O primeiro Orçamento do Estado da renovada Aliança Democrática será votado no Parlamento no próximo mês de novembro. Ninguém sabe o que o futuro nos reserva, mas algumas coisas têm sido tão evidentes que até podemos arriscar fazer futurologia.
Nem o Partido Socialista, nem o Chega querem eleições. E nem sequer é por medo que lhes corram mal: sabem que lhes correrá mal.
Pedro Nuno Santos tem plena consciência de que não ganharia uma disputa com um Primeiro-Ministro e a este Governo PSD-CDS, em pleno estado de graça. Luís Montenegro não daria hipótese ao líder do PS. Não o escrevo com qualquer arrogância ou soberba. É compreender o nosso historial eleitoral, analisar os resultados nas eleições europeias e percecionar a realidade nacional constante.
André Ventura, por seu lado, está bem ciente de que perderia muitos deputados. A transferência de votos para a AD seria uma decorrência do que atrás digo sobre a inegável popularidade deste Governo, alicerçado em promessas eleitorais que estão efetivamente a ser cumpridas..
Porém, se a liderança de André Ventura – presidente do “partido de um homem só” – não está em risco, o mesmo não se pode dizer de Pedro Nuno Santos. Pedro Nuno não se pode arriscar a perder o próximo embate legislativo para Luís Montenegro e Nuno Melo. Isso resultaria, sem margem para qualquer dúvida, na demissão do Secretário-Geral do Partido Socialista. Seria insustentável manter-se à frente do PS após uma segunda derrota diante da AD. Sobretudo porque já tem quem lhe esteja a roer as canelas no partido.
É por isso que Pedro Nuno Santos “implora” há muitos dias que o Governo lhe dê motivos para aprovar o orçamento. PNS exige negociações para não dar a ideia de estar a dar o orçamento de “mão beijada” à AD, isto depois de vários zig-zags quanto a um possível acordo, durante estes 100 dias de governação.
Ora, este é o ponto de situação: tanto Pedro Nuno como Ventura querem que o orçamento passe, mas Ventura, derrotado no falso alarme que gerou com os polícias, quer deixar essa responsabilidade para o PS, como forma de passar a ser líder da oposição que mais grita; Pedro Nuno não pode arriscar que a AD explore a fragilidade de um secretário-geral proibido de ir a votos.
O que nos espera este orçamento? É viver para ver, sendo certo que a AD respira a serena tranquilidade de quem está a fazer um bom trabalho, com diferenças e ganhos manifestos para os portugueses.
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