Já sabemos que a maioria da população portuguesa tem falta de literacia financeira. Mas, enquanto esta tem sido uma discussão recorrente, ainda falta reconhecer que existe também falta de literacia para os negócios. Faz sentido começarmos pelo básico: enquanto não houver literacia financeira nunca vai haver literacia empresarial. Mas podemos (e devemos) adicionar este último tema à discussão.
Na minha perspetiva, a literacia empresarial em Portugal é muito baixa. Existe claramente uma lacuna no conhecimento acerca de como as empresas funcionam e das características fundamentais para que estas sejam bem sucedidas. Conceitos como economia de escala, vantagem competitiva, inovação disruptiva e indicadores como EBITDA, ROI e balanço são desconhecidos para muita gente. Curiosamente, creio que esta é uma lacuna transversal aos setores de atividade e até aos diferentes níveis de escolaridade. Diz-se que temos a geração mais qualificada de sempre – e eu não duvido disso -, mas quantos dos nossos licenciados sabem interpretar um balanço?
Podemos achar que este tipo de conhecimento só é útil para contabilistas e talvez se ache aceitável que uma pessoa sem ambição de ser gestor não tenha fluência nestes temas, mas esta é uma visão muito redutora. A literacia empresarial não só desempenha um papel central no desenvolvimento de negócios bem sucedidos, como permite melhorar a nossa situação financeira individual e ainda, de forma mais ampla, contribuir para o crescimento económico de um país, para uma economia mais estável e resiliente.
A fraca literacia empresarial nos gestores é, de facto, dramática porque afeta diretamente o sucesso das empresas que dirigem. Mas esta lacuna na população em geral é talvez ainda mais impactante, uma vez que afeta negativamente o ambiente de negócios, o que indiretamente restringe o investimento. Não precisamos efetivamente de ser todos gestores, mas para o nosso sucesso económico coletivo seria importante percebermos que não teremos mais qualidade de vida se não produzirmos mais valor.
Lançando um olhar global, parece-me evidente que os países mais prósperos economicamente são as nações que têm mais literacia empresarial e, principalmente, uma atitude positiva perante a iniciativa privada. Os EUA são um ótimo exemplo disto. Aliás, comparar a forma como as empresas são vistas nos EUA e em Portugal devia ser um exercício que nos tiraria o sono a todos. Nos EUA, celebra-se o sucesso e promove-se o empreendedorismo. Em Portugal, isto apenas acontece enquanto as empresas não crescem muito, até porque empresas com grandes lucros são vistas quase como um crime moral.
Outro exercício que nos deveria tirar o sono passa por tentar enumerar as empresas portuguesas que são conhecidas globalmente ou que dominam um setor de atividade a nível mundial. E temos de deixar de usar a desculpa do tamanho da economia e da população. A Suécia, com uma população de tamanho semelhante, tem o IKEA, o Spotify e a Volvo. A Suíça, também com população semelhante, tem a Nestlé, a Rolex e a Novartis. A Estónia, com apenas 1.3 milhões de habitantes – e apenas independente há pouco mais de 30 anos – tem o Skype, a Bolt e a Wise.
Portugal foi abençoado pelo clima, tem a felicidade de não ter conflitos armados há séculos, tem excelentes trabalhadores e, mesmo assim, está estagnado economicamente. O que nos falta? Falta um clima favorável ao empreendedorismo, literacia para os negócios, exemplos a seguir e, talvez, algum apetite para o risco. Hoje em dia, já temos, felizmente, uma visão positiva do empreendedorismo e vontade e energia de criar um ecossistema de inovação resiliente. Mas Portugal continua a ser um país com uma economia pequena e conservadora e o grande problema da economia pequena e conservadora é que o fracasso torna-se num estigma do qual o empreendedor pode não recuperar.
Precisamos de entender que não há prosperidade sem crescimento económico e que não há crescimento económico sem iniciativa privada. Precisamos de mais empreendedores e gestores, e cada vez mais qualificados. Da mesma forma, precisamos de trabalhadores que, mesmo que não queiram ser empreendedores, sejam intraempreendedores e elevem as suas empresas.
