Um dos efeitos indiretos da guerra na Ucrânia tem sido permitir ao Reino Unido e às restantes capitais europeias um novo tempo para se reencontrarem. Londres tem sido impecável no apoio militar, político e financeiro a Kiev, como notou Rishi Sunak há dias em Munique, o que fez coincidir agendas com Estados-membros e com as instituições europeias. Esse compromisso britânico tem sido ainda importante para motivar os países da UE a trabalharem em dois planos complementares: por um lado, acompanhando a parada britânica no apoio existencial à Ucrânia; por outro, procurando novos termos na relação bilateral que preservem a cooperação estreita anterior ao Brexit ou reinventem os seus termos para o futuro. Portugal é um dos mais interessados nesta dupla frente e precisa de promover essa ligação à medida que a continentalização da política europeia se concentra a leste.
Este novo tempo entre Londres e Bruxelas acaba por coincidir com duas dinâmicas também elas simultâneas no tempo. A primeira está relacionada com a fragilidade política do protocolo da Irlanda do Norte, negociado no quadro da saída formal do Reino Unido da UE. Londres procurou denunciá-lo desde cedo, de forma unilateral, um contributo inestimável para a desconfiança que já existia com Bruxelas, dando assim um passo rumo à desconstrução da arquitetura de paz com Belfast, cuja instabilidade política acelerou com o risco da fronteira física com a Irlanda. Rishi Sunak tem pelo menos tentado negociar o protocolo com a Comissão, aproveitando este tempo de maior alinhamento estratégico que a guerra na Ucrânia abriu.