A Europa está a investir em diversos setores para conseguir ter uma resposta à altura em áreas como defesa ou comunicações por satélite, sem ter de depender de estruturas como as dos EUA. Durante uma visita do presidente francês Emmanuel Macron ao Reino Unido, foi anunciado que o país de Sua Majestade vai avançar com um investimento de 163,3 milhões de euros na Eutelsat, acompanhando uma injeção de capital muito maior feita pela França.

O plano francês prevê o investimento de 750 milhões de euros e a manutenção de uma posição de 29,65% na Eutelsat. Com o investimento previsto, o Reino Unido pretende manter a sua posição de 10,89% na organização que detém e gere 34 satélites geoestacionários e mais de 600 satélites em baixa órbita, sendo a segunda maior constelação só atrás da Starlink. Com a adição destes montantes agora anunciados, a recapitalização da Eutelsat aumenta para 1,5 mil milhões de euros.

O Reino Unido mantém uma ‘ação dourada’, que lhe confere alguns poderes de veto na OneWeb, a subsidiária da Eutelsat baseda em Londres. O ministro da Ciência e Tecnologia britânico Peter Kyle afirmou em comunicado citado pela Reuters que “à medida que os adversários aumentam o uso da tecnologia espacial para nos causar danos, conectividade resiliente por satélite torna-se essencial para a segurança nacional do nosso continente”. O ministro salienta que este investimento reflete o compromisso britânico para o desenvolvimento destas tecnologias e para manter uma participação importante no setor das comunicações por satélite.

Depois de serem conhecidos estes investimentos, as ações da Eutelsat valorizaram 10%.

Cerca de 6% dos trabalhadores da Indeed e da Glassdoor vão ser despedidos, depois de o grupo que detém as duas empresas, a Recruit Holdings, ter enviado uma comunicação interna sobre o tema. O documento, a que a Reuters teve acesso, revela que a maior parte dos cortes incide sobre os EUA e em áreas como investigação e desenvolvimento, crescimento, equipas de sustentabilidade, atingindo também outros países e funções.

O diretor executivo da Recruit Hisayuki ‘Deko’ Idekoba não explica concretamente a razão para os despedimentos, mas adianta que “a Inteligência Artificial está a mudar o mundo e temos e nos adaptar assegurando que o nosso produto proporciona boas experiências para quem procura emprego e para empregadores”. Recorde-se que os investimentos em IA estão, em diversas empresas como a Microsoft ou a Meta, de mão dada com vagas de despedimentos.

O diretor executivo da Glassdoor é um dos afetados, deixando a empresa a 1 de outubro, numa altura em que as operações desta se vão integrar com as da Indeed. Também LaFawn Davis, a responsável de Recursos Humanos e Sustentabilidade da Indeed, vai sair, desta feita a 1 de setembro.

A Recruit Holdings adquiriu a Indeed em 2012 e a Glassdoor em 2018, tendo atualmente mais de 20 mil trabalhadores a operar na área de Recursos Humanos.

Em janeiro, a Samsung falou do smartphone tríptico (com duas dobradiças e três ecrãs) da família Galaxy Z. Agora, sem ter mencionado o aparelho durante o evento Unpacked que aconteceu ontem, o responsável de produto TM Roh confirmou ao The Korea Times que este smartphone está projetado para um lançamento ainda este ano.

“Estamos a trabalhar arduamente num smartphone tríptico, com o objetivo de lançar no final deste ano. Estamos a focar-nos no aperfeiçoamento do produto e na usabilidade, mas ainda não decidimos o nome. Com o produto a estar quase completo, vamos tomar essa decisão em breve”, conta o executivo, em palavra que foram corroboradas por uma fonte anónima ao Android Authority.

Há rumores de que o novo aparelho se possa chamar Galaxy G Fold, devido à forma que assume com as duas dobradiças. Mesmo com um lançamento previsto para os próximos meses, a Samsung não será pioneira neste tipo de smartphones, com essa distinção a pertencer à Huawei, que lançou o Mate XT, cujos preços começam nos 2800 dólares.

Não há assunto mais vivo do que a morte. E a morte do Diogo Jota, que nos bateu como uma tragédia imoderada na vida de um rapaz contido, obriga-nos a olhar de frente para o buraco: essa escuridão católica, esse sorvedouro com nome próprio: escrevi sobre ele ainda ontem. Mas não bastou. Falta falar sobre o enterro.

Foi o Filipe Costa Almeida, o meu provocador predilecto, que me espetou a farpa: “Olha lá, tu que andas sempre nessas fantasias de semiótica e metafísica, vais mesmo deixar passar o funeral dos irmãos Silva?”. Eu, claro, não deixei. Não podia.

E eis que a morte mediatizada me levou à morte comunitária.

Comecemos pelo fim. Pelo sepultamento. O gesto final. A sinédoque mais justa da morte. Contudo, hoje não se enterra. Queima-se. Como se o Inferno tivesse passado a constar dos regulamentos camarários. Como se o corpo fosse lixo reciclável. Basta ir a um desses centros de incineração civilizada para perceber tudo: o padre não sabe lá muito bem o que fazer, os vivos não sabem porque vieram, e os mortos… bem, os mortos estão mortos. Se dúvidas houvesse sobre a vertigem pagã das sociedades ocidentais, basta fazer uma visita àqueles sinistros complexos onde os corpos — os nossos sacrários de carne, a última coisa que nos resta — evaporam, apagam, desaparecem. É um estarmos assim ali porque sim, sem qualquer esteio litúrgico que o ampare e justifique. É fogo sem fumo. Um gesto terminal, desprotegido, vítreo. Sem mediação sacramental.

