Está aí a crise política que quase todos temiam. A geringonça está morta e enterrada, o Orçamento do Estado foi chumbado na Assembleia da República. Depois de tudo o que disse antes, parece não restar outra solução ao Presidente da República senão convocar eleições antecipadas. Neste momento, está tudo em aberto, sobretudo o quando e o como – é que à direita nem se quer se sabe que líderes irão a votos. A crise política foi o tema em análise no Olho Vivo, o programa de comentário político e económico da VISÃO.
Esta é uma crise incompreensível para a esmagadora maioria dos portugueses, que não querem ir a votos agora. “Marcelo Rebelo de Sousa foi muito mais do que um fiel da balança, foi um interveniente na crise política. Levou ao limite a chamada magistratura de influência. Não se limitou a atuar depois da crise acontecer, interferiu ativamente para agravar o clima de tensão”, sublinha Mafalda Anjos. “Ao anunciar que se o Orçamento chumbasse convocaria eleições, Marcelo reduziu a sua margem de manobra e caiu na sua própria armadilha. Quando Mário Soares, em 1987, ou Jorge Sampaio, em 2004, dissolveram a Assembleia, o eleitorado, depois, deu-lhes razão, conferindo maioria absoluta ao PSD, no primeiro caso, e ao PS, no segundo. Mas, nada indica que, desta vez, os portugueses desejassem uma crise política…”, diz Filipe Luís.
Qual o desfecho destas eleições, é muito incerto. António Costa já começou a trabalhar para pedir a maioria absoluta. Mas, neste momento, está em posição muito difícil para a conseguir. “Há quatro cenários possíveis em cima da mesa: 1. Maioria absoluta de PS, que é o objetivo de António Costa mas improvável; 2. Esquerda consegue maioria parlamentar, mas nada muda face ao que temos hoje e será difícil novos acordos; 3. Direita liberal consegue maioria parlamentar, o que é difícil, mas apesar de tudo mais provável com Rangel do que com Rio – apesar da disputa interna que e sempre muito vocal, o facto de ser challenger e ganhar pode beneficiá-lo, porque vem com um élan de vitória e um fator novidade; 4. A direita só consegue maioria com Chega, e será interessante perceber até onde vão os princípios propalados. O mais provável, a data perante as variáveis que conhecemos, é não sair uma maioria clara nem de esquerda, nem de direita.”, diz Mafalda Anjos.
Olhando para as últimas sondagens, existe uma probabilidade elevada de que o resultado de umas novas eleições não mudem o equilíbrio de forças no Parlamento, com uma maioria de esquerda que não se entende e uma direita ainda minoritária. Será possível governar o país com estes protagonistas? “Talvez o mais provável seja estarmos num beco sem saída e serem precisas ainda outras eleições [depois das próximas], mas não acho que a porta [de negociação à esquerda] esteja fechada. Se calhar, vamos chegar a um ponto em que António Costa ganha sem maioria, não consegue negociar com a esquerda e não pode ou não quer negociar com a direita, percebendo que o seu ciclo acabou. Que o seu legado foi abrir aquela porta em 2015, mas que não consegue ser a personagem que continuará a fazer esse caminho. Sai e há novas eleições ou outra solução”, comenta Nuno Aguiar.
“Se António Costa quiser mesmo uma maioria absoluta – e essa pode ser a sua única saída – tem de arriscar e e falar para os eleitores da CDU e do BE: ‘Povo de esquerda, se não quiserem que a direita volte ao poder, têm de votar PS; com estes senhores já se viu que não é possível!'”, diz Filipe Luís. “Não estranharia nada que voltássemos novamente às urnas em 2022, depois de um impasse como resultado das eleições. É tal cenário de mini-ciclos de que o Presidente falou”, adianta Mafalda Anjos.
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