deste centro onde o tema é a Terra.
Convento das Maltezas, Estremoz > T. 268 334 285 > €9, €6 (7-17 anos), €4 (4-6 anos)

Café Águias D’Ouro
Tome um café ou prove o bife de vitela à Águias, neste que é um dos cafés mais antigos do País (abriu em 1909).
Rossio Marquês de Pombal, 27, Estremoz > T. 268 324201

Pastelaria Formosa
Especializada na doçaria local, desde 1961, tem os tradicionais gadanhas, guizos e o bolo de mel e noz.
Rossio Marquês de Pombal, 93, Estremoz > T. 268 339 322

Rota do Mármore do Anticlinal de Estremoz
Para conhecer a maior extensão de mármores do País em visitas guiadas às pedreiras. Informações em rotadomarmoreae.com

Sabores
O festival Cozinha dos Ganhões, entre novembro e dezembro, reúne gastronomia, doçaria, produtos regionais e artesanato

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Esta cidade alentejana, um pouco afastada da costa, é como um Dom Quixote. Desde o século passado que se insurge e luta contra o carimbo de “coitadinhos” que normalmente se cola aos sítios do Interior – e é por isso que vale tanto a pena visitá-la e surpreendermo-nos com a vida que por lá se sente.

Podíamos gastar todo o espaço disponível para escrever sobre Montemor-o-Novo apenas com o castelo e a área que o rodeia, contando o que se vislumbra do topo da Torre da Má Hora. Em poucas palavras, resume-se que se trata de um núcleo erguido para proteger esta cidade alentejana dentro de muralhas do século XIII.

No percurso de cerca de quilómetro e meio, em terra batida, passamos por duas igrejas (na de Santiago há até um centro interpretativo), pelo convento da Saudação (onde durante anos funcionou o Espaço do Tempo, do bailarino e coreógrafo Rui Horta, mas agora está fechado para obras), cruzamos pedaços de muralha ainda em muito bom estado, apreciamos as vistas sem fim.

Daqui vemos a zona velha, para onde a população começou a expandir-se no século XIV. E é para lá que vamos, de preferência a pé, que é a descer e sempre ajuda a “desmoer” os pratos de substância típicos da região – ai, as migas, meu deus, que vão bem com tudo…

Montemor-o-Novo não vive apenas na sombra do que foi em séculos idos, soube reinventar-se, dar lugar a novos criadores, espaço à cultura, animação à terra. O Convento de São Francisco, ou o que resta dele, funciona como um excelente exemplo deste borbulhar da cidade que já vem de longe. Entrar neste monumento, meio em ruína, poiso da associação Oficinas do Convento, é encontrar vários ateliers, alguns abrigo de residências artísticas, de artes tão distintas como música, pintura, gravura digital ou até gastronomia. Destes artistas se espera que assegurem parte da intensa agenda cultural da região, às vezes a pedir meças à da capital, com exposições, concertos, debates e performances.

Paragens obrigatórias

Palacete da Real Companhia do Cacau
Um palacete do século XIX, no centro, onde se pode ficar a dormir, ao mesmo tempo que se espreita a fábrica onde os irmãos António e Serafim Melgão transformam o cacau que importam do Peru, da Nicarágua e da Guiné para fazer chocolates.
Largo Alexandre Herculano, 1 > T. 93 674 0769

Cooperativa Integral Minga
Aqui podem comprar-se legumes, fruta e outros alimentos da época com a garantia de serem de produtores da região.
Largo Machado dos Santos, 10 > T. 266 098 354

Monte Selvagem
Muito perto desta cidade, está um pedaço de selva. Este parque com 20 hectares alberga 300 animais das mais variadas espécies, sob o princípio da conservação e do respeito. 
Monte do Azinhal, Lavre > T. 265 894 377 > sáb-dom 10h-17h

Sleep & Nature
Hotel especializado em sono. Aqui há mão de Teresa Paiva, a nossa maior doutorada na matéria, e tudo se conjuga para noites de descanso efetivo. 
Monte do Vagar, Lavre > T. 266 009 970

A Ribeira
Se não encontrar este restaurante, pergunte pela “ementa cantada” e imediatamente receberá um sorriso de volta e as indicações de que precisa. Desde há 25 anos que o dono, Carlos Carriço, sobe a uma cadeira para cantar em ritmo rap os pratos escritos na ardósia. No final, a conta sai em versão fado. Não dói muito e a comida é mesmo boa, bem ao estilo alentejano.
R. de São Domingos > T. 266 890 211 > ter-qui 12h-14h30, sex-sáb 12h-14h30, 19h-21h30  

ESPETÁCULOS
O Espaço do Tempo iniciou agora um novo ciclo virado parao público. Antes de irà cidade, espreite a agenda

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Apartir do centro, caminhamos com vagar por esta vila com vibração de cidade. Da Rua Serpa Pinto, de onde se tira uma bela fotografia com o Palácio Nacional de Mafra ao cimo, em pano de fundo, classificado como Património Cultural da Humanidade pela UNESCO em 2019, vamos bem para bons restaurantes como o João da Vila, com uma ementa grande e apelativa, e fila de espera para se comer peixes grelhados, arrozes, carnes no churrasco, pratos de caça e doces gulosos.

Ali perto, impõe-se visitar o palácio barroco (1711) com o maior conjunto sineiro do século XVIII – dois carrilhões com 92 sinos (com concertos aos domingos à tarde) – mais seis órgãos históricos instalados na basílica, a biblioteca com um acervo de aproximadamente 36 mil volumes (a maior livraria numa só sala em toda a Europa) e uma enfermaria do século XVIII.

Em breve, terão início obras de conservação e reabilitação da envolvente e dos claustros do palácio. Mais tarde, este ano, para ali se mudará o Museu Nacional da Música, com uma das mais ricas coleções europeias de instrumentos musicais, cerca de mil instrumentos dos séculos XVI a XX, de tradição erudita e popular.

