Dar e Receber: “Natal é todos os dias ou quando um homem quiser”. Às vezes quer e não pode. Pense-se nos números do desemprego e na perda de direito a subsídios (de Natal, para muitos, de desemprego ou de inserção social para outros tantos), com impacto no poder de compra da classe média (essa ainda existe?). NEN: Aplicar a lógica dos duodécimos às prendas – leia-se consumerismo – de Natal. Melhor ainda: combinar uma ida ao shopping no dia seguinte e aproveitar os saldos, sem os apertos claustrofóbicos da Black Friday.
A festa da família: “Todos reunidos à volta da mesma mesa a confraternizar”. No restaurante, para não ter sobrecargas de trabalho na cozinha. E no Skype, no tablet ou a trocar mensagens. Quando nada há para dizer, haja bolos e bebida com fartura. Custa menos a passar e a ressaca até compensa. Antecipa-se a hora da orgia de presentes, com talões de troca, não por causa da Missa do Galo, mas para estrear os novos gadgets recebidos. NEN: Partilhar vídeos das celebrações de cada um (sem confrontos prévios e posteriores) na rede social. Uma ceia de likes e selfies.
Partilha: “Faz aos outros o que queres que te façam a ti”. Sorteio para prendas? “Isso é forretice”. O miúdo quer o novo IPhone e há que dividir o mal pelas aldeias, ou seja, pelos contribuintes. “Eu estou fora desse bolo”. No ano passado a sogra passou na nossa casa e vieram ainda os tios emigrados na Suíça. Este ano querem repetir. “Esquece, baby. Este ano vou estar de turno porque tirei folgas para a nossa viagem do Ano Novo.” NEN: Enviar mail para todos com um ‘best of’ fotográfico dos melhores momentos do ano de cada um, para mais tarde comparar.
Votos: “Paz, amor e saúde são dádivas que não têm preço”. Mas não há almoços grátis. Uma pessoa não sabe o que fazer mais para não padecer do Christmas Blues, a depressão do Natal. Ele é atender a todos os jantares de trabalho; enviar e retribuir votos intermináveis de Boas Festas; os debates familiares sobre o sitio, a hora e as tarefas de cada um; os engarrafamentos e o mau humor dos automobilistas. As músicas dos ‘jingle bells’, na rua, nas lojas, na restauração. E à publicidade, que se alarga às mensagens e mails indesejados. Ou à epidemia de Pais Natais. NEN: Sair deste filme e fazer o que lhe apetecer, comunicando que vai estar em retiro de silencio a meditar por si e pelo mundo.
E que tal um Plano B?
Chove. É dia de Natal / Lá para o Norte é melhor / Há a neve que faz mal /E o frio que ainda é pior. (Fernando Pessoa, in ‘Cancioneiro’)
Se se revê em mais do que três dos cinco códigos NEN e sentiu que esta não é a sua praia, há duas coisas que deve saber. 1º Não está sozinho. 2º Ainda vai a tempo de adotar o conceito de “Renascimento”, termo inclusivo para ateus, agnósticos e adeptos de quaisquer outros sistemas de crenças. Algumas pistas para experienciar, noutro ângulo, a época que se segue ao solstício de Inverno:
– Descontraia. Se as emoções começarem a dar sinal de sobreaquecimento, respire e conte até 10, observe e vá com calma. Funciona quase sempre. Ou ofereça-se um mimo, como o livro “Amor e Matemática” ou outro que facilite a mudança de mindset.
– Aceite-se. Negoceie com as partes de si que estão desavindas e faça um pacto de tréguas. Decida o que for mais sensato (também para si) nas circunstâncias presentes. Aqui, a imaginação e a empatia contam. E o treino da capacidade de não levar tudo a peito pode poupar-lhe gastos futuros em despesas de saúde e diligências várias a reparar danos sociais e outros que tais.
– Arrisque. Esqueça a atitude e a pose ‘Mister Scrooge’ e lembre-se de que já não estamos na época vitoriana. Dar o corpo pela alma também é algo que pode dispensar. Na nova economia natalícia, a lógica é usar e abusar da disrupção criativa e fazer algo fora da caixa. Esta é a uma oportunidade para surpreender pela positiva e empreender afetos genuínos. O que quer que faça, faça a si o que deseja que lhe façam e vai ver que corre bem.
– Reinvente-se. Leve fotografias antigas ou a máquina Polaroid para o encontro que dura apenas algumas horas. Conte aos miúdos como foi aquele Natal em que não havia multibanco nem telemóvel nem net nem Star Wars. Abrace um estranho na rua e vença de uma vez a fobia social ou o medo do ridículo. Visite alguém que conhece e vive só ou dê sinal de vida aquela pessoa com quem uma vez foi feliz ou a outra com quem se zangou mas já nem se lembra porquê. Voluntarie-se para algo que nunca fez, como quem parte para uma aventura.