Esta semana. o Olho Vivo, o programa de comentário político e económico da VISÃO, traz no menú a insustentável leveza do secretário de Estado Adjunto do Primeiro-ministro. Enquanto autarca em Caminha, Miguel Alves fez um adiantamento de 300 mil euros para a construção de um pavilhão de exposições cuja obra, volvidos dois anos, ainda está por começar. É arguido em dois processos. E, depois de um longo silêncio, vieram as explicações – que não convenceram ninguém, nem mesmo os colegas de partido que começam a pedir a sua saída, sublinha a diretora da VISÃO.
“A justificação, apresentada na entrevista de Miguel Alves, de que existe uma bolha político-mediática que tem um preconceito contra os que vêm de fora, e por isso é que está a ser ‘atacado’, não colhe. De facto, esse preconceito, por vezes, existe. Mas isto não tem nada a ver com o caso em concreto… Estamos a falar de um ato de gestão, em Caminha, que, pelo que foi noticiado e não foi desmentido, se revela, a todos os títulos, danoso, pelo menos até haver uma explicação plausível”, diz Filipe Luís, editor-executivo.
Embora Miguel Alves considere que deve, em primeiro lugar, explicações à PGR, a sua responsabilidade é também política. “Para já, não sabemos se foi cometida alguma ilegalidade. Mas conseguimos já fazer um julgamento acerca da sua competência na forma gere dinheiro público. Como tem sido habitual, este é mais um daqueles casos em que António Costa se recusa a ceder à pressão pública e quererá gerir o caso ao seu ritmo. Mas até no PS já vemos várias manifestações de desconforto, o que sugere que a demissão pode ser o caminho”, acrescenta Nuno Aguiar.
“Miguel Alves atestou ter verificado a ‘robustez financeira’ do empresário Ricardo Moutinho, mas, como noticiou hoje a VISÃO, a robustez afinal é esta: um empresário com 20 empresas, nenhuma dá lucro, uma falência e muitos processos em tribunal. A sua situação é insustentável. Se Miguel Alves não sair, é a evidência de que os homens de Costa têm mesmo as costas quentes”, diz Mafalda Anjos.
Como sublinha Filipe Luís, este secretário de Estado “vinha para ajudar na coordenação do Governo e para prevenir casos e casinhos, mas tornou-se, ele próprio, o epicentro dos casos”. “Percebe-se a posição de Costa. Ele acabou de escolher e nomear este secretário de Estado e, demiti-lo já, seria reconhecer que errou. Mantê-lo também é mau. Se calhar, o melhor seria dar um passo atrás para tentar, depois, dar dois à frente…“, conclui.
Outro tema em análise no Olho Vivo é a sucessão no PCP.
“Se há coisa que podemos dar como certa é que o mundo pula e avança, mas no PCP as mudanças de líder continuam como dantes: feitas no segredo da cúpula, sem fugas de informação, e também sem discussão nem escrutínio públicos. Sai o camarada ‘metalúrgico’ Jerónimo de Sousa, e entra o camarada ‘operário’ Paulo Raimundo. Pouco mudará“, comenta Mafalda Anjos.
Filipe Luís concorda: “Paulo Raimundo representa uma mudança etária, mas duvido de que represente uma mudança de política. Ele está no núcleo mais restrito dos dirigentes do PCP e vai ser uma solução de continuidade. O seu desafio é o de ‘lutar para não descer’ (como desceu o CDS), e aproveitar os tempos de crise que se avizinham para recuperar as ruas. Só que o PCP deixou de ser o dono do protesto, em Portugal“.
“O mais relevante na perda de popularidade do PCP é o impacto que isso terá na luta sindical. O sindicalismo em Portugal, pelo menos o que interessa e tem capacidade de mobilização, é dominado pelo PCP”, refere o jornalista Nuno Aguiar, lembrando como o partido está a ser penalizado pela posição acerca da invasão da Ucrânia pela Rússia. “Nesse campo sindical, foi interessante a entrevista dada por Arménio Carlos ao Observador sobre a escolha de Paulo Raimundo. O ex-secretário geral da CGTP disse que foi uma surpresa para a opinião pública e para a generalidade dos militantes, notando que havia outros militantes com condições para assumirem essas responsabilidades.”
“Ter protagonismo mediático contraria a velha virtude da “modéstia bolchevique”. Isso explica por que o PCP nos surpreende com um nome que estava fora das previsões dos média e da opinião pública, que esperavam um dos que têm sido apontados para a sucessão”, explica o editor-executivo da VISÃO.
Debaixo de olho neste programa estiveram ainda os temas do novo adjunto da Ministra da Presidência, as eleições nos Estados Unidos e a maré vermelha republicana que não chegou a acontecer e o comportamento de troll-in-chief de Elon Musk à frente do Twitter.
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