Mafra tem vários espaços verdes, como o Jardim do Cerco. Foto: Luís Barra

Na “vila velha”, zona nem sempre explorada pelos visitantes, uns metros mais adiante do restaurante João da Vila, fica outro monumento nacional de interesse: a Igreja de Santo André erigida no reinado de D. Dinis, no século XIV, a evocar as origens medievais de Mafra. Neste recanto, onde também há um miradouro, está aberto o Palácio dos Marqueses de Ponte de Lima, dos finais do século XVII, que no verão de 2024, após restauro, reabriu como Casa da Juventude. Com 14 quartos e três camaratas, o alojamento local também faz parte deste projeto apresentado por um grupo de jovens na Assembleia Municipal, o mesmo coletivo que viu aprovada a ideia do skatepark, inaugurado no Parque Desportivo de Mafra, em 2023, dividido em três zonas: bowl (nível avançado), saltos (nível médio-avançado) e técnica (todos os níveis).

Mafra, um dos concelhos mais jovens do País, fica a 50 quilómetros da capital e com o mar aos pés. A proximidade ao oceano Atlântico sempre foi relevante para a região, muito antes de a Ericeira, a dez minutos de carro, ser Reserva Mundial de Surf, em 2011. Descendo até às praias pela Estrada Nacional 116, na berma vemos a Aldeia Típica José Franco, com o seu moinho, a recriação em miniatura de uma aldeia desta região saloia, parque infantil e padaria com o aroma do pão com chouriço na lenha a abrir o apetite. Mafra, aliás, dá nome a marca registada de pão regional, ou não estivesse numa zona agrícola rica em cereais e muito ventosa, com moinhos de vento ainda a laborarem.

A biblioteca privada da Quinta da Abelheira, ex-líbris da propriedade, tem mais de cinco mil livros e catálogos Foto: Marcos Borga

Continuando ao ar livre e planeando uma incursão maior na Natureza, Mafra prima por lugares verdes sui generis. O Jardim do Cerco, inspirado no jardim francês do Palácio de Versalhes, com espelhos de água, caminhos largos, árvores frondosas, Horto das Aromáticas e uma nora centenária, é ideal para um piquenique. Em família, os 833 hectares de floresta da Tapada Nacional de Mafra, com mais de 370 espécies de fauna e flora, podem ser explorados em percursos pedestres ou de bicicleta elétrica, em percurso de BTT guiado, em passeios a cavalo ou em atividades com abelhas. Certo será o encontro com grandes aves e pequenos mamíferos, entre outros animais.

Paragens obrigatórias

Vizinha
Quinta produtora de hortícolas biológicas, fornecedora de cabazes e presente em mercados locais, a Vizinha tem duas mercearias-café abertas: no centro de Santo Isidoro e, mais recente, em frente ao Palácio Nacional de Mafra.
Terreiro D. João V, 13, Mafra; Lg. de Santo Isidoro, 4 > T. 96 389 6166

Parque Aventura Cova da Baleia
Aventura em 55 mil metros quadrados no meio da Natureza: escalada, rappel, slide, paintball, arborismo, entre outros divertidos programas.
Estr. da Cabeça Alta, Fonte Boa dos Nabos > T. 96 900 8368

Centro de Recuperação do Lobo Ibérico
São 18 hectares de terreno, onde se recria um ambiente seminatural adequado para lobos (vítimas de armadilhas, de cativeiro ilegal, de outros parques e jardins zoológicos). Marcações obrigatórias. Quinta da Murta, Picão, Gradil > T. 261 785 037

Foto: Marcos Borga

Centro de Interpretação Barro de Mafra
Novo espaço museológico, visa valorizar a história e a arte da cerâmica local, incluindo o trabalho de olaria e o figurado de barro.
Av. Movimento das Forças Armadas, 28, Mafra > ter-dom 10h-13h, 14h-18h > Grátis

Centro de Interpretação das Linhas de Torres
Oportunidade de saber mais sobre o papel do Palácio Nacional de Mafra nas primeira e na terceira invasões francesas a Portugal.
Complexo Cultural Quinta da Raposa, Lg. Coronel Brito Gorjão, Mafra > T. 261 819 711 > ter-sáb 10h-13h, 14h-17h > Grátis

Quinta da Cerca Restaurante & Garden Bar
No palácio recuperado, onde se instalou a nova Casa da Juventude, abriu um restaurante com pizzas feitas em forno a lenha.
R. do Castelo, Palácio dos Marqueses de Ponte de Lima, Mafra T. 261 814 154 > ter-sex 12h-16h, 19h-22h, sáb-dom 12h-22h, bar 11h-22h30

Quinta da Abelheira
Turismo rural com quatro suítes e dois apartamentos duplos, inspirados em pintores portugueses. A biblioteca, ex-líbris da propriedade, com mais de cinco mil livros e catálogos, é o cenário do pequeno-almoço.
Sobral da Abelheira, Mafra > T. 261 963 316, 92 210 5868

Concertos
Aos domingos, às 16 horas, o carrilhanista Abel Chaves toca grandes clássicos. O público pode ouvir a músicano terreiro, em frente ao palácio

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As vivências da cidade universitária contrariam a passagem do tempo. Não por acaso, quando se entra no espaço Éfe-Érre-Á – Momentos da Vida Académica, vê-se uma reconstituição da torre da Universidade de Coimbra (UC) com um relógio em que os ponteiros andam ao contrário. A singularidade desta comunidade estudantil tem-se mantido, resistente, e quem queira recordá-la ou conhecê-la melhor tem nestas pequenas quatro salas um cheirinho do que representa ter passado pela mais antiga universidade do País, cujas origens remontam a 1290 – e uma das mais antigas do mundo. Aliás, pela riqueza patrimonial (material e imaterial), cultural e científica, foi classificada Património Mundial pela UNESCO.