Concedo, é semiótica e metafísica. É o sintoma. O grande sintoma. Perdemos o símbolo. (Acompanhe agora, leitor, a guinada geográfica e espiritual). Mas não em Gondomar.

Gondomar! Nome de escudo. Nome germânico; podia ser bíblico. Ali, naquele Norte onde “ainda” é o último advérbio da resistência, ainda se enterra. Ainda se joga à malha. Ainda há colectividades. Ainda se acredita. Ainda se devolve o pó ao pó do qual o pó foi feito. Como se nunca se tivesse deixado de crer na doutrina da ressurreição dos corpos. Como quem diz: pelo sim pelo não, deixa estar quieto.

O meu avô Barbosa dizia sempre: “Não bulas.” Era uma ordem teológica. Uma doutrina ancestral que valia mais que mil encíclicas. Era o mandamento secreto do Norte: não mexer. É que ali sabe-se (sabe-se no osso) que há coisas que é para deixar como estão. Porque aí, talvez, quem sabe, um dia, se regresse. Um católico acredita nisto. E o Norte é católico.

O que vimos naquele funeral foi uma Igreja ainda de pé. As pessoas foram. Estavam lá. Gente de todas as idades, de todas as posses e de todas as poses. Contra todas as expectativas, contra tudo o que nos separa uns dos outros, as pessoas ainda se dirigem para um templo para homenagear os seus mortos. Para rezar por eles.

É que há aqueles que pensam, e muitas vezes dizem sem vergonha, “eu não gosto de funerais”. E não põem os pés no cemitério. Dizem-no com aquele ânimo de que não é nada com eles. O que é verdade; não é, de facto. Mas é esse o ponto. O funeral é o anti-eu: contra a cultura narcisista, contra a privatização das emoções; aponta para o fundo comunitário da morte. É o derradeiro confronto com o outro, no qual não estão em causa as nossas predilecções ou simpatias. Trata-se da vitória final da anulação sobre os elementos. É sobre quem morreu. Sobre o corpo, esse vestígio que deixamos quando nos vamos. Como uma peça de roupa que se deixou para trás.

Sir Roger Scruton, outro dos nossos avós — o inglês —, dizia que, no deslumbramento da abundância, não conseguimos discernir facilmente as coisas sagradas, “que brilham mais claramente na escuridão”. Pois naquele dia de sol em Gondomar, havia t-shirts pretas. Uns fatos sem gravata. Umas coisas assim, entre o desadequado e o insípido. Era a sobriedade possível num mundo que há muito escolheu o espalhafato e a desordem.

Será mais difícil discernir o sagrado nestas circunstâncias? Presumivelmente. Mas é, em primeira instância, uma questão de presença. É preciso acordar, tomar banho, sair de casa. Sair de nós mesmos. É preciso lá estar. Como voluntários, nas cercanias do grande medo. Gondomar não é um mau começo. Uma Capela chamada Ressurreição não é um mau começo.

Manuel Fúria é músico e vive em Lisboa.
Manuel Barbosa de Matos é o seu verdadeiro nome.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Entro numa loja do Chiado com os meus filhos. Enquanto aguardo pela minha vez para ser atendida, vejo como a jovem empregada brasileira ajuda uma cliente com simpatia e desenvoltura. Antes de mim, está ainda uma senhora, já de cabelos todos brancos, à espera de vez. Quando a rapariga se aproxima e a cumprimenta com um “boa tarde” caloroso, a mulher atira-lhe um ríspido “não tem ninguém aqui que fale português?” A rapariga estaca, abre os olhos, mas ainda sorri. “Eu falo português. Em que posso ajudar?” A mulher não desarma. “Alguém que fale português corretamente, não essa coisa que está a falar.” O tom é ostensivamente hostil. A trabalhadora tenta insistir, sempre com simpatia, perguntando se não se percebe o que diz. A outra repete que não gosta daquele português.

Não aguento mais. Intervenho. “Esta senhora não só é muito simpática, como fala um português muito correto.” A cliente trespassa-me com um olhar de ódio. “Isto não é português.” Reparo, então, que a funcionária olha para o chão, com os lábios trémulos. “É português e muito bem falado. Se a senhora não entende, o problema é seu. Acho que devia ir procurar outra loja”, disparo, num tom duro o suficiente para a fazer sair dali, murmurando-me impropérios.

“Peço desculpa”, diz-me a rapariga. Vejo-lhe as lágrimas a assomarem-lhe aos olhos. Sinto as faces a ruborescer. Mas faço um comício. “Eu é que lhe peço desculpa. Como portuguesa, sinto-me muito envergonhada. O que esta senhora fez é inaceitável. O seu português é muito bom e muito bonito. Está aqui a trabalhar e não há direito de virem aqui atacá-la desta forma.”