Desenvolver uma estratégia eficaz para a promoção de mais literacia empresarial será, provavelmente, o grande desafio. Se os educadores, pais e professores não a têm eles próprios, como a podem ensinar? Talvez isso explique que Portugal tenha dificuldade em sair do marasmo e que as maiores empresas cá estejam associadas a núcleos familiares, com o conhecimento e a experiência a terem sido transmitidos de geração em geração.
Portugal encontra-se, portanto, numa encruzilhada onde as oportunidades de crescimento económico esbarram na falta de literacia empresarial. Sem conhecimento, não há transformação; sem transformação, não há progresso. Se quisermos construir um futuro mais próspero, precisamos de investir urgentemente na literacia e na disseminação de uma cultura favorável aos negócios. Chegou a hora de Portugal deixar de ser um país que celebra o potencial e começar a ser um país que celebra os resultados.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.
Segundo o site de tecnologia WABetaInfo o Whatsapp deverá estar a preparar novas atualizações na aplicação. Na funcionalidade “sondagem” do Whatsapp, por exemplo, deverá passar a ser possível definir fotografias e cores – correspondentes a cada opção -, facilitando, através destas representações visuais, a votação na opção pretendida. A funcionalidade só deverá estar disponível, numa primeira fase, para os canais de WhatsApp, sendo posteriormente alargada às conversas em grupo e individuais.
A segunda novidade passa pela possibilidade de criar eventos em conversas individuais, de forma semelhante ao que já acontece nos grupos. Os utilizadores terão de dar um nome ao evento, bem como uma data – de início e fim do evento – e será possível associar uma chamada de voz ou vídeo, um recurso útil para reuniões virtuais. O convidado terá depois a hipótese de aceitar ou recusar o convite.
A aplicação da Meta encontra-se ainda em fase de testes de um novo design para telemóveis Android, incluindo a um novo separador dedicado a Inteligência Artificial (IA), onde será possível encontrar ‘bots’ de conversa. A WABetaInfo alerta, contudo, que esta atualização só deverá estar disponível em países com Meta AI, uma funcionalidade que permitirá usar IA generativa para criar imagens e stickers.
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Mensagens temporárias e lembretes para mensagens não lidas
Os utilizadores do WhatsApp poderão ainda esperar por outras novidades na aplicação para 2025, de acordo com o site de tecnologia Techtudo. As novas funcionalidades, que já se encontram a ser testadas na versão beta da app, passam pela interoperabilidade com outras apps de mensagens – ou seja, a comunicação entre a plataforma e outras aplicações que não o WhatsApp; a publicação de mensagens temporárias; a partilha de música no decorrer das chamadas de vídeo; conversas bloqueadas através de senha (apenas na versão Web); lembretes para mensagens não lidas; novas cores e temas; e a possibilidade de novos membros de um grupo, ao entrarem no mesmo, lerem mensagens antigas trocadas entre os seus membros.
Será importante notar que embora muitas destas funcionalidades se encontrem em fase de testes, o seu lançamento na aplicação não está garantido.
A democracia, o tal pior sistema de governação com exceção de todos os outros, nas inspiradas palavras de Churchill, é um trabalho de todos dias que, na sua forma mais perfeita, deve envolver tanto as instituições como cada cidadão, empenhado no bem comum e na justiça de um Estado de Direito. Uma utopia?
A verdade é que nos lembramos, sobretudo, da dita democracia sempre que há eleições, o seu grande alicerce e o momento em que se torna mais visível o poder de cada um, de todos os cidadãos. Confiar nas eleições e nos seus resultados é a condição mínima para democracias saudáveis.
Ora, neste início de 2025 percebemos que até aí, nesse princípio de tudo, estamos globalmente a falhar. Nesta quarta-feira, 15, em Moçambique deverá tomar posse o novo presidente, Daniel Chapo. Portugal estará representado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros Paulo Rangel (ou seja, nem o Presidente da República nem o primeiro-ministro estarão presentes, como tem sido habitual). Tal como aconteceu com a tomada de posse dos deputados no parlamento nesta segunda-feira (quando muitos parlamentares nem sequer estiveram presentes, como forma de protesto), a cerimónia estará manchada pelas dúvidas consistentes, apontadas por vários observadores, sobre a justiça das eleições de 9 de outubro. É a própria legitimidade democrática que fica em causa, abrindo-se portas aos violentos tumultos que têm marcado o quotidiano moçambicano nos últimos meses. A Venezuela é outro bom (ou mau…) exemplo.