Património de peso As tradições da academia e a produção cultural e científica, passando pela monumentalidade dos edifícios, foram reconhecidas pela Unesco

Inaugurado em abril de 2023, o Éfe-Érre-Á concentra-se em experiências marcantes da vida estudantil em Coimbra. Pelas salas, ecoa a folia da Queima das Fitas, reconstitui-se uma República (as casas arrendadas por estudantes e geridas numa coabitação democrática), reproduz-se uma antiga sala de aula, recordam-se as glórias desportivas da Associação Académica de Coimbra, ouve-se uma amostra dos estilos musicais (do fado à canção de intervenção) que se destacaram no ambiente universitário. “Quem cá esteve mata as saudades; quem não esteve percebe porque os outros as têm”, aponta Paulo Trincão, diretor do Museu da Ciência da UC, em cujos edifícios o espaço se integra (o do Colégio de Jesus).

Quem chega do Sul, atravessa o Mondego e contempla a silhueta de Coimbra, nota como o conjunto arquitetónico da cidade universitária, instalado no topo da colina, domina o aglomerado urbano. Principalmente, o Paço das Escolas, onde estão tesouros de visita incontornável, como a Sala dos Capelos, a Capela de S. Miguel ou a Biblioteca Joanina, obra-prima do barroco mandada construir por D. João V.

Património de peso As tradições da academia e a produção cultural e científica, passando pela monumentalidade dos edifícios, foram reconhecidas pela Unesco

Mesmo os edifícios concebidos pelo Estado Novo, no século passado, possuem uma monumentalidade marcante. É o caso da Biblioteca Geral, que, além do imenso e riquíssimo fundo documental, vai promovendo iniciativas como a exposição Camões 500, patente até 10 de junho, a mostrar como “continua bem vivo o desejo de ver, ouvir e ler” o autor. Afinal, embora não haja certezas sobre o local do seu nascimento, acredita-se que terá passado em Coimbra parte da sua mocidade.

Na Sala de S. Pedro, revestida de estantes do século XVIII, os cerca de oito mil volumes sobre Teologia, Filosofia, História e Humanidades (do século XVI ao século XIX) conferem um aroma característico de outros tempos. A mostra “foi montada em função da sala, tendo por base o núcleo bibliográfico e edições da lírica e da épica camoniana”, explica Filipa Araújo, uma das curadoras. A bioiconografia camoniana está presente nas dez telas com gravuras expostas nas paredes. E também há um núcleo digital, que convida os visitantes a fruir e a reinventar este legado, baralhando, por exemplo, as estruturas dos sonetos. Um Camões com desejos de futuro.

Património verde

Uma passagem pela Alta de Coimbra não fica completa sem uma visita aos quase 12 hectares do Jardim Botânico, fundado em 1772 por iniciativa do marquês de Pombal. Desde novembro passado, há um renovado pretexto para um passeio: a reabertura da Estufa Fria, que nunca esteve permanentemente acessível ao público, instalada dentro da mata – com árvores exóticas centenárias e vegetação em crescimento livre, distingue-se do estilo neoclássico do restante jardim. “Está coberta por uma estrutura de ripas de madeira, que quebram a luz e criam as condições de um sub-bosque”, explica o botânico João Farminhão.

Das plantas ao prato Os visitantes poderão deambular pelo Jardim Botânico, que reabriu na Estufa Fria, visitar uma exposição no Centro de Artes Visuais ou provar o espadarte com xerém, preparado por João França, no Refeitro

Nesta “casa de sombra”, projetada pelo arquiteto português Cottinelli Telmo e construída no final da década de 40 do século XX, “a coleção é dominada pelos fetos, que aqui têm as condições ideais de crescimento”. Os painéis informativos agora espalhados por diferentes recantos “contam a história evolutiva das plantas terrestres, a partir dos diferentes subgrupos abordados, associados a momentos-chave dessa evolução”, acrescenta Farminhão. É como se fosse “um rio do tempo, uma viagem de 500 milhões de anos, desde que as plantas chegaram a terra firme”. Com a figura tutelar da Botânica, a escultura concebida por Martins Correia, rodeada por enormes folhas de costelas-de-adão, a vigiar cada passo.

Deambular pela Baixa

Após este revigorante mergulho na Natureza, vagueie-se pelas ruas estreitas que conduzem à Baixa de Coimbra, com paragem obrigatória na Sé Velha, fundada por D. Afonso Henriques. À sua volta, bares e restaurantes tornaram-se igualmente motivo de peregrinação. É o caso do MA, cuja discretíssima porta passa quase despercebida, não fossem os aguçados sentidos de quem vai à procura de uma refeição fora do padrão (nomeadamente, dos inspetores do Guia Michelin, que já o sinalizaram). “Não sabíamos se o projeto iria resultar, porque na região não havia nada parecido, mas Coimbra tem ultrapassado as expectativas”, confessa o chefe de cozinha Ricardo Casqueiro.

Com conhecimentos profundos das tradições nipónicas, privilegiou a criação de um menu omakase, dividido em cerca de 18 momentos-surpresa, definidos por si. “O grande foco está no ingrediente e, no que diz respeito ao sushi, não negociamos, somos puristas”, diz Casqueiro. Dos 20 lugares, disponíveis apenas ao jantar, os mais disputados são os do balcão, a apreciar a confeção e a trocar impressões com a equipa, com um serviço focado, sem ser formalista. Identidade não lhe falta.