Tenho tido noites e dias terríveis, não durmo, fico bloqueado e apático. Vim miúdo, com 14 anos, de Cabo Verde e já não tenho lá ninguém ou quase ninguém. A situação é tão complicada que se não tenho espaço aqui, também não terei guarida lá, onde eles chamam ‘minha terra

Os meus filhos olham-me espantados, olhos muito abertos. Quando saímos, pergunto-lhes: “Perceberam o que aconteceu?” Estão confusos. Aproveito para lhes explicar que aquilo a que assistiram é “racismo”. Repetem a palavra, fazem perguntas, atentos e intrigados.

Quando chegam ao restaurante onde o pai nos aguarda, contam-lhe bem alto: “Vimos uma racista.” E explicam, de forma mais ou menos atabalhoada, a cena a que assistiram.

Este episódio passou-se há já bastante tempo, mas não o esqueceram. Volta e meia, quando ouve a palavra “racismo”, a minha filha mais velha conta o que viu, o mais pequeno acena com a cabeça.

Esta semana, tropecei por acaso num post de Instagram com vídeos de uma cena que parece decalcada da que vivi. Pelo sotaque da cliente, que não aparece na imagem, presumo que a situação se tenha passado no Norte. E a reação da lojista é mais firme do que aquela que presenciei no Chiado. Tudo o resto parece tirado do mesmo guião de ódio e necessidade de rebaixar quem é diferente, mesmo que quem é diferente esteja só a tentar fazer o seu trabalho o melhor possível, num país estrangeiro, muitas vezes de forma precária e mal paga, aceitando empregos que os nacionais desprezam. No final, sem que ninguém intervenha para defender a trabalhadora, a cliente pede o Livro de Reclamações e lá deixa por escrito o seu descontentamento firme por, imagine-se, ter sido atendida numa loja por alguém que fala o português com o sotaque doce do Brasil.

Dias antes, recebi uma mensagem no Instagram de um homem que não conheço e que me explicou ser cabo-verdiano, há muitos anos a viver em Portugal. Na véspera, a filha adulta que teve com a portuguesa com quem se casou foi parada na rua por uma pessoa que lhe falou em inglês. Obviamente, respondeu na mesma língua e foi então insultada pelo português de bem, que obviamente concluiu a cena mandando-a para a terra dela, sem perceber que ela está na sua terra. “Vivo aflito e com vergonha alheia. Tenho medo. Não confio nas forças de segurança”, diz o pai, depois de me explicar que trabalhou em Portugal durante 47 anos antes de se reformar e que as duas filhas são licenciadas, como que a reclamar para si uma dignidade que é sua por direito e não devia precisar de ser defendida com currículos e diplomas.

“Tenho tido noites e dias terríveis, não durmo, fico bloqueado e apático. Vim miúdo, com 14 anos, de Cabo Verde e já não tenho lá ninguém ou quase ninguém. A situação é tão complicada que se não tenho espaço aqui, também não terei guarida lá, onde eles chamam ‘minha terra’”, desabafa.

Nas últimas semanas, tenho recebido várias mensagens de brasileiros que me contam que estão a ponderar sair, por já não se sentirem bem-vindos ou pelas condições económicas se terem degradado, muito por causa do preço da habitação. Uma delas conheço bem. Chama-se Maria e é auxiliar no jardim de infância do meu filho.

A Maria sai de Portugal com as lágrimas nos olhos e o carinho e o respeito de todos quantos nestes anos lhe confiaram os seus filhos, sabendo do seu cuidado e da sua dedicação. A vaga que deixa na escola, diz-nos a experiência de quem tem assistido à dificuldade de recrutamento dos colégios no centro de Lisboa, não será fácil de preencher. E não é só (embora também seja) porque a Maria é uma grande profissional. É porque é cada vez mais difícil viver com os magros salários que por aqui se pagam, com os preços que tudo custa em Lisboa.

Até agora, muitas pessoas como a Maria têm ajudado a cuidar dos nossos filhos e pais, a construir e a limpar as nossas casas, a apanhar as nossas colheitas, a trazer-nos encomendas e comida e a transportar-nos ou a servir-nos em lojas, restaurantes e hotéis. As condições difíceis que aceitam são as mesmas a que nos sujeitámos (e sujeitamos ainda) em França, na Alemanha, na Suíça ou no Canadá.

Já se perguntaram: E se estas pessoas forem mesmo para a terra delas? O que é que nos acontece por cá?

Há mais de uma década, num tribunal do interior do País, decorria um julgamento que tratava de uma questão sensível para a comunidade de uma pequena aldeia. A sala encheu-se de gente. Uma fação estava desejosa de que os arguidos fossem condenados, ao passo que a outra se indignava com a tremenda injustiça que representava o simples facto de aqueles terem sido acusados. Não haviam lugares de sobra. O público seguia apaixonadamente cada depoimento, cada requerimento e avaliava cada expressão que saía da cara do juiz. Ao cabo de várias sessões, o julgamento chegou ao seu momento final. Ministério Público e advogados iam proferir as suas alegações e tentar mostrar ao juiz o motivo pelo qual, no seu entender, os arguidos haviam de ser condenados ou absolvidos. Num momento de maior assertividade, um dos causídicos foi perentório em afirmar que algumas das testemunhas tinham mentido ao tribunal e apresentado versões falsas. O calor da argumentação transbordou para a audiência que, ciosa das razões da respetiva fação, se exaltou a níveis descontrolados. Num ápice, arguidos, testemunhas e público envolveram-se em tumulto e gritaria, aprestando-se a iniciar o confronto físico. Sem grandes meios para uma intervenção mais acutilante, o juiz deu ordem para que os contendores abandonassem a sala de audiências, mas a sua voz pouco ou nada era ouvida no meio da confusão que se gerou. Sem sucesso na sua intervenção, o juiz acionou as forças policiais que acorreram ao local e conseguiram dispersar as pessoas, garantindo a segurança de todos. A audiência foi interrompida e prosseguiu mais tarde à porta fechada. Identificados os responsáveis, o juiz ordenou a passagem de uma certidão com o relato do que havia sucedido, bem como das gravações do julgamento, remetendo ao Ministério Público para abertura do competente inquérito. Algum tempo depois, os responsáveis foram acusados do crime de perturbação de funcionamento de órgão constitucional e julgados perante um tribunal coletivo. Nesse julgamento confessaram os factos, pediram desculpa pelo sucedido e foram condenados em processo penal.

