Portugal foi à Cimeira Ibero-Americana de El Salvador vender computadores. Normal seria que José Sócrates fosse lá representar o País com a postura e a decência de um chefe de Estado. Mas não. Cada vez mais entusiasmado com o “seu” Magalhães, o Primeiro-Ministro levou uns quantos aparelhos para oferecer aos seus congéneres e, na ocasião, fez um discurso típico de feirante a vender o seu produto. Depois do Paulinho das Feiras, temos agora o Zé das Cimeiras.
O chefe de Governo português já nos habituou a estes momentos. As suas viagens e encontros internacionais têm, normalmente, o cuidado de arredar das intervenções qualquer profundidade política. No seu círculo, abusa-se, até à náusea, da retórica e dos mecanismos simplificadores da linguagem que se traduzem, na prática, por dizer coisa nenhuma em pouco tempo. O vácuo é a imagem de marca. E se, por vezes, algo extra se vislumbra, mais não é do que a mera repetição de conceitos vagos e ideias soltas, contaminadas cada vez mais pelos códigos da linguagem empresarial e publicitária, carregados de um fervor patriótico que um qualquer mercador não desdenharia.
É verdade que, em El Salvador, Sócrates também deixou uns recados ao FMI. Mas hoje, a sinistra instituição financeira já mal se aguenta nas pernas. E o Primeiro-Ministro mais não fez do que reproduzir o que há muito se pensa, diz e escreve sobre ela.
Dito isto, sobra o tecnocrata de feira. O homem que em todo o lado promove “o melhor de Portugal”, a excelência das nossas tecnologias, a capacidade dos nossos empreendedores, a visão estratégica do País moderno. Da China à Rússia, passando pelas Américas, Portugal já se ofereceu como lugar de novas oportunidades, algumas delas a baixo custo, mas sempre com tiques e mania das grandezas. O Magalhães não é certamente uma má ideia, nem Sócrates será mau de todo a promover os negócios da terrinha. Mas histórica e culturalmente, o País talvez ainda tenha disco duro de sobra para afirmar outros valores nos palcos deste mundo, arrastando com eles os investimentos que tanto reclamamos. Ser digno e orgulhoso na cena internacional pede humildade e responsabilidade. Dispensa-se o besuntar de beiços, à laia de novo-rico. E esta imagem de País de mercearia, portátil e baratinho, “dos 7 aos 77 anos”.