Autista ou artista? Alan Greenspan esteve dezoito anos no comando da Reserva Federal dos EUA, mas só agora percebeu que o mercado livre não pode ser deixado em rédea solta. “Falhei”, disse ele, admitindo que deveria ter promovido a regulação e a vigilância do Estado para evitar a selva. Na comissão onde fez a estrondosa confissão, Greenspan não corou quando o acusaram de ter ignorado os avisos. Com a economia norte-americana e o mundo a pagarem o preço dos seus erros, desculpou-se. Sem mais. Há homens, que de tão infalíveis, só teriam lugar no Triunfo dos Porcos.
Marx. Os jornais de economia e finanças andam numa azáfama a ver quem cita mais vezes o velho Karl. Pelos vistos, encontraram-lhe virtudes que, para alguns, já tinham barbas. Ao contrário das acções de algumas empresas em bolsa, o Jornal de Negócios diz mesmo que a popularidade do autor do Manifesto Comunista está em alta. Pelos vistos, várias editoras já anunciaram uma subida de 300 por cento nas vendas d’O Capital. Na Alemanha, são os jovens quem mais compra a obra. Por cá, ainda não há notícias de tal procura, mas desconfio que alguns lobos se preparam para vestir à pressa a pele de cordeiros. Basta ler a defesa do papel do Estado feita por Sócrates na entrevista ao DN para perceber o que nos espera.
O homem e a sua opus. Lembram-se de Paulo Teixeira Pinto? Não, não falo daquele senhor saído do Millenium BCP no meio de um escândalo de dimensões, digamos, inesperadas em gente aparentemente tão bem formada e formatada. Falo do outro Paulo Teixeira Pinto, que decidiu lançar uma editora, revelar a sua veia pictória e escrever poemas. Nos últimos meses, não fez outra coisa. Teve direito a reportagens e entrevistas por causa da sua ligação às artes. Como se vê, para alguns, há sempre uma segunda oportunidade para criar boa impressão.
O Nobel. Do Estados Unidos, por estes dias, têm chegado notícias curiosas. Para além do facto de alguns gurus das universidades terem passado a defender um modelo de desenvolvimento baseado em mais Estado, mais regulação dos mercados, reforço dos sindicatos e melhores salários, o Prémio Nobel da Economia foi atribuído a Paul Krugman, o homem a quem dói a mão de tanto desancar a administração Bush. E que defende ele para fazer frente à crise num dos seus artigos publicados no New York Times? Aumentar o gasto estatal, suspender as preocupações com o défice, aumentar os apoios aos desempregados, reforçar os serviços públicos, aumentar os investimentos do Estado. Enfim, “o que precisamos agora é de mais gasto público”. Se o Nobel o diz…
O visionário. James Howard Kunstler escreveu O Fim do Petróleo há uns anos e, pelos vistos, acertou em cheio em muitas coisas. Agora veio a Portugal, à Gulbenkian, explicar as suas teses. Respigo umas quantas: o futuro não está nas energias alternativas, nem em trocar o carro a gasolina pelo carro a electricidade. Está em mudar de vida. De vez. Em reformular as cidades para andarmos mais a pé. Está em voltar ao campo e recuperar a agricultura. Está em recuperar o transporte ferroviário e mentalizarmo-nos de que, num futuro próximo, viajar de avião será coisa de elites e andar de barco voltará a ser banal. Cenário aterrador? Nem por isso. Nada que eu não tenha ouvido há anos, à mesa do café, com amigos experientes, avisados e sensatos. Mas como sabemos, há coisas que publicadas em livro e explicadas em power-point têm muito mais valor.