Não é por acaso que a lei confere ao juiz o poder de direção e disciplina das audiências de julgamento, tal como não é por acaso que prevê a possibilidade de aplicação de sanções aos intervenientes processuais ou às demais pessoas que assistam ao julgamento e que violem os respetivos deveres de conduta. Nuns casos a intervenção do juiz é meramente reguladora do bom andamento dos trabalhos, mas noutros, como no exemplo citado, pode até ser mesmo providencial para a segurança das pessoas presentes.

Quando falamos em poderes de direção acometidos ao juiz, há, em primeiro lugar, que perceber que, num Estado de Direito democrático, os tribunais consistem nos lugares onde a justiça se concretiza em nome do povo. De uma forma pública e perante a comunidade, discutem-se os factos, produzem-se as provas, em ordem a que o juiz possa, de forma equidistante, imparcial e independente, decidir como deve ser dirimido um determinado litígio ou como deve a paz social ser restaurada.

Neste âmbito, cabe aos juízes presidir ao julgamento, dirigindo os trabalhos, efetuando inquirições ou interrogatórios, garantindo o contraditório e ordenando diligências em ordem à boa decisão da causa. Mas ao juiz cabe também o poder de tomar as medidas necessárias para fazer cessar os atos de perturbação da audiência, para garantir a segurança dos participantes processuais e para moderar a discussão, proibindo os expedientes impertinentes ou dilatórios.

Por sua vez, sobre arguidos e os cidadãos que assistem à audiência impende o dever de apresentarem um comportamento de modo a não prejudicar a ordem e a regularidade dos trabalhos, bem como a respeitar a dignidade do lugar. Além disso, diz a lei, devem acatar as determinações relativas à disciplina da audiência, adotando um comportamento respeitoso para com o tribunal.

Estes poderes e estes deveres não são uma concessão pessoal ao juiz, nem foram pensados para lhe conferir qualquer privilégio. Pelo contrário, estes poderes de direção consistem numa emanação direta da soberania popular. Se numa democracia, por definição, o poder reside no povo e se o poder judicial é um poder soberano exercido em nome daquele, forçoso é concluir que os poderes conferidos ao juiz, quer na direção da audiência, quer na decisão do caso, consistem em poderes populares, exercidos por delegação constitucional.

Por outro lado, sendo o escopo de qualquer julgamento potenciar a clarificação de factos, permitir a discussão dos argumentos em confronto e potenciar uma decisão que dirima o litígio, é fundamental que o juiz garanta não apenas a dignidade e a elevação dos trabalhos, como impeça que o tempo da justiça seja desperdiçado com manobras dilatórias, intervenções ofensivas ou de desrespeito pelas regras do processo.

Neste sentido, o juiz pode e deve advertir, repreender ou até sancionar aqueles que perturbem a audiência. Pode limitar intervenções, exigir concisão, impor a disciplina e a ordem sem as quais o objetivo do julgamento não se pode cumprir, com o inerente prejuízo para as partes ou para o interesse público. Por conseguinte, importa vincar bem que desrespeitar os poderes de direção do juiz e torpedear as regras do bom funcionamento dos julgamentos é, na prática, desrespeitar o próprio funcionamento da justiça. Quando um interveniente interrompe de forma abusiva, utiliza linguagem imprópria, desafia a autoridade do tribunal sem fundamento ou promove comportamentos que atrapalham a descoberta da verdade, não está apenas a colocar em causa o concreto indivíduo incumbido da missão de julgar, mas antes a ferir o interesse coletivo da sociedade em ter processos justos, céleres e eficazes. Está a afrontar o povo, cuja vontade se expressa através do funcionamento correto das instituições.

É por esse motivo que a lei prevê sanções para quem infringe a ordem da audiência, que vão desde a advertência à expulsão da sala ou, em casos mais graves, ao procedimento criminal. Estas possibilidades não são meramente simbólicas, mas antes instrumentos indispensáveis para garantir que ninguém se coloca acima da lei.

Contudo, impõe-se também sublinhar que a essencialidade da autoridade do juiz para o bom funcionamento da justiça importa sempre, da parte deste, o cumprimento rigoroso da lei e da imparcialidade no exercício da função, em respeito pelos direitos de todos os intervenientes. Os poderes de direção acometidos ao juiz não constituem uma forma de censura ou silenciamento, mas antes uma garantia de que o processo e a própria decisão final não são contaminados por pressões de qualquer ordem, sendo que o apuramento da verdade apenas pode processar-se num ambiente sereno e respeitador.

