O patriotismo estriba-se num passado mitificado de um povo ou país e numa ideia de grandeza histórica. Já o nacionalismo remete para a expectativa da hegemonia de um povo sobre os outros. E é assim que surge o MAGA (Make América Great Again), numa fase de perda de influência dos Estados Unidos no mundo, ou o Brexit, inspirado na nostalgia do velho Império Britânico. Se patriotismo é um sentimento de amor à pátria, nacionalismo será a defesa dos interesses particulares de uma nação enquanto espaço exclusivo e identitário, que guarda um território, uma etnia, uma língua e um legado cultural específicos.
Enquanto ideologia política, o nacionalismo presta mais atenção à defesa da integridade e independência do país do que à exaltação dos símbolos patrióticos, embora os utilize com frequência como marca distintiva.
Nascida na sequência da Revolução Francesa, a ideologia nacionalista assumiu grande relevância na organização política dos estados durante todo o século XIX, firmando-se como um conceito desenvolvido para conjugar a ascensão do sentimento de pertença a uma cultura, a uma região geográfica, a uma língua ou a um povo concretos.
Este fenómeno acabou por responder às forças políticas que, apoiadas pelas ideias iluministas, pretendiam rejeitar a lógica da monarquia absolutista. Tal permitiria a construção de estados nacionais de base constitucional e segundo um modelo democrático, no qual a população fosse constituída por cidadãos portadores de direitos e deveres e não por súbditos dum monarca, dependentes dos seus favores.
Ao contrário dos estados nacionais que surgiram no continente europeu nos séculos anteriores, os que emergiram no séc. XIX, e que foram construídos à volta da figura do monarca, optaram mais pela forma republicana do regime, como sucedeu com os processos de unificação da península italiana ou a alemã. Entretanto o regime republicano e o fenómeno das grandes concentrações populacionais nas cidades, devido à revolução industrial, contribuíram para a Grande Guerra e a ascensão dos totalitarismos de caráter nacionalista que dela decorreram, como os regimes nazi e fascista.
No caso alemão, as teorias racistas e defensoras da superioridade da raça ariana de pendor nacionalista, assim como a ideia de que o povo germânico estava destinado a construir o Terceiro Reich, isto é, um império mundial que duraria mil anos, promoveram a catástrofe.
De facto, a ideologia nacionalista tem sido frequentemente utilizada por alguns movimentos para sublinhar diferenças étnicas que servirão de base ao racismo. Uma coisa é ser patriota, isto é, amar a pátria e respeitar os seus símbolos e a sua história. Outra coisa é considerar o povo português superior a qualquer outro, porque sim.
A tendência atual é a cooperação multilateral entre estados com vista ao desenvolvimento económico e social e à promoção da paz. Foi justamente por isso que surgiu a Comunidade Económica Europeia (CEE) através do Tratado de Roma em 1957, que entretanto fez o seu caminho e hoje se designa como União Europeia, e contra a qual os extremistas se levantam tentando fazê-la implodir a partir de dentro. Essa cooperação cada vez mais ampla reforçou-se agora como o recente acordo histórico alcançado entre a União Europeia e o Mercosul.
É por tudo isto que não convém confundir a estrada da Beira com a beira da estrada, ou seja, patriotismo com nacionalismo. O primeiro é uma coisa boa, já o lugar do segundo será no caixote do lixo da História. E quando se mistura nacionalismo com religião (uma tentação muito presente em diversas regiões do mundo) obtém-se uma mistura indigna e altamente destrutiva.
Jesus Cristo não era nacionalista, embora respeitasse a pátria onde nasceu e o seu povo, tal como as respetivas tradições. Nunca foi sicário nem aderiu ao orgulho étnico-religioso dos judeus do seu tempo, os quais perfilhavam uma das mais repugnantes variantes da ideologia nacionalista-religiosa, a ponto de considerarem os gentios como cães. No fundo, o Mestre sabia que o seu reino não era deste mundo, coisa que nem todos os cristãos sabem.
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