“Ursotigre para sempre, make-up artist noutra vida. Reconheceu as primeiras sementes da Missão Dimix, fez tudo para florescerem. Associada. Dinamizadora de atividades no terreno, responsável pela comunicação e administração… sonha com equipa!”
É assim que Sónia Pessoa, 44 anos, fundadora da Missão Dimix, se apresenta no site desta Organização Não Governamental para o Desenvolvimento, sediada em São Tomé e Príncipe. Uma bio resumida que lembra as suas “vidas” anteriores, ainda em Portugal, do projeto de tricô à profissão de maquilhadora.
Nós quisemos saber com que linhas se cose uma associação sem fins lucrativos que tem por objeto a promoção e defesa dos direitos humanos, especialmente das crianças e jovens, e apoio ao desenvolvimento nas áreas da educação, ambiente, saúde e igualdade num país atravessado pela linha do Equador. Sónia explicou o seu sonho de resgatar “infâncias roubadas”.
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Trabalhar com crianças em São Tomé é como receber um presente todos os dias?
É muito gratificante trabalhar com crianças, porque elas são curiosas por natureza. E, em São Tomé, ainda mais, porque as crianças aqui têm falta de atenção e de tempo de qualidade por parte dos adultos.
Há dez anos, a Sónia imaginava-se aí?
A verdade é que tudo começou com um acaso. Há dez anos, era maquilhadora de moda, fazia alguma publicidade, teatro e videoclipes, mas, apesar de ter bastante trabalho e de serem coisas interessantes, não me sentia muito realizada enquanto pessoa no mundo. Sentia que não fazia grande diferença. Gostava da parte criativa do meu trabalho, mas sentia-me um pouco inútil.
Vem das artes, não é?
Estudei Design de Interiores e fui sempre pelo caminho da arte. Claro que a maquilhagem tem essa parte, mas não é todos os dias e já trabalhava nisso há uns 12 anos. Vamos tendo várias vidas e eu, às tantas, não me identificava com o que fazia. Tinha consciência de que não estava satisfeita, mas também não sabia para onde me direcionar.
E que acaso foi esse que a levou até São Tomé e Príncipe?
Em 2015, vim de férias com o Bobby, o meu namorado, e gostámos imenso. Nunca tinha pensado cá vir e foi o meu sogro quem nos fez essa sugestão. Estivemos uma semana e pensei logo em regressar, mas não como turista. Nada contra os turistas, mas fiquei com vontade de fazer alguma coisa que fosse útil para o país. E o que mais me marcou foram as crianças, talvez porque ao longo da vida sempre pensei muito no tema da infância.
Cresceu no Alentejo, perto de Évora, mas no meio do campo. Como é que foi a sua infância?
Foi uma infância feliz, embora com alguma tristeza, porque perdi o meu pai aos seis anos. Mas sempre me deram muito carinho. Por mais que a minha origem seja humilde, sinto que fui acarinhada pela família e isso faz toda a diferença na vida de uma criança.
Precisamos de desenvolver a empatia, mas em muitas regiões do mundo parece que não estamos a evoluir nesse sentido. Há demasiada gente a sentir-se superior, porque falta sensibilidade para olhar para os outros
Estava a contar que chegou a São Tomé e…
O que me tocou mais foi as crianças, até porque fizemos logo amizade com o Dinix, um menino de 13 anos. Começámos a conversar com ele e depois todos os dias o encontrávamos, sem combinar, porque estávamos no ilhéu das Rolas, que é muito pequeno. Eu tinha curiosidade em saber como era a vida das crianças aqui, como era a escola… o Dinix é muito tímido, mas lá ia respondendo. A certa altura, já nos fazia companhia nos nossos passeios pela floresta e criámos uma amizade que dura até hoje.
E, um ano depois, a Sónia já estava de regresso.
Tinha saído de cá com a certeza de que queria voltar e ser útil, mas dada a minha profissão não sabia o que iria fazer. Então, estive um ano a pesquisar sobre o país e concluí que queria promover tempos livres com as crianças, porque percebi que as escolas, tal como em Portugal, são limitadas no que diz respeito a atividades extracurriculares. E eu acredito que os tempos livres nos levam a descobrir outras coisas de que gostamos de fazer.
