Com o período de campanha oficial em velocidade de cruzeiro, o número de indecisos vai engrossando, nas últimas sondagens. Tudo parece possível, quando chegar o momento da verdade mas, entretanto, a animação tem vindo do lado da AD: uma aparição de Passos Coelho com uma intervenção polémica, outra de um alto responsável do CDS a provocar – e as palavras são de Luís Montenegro – “algum ruído na campanha” – e mais um raide de um ativista climático que lançou tinta verde para cima do líder da AD. Verde de esperança, afinal: Luís Montenegro viu assim desviadas as atenções de temas mais polémicos e obteve a simpatia quer da concorrência, quer da opinião pública. Os últimos dias foram dominados, ainda, por uma luta desesperada pelo voto dos pensionistas, o que até motiva juras solenes e declarações bombásticas de parte a parte. Será que é lá que moram os tais indecisos?
“A campanha está toda à volta da AD. O que é estranho porque há um incumbente, o PS. Apesar de ter um novo líder, faria sentido que a eleição fosse um referendo aos últimos oito anos de governação”, refere o jornalista Nuno Aguiar. “Isso tem permitido que Luís Montenegro tenha mais oportunidades para se mostrar líder. Ao mesmo tempo afasta da campanha temas mais desconfortáveis para o PS.”
Para Filipe Luís, “a entrada de Pedro Passos Coelho na campanha foi uma assombração, para Luís Montenegro”. “Era inevitável que o ex-primeiro-ministro aparecesse, ou a sua ausência iria continuar a ser cobrada ao líder do PSD. Mas podia ter sido mais discreto, com uma pequena declaração de circunstância. O problema, é que optou por uma intervenção de fundo, nalguns pontos bastante polémica. Na verdade, a campanha – e a campanha da AD – está a ser dominada por… casos e casinhos”, aponta o sub-diretor da VISÃO.
“É uma tristeza que um antigo primeiro-ministro venha fazer correlações entre imigração e criminalidade, reproduzir narrativas falsas, instigando o medo e aquilo que há de mais primário nos seres humanos: a falta de respeito e de empatia para com o outro, a rejeição da diferença, o preconceito”, sublinha Sara Belo Luís, sub-diretora da VISÃO. “O PSD tem demonstrado que está dividido. Se Montenegro ganhar as eleições, será um herói. E fá-lo-á, se vencer, em grande medida, contra o seu próprio partido. E, se o fizer, o PSD continuará a trilhar o seu caminho de acordo com a matriz fundacional de centro-direita.”
O aparecimento de Pedro Passos Coelho trouxe também para a agenda os pensionistas, devido ao período de cortes que tiveram de enfrentar durante a governação do ex-primeiro-ministro do PSD. Isso obrigou Luís Montenegro quase a jurar que se demitiria se alguma vez tivesse que tirar um cêntimo às pensões e Pedro Nuno Santos a explorar esse “SE” de Montenegro… Na verdade, nestas eleições, a AD está perante três frentes de combate: está a competir com o PS, com os partidos à sua direita e consigo própria e o legado 2011-2015. Por vezes, parece que esta frente é a mais dura de roer”, acrescenta Filipe Luís.
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