Enquanto o primeiro-ministro elogia a duvidosa carreira de um dos principais responsáveis pelo BPN, congratulando-se por este ter “subido na vida”, os que deviam subir, mesmo, permanecem em terra. A Dias Loureiro, ex-ministro, ex-conselheiro de Estado e atual arguido do BPN, suprassumo (para Passos Coelho) do empreendedorismo e livre iniciativa nacionais, ainda foi pedido que “confessasse lá”, que admitisse que dá umas dicas a Passos como, antes, as tinha dado a Cavaco. Nunca percebi por que diabo se reconhecem talentos de spin ?doctor ao mandante da carga policial sobre o bloqueio da Ponte 25 de Abril, em 1994, mas reconheço-lhe a lata, agora reiterada: “Quem, eu?!”, respondeu. “Pois se eu nem vou a São Bento há anos!”. E não houve uma alminha que usasse de algum contraditório. Como se, para aconselhar o primeiro-ministro, fosse preciso picar o ponto, das nove às cinco, na residência oficial… Deve estar a gozar.
Já Passos Coelho, se estivesse a gozar, até seria divertido. Mas não estava. Ele está careca de saber que, justa ou injustamente, Dias Loureiro está associado ao caso de polícia do BPN, cujos custos, para o contribuinte, foram um dos principais motivos dos sacrifícios, dos cortes e da entrada da troika em Portugal. Passos Coelho já nos habituou a não ceder em matéria de amizades, ainda que isso lhe custe prejuízos políticos. Se fosse amigo de José Sócrates, teria ido a Évora mais vezes do que Mário Soares. O problema é que o caso BPN não admite estas bravatas. E a verdade também não: é mentira que Dias Loureiro seja um caso de sucesso, pelo menos até que se esclareça a sua participação no imbróglio BPN. Porque o eventual êxito empreendedor de Dias Loureiro tem por ponto de partida a sua aventura bancária, de má memória para todos os portugueses.
Ao mesmo tempo que isto se passava, quem devia, se não subir na vida, ao menos elevar-se pelos ares, permaneceu no solo. E se a opinião pública estava com dúvidas sobre a privatização da TAP, hoje, graças ao sindicato dos pilotos, muitos portugueses já desejam a venda da empresa o mais depressa possível. Podem os sindicalistas limpar as mãos à parede.
Dir-se-á – e tem-se dito – que a greve dos pilotos da TAP põe em risco a companhia e afeta a economia nacional, prejudica outros setores empresariais e coloca em risco não apenas os demais empregos na TAP mas os de muitas outras áreas de atividade. Não vou usar esses argumentos. Se as greves fossem inócuas, não valiam a pena. Elas existem, exatamente, para causar prejuízos, como forma de pressão. E quanto mais prejuízos causarem, mais suscetíveis são de produzir os efeitos desejados. É por isso que a requisição civil só devia ser declarada em caso de guerra ou de catástrofe.
Mas, para tal, algo mais devia mudar na lei da greve… A questão é que o sindicato dos pilotos se comporta, não como um baluarte da luta pelos direitos laborais, mas sim como o representante de uma corporação nociva (passe o pleonasmo). Não é aceitável que o País possa ficar refém de uma corporação, seja ela a dos pilotos aviadores, a dos pilotos de barra ou a dos camionistas – como já aconteceu. Os sindicatos convocam greves para lutar por melhores condições salariais, ou de trabalho. Não para boicotar decisões políticas que competem ao poder executivo – como, por exemplo, a opção pela privatização. E muito menos para proteger o interesse capitalista dos seus associados numa fatia das empresas. A lei da greve permite isto? Não devia