Decidiu, então, avançar com atividades para as crianças descobrirem os seus talentos?
E para poderem ser crianças – crianças mesmo. E tive vários amigos a dizerem-me que para fazer isto devia criar uma associação, coisa que não me passara pela cabeça. Percebi logo que iria ter muitas burocracias pelo caminho, o que eu, sendo da área das artes, não aprecio. E a verdade é que elas têm-me sobrecarregado ao longo destes anos, roubam-me tempo às atividades. Se soubesse o que sei hoje… [Risos.]
Seguiu o caminho da arte?
Juntei a educação pela arte e a educação ambiental, porque, como em todo o planeta, temos de cuidar da natureza em São Tomé. A arte é um bom veículo para sensibilizar e desenvolver atividades com as crianças. Ela não é apenas um caminho para se ter uma profissão, também tem a capacidade de educar e de fazer com que uma pessoa se sinta melhor. Pensei, então, em desenvolver atividades que lhes permitissem ser crianças, porque há infâncias roubadas e elas trabalham muito.
E a educação não formal pela arte, pelo que percebi da vossa conta no Instagram, também tem sido uma boa maneira de chegar ao apoio ao estudo.
Exato. Através do desenho, por exemplo, conseguimos incutir o gosto pela leitura. Há que saber levar as crianças de forma a elas desenvolverem as suas capacidades sem ser com aquela rigidez da escola que muitas vezes faz com que digam: “Eu não gosto de ler.” Acredito mais no lado lúdico para captar a atenção das crianças e fomentar o amor pela natureza.
Daí as atividades de recolha de plástico?
Desde o início que fazemos arte com resíduos plásticos apanhados na praia. Quando eles aparecem na praia, o mar já passou, já os lavou. Com as crianças não gosto de andar a apanhar na rua, por causa da segurança e de eventuais contaminações. É sempre na praia.
Nalguma praia em especial?
Apanhamos em várias praias, em várias comunidades. Na cidade de São Tomé [a capital], mas também no distrito de Cantagalo e noutros distritos onde vamos fazendo grupos de atividades.
Usa o plural, porque envolve a comunidade ou a Dimix tem uma equipa própria?
Estive sozinha no terreno, com as crianças e os jovens, até 2022, porque acredito que as pessoas têm de ser pagas pelo seu trabalho e queria criar uma equipa local. Portanto, demorou um pouco a Missão ter possibilidades para isso. Fizemos várias campanhas e neste momento somos sete, a contar comigo, o que é bom porque sozinha estava a ser muito complicado.
Que arte fazem com plástico encontrado na praia?
Muitas coisas, mas a certa altura já tínhamos tanto plástico que me pus a pesquisar máquinas que o transformam em objetos. Encontrei-as e fiz várias campanhas para comprá-las, porque ainda tinham um valor avultado para nós, mas nenhuma deu certo. Acabei por conseguir fazer essa compra com o apoio da área social do Boom Festival, em 2019, e assim nasceu a oficina de transformação de plástico onde se criam piões, pentes, bases para copos, fruteiras… Com a venda desses objetos não ficamos só dependentes de doações e conseguimos juntar algum valor para o pagamento de salários à equipa. Vendemos no Hotel Omali e na associação, perto de uma comunidade que se chama Santana, onde temos as oficinas, as atividades com as crianças e a loja.
No vosso Instagram, também vi umas mochilas e umas bolsas muito coloridas, lindas.
Ah, sim, entretanto, criámos uma oficina de costura para também termos produtos alternativos ao uso do plástico. Trabalhamos com um costureiro, o Hélio, a quem damos emprego. Eu não coso nada. Só vou escolhendo os tecidos e ele tem as ideias e cose. E assim podemos oferecer atividades de costura a crianças e jovens interessados.
Nada que ver com as peças lindas da Ursotigre, a marca de tricô com gorros, camisolas e cachecóis inspirados em animais que a Sónia tinha em Portugal?
A Ursotigre acabou por ficar um pouco adormecida por causa da associação, porque é tudo artesanal e falta-me tempo, mas quem sabe um dia consigo voltar a ela. Como as crianças são curiosas, já fiz oficinas para aprenderem tricô, mas aqui, em vez de criarmos peças para agasalho, usámos plástico para criar objetos úteis, como capas para bancos.
