Aberto o conflito institucional após a declaração de guerra de António Costa, quando optou por não demitir o seu ministro das Infraestruturas, conforme pedia o Presidente, nada será como dantes. “Percorremos caminhos novos, há uma guerra institucional aberta e que decorre na praça pública. Nunca se viu um comunicado escrito de um Presidente a sublinhar o erro de um PM na gestão da sua equipa ministerial”, destaca Mafalda Anjos, que acrescenta: “Agora há um animal político, o desafiador, contra uma raposa velha, o desafiado”.
“O Presidente não está em período de reflexão, mas sim em período de conspiração, a ponderar o que vai fazer nos próximos tempos, no contexto desta luta institucional”, diz Tiago Freire, diretor da Exame, no programa Olho Vivo desta semana.
Para Filipe Luís, o primeiro-ministro fez da crise uma oportunidade e “demonstrou três coisas: a), que não tem medo da dissolução; b), que não teme eleições. E c) que é ele quem decide quem faz parte e quem não faz parte do Governo”. O editor-executivo da VISÃO diz que “António Costa conseguiu acabar com a conversa sobre dissolução”. “A partir de agora, o Presidente ou dissolve ou não dissolve o Parlamento. Falar por falar, já ninguém o levará a sério. E Costa conseguiu, assim, “blindar o balneário” do Governo à sua volta. Isto pode até dar um novo élan ao Executivo…”, afirma.
“Com o comunicado em que se opõe publicamente a António Costa, Marcelo faz-me lembrar aqueles árbitros que tornam claro que podiam dar um cartão vermelho por uma falta grave, mas que deixam passar e dão uma última oportunidade ao jogador. Normalmente, na falta seguinte há mesmo cartão vermelho, e acho que pode ser isso a acontecer. Até porque ainda falta João Galamba e Frederico Pinheiro irem à Comissão Parlamentar de Inquérito”, explica Tiago Freire.
“O Presidente dispõe de um conjunto de poderes que, sem passar pela dissolução, podem causar grandes dificuldades ao Governo. Como o de enviar mensagens à Assembleia da República, com críticas ao desempenho do Executivo, e que quando foram usadas, por ouros Presidentes, chegaram a ser demolidoras e desgastam mais um Governo do que qualquer discussão de moção de censura… Também pode começar a receber, em Belém, os setores descontentes da sociedade, professores, polícias, enfermeiros, agricultores e insinuar que está do lado deles. Foi tudo isto que Soares fez a Cavaco…“, sublinha Filipe Luís.
“Marcelo Rebelo de Sousa tem uma mente insondável, matemática, racional e calculista, que se entretém em permanentes jogos de estratégia, e vê o mundo todo como um tabuleiro de xadrez político que procura antecipar a médio e longo prazo. Gosta de traçar caminhos e planear. É emocional e emotivo, mas não é precipitado nem irrefletido ou irascível. Dá-se bem com jogos florentinos e de bastidores, tem jogo de cintura, e por isso será capaz de viver em clima de tensão”, analisa Mafalda Anjos.
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