Nesta engrenagem, o juiz apresenta-se publicamente na veste de titular de um poder soberano exercido em nome do povo e por delegação deste. Os poderes que exerce são fundamentais numa sociedade que se quer desenhada em torno dos pilares da democracia. Por esse motivo, é altamente nocivo para um Estado de Direito todo o tipo de condutas que visem perturbar o funcionamento da justiça ou a instrumentalização do processo para outros fins. Na verdade, num tempo em que as democracias sofrem défices assinaláveis em vários pontos do globo e em que o Estado de Direito se vê posto em causa, designadamente por via do ataque à independência e à ação dos tribunais, importa reforçar a necessidade de se compreender que a audiência de julgamento visa resolver a situação de cidadãos concretos. Não é um espetáculo mediático, nem tão pouco um campo de batalha. É, antes, um local onde se procura a descoberta da verdade, a reparação e a decisão justa.

Por conseguinte, o respeito pelos poderes legais e soberanos conferidos ao juiz afigura-se, desde logo, como um imperativo cívico de respeito pelo próprio povo e pela construção coletiva que é a justiça, a qual não se alcança sem direção, regras, respeito e confiança.

Quando o juiz dá ordem de silêncio, organiza os tempos, interrompe uma intervenção despropositada ou repreende algum comportamento perturbador ou insultuoso, não está a exercer um capricho mas antes a cumprir um dever que lhe foi confiado pelo povo e pela Constituição. Desrespeitar esta autoridade legalmente conferida ao juiz não constitui apenas um desrespeito ao concreto magistrado, mas antes um desrespeito a toda a comunidade que o juiz representa. Num regime democrático, o tribunal é um dos rostos visíveis do Estado e o juiz é a sua voz no momento decisivo do processo. Os poderes de direção da audiência não são adereços protocolares, mas ferramentas indispensáveis para garantir que a justiça se faz com ordem, dignidade e equidade. Respeitá-los é respeitar o povo. E desrespeitá-los é, no fundo, recusar a democracia.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Quando morre alguém antes do tempo – o que será isso do tempo de morrer? –, a comoção generaliza-se. Mais ainda quando esse alguém vivia na esfera pública. Dependendo da dimensão do seu estrelato, o sofrimento alarga-se ao País ou ao mundo, mesmo que nunca tenhamos privado com quem parte ou sequer seguido os seus feitos.

A morte antes do tempo – do tempo em que esperávamos – implica sempre rispidez. Nunca são causas naturais, que essas reservam-se aos que já cruzaram todas as etapas da vida. Normalmente, nestes casos há uma interrupção abrupta do percurso que se julgava longo, quiçá brilhante, por culpa de um acidente, de excessos ou de uma doença traiçoeira. Nada é natural na morte de um jovem. Então como a digerir?

Os mais novos, quando morrem, transformam-se quase sempre em mitos. Na hora da partida, nasce a devoção, o culto, na esperança de não os deixar partir de uma vez só. Cria-se então uma certa aura em nunca envelhecer, em viver para sempre novo na nossa lembrança.

Alguém consegue visualizar o lindíssimo ator James Dean, que morreu num violento acidente de automóvel na flor dos vintes – tal como Diogo Jota e o seu irmão André Silva – hoje com 94 anos?

Ou poderia lá imaginar Jim Morrison, vocalista da banda The Doors, desaparecido há 54 anos, vítima de um ataque cardíaco causado possivelmente pelo consumo excessivo de drogas e álcool, que na segunda década do século XXI ainda houvesse turistas que, numa viagem a Paris, guardassem umas horas do seu passeio para o “visitarem” no Cemitério Père Lachaise?

Gestos, nem sempre compreendidos por quem não partilha da mesma veneração, com vista a perpetuar aqueles que idolatramos.

Vidas em excesso

Soube-se na terça-feira, 8, num relatório preliminar da polícia espanhola, que os dois irmãos futebolistas, de 28 e 25 anos, seguiam em excesso de velocidade no Lamborghini que alugaram para fazer a viagem até Inglaterra, visto que Diogo estava impedido de seguir de avião por causa de uma cirurgia de que ainda estaria a recuperar. Terá sido um fator agravante da causa imediata do sinistro: o rebentamento de um pneu traseiro durante uma manobra de ultrapassagem, de acordo com as conclusões preliminares da Guardia Civil.

A velocidade acima da lei foi também a causa do acidente de James Dean.

No caso de Francisco Adam, ator da série Morangos com Açúcar, além da velocidade que levou ao despiste do carro em que seguia com mais dois amigos, e que o matou em 2006, aos 22 anos, a autópsia veio a revelar que consumira, pouco tempo antes do acidente, cocaína, anfetaminas, cafeína e álcool.

O cantor Angélico Vieira morreu cinco anos depois, também num acidente de viação, na A1, quando o carro em que ia, um potente BMW 635 Cabriolet, se despistou no seguimento do rebentamento de um pneu. As perícias detetaram que o artista guiava a uma velocidade entre os 206 e os 237 quilómetros por hora. Um mês antes, Angélico, 28 anos, já tinha sido apanhado a conduzir a 210 km/h, ao mesmo tempo que se filmava.