Já pensou em replicar a Missão Dimix noutras zonas do país?
Gostava muito de conseguir chegar a todos os distritos de São Tomé, mas a falta de recursos ainda não tornou isso possível. Há muitas associações aqui, portuguesas e estrangeiras, mas dedicadas só às atividades com crianças não são assim tantas e justificam-se porque elas representam mais de metade da população. Todas as crianças deveriam ter direito aos seus tempos livres e a ter o seu tempo para ser criança.
Sente que elas aí não têm tempo para ser crianças?
Diariamente, estão connosco cerca de 60 crianças e jovens, mas claro que há uns que vêm nuns dias, outros que vêm noutros dias, porque trabalham muito em casa. Essencialmente, fazem tarefas de casa e tomam conta dos irmãos mais novos. Nós temos atividades para crianças a partir dos 6 anos e às vezes elas não aparecem porque têm de ficar em casa, cuidar dos seus irmãos bebés. Eu sempre ajudei a minha mãe, mas tinha tempo para brincar e para estudar. E ajudei a tomar conta da minha irmã, mas não a criei, não tive essa responsabilidade. Aqui, as crianças estão um pouco sobrecarregadas e vai demorar muitos anos até que as pessoas deem mais importância à infância e percebam o seu papel no desenvolvimento humano.
Onde é que a Sónia se imagina daqui a dez anos?
Gostava de estar cá, mas não sei o dia de amanhã. São Tomé é um sítio onde me sinto bem, mas tem algumas limitações, nomeadamente do ponto de vista da saúde. Portanto, tenho esperança de estar cá daqui a dez anos e sonho poder chegar a todos os distritos, para todas as crianças de São Tomé terem as mesmas oportunidades. Não me vejo a levar a Missão para outro país, a opção é concentrar energias neste território.
E o que é feito do Dinix, o menino que conheceram na vossa primeira viagem?
Quando voltámos, um ano depois, fomos logo procurá-lo. Queríamos saber se estava bem e a família contou-nos que ele não ia à escola e pediu-nos ajuda para convencê-lo a voltar. E conseguimos isso. O Dinix tinha ficado na 3.ª classe e agora, aos 22 anos, está no 12.º ano, na área de Humanidades. Fui a sua encarregada de educação durante alguns anos, nos últimos dois a família pediu para tê-lo mais perto e então ele mora no Sul. Mas estamos sempre em contacto e fico feliz que continue determinado em estudar.
Ele vai prosseguir os estudos?
Ainda não sabe, mas tem feito todos os anos, passo a passo, com dedicação, e estou a torcer pelo futuro dele, seja lá o que escolher. O Dinix é sensível à causa da infância, porque já viu crianças a passarem muito mal. Apesar da sua timidez, numa entrevista a uma rádio surpreendeu-me porque disse as coisas como elas são, enquanto eu estive um bocadinho com paninhos quentes, como estrangeira que sou. Era um momento-chave e o Dinix mostrou como tem um bom coração. E as coisas ditas por ele é muito diferente do que ditas por mim.
Porque a Sónia continua a ser uma estrangeira em São Tomé?
Sinto-me em casa e tenho bons amigos santomenses, porque cá é fácil fazer amizade, mas sou estrangeira em muitas coisas. Às vezes, há uma diferença cultural, tal como em Portugal não conseguimos fazer amizade com toda a gente porque não nos identificamos ou não temos os mesmos valores. Essencialmente, tenho a noção de que sou estrangeira quando há questões burocráticas, mas há amigos que são família.
Um deles é o João Carlos Silva, da Roça São João dos Angolares? A certa altura, a Missão Dimix fazia lá umas exposições, não era?
E não só exposições. Estou-lhe muito grata porque nos cedeu espaço para fazermos as nossas atividades, mas chegou uma altura em que precisávamos dos nossos próprios espaços e de seguir outro caminho.
Porque escolheu chamar “Missão Dimix” à associação? Vê-a como uma missão?
Vejo-a como uma missão, um propósito, de chegar à infância. Quase como um caminho e não tem nada que ver com religião. O caminho seria uma missão de apoiar crianças como o Dinix. O nome foi em homenagem à nossa amizade com ele.
