O anúncio de um apoio extraordinário de 240 euros para as famílias mais vulneráveis – feito numa entrevista à VISÃO que faz capa esta semana -, em que o primeiro-ministro anuncia também que o défice vai ficar quatro décimas abaixo do antecipado, em 1,5% do PIB, marcou a semana política. As novidades e o conteúdo da entrevista estiveram em análise no programa de comentário político e económico da VISÃO.
“Encontrámos um primeiro-ministro com a confiança e a segurança de quem está confortavelmente sentado em cima de uma maioria absoluta’, a pairar por cima dos casos e casinhos, que diz serem inventados ‘pela central de criação de soudbites da direita’, com os quais não perde ‘um só segundo’. E tinha bons números para mostrar: menos défice e um bom presente de natal para os mais carenciados”, conta Mafalda Anjos, diretora-da VISÃO e uma das autoras da entrevista.
Filipe Luís, co-autor, concorda e acrescenta. “Já vai tendo alguns tiques, nomeadamente, quando desvaloriza o que diz ser ‘a bolha mediática’ que tem denunciado, noticiado ou comentado os casos e casinhos do Governo. Faz lembrar Cavaco Silva, quando dizia que não lia jornais. Bem, não podemos dizer que, eleitoralmente, Cavaco se tivesse dado mal com essa postura…”, diz o editor-executivo da VISÃO.
“O Governo sabia que viria aí um novo brilharete nas contas e era insustentável apresentá-lo sem ter mais medidas para as famílias mais vulneráveis. Fernando Medina não podia estar a mandar foguetes com um défice mais baixo sem mais apoios”, aponta o jornalista Nuno Aguiar, acerca da nova prestação extraordinária anunciada por António Costa. “A questão é que, mesmo com esta medida, o défice ficará bastante abaixo da meta orçamentada, o que significa que o Governo tinha margem para ser mais ambicioso, seja no montante ou no número de pessoas apoiadas.”
E qual a razão para não ir mais longe? “O Governo está a ser conservador nos apoios porque receia os holofotes dos mercados financeiros. Mas pode estar a ser mais papista do que o Papa. Já não está no grupo de países com défice mais alto, nos próximos dois anos deixará de estar no topo dos mais endividados e, se a proposta da Comissão para rever as regras orçamentais for aprovada, terá também flexibilidade nesse campo”, sublinha Nuno Aguiar.
Confrontado com a alegada falta de ímpeto reformista, Costa diz não faz as reformas que a direita gostaria que ele fizesse. “Dá a ideia de que, quando ouve a expressão ‘reformas estruturais’, o primeiro-ministro, que não é um homem de grandes rupturas, ‘puxa da pistola’: normalmente, elas significam más notícias para o eleitor… António Costa põe o foco na ‘reforma estrutural’ da redução do abandono escolar, da qualificação superior, da educação. E também considera a disciplina das contas públicas uma mudança estrutural. É esta a sua narrativa política”, diz Filipe Luís.
Outro tema em análise neste Olho Vivo foram as cheias em Lisboa.
Para Mafalda Anjos, é preciso não atirar as culpas para cima das alterações climáticas nem fazer deste tema uma arma de arremesso político. “Há problemas estruturais que têm de ser resolvidos, e que não se resolvem apenas com dois túneis. É preciso construir mais zonas permeáveis, mais poços de infiltração e mais bacias de retenção. E montar sistemas de alerta que funcionem em minutos, educando as pessoas sobre como reagir”, diz.
“De nada vale recebermos SMS de alerta da Proteção Civil se, a seguir, não soubermos que procedimentos estão associados a esse alerta. Sim, recebemos o SMS. E daí? O que é que devemos fazer? Obras de fundo como os planos de drenagem ou a reforma da floresta levam tempo, custam caro e não dão votos. E é isso que está a montante de muitos dos efeitos nefastos dos fenómenos da Natureza…”, sublinha Filipe Luís.
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