A cantora Sara Carreira, de 21 anos, filha de Tony Carreira, também teve o seu fim na estrada. Embora não se provasse que o carro em que seguia ia em alta velocidade, foi um condutor com excesso de álcool no sangue que terá provocado o acidente fatal, envolvendo vários carros e causando outras vítimas.

O médio multicampeão pelo FC Porto Rui Filipe morreu em 1994, com 26 anos, quando regressava do aniversário do irmão, às 6h30, ao tentar ultrapassar o carro da frente, onde seguiam amigos, perdendo o controlo do automóvel. José Alberto Teixeira Ferreirinha, conhecido como Zé Beto, guarda-redes do mesmo clube, teve fim idêntico aos 30 anos, em 1990, na A1, próximo de Santa Maria da Feira. O automóvel despistou-se em alta velocidade e o condutor não sobreviveu ao acidente.

Como se nota pelo elencar de casos de mortes ao volante, em que os protagonistas estão na flor da idade, são mais comuns do que se poderia desejar. Este tipo de comportamentos excessivos são típicos de uma idade em que nos consideramos inquebráveis. Aos vinte ninguém pensa na morte nem em formas de a evitar.

Sensação de pertença

Quando notícias destas invadem o nosso dia a dia e há crianças que veneram as vítimas, torna-se ainda mais difícil explicar o sucedido. Se ainda estamos a tentar arranjar subterfúgios para nós… 

Por isso mesmo, Filipa Jardim da Silva, psicóloga clínica, lembrou-se de fazer uma publicação nas suas redes sociais, dias depois da tragédia dos irmãos futebolistas, para ajudar pais, treinadores e professores a lidar com as reações mais emotivas. “O impacto nas crianças e nos adolescentes que os seguem pode ser real – mesmo que nunca os tenham conhecido”, esclarece.

Por seu turno, Melanie Tavares, psicóloga, alerta para o facto pouco relevante de se conhecer ou não a pessoa que parte. “As figuras públicas que admiramos pertencem à nossa casa, quase fazem parte da nossa vida. Identificamo-nos com o seu comportamento, o seu nível de vida, o seu lifestyle.”

Para o caso específico de Diogo Jota, um jogador da Seleção, também contribuem o orgulho nacional e a sensação de união que o futebol dá a grande parte dos portugueses. A empatia rapidamente se desenvolve.

As respostas às questões dos mais novos, defende Filipa Jardim da Silva, devem ser claras e sem metáforas. Do tipo: “Sim, é verdade. O Diogo e o irmão sofreram um acidente e morreram.” Dizer que “foram embora” ou “partiram” pode gerar confusão e medo em idades mais jovens, garante a especialista. “A morte faz parte da vida, mas quando acontece tão cedo é mesmo difícil de entender.”

Há frases proibidas, por não ajudarem em nada ao processo de aceitação. Eis alguns exemplos: “Foi a vontade de Deus” (pode gerar culpa, medo ou zanga espiritual); “Agora está num sítio melhor” (pode confundir e criar medo da vida); “Não penses nisso” (“bloquear sentimentos só os torna mais pesados e solitários), defende a psicóloga clínica.

Os adultos também sofrem quando ouvem estas histórias de jovens que são arrancados à vida de um segundo para o outro. E ficam sem ar. “Se forem pais ou avós, têm tendência para se rever numa situação idêntica, indagando como poderiam sobreviver a uma tragédia que lhe levasse os filhos ou os netos.”

O que andamos aqui a fazer?

Se se tratar de um desastre em trabalho, como o do piloto brasileiro de Fórmula 1 Ayrton Senna, em Imola, há mais de três décadas, com 34 anos, ou o caso do acidente de avião que matou todos os elementos da banda brasileira Mamonas Assassinas, quando se deslocavam para mais um concerto no auge da sua popularidade, em 1996, as pessoas aceitam melhor, como se fosse uma fatalidade inerente à fama.

Nessas alturas, é comum questionar-se o sentido da vida, ainda que fugazmente. Perguntamo-nos: O que andamos aqui a fazer?; Porque perdemos tempo com coisas que não importam?; Onde devemos investir a nossa energia?

Mas a consciencialização do carpe diem, de que a vida é um fósforo que se apaga de um sopro, dura pouco. “Estas reflexões não chegam para mudar comportamentos. No dia a seguir, estamos todos a agir da mesma forma, tal como aconteceu depois da pandemia de Covid-19”, desmistifica Melanie Tavares.

Esta questão não se coloca quando pessoas que aparentam ter uma vida glamourosa e bem-sucedida decidem acabar com ela ainda nos primórdios da sua existência. Lembramos aqui casos como o do músico dos One Direction, Liam Payne, 31 anos, ou o do ator Heath Ledger, 28 anos. Ambos foram encontrados mortos, em circunstâncias pouco claras, que levam a crer que quiseram pôr fim à vida.

Já no caso do chamado “clube dos 27” (ver caixa), atentamos nas palavras do veterano Bruce Springsteen, em entrevista ao The Telegraph, reconhecendo que as mortes prematuras de músicos devido ao abuso de substâncias se tornaram banais na indústria, devido à pressão sobre os jovens artistas – muitos não têm estrutura interna para lidar com o sucesso e refugiam-se no conforto das drogas ou do álcool para aliviar a tensão, considera o cantor.

