Ventura tenta provocar a indignação dos ignorantes e reacender a suspeita sobre o cidadão que tão mal tem sido tratado pelo Ministério Público (MP).
Note-se que o líder do Chega teria todo o direito de discordar politicamente de Costa, ou mesmo de achar que não é o homem certo para aquele lugar, mas vai mais longe e sugere à boca cheia o pecado de corrupção ao ex-primeiro-ministro, ao afirmar que a actual indignação cívica da sociedade civil contra os abusos do MP se reduziu apenas a uma “perseguição política à justiça e ao branqueamento de Costa”…
Mas de facto, o que sucedeu foi a introdução dum parágrafo tonto num comunicado da Procuradoria-Geral da República (PCR) pela mão de Lucília Gago (deve estar arrependidíssima, embora nunca o vá admitir!), com uma desculpa esfarrapada, e de que resultou a demissão do primeiro-ministro, a queda do governo – desnecessária, mas que deu ao presidente da república o pretexto para aproveitar e acabar logo com a maioria absoluta parlamentar que o condicionava – e novas eleições que alteraram o quadro parlamentar para muito pior, nos limites da ingovernabilidade.
A ministra da Justiça produziu muito recentemente declarações públicas sugerindo que Lucília Gago não sabe ou não quer pôr “a casa em ordem” (leia-se o MP), o que tem provocado reacções no mundo político, como um antigo bastonário da Ordem dos Advogados que já veio dizer, com toda a razão, que se o MP é uma casa em desordem o governo espera o quê para propor ao PR a demissão da PGR? Espera-se por Outubro para a ver cair de podre? E o país aguenta?
Recorde-se que o labéu público lançado por Lucília Gago sobre a cabeça de António Costa permanece, apesar de o homem ter pedido quase imediatamente para prestar declarações, o que foi chamado a fazer meses mais tarde sem ter sido constituído arguido, nem o processo arquivado até agora, o que é manifestamente incompreensível.
Recorde-se que os três arguidos da Operação Influencer que não foram detidos estão há quase oito meses para serem ouvidos pelo Ministério Público, entre eles João Galamba, que pediu cinco vezes para prestar declarações, mas em vão.
No país político a única força que apoia cegamente o MP é a extrema-direita, e por isso começa a surgir a dúvida se o Chega não estará infiltrado no MP ao mais alto nível. Não será por acaso que David Justino disse ao Diário de Notícias: “Começa a haver sobreposição excessiva de posições do sistema de Justiça com as da extrema-direita”
Mas o Ventura “Vale Tudo em Política” não está só neste filme. O Bloco e o PCP embarcaram no mantra de que Costa apoiou Ursula Von der Leyen e por isso a sua eleição para a presidência do Conselho Europeu é imoral, segundo os óculos desta esquerda.
Tentaram assim enganar os ignorantes ao omitir que as negociações para os altos cargos da UE são feitas em bloco pelos maiores grupos políticos saídos das europeias: o Partido Popular Europeu (PPE), Partido Socialista Europeu (PES) e os Liberais (Renew Europe), dos quais estes partidos não fazem parte.
Agora que Costa está confirmado como o novo presidente do Conselho Europeu, os que se lhe opõem vão defender a ideia de que o cargo é apenas um “tacho” dourado e não serve para nada. Estamos perante um triste arremedo de portuguesismo reduzido a uma enorme inveja social, alimentada todos os dias pelos títulos populistas do Correio da Manhã e quejandos, e uma atracção fatal pela boçalidade.
Não digo que se invente outro país, mas não se poderá mudar esta mentalidade rasteira?
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