Das plantas ao prato Os visitantes poderão deambular pelo Jardim Botânico, que reabriu na Estufa Fria, visitar uma exposição no Centro de Artes Visuais ou provar o espadarte com xerém, preparado por João França, no Refeitro

Quem continuar a descer pelas ruelas encontrará outros motivos de interesse. Sejam as exposições temporárias do Centro de Arte Contemporânea de Coimbra, junto ao Arco de Almedina, o comércio da Rua Ferreira Borges ou a História contida na Igreja de Santa Cruz – onde o primeiro rei português quis que fosse depositado o seu túmulo.

É de aproveitar percorrer mais uns metros para alcançar o Pátio da Inquisição, onde funcionou o Tribunal do Santo Ofício – no local, está a mostra Judeus de Coimbra, a resgatar as memórias desta comunidade. Ali está igualmente instalado o Centro de Artes Visuais (CAV), com uma agenda dedicada à arte contemporânea (pintura, fotografia, escultura e desenho).

Caso o apetite tenha despertado, embrenhe-se na zona conhecida por Bota Abaixo – em tempos, menos recomendável, tem-se renovado aos poucos, com algumas obras ainda em curso – até chegar ao requalificado Terreiro da Erva. Lá encontrará o Refeitro da Baixa, um singular restaurante associado à Sociedade de Cerâmica Antiga de Coimbra, nascida em 1824, a única fábrica artesanal que se mantém em laboração naquele local, outrora bairro de oleiros. “Julgo ser a segunda fábrica de cerâmica mais antiga do País, que passou de família em família, até ser adquirida pelos meus avós, em 1965”, conta Eduardo Correia, que resolveu reerguê-la. “Tinha um espólio enorme, com peças lindíssimas, era uma pena acabar”, sublinha.

O projeto de reabilitação (da autoria da sua irmã, Luísa Bebiano, em conjunto com o Atelier do Corvo) mereceu prémios de arquitetura, ao promover o convívio harmonioso entre as diferentes valências, separadas por vidros. Enquanto se prova uma das iguarias confecionadas pelo jovem chefe de cozinha João França, pode-se acompanhar o trabalho das artesãs na oficina, desde a feitura da tradicional loiça de Coimbra (existem moldes com 200 anos) a peças mais contemporâneas. Como não podia deixar de ser, o restaurante usa-as no seu serviço. Um exemplo de como a História também passa pela mesa. jloureiro@visao.pt

Paragens obrigatórias

Museu Nacional Machado de Castro
Tem uma das melhores coleções nacionais de escultura e um labiríntico criptopórtico escondido nos pisos subterrâneos – um deles, originário do século I, é um exemplar único da arquitetura civil romana na Península Ibérica. Lg. Dr. José Rodrigues > T. 239 853 076 > ter-dom 10h-18h > €8

Museu da Ciência | Laboratório Chímico
Quer dar a conhecer a História da Ciência, bem como a História da Universidade de Coimbra, a partir das suas coleções (de Física, Astronomia, Química, História Natural e Ciências Médicas).
Lg. Marquês de Pombal > T. 239 240870 > seg-dom 9h-13h, 14h-17h > €16 (mais Exploratório)

Coimbra cidade, Santa Cruz, SÉ

Sé Velha
Fundada por D. Afonso Henriques, ostenta o primeiro claustro gótico de Portugal.
Lg. da Sé Velha > T. 239 825 273 > seg-sex 10h-17h30, sáb 10h-18h, dom 11h-17h30

Café Santa Cruz
Fundado em 1923, está instalado na antiga Capela de S. João das Donas, que integra o Mosteiro de Santa Cruz, do século XII.
Pç. 8 de Maio > T. 239 833 617 > seg-sex 7h-24h

Quinta das Lágrimas
Com mais de sete séculos de História, foi cenário da paixão proibida entre o rei D. Pedro e D. Inês de Castro. Os dez hectares dividem-se entre jardim romântico, medieval e mata. Alberga um hotel de cinco estrelas.
R. António Augusto Gonçalves > T. 91 810 8232 > ter-dom 10h-17h > visitas €3, quartos duplos a partir de €126

Largo
Um bar pensado para quem já não é estudante e procura um lugar mais calmo para beber um copo. Aposta nos cocktails, preparados com xaropes próprios.
Lg. de Santana, 14 > ter-sáb 18h-2h

Alto Canto
A casa de um antigo reitor da UC, com uma vista privilegiada do Mondego, foi convertida em alojamento turístico (dois quartos), mantendo a traça arquitetónica.
Couraça de Lisboa, 10 > T. 91 216 6336 > a partir de €130

Refeitro da Baixa
Quintal do Prior, 2-4 > T. 96 370 4038 > sáb, seg-ter 12h30-15h, 19h30-22h30, qua-sex 12h30-15h, 19h30-23h

Ma restaurante, Coimbra

Ma
R. do Norte, 13 > T. 91 999 9651 > ter-sáb 19h30-23h30

Fado de Coimbra
Tocado e cantado pelos estudantes da universidade, é tradicionalmente um fado de serenata e de rua

Palavras-chave:

Paragens obrigatórias

Museu de Lanifícios da Universidade da Beira Interior
Um dos principais núcleos do museu está na Real Fábrica Veiga, criada em 1784, uma das fábricas mais importantes da serra da Estrela. Após ter sido desativada, nos anos 90 do século XX, o belo edifício de granito junto à ribeira da Goldra foi intervencionado e, desde 2011, conta a história do processo de industrialização dos lanifícios na região. Calçada do Biribau, Covilhã > T. 275 241 411 > ter-sáb 10h-13h, 14h30-18h > €5

New Hand Lab
Esta associação cultural nasceu na Fábrica de Lanifícios Júlio Afonso e manteve o edifício vivo, ao albergar autores e artistas de diversas áreas, como design de moda e têxtil, artes multimédia, pintura e escultura, entre outras. Além das visitas guiadas ao edifício, que mantém algumas das máquinas e restante espólio, promove diferentes atividades culturais.
R. Mateus Fernandes, Trav. do Ranito, Covilhã > T. 96 269 7493 > seg-sex 14h30-17h

WOOL 2020: festival de arte urbana regressa para a sua 7.ª edição na Covilhã

Roteiro Wool
Fundado em 2011, o mais antigo festival de arte urbana do País trouxe arte, cor, animação e vida ao centro histórico da Covilhã. Foram executados mais de 50 murais, com a indústria têxtil, a pastorícia, o envelhecimento da população ou a fauna e a flora da serra da Estrela a servir de fonte de inspiração. O perímetro urbano pequeno permite aos visitantes andar a pé e ir descobrindo aos poucos a História da cidade.