Para ele, o valor está antes na longevidade e na integridade do trabalho, não na ideia de morrer jovem, algo que, segundo Springsteen, beneficia apenas a indústria: “É uma fraude. É só uma parte da história que atrai alguns jovens. Morrer jovem é ótimo para as editoras, mas o que isso traz para nós?” loliveira@visao.pt

A maldição dos 27

O mito do clube dos 27 será verdadeiro? Quem o estuda diz que sim, mas…

Zackary Okun Dunivin e Patrick Kaminski, investigadores da área da Comunicação da Universidade da Califórnia, dedicaram-se a analisar a realidade do clube dos 27, num estudo publicado no jornal científico PNAS, intitulado Dependência de Trajetória, Estigmergia e Reificação Memética na Formação do Mito do Clube dos 27. Neste grupo incluem-se os lendários Jimi Hendrix, Janis Joplin, Brian Jones, Jim Morrison, Kurt Cobain ou Amy Winehouse, todos músicos que morreram nessa idade prematura, embora as causas variem um pouco de uns para os outros. Note-se que as mortes dos primeiros quatro aconteceram todas no início da década de 1970 e no espaço de apenas dois anos.

“Esta estranha coincidência deixou a sua marca na memória coletiva. Não foi apenas a idade. Foi o fio condutor do génio musical, da influência contracultura e do fascínio trágico de vidas encurtadas por um cocktail de fama, consumo de drogas e luta inerente à sua condição de ser humano. A narrativa é não só convincente, mas quase mística na sua sincronicidade”, explica Zackary ao Público.

Em 2011, uma investigação publicada no jornal científico The BMJ reduziu este clube a um mito. E, por isso, os autores da Universidade da Califórnia quiseram alargar a verdade sofística, sob a premissa de que, embora a existência do fenómeno não possa ser empiricamente demonstrada, ele é real nas suas consequências.

Os colegas Zackary e Patrick analisaram então dados de 344 156 notáveis, listados na Wikipédia, e chegaram à conclusão de que, apesar de não haver um risco acrescido de morte aos 27 anos, aqueles que realmente morreram nessa idade recebiam muito mais atenção mediática.

Utilizando as visualizações de páginas da enciclopédia virtual como indicador de fama, o estudo do PNAS comprovou que esses legados são amplificados e têm mais visibilidade do que quem morre noutras idades também prematuras. “Baseámo-nos num conceito sociológico chamado teorema de Thomas, que afirma que ‘se definirmos uma situação como real, ela é real nas suas consequências’”, explica o investigador já citado. “O mito do Clube dos 27 é uma profecia que se cumpre a si própria: tornou-se ‘real’ porque acreditámos nele”, conclui Zackary Okun Dunivin. Isto porque tendemos a acreditar em narrativas poéticas.

Morrer para ser famoso

A publicação do BMJ, Dying to Be Famous: Estudo de Corte Retrospetivo da Mortalidade de Estrelas do Rock e da Pop e Sua Associação com Experiências Adversas na Infância, confirma, no entanto, que estes músicos tendem a morrer mais cedo do que a população em geral.

Pelas contas dos seus cinco autores, da Universidade John Moores, em Liverpool, na Grã-Bretanha, a morte prematura é duas vezes mais provável para artistas que atuam sozinhos. E os músicos que se tornaram famosos depois dos anos 1980 têm maiores probabilidades de sobrevivência. Nesse grupo, os que sobrevivem 25 anos à fama ficam com a mesma taxa de mortalidade que a população em geral.

Nesta investigação, liderada por Mark A. Bellis, analisaram-se 1 489 estrelas da música que ganharam palco entre 1956 e 2006 – destas 137 morreram, com uma média de idade média de 45,2 anos para os americanos e 39,6 para os europeus.

A notoriedade, por si só, não é responsável por estes desaparecimentos antes do esperado. No estudo, descobriu-se, por exemplo, que quase metade dos músicos cujas mortes se ligavam ao abuso de drogas e álcool tiveram infâncias traumáticas. Uma verdadeira pescadinha de rabo na boca.

O novo sensor de emergência que pode ser aplicado em doentes com diabetes Tipo 1 pode ajudar a evitar fatalidades que decorram de episódios de hipoglicémia em utilizadores menores, que estejam a dormir ou que estejam incapazes de se injetar atempadamente. O sensor desenvolvido no MIT é colocado debaixo da pele e desencadeia uma resposta de glucagon quando os níveis de açúcar descem para níveis perigosos. A glucagon é uma hormona que estimula o fígado a libertar doses de glicose armazenada para manter a glicemia dentro dos níveis adequados.

A hipoglicémia é um perigo constante para os doentes com diabetes Tipo 1, quando os níveis de glicose descem para níveis abaixo do recomendado. Geralmente, nessas situações, os doentes sabem que têm de se injetar com glucagon, mas tal pode não ser sempre possível, especialmente em doentes menores ou pessoas que estejam a dormir. “Este é um pequeno dispositivo [do tamanho de uma pequena moeda], para emergências, que pode ser implantado debaixo da pele e que está pronto a atuar quando os níveis de açúcar no sangue descem (…) O nosso objetivo foi construir um dispositivo que está sempre pronto a atuar para proteger os pacientes de níveis baixos de açúcar no sangue”, conta Daniel Anderson, o professor que liderou o estudo, ao Interesting Engineering.

