Dificilmente nos lembramos de um momento eleitoral tão agitado em Portugal: o País vai a votos dentro de um mês e meio para escolher uma nova Assembleia da República; todos esperam que seja marcado um novo escrutínio na Madeira pouco depois; e há eleições regionais nos Açores já este fim-de-semana. Por uma vez, as regiões autónomas parecem estar a receber mais atenção, mesmo numa altura em que a campanha para as legislativas já está no terreno. Na Madeira com um impasse acerca de quem liderará o Governo. Nos Açores, com um cenário pós-eleitoral que ainda ninguém consegue descodificar.
“Se olharmos para o calendário, Marcelo vai dispor do poder de dissolução na Madeira um pouco depois das eleições no continente. Essa vai ser, portanto, uma oportunidade para Marcelo fazer doutrina. O Presidente da República já dissolveu duas assembleias e o mais provável é vir a dissolver uma terceira. E dessa sua decisão também depende o seu lugar na História”, aponta Sara Belo Luís, subdiretora da VISÃO.
Nuno Aguiar concorda. “Sabemos que provavelmente no pós-10 de março será difícil conciliar as diferentes forças políticas. Sabemos também que Luís Montenegro garante que, com ele, não haverá acordo com o Chega, enquanto André Ventura diz que tem garantias de que haverá”, nota o jornalista. “O Presidente pode querer ter margem de manobra para aceitar soluções que não aceitou no passado, como um governo liderado por alguém que não foi a votos.”
Na Madeira, ainda não sabemos se e quando haverá eleições. Mas nos Açores elas serão já neste fim-de-semana. Com possíveis impactos nacionais. “O que acontecer nos Açores vai ser uma espécie de ensaio geral daquilo que depois vier a acontecer no continente. Montenegro ficará amarrado aos efeitos da solução governativa dos Açores, que vai obviamente influenciar toda a campanha nacional”, refere Sara Belo Luís. “E a estratégia do PS de Pedro Nuno Santos vai ser a estratégia de António Costa, que já se viu que deu bons resultados: acenar com o papão do Chega e capitalizar todos os votos que houver para capitalizar por aí.”
Alexandra Correia considera que Marcelo “tem o ónus da coerência em cima”. “Se não convocar eleições, vai ser apontado por esse facto. Não terá muitas hipóteses. Por outro lado, se, como aposta o CDS, se formar um novo governo, aprovando-se o seu programa e o orçamento, que razões tem o Presidente para convocar eleições?”, questiona a sub-diretora da VISÃO.
O OLHO VIVO também comentou os últimos desenvolvimentos sobre como algumas forças sociais estão a tentar lançar as sementes de um sentimento anti-imigrante que está a crescer um pouco por toda a Europa. Um trabalho acerca de quão necessários são os imigrantes faz capa na VISÃO desta semana.
“Todo o trabalho tem por base os números, reflete a realidade. Fora disto existe o medo e o ódio, mas estes são os factos. É um facto que grandes setores da nossa economia (turismo, restauração, agricultura, pescas) dependem dos trabalhadores imigrantes, é um facto que, não recebendo eles ainda pensões de reforma, contribuem de forma esmagadora para a Segurança Social. As suas contribuições são na ordem dos 1,8 mil milhões de euros, quando recebem 250 milhões em prestações sociais”, explica Alexandra Correia. “Portanto, não, não vivem de subsídios, trabalham. É um facto que não há estatísticas relevantes de crimes, acima da generalidade da população. Precisamos deles.”
Sara Belo Luís acrescenta que “conciliar os imigrantes, mão de obra de que necessitamos, com um sentimento de anti-imigração é um dos maiores desafios das nossas sociedades”. “Neste debate, também não nos podemos esquecer que a Europa não tem sido propriamente um exemplo no estabelecimento de políticas migratórios, os lideres europeus têm sido pouco firmes, deixando terreno fértil para a direita radical e para a extrema-direita.”
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