Museu da Covilhã
Instalado num edifício projetado por Ernesto Korrodi no princípio do século XX, o museu aborda cronologicamente as diferentes épocas de ocupação do território do concelho.
R. António Augusto de Aguiar > T. 275 330 665 > ter-dom 19h-13h, 14h-18h

Taberna A Laranjinha
Casa quinhentista no centro da Covilhã, com decoração tosca, onde as propostas rodam à volta dos produtos endógenos, apresentados com uma nova roupagem, como a cherovia frita, o pernil de borrego com risotto de cogumelos ou os ovos rotos com presunto serrano. Não falta até o típico pastel de molho da Covilhã, de vincado sabor avinagrado, que não deixa ninguém indiferente.
R. 1.º de Dezembro, 10, Covilhã > T. 275 083 586 > seg e sáb 19h30-23h, ter-sex 12h30-15h, 19h30-23h

A Tentadora
Nesta loja, as peças de artesanato e de design convivem com produtos gourmet, brinquedos e outras marcas regionais.
R. Alexandre Herculano, 21, Covilhã > seg-sex 10h-13h, 15h-19h

Pousada Serra da Estrela
O antigo sanatório dos ferroviários da Covilhã, com traça dos anos 20 do século XX, na encosta da serra, a 1 200 metros de altitude, foi transformado em pousada pelo grupo Pestana, em 2011, com projeto do arquiteto Eduardo Souto Moura. É um hotel amigo das famílias, com várias propostas para os miúdos.
Estrada Nacional 339, Penhas da Saúde, Covilhã > T. 21 040 7660 > a partir de €75

PuraLã – Wool Valley Hotel & Spa Covilhã
Pertencente ao grupo Natura IMB Hotels, o hotel com 100 quartos sofreu uma renovação para acrescentar conforto e criar uma atmosfera mais informal. No Natura Clube & Spa, além dos tratamentos, há ginásio, jacuzzi e piscinas interior e exterior. O restaurante tem uma carta onde são privilegiados os produtos da região.
Al. Pêro da Covilhã, Covilhã > T. 275 330 400 > quartos duplos a partir de €85

Trienal de Design Começa a 21 de março e, durante três meses, incluirá exposições, uma conferência internacional,residências e intervenções urbanas

Palavras-chave:

De Bragança a Lisboa já não são “nove horas de distância”, como cantavam os Xutos. O Túnel do Marão e a melhoria das acessibilidades aproximaram o Nordeste Transmontano do resto do País e disso tem dado conta Óscar Geadas, o chefe que desde 2019 conquistou a Estrela Michelin mais a norte de Portugal. Ao seu restaurante G Pousada, que partilha com o irmão, o escanção António, na Pousada de Bragança com vista para o castelo, chegam cada vez mais comensais que visitam a cidade transmontana pela primeira vez à boleia do turismo gastronómico.

Além do castelo Na oficinade Gilberto Ferreira, há navalhase facas de cozinha para todosos gostos. Foto: Lucilia Monteiro

“Esta região é um laboratório de cozinha que me permite ter, na mesma altura do ano, produtos diferenciados: legumes, tubérculos, castanha, raças autóctones, frutos secos… Uma imensidão que não se esgota”, aponta. Este património é depois servido à mesa, quase diretamente do produtor. Como os enchidos, as carnes ou os cuscos de Vinhais – uma massa feita a partir de trigo barbela, que a família Geadas produz artesanalmente “só no verão para ficar desidratada”. E o que dizer do rocher de alheira (massa de alheira fumada recheada de ganache de castanha) ou da bola de Berlim com queijo terrincho, dois dos snacks que se mantêm na carta desde que o restaurante abriu há dez anos e são um baluarte transmontano?

A poucos quilómetros dali, em Gimonde, Elisabete Ferreira foi considerada há dias a melhor padeira do mundo pela União Internacional de Panificação e Pastelaria. Na aldeia onde gere uma padaria de família, quer voltar a dignificar “as mulheres padeiras” e a arte de fazer pão “com boas farinhas, tempo e temperatura”, cozido em fornos alimentados a lenha de carvalho e pinho. Antes ou depois de comprar o Pão de Gimonde, a aldeia vale uma visita com a sua ponte velha e as casas de pedra, de onde se avistam ninhos de cegonha e lameiros junto aos rios.

O chefe Óscar Geadas trabalha os produtos endógenos

A região, da arte à mesa

O isolamento do Interior do País e a vida difícil das mulheres do campo marcaram desde sempre a obra de Graça Morais, artista transmontana, nascida na aldeia de Vieiro. No Centro de Arte que leva o seu nome, em Bragança, observa-se o trabalho de meio século no qual afirma a sua identidade “através de sinais, símbolos, imagens, memórias”.