E porquê Dimix e não Dinix?
É a minha péssima memória [risos]. O Bobby achava que ele era Dinix, mas disse-me: “Bom, mas tu deves saber melhor.” Então, registámos a associação e só quando fomos à procura dele é que percebi que tinha cometido um erro. Mas, mais importante do que o nome, foi a intenção e a aposta no desenvolvimento.
Desenvolver é a palavra?
Precisamos de desenvolver a empatia em toda a parte, mas em muitas regiões do mundo parece que não estamos a evoluir nesse sentido. Há demasiada gente a sentir-se superior, porque falta sensibilidade para olhar para as outras pessoas. Também falta sensibilidade para dar importância à educação. Nelson Mandela dizia que ela é a arma mais poderosa do mundo, mas não vejo isso no mundo. E o planeta precisa de ter consciência dos direitos humanos. Estamos a abusar da Natureza, mas já sabemos que ela se recompõe. Nós é que poderemos não nos recompor, porque faltam condições para todas as pessoas poderem crescer e desenvolver-se em harmonia, sem guerras, com saúde, com educação. Fico um pouco desiludida com o estado do mundo.
É difícil não nos perdermos entre tantos objetos bonitos e coloridos, minimalistas ou maximalistas, peças manufaturadas e outras tantas tentações para quem gosta de decoração e de mimar a casa. No final de 2023, a Fashion Clinic Home abriu uma loja temporária na Avenida da Liberdade, mas já fervia “a ideia de ter um espaço definitivo, só faltava a localização certa”, explicava à VISÃO, na altura, Ricardo Preto, diretor criativo da Amorim Luxury. Sem montra para a rua, abriu portas em novembro deste ano num primeiro andar, junto ao JNcQUOI Ásia.
Entre as marcas disponíveis está a novíssima House of Capricorn, de Paula Amorim, inspirada no artesanato nacional Foto: D.R.
Em vários ambientes, mostram-se almofadas da Lindell & Co, livros da Assouline, velas e difusores da August & Piers, copos da Ichendorf, poltronas artesanais adornadas com contas de vidro reciclado da Fernando Otero, espelhos da Les Ottomans, cerâmicas Bordallo Pinheiro e Viúva Lamego, pratas da Leitão & Irmão.
A recém-lançada marca House of Capricorn, de Paula Amorim, é uma das novidades. Evoca a tradição do artesanato nacional, em pratos marcadores e abajours de vime, guardanapos e toalhas com bordados de Viana feitos à mão, entre outras propostas na área de mobiliário, iluminação, têxtil casa e peças decorativas.
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Fashion Clinic Home > Av. da Liberdade, 144, 1º andar, Lisboa > seg-sáb 10h-23h, dom 12h-20h
Esta é a frase que se aplica às monarquias, como vimos recentemente com a morte da Rainha Isabel II — «O Rei nunca morre». A Rainha morreu, longa vida ao Rei! Nos Estados Unidos, de certa forma, e no que é decisivo, o Presidente também nunca morre.
Ao meio-dia de 20 de janeiro, o novo Presidente presta juramento e, nesse segundo, ocorre uma mudança não visível pelo comum dos cidadãos: o cartão nuclear do novo Presidente, que já lhe foi entregue, é ativado, e o do anterior é anulado. A «Bola Nuclear», que não passa de uma pasta com um computador, é entregue ao oficial superior, sempre um major, designado pela equipa militar do novo ocupante da Casa Branca.
Para esse efeito, de facto, o Presidente nunca morre. A transição fica concluída e mantém-se a segurança nacional. É o poder mais simbólico e, simultaneamente, o mais real de todos os que são assumidos ao meio-dia, nas escadarias do Capitólio. Desta vez, tudo deverá decorrer de acordo com as regras e tradições, mas, há quatro anos, Donald Trump não esteve presente na tomada de posse de Joe Biden e partiu no «Air Force One» a meio da manhã, rumo à Florida.
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Esse foi o caso excecional em que existiram duas «bolas nucleares», sendo que a de Trump se manteve ativa até à posse de Biden. Ainda assim, com essa birra, o Presidente nunca morreu. E o Vice-Presidente? Tem direito a alguma coisa?
