No ano em que assinalamos o 48º aniversário da revolução de Abril, desse grande empreendimento levado a cabo pelo povo português de profundas transformações revolucionárias políticas, económicas, sociais e culturais, exige-se acima de tudo afirmar que os valores de Abril não são uma antiguidade a emoldurar num museu, mas sim um projeto carregado de futuro, capaz de dar resposta a muitos dos problemas que hoje Portugal está confrontado e encetar um caminho de desenvolvimento, progresso e justiça social.
O 25 de Abril foi o culminar de décadas de luta do povo, dos trabalhadores e da juventude contra o fascismo, a miséria, a fome, a guerra e o obscurantismo, lutas que mesmo no fascismo arrancaram grandes vitórias, como a conquista das 8 horas de trabalho nos campos do sul do Tejo, e que elevaram a consciência social e política das massas populares ao ponto que na madrugada de 25 de Abril, após o golpe militar por parte das forças armadas e o comunicado do MFA na rádio que pedia às pessoas que ficassem em casa, o povo saiu à rua e tomou o destino das suas vidas pelas suas próprias mãos.
Grandes avanços foram conquistados pela luta dos trabalhadores, na qual a juventude, com a sua entrega, alegria e combatividade assumiu sempre um papel de relevo, de que é exemplo o contributo dos jovens trabalhadores na resistência à repressão fascista e construção da intersindical nacional, no movimento estudantil pelo direito à democracia no ensino, de que são exemplos maiores as crises académicas que este ano assinala o 60º aniversário da crise de 1962, em que tiveram um papel destacado os estudantes comunistas. E também nas forças armadas em que os jovens militares de Abril derem forma ao movimento que viria a colocar fim à guerra colonial que negava à juventude um futuro, e a desarmar o regime fascista na madrugada de dia 25.
Os avanços obtidos durante o processo revolucionário foram primeiro alcançados com a luta na rua, nos locais de trabalho, nos campos e bairros e depois reconhecidos na lei com a promulgação da Constituição da República Portuguesa, na qual, apesar de sucessivas mutilações e processos de empobrecimento, limitando o seu alcance e conteúdo progressista, por parte de PS, PSD e CDS-PP, continua inscrito neste projeto de desenvolvimento e progresso social, os valores de Abril no futuro de Portugal.
Conquistas como a reforma agrária, as nacionalizações, a construção de serviços públicos como o Serviço Nacional de Saúde, a Escola Pública e a Segurança Social, a liberdade politica de expressão, organização e luta, a legalização dos partidos políticos, o direito à greve, a institucionalização do Salário Mínimo Nacional que retirou milhares de trabalhadores da pobreza (ao contrario do que acontece hoje, em que o seu baixo valor leva o empobrecimento de quem trabalha) e muitos outros direitos.
A Constituição da República Portuguesa é uma das mais avançadas e progressistas constituições do mundo, garante da democracia e liberdade, e poderosa ferramenta de luta que reforça a legitimidade dos anseios e aspirações dos trabalhadores e do povo a uma vida melhor.
Mas como qualquer processo revolucionário, Abril teve inimigos, alguns que nunca deixaram de querer fazer contas com os avanços alcançados e lançaram uma dura ofensiva contrarrevolucionaria. As forças conservadoras e retrógradas, políticas e sociais, os grandes interesses económicos e financeiros, os grandes senhores da terra nunca se conformaram com o seu projeto libertador e emancipador, e viram a Constituição de Abril como um obstáculo à reposição e afirmação dos seus interesses e do seu poder perdido.
Ofensiva que também tem lugar no campo das ideias, tentando desvirtuar o que foi Abril, apelidando de transição e evolução àquilo que foi uma ruptura com o regime fascista, só possível graças a uma longa resistência dos comunistas e outros democratas, e da intensa luta da classe operária e dos trabalhadores. E tentando resumir o imenso conteúdo transformador a um mero valor abstrato de liberdade.
Os valores de Abril estão na escola de Abril, no trabalho com direitos, na habitação digna para todos, do direito a cultura, ao desporto, à mobilidade e ambiente. Questões objetivas e condições necessárias para a emancipação da juventude. É por isso que os valores de Abril são carregados de futuro, porque em cada luta, nas escolas pelas obras e o fim dos exames, nas faculdades contra as propinas, nas empresas por mais salário e estabilidade, nas ruas em defesa da paz e do clima a juventude está a lutar pela concretização do projeto de Abril, pelos valores que dele emana e que projetam uma resposta para todos estes problemas, uma solução de futuro.
Até perante a guerra Abril aponta respostas, ainda hoje inscritas no artigo 7º da nossa Constituição, de resolução negociada e política dos conflitos e o desarmamento, de rejeição dos blocos político-militares e de luta contra o colonialismo e o imperialismo. Porque a guerra não serve os povos e a juventude, serve uns poucos, os que lucram com ela.
Abril está enraizado em todos aqueles que não aceitam a narrativa da inevitabilidade das dificuldades, injustiças e desigualdades e respondem com organização e luta. Defender Abril não é somente defender o seu património histórico e repor a verdade, mas também defender essas conquistas e valores no presente e para o futuro de Portugal, caminho que com a força do povo e dos trabalhadores será vitorioso. Daí a importância de participar nas comemorações do 25 de Abril que se realizam por todo o país, ligando-as aos problemas concretos sentidos pelo povo português.
E porque foi em Maio que Abril se cumpriu lá estaremos também na grande jornada de luta do 1º de Maio, dinamizada pela CGTP-IN, contra o aumento de custo de vida e o aproveitamento que é feito pelo grande capital, os mesmos que não perdoam Abril, e procuram aprofundar a exploração dos que vivem e viveram do seu trabalho.
Vamos à luta!
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