Nesta terra de costumes e tradições, o Parque Natural de Montesinho continua a ser um dos melhores exemplos de um ecossistema de fauna e flora que vale a pena descobrir. Na parte norte de Bragança e Vinhais, vivem 80% dos mamíferos do nosso país: veados, corsos, javalis e lobos-ibéricos habitam entre bosques de carvalho-negral, urzes, castanheiros e estevas. É ao parque que Gilberto Ferreira, 43 anos, vai buscar as hastes de veado (que os machos largam em abril/maio) para os cabos das navalhas na cutelaria à qual se dedica a tempo inteiro. Na sua oficina/loja na aldeia de Aveleda, faz facas de cozinha com lâmina de aço damasco ou carbono e cabo de madeira de bétula ou freixo da região. Por outro lado, a variedade de flora silvestre (urze, castanha, alecrim) de Montesinho garante a produção de um mel de montanha multifloral que recebeu o selo DOP (Denominação de Origem Protegida) colhido de agosto a outubro nas colmeias de Bragança e Vinhais. Se a tudo isto somarmos o bísaro transmontano ou a carne mirandesa, servida num naco de posta ou de rodião em vários restaurantes, perceberemos melhor o significado do tal “laboratório de cozinha” a que se referia Óscar Geadas. “Esta qualidade de vida não tem preço”, remata.

Paragens obrigatórias

Castelo de Bragança
De estilo gótico, teve importância estratégica devido à sua posição geográfica em relação à Galiza. Ter-dom 9h-12h, 14h-17h

Museu Ibérico da Máscara e do Traje
Exibe máscaras, trajes e outros adereços relacionados com as Festas de Inverno do Nordeste Transmontano e da vizinha Zamora, Espanha. Cidadela do Castelo de Bragança, R. D. Fernando “O Bravo”, 24 > ter-dom 9h-13h, 14h-17h

Centro de Arte Contemporânea Graça Morais
No antigo Solar dos Vargas, o edifício, projeto de arquitetura de Eduardo Souto de Moura, tem como missão a divulgação da arte contemporânea nomeadamente de Graça Morais.
R. Abílio Bessa, 105 > ter-dom 10h-18h30 > €2,39

Restaurante G Pousada
Pousada de São Bartolomeu
Estrada do Turismo > T. 273 331 493 > ter-dom 19h30-24h > menu a partir €77,50

Casa do Touro
Dividido em dois pisos, o espaço museológico é dedicado à História e à cultura da aldeia comunitária de Rio de Onor que partilhava terras (e até o touro) com Espanha.
Rio de Onor > qua-dom 10h-17h

Foto: Lucilia Monteiro

Pão de Gimonde
Gimonde > T. 273 333 969 > seg-sex 7h-19h30, sáb 8h-19h30

Marron – Oficina da Castanha
Mercearia e bar com produtos derivados da castanha de Trás-os-Montes (granola, farinha de castanha e mel e gin de castanha são as inovações mais recentes). No museu é possível conhecer todo o processo de produção e transformação da castanha.
R. Combatentes da Grande Guerra, 135 > seg-sex 10h-19h30, sáb 10h-20h, dom 10h-19h

Navalhas Gilberto Ferreira
R. do Santo, 19, Aveleda > T. 93 894 7491

Casa do Mel
Vende mel exclusivo dos apicultores da região DOP de Montesinho (a partir €7,50/litro).
Quinta das Fontainhas > seg-sex 9h-18h

Tradição
A cidade está a preparar a candidatura à Rede de Cidades Criativas da UNESCO, na área da gastronomia

Palavras-chave:

São dez da manhã de uma sexta-feira e no interior da Basílica do Bom Jesus do Monte, a dez minutos de carro do centro de Braga, meia centena de peregrinos escuta uma homilia em polaco. Apesar da manhã chuvosa de janeiro, não param de chegar outros grupos vindos de fora: espanhóis, italianos, asiáticos.… Ainda não há números oficiais, mas em 2024 mais de dois milhões de peregrinos visitaram o santuário, 38% dos quais portugueses (lideram as visitas). Todos se espantam com a grandiosidade do monumento religioso em estilo barroco, a avaliar pelas fotografias que tiram com o telemóvel à igreja construída pelo arquiteto Carlos Amarante, entre 1784 e 1811, e na qual se destacam oito estátuas que representam personagens na condenação, na paixão e na morte de Cristo. Poucos se atrevem a descer ou a subir o escadório que representa a Via-Sacra (573 degraus desde o pórtico ao adro), pelo que a maioria opta pelo elevador (€3, ida e volta) que, em março, fará 142 anos e é o mais antigo do mundo ainda em funcionamento. 

Braga rest Capim Dourado

“O turismo religioso e cultural tem vindo a crescer. Braga é a cidade das igrejas [tem 82 e mais quatro basílicas], por isso, esta conotação está sempre presente”, lembra Varico Pereira, diretor da Pastoral do Turismo na Arquidiocese de Braga, que acaba de lançar a rota Quatro Santos Arcebispos de Braga, que liga São Martinho de Dume, São Geraldo, Frei Bartolomeu dos Mártires e São Frutuoso, este último na freguesia de Real, onde recentemente foi requalificado o Convento de São Francisco, que deverá vir a receber o Polo de Arqueologia do Cávado. “Procuramos que o turismo religioso não fique só no centro da cidade, mas também nestes tesouros escondidos”, sublinha Varico Pereira, na capela dedicada a São Frutuoso e que é monumento nacional.

Arte para mentes inquietas

Passear por Braga – que, ao longo deste ano, ostenta o título de Capital Portuguesa da Cultura – é andar com um pé no passado histórico e outro no futuro. Em Parada de Tibães, ao lado do mosteiro beneditino do século XI, a galeria de arte contemporânea que o médico cardiologista Mário Sequeira começou por abrir em 1994 no rés do chão da sua casa, foi a primeira pedrada no charco. Num edifício construído em 2000 pelo arquiteto Carvalho Araújo, onde acaba de inaugurar a exposição Black Paintings, do espanhol Jorge Galindo – integrado num imenso parque escultórico onde se visitam obras de Richard Long (a mais antiga), Rui Chafes, Fernanda Fragateiro ou Julian Opie, entram visitantes de todo o mundo. A galeria que desde 2019 passou a ser gerida pelo filho, Duarte Sequeira, expandiu-se entretanto para Seul e Londres, e representa artistas como os britânicos Julian Opie e Edmond Brooks-Beckman (que ali terá uma individual em março), o alemão André Butzer ou o luso-francês Jonathan Uliel Saldanha. “Quero que a galeria seja influente – não apenas localmente, mas globalmente”, afirmava há dias o curador numa entrevista à plataforma internacional de arte Artsy, num artigo sobre a Galeria Duarte Sequeira intitulado Do Portugal Rural para Seoul. 