Nada. Nem pasta nem cartão. Contudo, o corpo militar da Casa Branca e do Pentágono mantém oficiais destacados para intervir numa emergência em que o Presidente fique incapacitado. Nessa situação, é imediatamente entregue ao Vice-Presidente um novo cartão, e com ele estará o oficial responsável pela pasta. E na Rússia ou na China? E em França ou no Reino Unido? E na Índia ou no Paquistão? A máxima não se aplica, nalguns casos.
Desde 1 de janeiro de 2025 que as garrafas de plástico têm de obedecer a novas regras. Depois as alterações feitas às tampas destas embalagens – presas às mesmas desde julho do ano passado – só podem agora ser introduzidas no mercado garrafas de utilização única para bebidas com menos de três litros (<3L) de tereftalato de polietileno – também designadas de garrafas PET – que contenham pelo menos 25% de plástico reciclado (incluindo cápsulas e tampas).
A nova diretiva, que visa “uma redução ambiciosa e sustentada do consumo dos produtos de plástico de utilização única”, faz parte do Decreto-Lei n.º 78/2021, publicado a 24 de setembro, e obedece à diretiva 2019/904 da União Europeia, que altera, não só, as normas relativas às garrafas de plástico como também outros produtos de plástico utilizados na comercialização do pão, frutas e legumes.
De acordo com a legislação, estima-se que até 31 de dezembro de 2026 ocorra “uma redução do consumo [dos produtos de plástico de utilização única] de 80%, relativamente a 2022” e “até 31 de dezembro de 2030, uma redução do consumo de 90%, relativamente a 2022″. Estão ainda proibidos produtos que contenham plástico oxodegradável, um material que, por não se “biodegradar convenientemente”, contribui para a poluição por microplásticos no ambiente.
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Mas as mudanças não ficam por aqui. A partir de 2030, todas as garrafas feitas com este material para bebidas com <3L passam a conter, no mínimo, 30% de plástico reciclado.
Elementos da indústria publicitária integraram rastreadores de localização nos anúncios apresentados em milhares de aplicações, com a recolha a acontecer muitas vezes sem o conhecimento ou autorização dos utilizadores e dos próprios criadores das apps. Zach Edwards, analista sénior da Silent Push, explica ao 404 Media que “pela primeira vez, publicamente, parece que temos evidências de que um dos grandes vendedores de dados, a vender a clientes comerciais e governamentais, está a obter os seus dados a partir do fluxo de anúncios online” e não através de código integrado nas aplicações.
A Silent Push trabalhou de perto na análise de ficheiros obtidos na Gravy Analytics, uma das empresas que se sabe que vende dados de localização a entidades governamentais. Estes ficheiros mostram uma rara vista sobre como funciona o sistema de licitações em tempo real (RTB na sigla inglesa) e que inclui conjuntos de código que recolhe dados de localização. “Isto é um cenário de pesadelo para a privacidade, porque não só pelo vazamento de dados dos sistemas RTB, mas também porque há empresas por aí a agir como coletores globais e a fazer o que quiserem com os dados”, continua Edwards.
No grupo de dados da Gravy Analytics, há dezenas de milhões de coordenadas móveis de telemóveis nos EUA, Rússia e Europa. Alguns destes registos mostram uma referência a uma app, com o 404 Media a ter compilado uma lista destas: Tinder, Grindr, Candy Crush, Subway Surfers, Temple Run, Harry Potter: Puzzles & Spells , Moovit, My Period Calendar, MyFitness Pro, Tumblr, a app do Office 365 da Microsoft, ou o FlightRadar24. Além destas, o repositório de dados inclui referências a apps religiosas para muçulmanos e cristãos e muitas aplicações que descarregam VPN que, ironicamente, são usadas para proteger a privacidade.
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Ainda não se sabe se a Gravy estava a recolher estes dados ativamente ou se os obteve através de uma outra empresa. Não há, nos registos, referências temporais, mas algumas têm a indicação do ano de 2024.
A Gravy é especializada em dados de localização que recolhe de várias fontes e que depois vende a várias empresas ou agências de autoridade diretamente ou através da sua subsidiária Venntel.
