Divulgado o conteúdo do relatório da Inspeção Geral das Finanças sobre o pagamento da indemnização a Alexandra Reis, o Governo entendeu que as ilegalidades justificavam fazer rolar duas cabeças com justa causa: a da CEO Christine Oumières-Widener e a do chairman Manuel Beja. Tudo para recuperar a confiança e “virar a página”.
No entanto, a decisão acarreta riscos jurídicos. “É claro que há razões para uma longa batalha legal. A justa causa, depois da aprovação explícita da tutela, está longe de ser dada como certa”, diz Mafalda Anjos, diretora da VISÃO, no programa de comentário Olho Vivo. “Falta perceber porque é que a CEO da TAP e demitida por ‘justa causa’. Ela cumpriu todos os objetivos que lhe tinham sido pedidos na TAP, e o acordo para a saída de Alexandra Reis teve o aval do Governo… Que justa causa? E o papel do administrador financeiro, nomeado pelo Governo, e que continua na TAP?”, questiona Filipe Luís.
Nuno Miguel Ropio concorda: “Estas demissões podem vir a sair-nos muito caras”. O jornalista apontou que se “o processo TAP se já era confuso, devido a uma má gestão política, agora, com a demissão do presidente do conselho de administração da TAP e da CEO, esta grande trapalhada pode custar muito mais ao Estado do que aquilo que foram os 500 mil euros dados a Alexandra Reis”. “Apesar da demissão de Pedro Nuno Santos, e do seu secretário de estado, Fernando Medina não explicou ainda, nas várias oportunidades que já teve, como e porquê contratou Alexandra Reis para secretária de Estado”, depois do seu percurso na TAP e na NAV, defendeu.
Para Mafalda Anjos, os dois foram os “bodes-expiatórios encontrados para conter os danos reputacionais de um Governo fragilizado, em antecipação da comissão parlamentar de inquérito onde se perceberá, com mais detalhe, qual a extensão da irresponsabilidade da tutela e das irregularidades na empresa”.
“Com as demissões do presidente do conselho de administração e da presidente executiva da TAP, o Governo tentou aliviar a pressão política e esvaziar, em parte, a comissão parlamentar de inquérito sobre o caso Alexandra Reis. Consegue-o, mas só em parte. Fernando Medina continua no radar da oposição”, acrescenta Filipe Luís.
Outro tema em análise foi a situação política nos Açores, depois de a Iniciativa Liberal ter rompido o acordo parlamentar que suporta o Governo regional. “O Governo Regional deixou de dispor de maioria absoluta mas pode resistir, negociando caso a caso. Não há uma moção de censura. A questão é que isto dá indicações de como podem atuar, no futuro, os potenciais parceiros do PSD, a nível nacional”, esclarece Filipe Luís.
“É uma geringonça de direita cada vez mais desengonçada e que perdeu legitimidade política, porque neste caso tinha sido exigido, tal como Cavaco Silva fez em 2015, um acordo escrito que a suportava”, sublinha Mafalda Anjos. “André Ventura, mais uma fez, foi o rei da contradição. Depois de em 2021 ter anunciado que ia deitar abaixo o acordo nos Açores, vem agora fazer a defesa acérrima da estabilidade”, acrescenta.
Com o gesto da IL nos Açores, Nuno Miguel Ropio sinalizou que “são agora os liberais a replicarem uma estratégia dos comunistas da República, em 2017, logo após o desaire das autárquicas – que a partir daquela altura não davam garantias antecipadas de aprovação das propostas do Governo PS”. Junta-se a isso o facto de André Ventura ter vindo a terreiro a pedir estabilidade política na região, quando o próprio partido “sofreu uma rutura com o seu deputado nos Açores”. “O Chega não é exemplo para vir falar sobre os riscos de rutura política do Governo açoriano”, disse, concluindo que “o maior problema da Direita nos Açores é aquilo que acontece na República: a falta de afirmação de uma liderança à Direita, tal como acontece na República com Montenegro – que não se consegue afirmar enquanto alternativa ao PS e ter um papel agregador das direitas”.
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