Braga cidade teatro Circo

De facto, Tibães fica a cinco quilómetros da cidade, mas rapidamente se chega ao centro da antiga Bracara Augusta, onde os principais monumentos e jardins podem visitar-se a pé. Na Praça Conde do Agrolongo (conhecida como Campo da Vinha), o gnration – antigo quartel da GNR transformado em espaço cultural em 2012 – expõe, até abril, a primeira exposição da cantora americana Kim Gordon (ex-Sonic Youth) em Portugal. E os primeiros dias têm-se revelado um sucesso de público. Em várias salas, os seus vídeos performáticos mostram uma artista punk inquieta “contra a forma e a ordem estabelecidas”, usando a sua guitarra como forma de provocação, seja numa sucata ou em casa enquanto faz as tarefas domésticas. O gnration será, aliás, um dos palcos da programação da Braga 25 que, além de querer atrair mais visitantes e turistas ao longo do ano, pretende “também criar um legado” em Braga. Ao mesmo tempo, será “fundamental para a posicionar como um território capaz de atrair e reter talento criativo”, nota Joana Meneses Fernandes, coordenadora executiva e de programação da Capital Portuguesa da Cultura.

Antiga e moderna A cidade move-se entre a histórica Sé de Braga, restaurantes brasileiros como o Capim Dourado e os espetáculosno Theatro Circo

Dos monumentos ao café que foi um banco

Deixamos este caldeirão cultural para palmilhar as ruas a pé. Está tudo ali, a dois passos para visitar. O Jardim de Santa Bárbara (um dos mais belos da cidade, junto ao antigo Paço Episcopal) e as suas linhas geométricas que hão de ficar com cores mais vivas quando os amores-perfeitos desabrocharem; a Sé, a catedral mais antiga do País (de 1050), com elementos barrocos, góticos e românicos, altares de talha dourada e o Tesouro Museu da Sé, onde se encontra a cruz da primeira missa celebrada no Brasil levada por Pedro Álvares Cabral a merecer uma visita. Ou até mesmo o Arco da Porta Nova (século XVIII), situado ao fundo da Rua do Souto, e que deu origem à pergunta popular “és de Braga?” quando alguém deixa a porta aberta. Passear pelas ruas do centro histórico é recuar no tempo, ao ritmo de uma boa história.

Como a que ouvimos de Mário Pereira, 42 anos, um dos sócios do Café Vianna, o mais antigo de Braga (1858), situado no edifício Arcada, em plena Praça da República, que conserva os mesmos pavimento, espelhos e a traça que acolheu Camilo Castelo Branco ou Eça de Queirós. “Na altura da I Guerra Mundial, não havia metal para o fabrico de moedas e o Vianna transformou-se num banco: fazia umas cédulas que as pessoas trocavam depois no comércio local. Aquelas rodas brancas ali no chão recordam essas moedas”, conta o responsável. O Vianna quer “respeitar o passado, com olhar no futuro”. Daí que a carta deste café centenário inclua “as modernices” de agora, como brunch, sangrias e mojitos ou francesinha, sem esquecer o velhinho chocolate quente para comer à colher, que se mantém e lhe tem dado fama. “É um café para os bracarenses. As pessoas de Braga ainda vivem muito o centro da cidade. Não é como noutras cidades que deixaram de ter os seus habitantes”, conclui.

Moqueca de camarão e abade de Priscos

Descemos as ruas do Souto e D. Diogo de Sousa, onde tanto se saboreia um bacalhau confitado com alecrim (receita da chefe Justa Nobre) no restaurante que ocupou a centenária Livraria Cruz como se bebe um moscatel e se come uma banana (€3) na antiga Casa das Bananas – embora o ponto alto, que junta milhares de convivas, seja a festa do Bananeiro antes da ceia de Natal. Mais abaixo, o Campo das Hortas tem visto fechar antigos restaurantes (como o Ignácio) ao ritmo de novos projetos gastronómicos: portugueses, asiáticos e brasileiros, a comunidade que mais tem escolhido a cidade para viver, o que já lhe valeu o epíteto de Bragasil. Foi o caso de Lucas, contabilista, e de Fernanda Porto, ex-farmacêutica, ambos com 34 anos, que em 2018 trocaram o Rio de Janeiro pelo Porto e, há um ano, se mudaram para Braga para servirem moqueca de peixe e camarão ou vaca atolada no brasileiro Capim Dourado ou os pãezinhos taiwaneses no Bao’s, dois negócios do chefe João Winck que se expandiram da portuense Cedofeita para a cidade minhota. Lucas e Fernanda vieram à procura “de maior segurança e tranquilidade”. E embora ainda andem a descobrir Braga – “fomos ao Bom Jesus com os meus pais e no verão descobrimos a praia fluvial de Adaúfe”, conta Lucas –, já se deixaram conquistar pela calma e pela gastronomia da cidade minhota: “O bacalhau à Braga é uma delícia, mas ainda não provámos o pudim abade de Priscos”, lamentam.