Um investigador da Adalytics que também olhou para os dados explica que “parece que pelo menos alguns destes dados vêm de licitações em tempo real ligadas a anúncios publicitários”, referindo que a expressão encontrada ‘afma-sdk’ é usada pelo kit de desenvolvimento de software Mobile Ads da Google. “Um volume relevante destes dados de geolocalização parece ter sido inferido pelos endereços IP, o que significa que o vendedor ou a sua fonte está a deduzir a localização do utilizador ao verificar o seu endereço IP, em vez de o fazer usando dados GNSS GPS” conta Krzysztof Franaszek. “O que estamos a ver nestes dados parece vir de uma grande diversidade de aplicações. Isso não é o que se vê numa ingestão de SDK; isso é o que se vê de ingestões do RTB em massa”, conclui Edwards.
A história já foi contada em várias ocasiões: um homem pretende receber autorização para procurar numa lixeira pelo disco rígido do computador portátil no qual tem a chave que dá acesso a milhares de Bitcoin mineradas em 2009 e que valem uma fortuna atualmente. James Howells tenta obter esta aprovação desde 2013, altura em que referia que, por lapso, o disco rígido tinha sido deitado fora e continha a chave para cerca de 8000 Bitcoin.
Ao preço de mais de 95 mil dólares cada, atualmente a fortuna que está naquela lixeira passa os 733 milhões de dólares, cerca de 713 milhões de euros. O juiz britânico Keyser KC acabou, na semana passada, por rejeitar o apelo dizendo que Howells não tem qualquer hipótese de ter sucesso no tribunal. Howells pedia que o dono da lixeira “entregasse o disco rígido ou permitisse que a equipa de peritos escavasse o aterro para o encontrar ou, em alternativa, lhe desse uma compensação equivalente ao valor da Bitcoin a que já não pode aceder”.
As autoridades camarárias de Newport defendem que escavar no aterro como Howells pretende iria permitir que substâncias tóxicas escapassem com “sérios riscos para a saúde pública e preocupações ambientais”.
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A decisão definitiva do juiz agora foi de rejeitar o pedido de Howells, defendendo que não há “realisticamente qualquer probabilidade de ter sucesso em tribunal”. A decisão cita um artigo de 1974 que diz que “qualquer coisa entregue às autoridades por outra pessoa no decurso do uso das instalações deve pertencer à autoridade e será tratada em conformidade”. No seu caso, Howells defende que este artigo apenas refere que os objetos pertencem à autoridade, mas não clarifica que “deixem de pertencer ao seu antigo proprietário”.
Outro argumento usado pelo juiz é o do tempo: Howells sabia dos factos desta queixa em novembro de 2013, mas apenas iniciou os processos legais em maio de 2024, passando os seis anos de limitação estabelecidos na lei. Howells tem tentado, desde novembro de 2013, aceder ao local da lixeira, em Newport, País de Gales, para encontrar o disco de duas polegadas e meia onde está o ficheiro wallet.dat com a chave privada que desbloqueia o acesso a esta recheada carteira, lembra o ArsTechnica.
Howells já reagiu, lamentando que o caso não possa sequer seguir para tribunal, não lhe dando a oportunidade de se explicar ou a “oportunidade de ter justiça sob qualquer forma”. “Não se trata de ganância, não me importo de partilhar os lucros, mas ninguém numa posição de poder está a querer ter uma conversa decente comigo… Esta decisão tirou-me tudo e deixa-me sem nada. É o grande sistema de injustiça britânico a funcionar”. Em 2021, Howells tinha oferecido às autoridades um quarto do lucro total das Bitcoin que poderiam ser distribuídos pelos residentes locais.
Sobre a razão pela qual o disco foi parar ao aterro, Howells já explicou que se tratou de um lapso, pois tinha dois discos iguais, um sem nada e outro com a chave das Bitcoin, e que pretendia deitar fora o primeiro. O aterro contém atualmente 350 mil toneladas de lixo e recebe 50 mil toneladas todos os anos. O queixoso acredita que consegue restringir a busca para uma área com aproximadamente dois mil metros quadrados e um volume entre 10 e 15 mil toneladas de lixo e que o disco, mesmo estando soterrado, ainda pode ser recuperado, pois tem uma camada de cobalto anti-corrosivo a revesti-lo.