O melhor elogio que posso fazer a Scolari é este: já quase não me lembro de Saltillo e da Coreia. Parece que foi há muito tempo e culpa de fatalismos vários. No México, havia demasiados jogadores com bigode e comportamentos típicos de quem estava na corrida para liderar a CGTP. Na Coreia, tivemos um grupo excursionista, mais dado às tentações das noites asiáticas. Ah! E João Pinto, claro. Resultado: viemos embora de dois mundiais quando ainda amanhecia. Nos europeus, até nos saímos melhor. Mas a coisa parecia sempre uma dádiva do céu. Até ele nos cair em cima, claro. Nem que fosse preciso o Abel Xavier dar uma mãozinha. A diferença, de resto, até nisso se vê: Quim já deu uma mãozinha e o punho neste Europeu e ainda não nos aconteceu nada.
Agora, estamos mais manhosos. E instruídos. Mesmo quando jogamos mal, mostramos umas pitadas da sorte da Alemanha, do cinismo da Itália, da garra espanhola e do bambolear brasileiro. Como andamos mais por fora, bebemos do fino, diria um camionista em greve.
No fundo, aprendemos as manhas dos outros e reciclamos as nossas. Pode não chegar para ganhar campeonatos da Europa ou do Mundo. Mas dá para Scolari assinar um contrato milionário com o Chelsea.
Para perceber como os tempos mudaram, basta estar atento à forma como o homem da TVI faz os relatos: os jogadores são todos fantásticos. No mínimo. Mesmo quando mandam a bola para o quintal. Aliás, os nossos jogadores já não mandam a bola para o quintal: os outros é que mandam. Nós – palavra linda! – “descongestionamos”. Soubesse Sócrates o que isso quer dizer e também já tinha “descongestionado” os bloqueios no País. Como não sabe, manda bolas para o quintal.
Um último feito desta nova geração: tem pressa de chegar longe. Dois jogos ganhos e, pimba!, já está na segunda fase. No fundo, arranjou mais tempo para não fazer nada, é o que é. A gente sabe que eles também gostam. E merecem, diga-se.
No domingo, sem nada para ganhar ou perder, Portugal joga com os suíços. Que, confirma-se, são uns excelentes anfitriões. Convidam para a festa, jogam para não dizer que não fazem companhia, mas deixam-nos a chave e dizem: “Fiquem o tempo que quiserem. Quando saírem, deixem à chave à porteira” que, por sinal, até deve ser portuguesa. É bonito. Eu, se fosse Scolari, deixava a Suíça ganhar. E eles, em troca, deixavam um sobrinho nosso abrir uma continha por lá. E ninguém precisa de saber.