A Islândia pode falir. Parece que é assim que se diz. Olhando para a história e o comportamento diletante de alguns países – estou a lembrar-me de um em particular – julguei que a notícia não era propriamente nova. Mas, pelos vistos, a ideia de que um país pode, digamos assim, apagar a luz, está na ordem do dia. A Islândia, uma das nações mais ricas do mundo, já não pode sustentar-se. Deu-se a especulações e rebaldaria financeira, desgovernou-se, e acabou a mendigar um empréstimo à Rússia, daqueles que nem a um amigo se pede.
Não sei o que virá a seguir, mas antecipo já o que estarão a pensar: não temo pelo futuro de Portugal.
A ditosa pátria tem, desde logo, um enorme seguro de vida, inacessível em massa aos outros países: os portugueses. Levamos as tragédias na boa, até fazemos anedotas das nossas circunstâncias. “Olha, as taxas de juro subiram outra vez. Lá vou ter de ir ao Momento da Verdade dizer que comi a minha sogra.” E bebe-se mais um copo. Um povo que se ri de si próprio dura mais. Até quarenta por cento mais, aprendi eu numa aula de inglês.
Na verdade, andamos a rir-nos desde 1143.
E nessa altura, note-se, ainda não comíamos a sogra, só batíamos na mãe. No tempo em que os animais falavam, por alturas do Big Brother, um tal comportamento ainda garantia um cheque chorudo e dava para governar uma casa jeitosa. Um pontapé numa amiga, ao vivo e em directo, também estava bem cotado. Mas desvalorizou muito. Os miúdos já batem nos pais e nos professores e nem isso lhes garante sustento. Agora, com a Teresa Guilherme in charge, essas irreverências não chegam sequer para sermos seleccionados. Porém, se o português despudorado tiver uma vida sexual desastrada, consumir drogas, “não tiver um emprego certo” e estourar a herança do pai ao jogo, é um sério concorrente à sua própria autonomia financeira. Ou como diz um amigo meu, “basta que mostre o melhor do seu pior”. E não minta, chegado o momento da verdade.
Pelo lado da Economia e do mercado financeiro, nada a temer, também. Enquanto outros, nos países grandes, jogam à grande com as fichas deles a expensas nossas – é por isso que se chama economia de casino, não? – os empresários e aditos do jogo financeiro em Portugal são como um grupo de amigos à volta do Monopoly. Julgam-se donos de tudo, mas, quando muito, mandam na rua deles. Às vezes, de tão viciados, jogam à séria e fazem umas patifarias nos BCP´s desta vida. Mas fica tudo entre amigos. E nós nem sequer protestamos.
Por fim, não corremos o risco de ver o Estado português falir. Pela simples razão de que não pode falir o que não existe. Desde há vários anos que o paradeiro do Estado é desconhecido nas escolas, hospitais, museus e entidades financeiras. “Afinal, quem manda aqui?”, é a pergunta típica do português na fila de espera de um qualquer serviço. Se alguma vez essa indignação tivesse resposta, aí sim, era caso para ficarmos preocupados.