Braga cafe Vianna

Ora, finalize-se precisamente em Priscos, onde, no século XIX, o talentoso abade Manuel Joaquim Rebelo criava este doce-muito-doce que daria fama à freguesia. E cuja receita é, desde há 30 anos, seguida à risca por Albina Couto (conhecida por Bina), após lhe ter sido entregue pelo pároco da aldeia. “Admirava-me porque é que em Priscos ninguém fazia o pudim. Foi preciso ler bem a receita e ir experimentando aos poucos quando voltava do trabalho”, conta.

E assim foi. O premiado pudim abade de Priscos da Tia Bina (15 gemas, 500 gramas de açúcar, pau de canela, casca de limão, água, gordura de presunto e vinho do Porto) é servido em vários restaurantes de Braga, mas pode ser comprado diretamente em casa de Albina Couto, em Priscos. “Segredo? É fazer poucos pudins de cada vez e bater tudo à mão devagarinho.” E a avaliar pelas centenas que faz por dia, especialmente no Natal e na Páscoa, são mãos abençoadas as de Bina.

Paragens obrigatórias

Theatro Circo
Com mais de 100 anos (nasceu em 1915), é um dos palcos maiores da cultura de Braga. Uma vez por mês (ao sábado), abre a visitas guiadas.
Av. da Liberdade, 697 > €3,50

Livraria Centésima Página
Situada na antiga Casa Rolão, tem as salas de estilo barroco cheias de livros: da poesia à ficção e infantojuvenil. No jardim das traseiras, pode tomar-se um chá ou fazer-se uma refeição.
Av. Central, 118 > seg-sáb 9h-19h, dom 10h-19h30

Sé Catedral
Com origem no final século XI, daí a origem da expressão popular “mais velho do que a Sé de Braga”, inclui quatro capelas e um claustro exterior (séc. XVIII).
R. do Cabido / R. Dom Diogo de Sousa > seg-dom 9h-12h30, 14h-17h30 > €2 a €3

Galeria Duarte Sequeira
R. da Galeria, 129, Parada de Tibães > ter-sex 10h-19h, sáb 14h-19h > grátis 

Café Vianna
Pç. da República, Edifício Arcada > seg-qui, dom 10h-24h, sex-sáb 10h-2h

Capim Dourado
Campo das Hortas, 12 > T. 91 505 5300 > qua-dom 12h30-15h, 19h30-23h

Estádio Municipal
Construído por Eduardo Souto de Moura numa antiga pedreira, em 2004, é possível conhecê-lo por dentro em visitas guiadas.
R. Monte de Castro, 12 > seg-sex 10h, 11h, 15h, 16h, sáb 10h > €6 

Tia Bina
R. do Cidadão, 5, Priscos > T. 91 306 3114

Braga Pudim Abade Periscos, da tia Bina

Frigideiras do Cantinho
Conhecida pelos pastéis folhados redondos recheados com carnes de vitela e porco picadas, a pastelaria de finais do século XVIII exibe no chão de vidro parte das ruínas pertencentes a uma casa romana encontradas em 1996 no âmbito de obras de renovação.
Lg. São João do Souto, 1 > ter-dom 8h-20h

Braga Frigideiras

Museu de Arqueologia D. Diogo de Sousa
Com origens centenárias (1918), o museu é uma viagem do Paleolítico à época romana e à Idade Média. A coleção Bühler-Brockhaus, doada pelo casal Marion e Hans-Peter, é uma das mais recentes.
R. dos Bombeiros Voluntários > ter-dom 10h-17h30 > €3, dom grátis

Palcos
O Theatro Circo e o gnration são as duas salas principais na programação de Braga – Capital Portuguesa da Cultura 2025

Braga: Passado com futuro
Visitar a Capital Portuguesa da Culturaem 2025 é andar com um pé na História e outro na arte contemporânea. Leia aqui

Bragança: Cidade-laboratório
Poucas regiões poderão orgulhar-se de ver nascer da terra tantos (e tão bons) produtos como a Terra Fria Transmontana. Leia aqui

Covilhã: Seguir o fio da meada
A outrora dinâmica indústria de lanifícios deixou o seu rasto pela cidade, com antigas fábricas transformadas em museus e associações culturais. A arte urbana espalhada pelo centro histórico também dá conta desse passado, assim como da ligação à serra da Estrela, ali tão próxima, a convidar a uns passeios. Leia aqui

Coimbra: Aprender a dizer saudade
O património, material e imaterial, ligado à universidade merece toda a atenção. Mas há muito mais por descobrir na cidade dos estudantes. Leia aqui

Mafra: No recreio da realeza
Terra de bom pão e património de excelência, da arquitetura barroca à  música dos carrilhões – tudo a dez minutos da Reserva Mundial de Surf. Leia aqui

Montemor-o-novo: Fugir do estereótipo
Sem desdenhar do património histórico, esta cidade alentejana não ficou a dormir à sombra da muralha. Aqui há vida, no presente, e olhos postos no que o amanhã pode trazer. Leia aqui

Estremoz: Entre pratos
A oferta gastronómica e os vinhos da região guiam a visita – haja apetite para tantas coisas boas. Leia aqui

Olhão: Além do sol e do mar
Antes de irmos para a água, aviámo-nosem terra, que isto de ficar em Olhão é descobrir como o Algarve ainda pode ser genuínoe há vida para lá dos postais turísticos. Leia aqui

Funchal: Os trópicos são já aqui
A capital da Madeira é poiso seguro depois das aventuras pelo coração da ilha. Tem bom ambiente por entre património, lojas e excelente comida. Leia aqui

Ponta delgada: entrada nos Açores
Antes ou depois do deslumbre pela Natureza de São Miguel, a “ilha verde”, acerta-se o passo nas ruas estreitas, praças pitorescas e uma grande marginal virada para o Atlântico. Visitam-se igrejas, capelas e conventos e vai-se a banhos nas piscinas naturais de água salgada e praias de areia negra. Leia aqui

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