Com a secção ‘Sociologia do Quotidiano’ pretende-se tratar acontecimentos do dia-a-dia, através de uma análise dos processos do funcionamento e transformação da sociedade, dos diversos comportamentos e práticas (individuais e de grupos) da vida quotidiana, incluindo as interações sociais e políticas, onde se jogam os interesses (que por vezes conflituam) dos diferentes agentes sociais.
Na minha última crónica, “O natal não existe para todos” (11/12/2020), fui um bocadinho (ou mesmo demasiadamente) crítico e muito pessimista sobre o Natal. Para me redimir, resolvi (re)ler o livro clássico Stories behind the great traditions of Christmas (2003), de Andrew Collins, e partilhar, neste dia de festa, algumas curiosidades sobre as principais tradições do natal.
Pai Natal (Noel)
É a representação do famoso bispo turco São Nicolau (séculos III e IV), admirado pela sua enorme bondade. Conta a lenda que se tornou popular quando salvou três irmãs pobres de serem vendidas como escravas, dando-lhes um dote para que pudessem se casar. Por isso, ficou conhecido como o protetor das crianças. No século XVIII, esta figura foi introduzida nos Estados Unidos, em Nieuw Amsterdam/New York, por imigrantes holandeses; daí a evolução do nome: Sint Nikolaas-Sinter Klaas-Santa Claus.
Meias na chaminé
É uma tradição relacionada com a origem do Pai Natal. Na Europa do século XVII, como vimos no item anterior, havia um pai que precisava casar as três filhas, mas não tinha dinheiro para os dotes. Ouvindo as suas súplicas, São Nicolau desceu furtivamente pela chaminé e encheu as meias das filhas, colocadas junto à lareira para secar, com moedas de ouro, para que o pai pudesse pagar os dotes de casamento.
Bastões de doces
A tradição da distribuição dos bastões de doces para as crianças começou, em 1670, quando o responsável pelo coro da Catedral de Colónia (Alemanha), para manter as crianças quietas durante a apresentação, teve a ideia de distribuir palitos de doces. O formato de um cajado de pastor simboliza Jesus, o ‘bom pastor’ que cuida do seu rebanho. Em 1847, este costume foi levado para os Estados Unidos pelo imigrante sueco-alemão chamado August Imgard.
Cartão
Em 1840, havia na Inglaterra um membro da alta sociedade de nome Sir Henry Cole, mais conhecido como o fundador do Victoria and Albert Museum em Londres. Era comum, na época, escrever cartas de Natal e Ano Novo para as pessoas mais chegadas. O problema era que ele tinha muitos amigos e, por isso, tinha que escrever centenas de cartas do próprio punho e não tinha tempo nem paciência para fazer isso. Como resolver esta questão? Ele teve uma ideia genial – padronizar e imprimir a mensagem – “Merry Christmas and Happy New Year to you”. E surgiu assim o primeiro cartão de Natal.
Árvore
O costume de enfeitar uma árvore na altura do Natal começou na Inglaterra, por iniciativa da rainha Vitória (que reinou entre 1876 e 1901) e do seu marido Albert, de origem alemã. Em 1889, esta tradição chegou aos EUA e hoje é uma tradição muito popular na sociedade norte-americana.
Coroa
A coroa, que é colocada na porta principal de entrada da casa, é uma tradição do norte da Europa e está associada à preparação da árvore de Natal: os galhos eram aparados em triângulos – os três pontos simbolizando a Santíssima Trindade (Deus/Pai, Jesus/Filho e o Espírito Santo). As sobras eram utilizadas para confecionar a Coroa, em formato circular, simbolizando a eternidade e o conceito cristão de vida eterna.
Biscoitos
A origem dos biscoitos remonta à Europa medieval. No século XIX, foram criados os populares biscoitos de Natal, com vários sabores e formatos (estrelas, árvores, figura de São Nicolau, etc.).
Luzes de Natal
Thomas Edison foi o inventor da lâmpada, mas foi o seu parceiro Edward Johnson que teve a ideia de colocar luzes na árvore de Natal. Em 1882, substituindo as velas que iluminavam os galhos, ele amarrou lâmpadas coloridas em volta de sua árvore e a exibiu na janela de sua casa, em New York. Em 1903, começaram a ser comercializados os kits pré-montados de fios de luzes.
Calendário do advento
De acordo com o Austrian Landesmuseum, o calendário impresso do Advento foi criado pelo editor alemão Gerhard Lang, no início de 1900, mas tornaram-se populares comercialmente somente em 1920.
Biscoitos e leite para o Pai Natal comer
Esta tradição remonta à Alemanha medieval. Nesta época do ano, as crianças, antes de dormir, colocavam comida nas janelas para, em troca, as pessoas deixarem presentes para elas. Nos EUA, o costume de deixar leite e biscoitos para Santa Claus começou durante a grave crise económica (Grande Depressão, 1929); nestes tempos difíceis, era uma forma de agradecer a Deus a bênção de terem comida na mesa.
Essas tradições (e símbolos) do Natal, com origem na Europa, foram incorporadas/integradas na cultura norte-americana. Seguindo uma lógica comercial, foram materializadas em filmes e músicas e hoje são populares em várias partes do mundo, nomeadamente nos países cristãos.