Na criação do aparelho, a equipa usou um reservatório para o medicamento impresso num polímero em 3D e selado com uma liga que mantém a memória da forma e que responde ao calor. Esse componente enrola-se e abre quando exposto a 40 graus centígrados, libertando a substância no interior. A glucagon armazenada está sob a forma de um pó, uma vez que no estado líquido pode perder a eficácia. Uma antena sintonizada para uma frequência de rádio específica permite a ativação externa sem fios, enquanto uma pequena corrente elétrica aquece o metal para libertar a hormona. Siddarth Kishnan, outro dos autores, explica que o implante pode ser ligado a tecnologias de monitorização contínua da glicose, algo que muitos pacientes já usam, para facilitar a sua integração e utilização.

Nos testes com ratos diabéticos, os implantes demoraram menos de dez minutos a libertar a glucagon e estabilizar os níveis de açúcar no sangue. Os testes incluíram a administração de epinefrina, com o medicamento a entrar em circulação também em dez minutos, o que demonstra um potencial de utilização também para evitar ataques cardíacos ou reações alérgicas severas. Em laboratório, descobriu-se que os implantes continuaram em funcionamento mesmo após quatro semanas da introdução, com os investigadores a pretenderem explorar o uso durante mais de um ano. Os testes em humanos e outros animais podem começar dentro de três anos.

“Se nenhuma proposta para a TAP for relevante, há a possibilidade de suspendermos a privatização”. A garantia foi deixada por Luís Montenegro na comunicação feita ao país, a meio do Conselho de Ministros, para anunciar que o Estado vai avançar com a promessa eleitoral da AD e vender 49,9% da companhia aérea portuguesa, sendo que 44,9% será para vender a um investidor e 5% para os trabalhadores.

O primeiro-ministro não quis responder a nenhuma pergunta, garantindo que ao longo do dia o Governo dará mais informações sobre a privatização anunciada.

Não há, por exemplo, informações sobre que tipo de condições serão impostas ao comprador privado, nomeadamente na questão das rotas ou do hub de Lisboa.

“Um poço sem fundo” a dar lucro há três anos consecutivos

Apesar de o objetivo ser vender, Luís Montenegro classificou a TAP como “um poço sem fundo”, vincando que a decisão agora tomada reflete o que estava no programa que a AD levou a votos.

“É a pensar no futuro do país, no desenvolvimento do país que tomamos esta decisão. Já gastámos muito dinheiro que não se repercutiu na vida dos portugueses. Não queremos continuar a deitar dinheiro para um poço que não tem fundo”, disse, fazendo eco de um argumento há muito usado pela direita para a venda da empresa, mas que a apresenta aos potenciais compradores como um possível mau negócio, apesar de nos últimos anos a TAP ter dado lucros.

A TAP terminou o ano 2024 com um resultado líquido positivo de 53,7 milhões de euros, o seu terceiro ano consecutivo de lucro. Em 2023, o ganho tinha sido de 177,3 milhões de euros. Já em 2022, os lucros tinham sido 65,6 milhões, depois de quatro anos a dar prejuízo. Já depois da venda ao consórcio de David Neelman e Humberto Pedrosa, a empresa deu prejuízo, acumulando perdas entre 2018 e 2021, um resultado em parte explicado pela pandemia, que levou os aviões a ficarem no chão em 2020, facto que desencadeou uma intervenção do Estado para impedir o encerramento da TAP.

O PSD chegou a defender a privatização total da companhia aérea, no entanto não teria maioria no Parlamento para fazer esse negócio. Até agora, a posição de Chega e PS tem sido a de rejeitar uma venda do total do capital da empresa, considerando estes dois partidos que o Estado deve manter uma participação na TAP.

A Microsoft continua as rondas de despedimentos em diversas unidades de negócio e, na semana passada, anunciou mais nove mil saídas, elevando o número total para 15 mil só este ano. Numa mensagem que pode ser interpretada como deslocada, o diretor comercial Judson Althoff revelou que a utilização de Inteligência Artificial permitiu à empresa poupanças de mais de 500 milhões de dólares nos setores de vendas, apoio ao cliente e engenharia de software.

Este não é o primeiro ‘lapso’ deste tipo a ser cometido por executivos da Microsoft, depois de Matt Turnbull, produtor da Xbox Game Studios, ter sugerido que os trabalhadores que estavam preocupados pelos despedimentos em Redmond podiam encontrar apoio nas ferramentas de IA como o ChatGPT ou o Copilot. Apesar de não se saber se os despedimentos estão claramente ligados ao uso de IA, este tipo de comentários não está a ser bem recebido pelos utilizadores e pelos trabalhadores afetados. Prova disso é que a publicação de Turnbull no LinkedIn acabou mesmo por ser apagada.

Numa altura em que a Microsoft regista lucros de 26 mil milhões de dólares, receitas de 70 mil milhões num trimestre e acaba como segunda empresa com maior valorização no mercado nos 3,74 biliões de dólares, pode ser difícil passar a mensagem de que os despedimentos são uma forma de manter a rentabilidade da organização, lembra o Tech Crunch.

A Microsoft já fez saber que grande parte destes lucros vão ser diretamente canalizados para os esforços de Inteligência Artificial. Recorde-se que a empresa já se comprometeu com um investimento acima de 80 mil milhões de dólares só na infraestrutura necessária para tal, durante este ano de 2025.