Há várias coisas orwellianas no pandemónio desencadeado pela gripe suína, agora “mexicana”.
Apontado como metáfora do estalinismo ou da degeneração dos sistemas ditos socialistas, o livro fazia dos porcos protagonistas da história. Primeiro, em nome de uma libertação com sucesso. Depois, no afocinhar de novo na opressão.
É curioso que a gripe de que se fala e que ameaça tornar-se pandémica surja num momento em que a humanidade vive a ressaca de um certo triunfo dos porcos. Gente que fez das ilusões dos seus semelhantes um chiqueiro global, com as consequências que estão à vista.
Tal como o burro da fábula de Orwell, alguns sempre souberam que, cedo ou tarde, tudo seria desvirtuado ou corrompido. E a fuçanguice de uns, levou a outros à degola.
Na raiz desta gripe está um sistema idêntico.
No caso, a ganância sem freio das grandes indústrias de produção de carne, as mesmas que rejeitam sempre que podem – e podem muito – ser reguladas, fiscalizadas e vigiadas nos seus métodos e esquemas de produção em massa. Terreno fértil para infecção do bicho-homem.
Hoje, as consequências para a saúde dos consumidores são mais do foro dos malabarismos da química do que do racional. Facto denunciado ao longo de anos pelas mais respeitadas instituições.
Se juntarmos a isso a pouca obstrução política aos interesses desta indústria e a aviltante postura das transnacionais do medicamento, perceberemos facilmente quem está, nesta como noutras histórias, feito ao bife.