Durante muitos anos, Marco de Canaveses foi um concelho gerido com tratos de violência doméstica. Além do seu nome espalhado por estádios e chafarizes, Avelino Ferreira Torres deixou para estudo um rol de insultos, agressões e ameaças, um gabinete blindado e uma saída clandestina.
Os crimes públicos eram denunciados, sem grandes consequências. E no concelho, sobravam imitações de bufos e serventes do “regime”.
Nessas décadas, o CDS e, por vezes, o PSD, permitiram tudo. De Portas a Menezes. Sem sobressaltos cívicos nem grandes oscilações de rumo. Avelino foi amigo ou adversário, mas sempre compincha. Em último caso, dizia-se, tinha sido “eleito democraticamente”, eufemismo que, na política portuguesa, inclui ter dinheiro de proveniência incerta para ofertas campanhas com electrodomésticos e cadeiras de roda para os necessitados.
Este ano, depois de uma travessia eleitoral inglória em Amarante, Avelino quer regressar como independente à terra onde deixou erguer um urbanismo de alterne, feito de cães de loiça e capela nas traseiras. E o PS, num rasgo só acessível aos eleitos e iluminados que seguem Sócrates, escolheu o antigo “número dois” de Avelino para tentar roubar a autarquia ao PSD. Até este momento, não se sabe se o homem fala. Mas se a democracia portuguesa precisava de um marco para assinalar o seu estado deplorável, agora tem dois.