O desporto e a prática de exercício físico são factores essenciais para o desenvolvimento pleno e saudável dos jovens, todavia a crescente mercantilização e desinvestimento têm resultado numa desvalorização e perda do seu carácter de massas.
As transformações desencadeadas com a revolução do 25 de Abril permitiram que o desporto se assumisse como componente fundamental de libertação e de emancipação do ser humano, decisivo na prevenção da doença física e mental (essa que está tão fragilizada com o momento que atravessamos), na promoção de hábitos saudáveis e consequente a melhoria da qualidade de vida.
Promotor de valores sociais e culturais, indispensáveis à educação integral da juventude e ao processo de socialização, propiciando um espaço no qual é promovida a cooperação.
Esta dinâmica levou à consagração, na Constituição da República Portuguesa, do Desporto como um direito e bem cultural a que toda a população deve ter acesso, reconhecendo o contributo que pode ter no plano social, cultural e económico.
Contudo, apesar de toda a sua importância, a política desenvolvida nas últimas décadas por sucessivos governos PS, PSD, CDS-PP tem sido contrária a esta dinâmica, desresponsabilizando o Estado do seu papel de financiador, dinamizador e coordenador de um programa de desenvolvimento desportivo congregador do Estado central e do poder local com as escolas, e os clubes, associações e federações que compõem o movimento associativo.
A importância que a prática de exercício físico e o desporto desempenham exigem a sua adequada integração em toda a política de desenvolvimento do País, pois só assim é possível deixar de dizer respeito unicamente a uma percentagem restrita da população para passar a ser um direito de todos, tal como consagrado na Constituição da República Portuguesa.
No âmbito do poder local há exemplos de que é possível uma política alternativa. Lisboa já foi exemplo disso, houve um tempo em que o PCP teve competências na gestão municipal, e durante vários anos milhares de jovens praticavam desporto de uma forma regular e gratuita, onde se envolveram clubes e associações desportivas, onde foram criadas infra-estruturas as quais os praticantes individuais e clubes podiam aceder sem que tivessem de pagar por isso, uma prova de verdadeira dinamização e democratização do desporto, uma realidade muito diferente do que se vive hoje na capital.
É necessário contrariar a visão economicista do desporto e a sua crescente mercantilização que afasta muitos milhares de jovens do seu exercício e fruição, principalmente os mais desfavorecidos.
A política de direita não gosta do desporto de massas e despreza o movimento associativo popular que o sustenta. São exemplo disso a fusão do Instituto Português do Desporto com o Instituto Português da Juventude.
A degradação das condições materiais de inúmeras escolas, de que é exemplo o estado deplorável ou mesmo ausência de pavilhões de desporto e balneários.
O insuficiente financiamento público destinado ao desporto e associativismos desportivo, quase exclusivamente das autarquias, apesar dos enormes encargos com remunerações, inscrições e seguros dos atletas, como também os custos com as instalações, transportes, exames médicos, entre outros.
Sendo uma das consequências desta realidade a limitada oferta de modalidades desportivas no movimento associativo e nas escolas.
Opções que aliadas às dificuldades que afectam a juventude, como a precariedade, os elevados ritmos de trabalho e horários desregulados, a sobrecarga horária nas escolas e os baixos salários levam Portugal a ser um dos países com maior taxa de inactividade física da União Europeia.
Estes problemas não são novos, mas sim resultantes de décadas de política de direita que acumularam dificuldades e que a pandemia veio agravar.
No contexto da pandemia que afeta o País o que a vida comprova e exige não é a paralisação da nossa vida colectiva com mais confinamentos e ou com retrocessos no que já se avançou, mas sim a definição de regras e normas de segurança, acompanhadas pelo necessário investimento e acção pedagógica que assegurem o normal exercício das actividades desportivas.
As restrições impostas com o confinamento e a limitação das actividades, ou da presença de público nos eventos, resultaram numa descida acentuada das receitas de muitas associações e clubes, com a perda de mensalidades, o fecho dos bares e a interrupção dos patrocínios de apoios institucionais, enquanto paralelamente continuam a ter despesas fixas.
Vive-se uma situação dramática em que o que está em causa é a sobrevivência do movimento associativo popular, registando-se o encerramento de centenas de clubes, associações e colectividades, a dispensa forçada de muitos trabalhadores e a queda abrupta no número de atletas inscritos nas federações, com algumas modalidades a perderem cerca de 85% dos seus praticantes.
A resposta que o Governo dá a esta situação no âmbito do Orçamento do Estado com uma redução do financiamento comprova a forma secundária como é visto o desporto.
O governo tem restringido as suas opções a suspender, limitar e proibir, mas a vida não pode parar, o que se coloca é, tal como o PCP defende, a implementação de medidas de apoio extraordinário e urgente ao movimento associativo popular que possibilite a compensação dos prejuízos financeiros e a retoma gradual e segura das suas actividades, das competições e o regresso do público a todos os eventos desportivos, salvaguardadas as normas de saúde.
É necessária uma política diferente, patriótica e de esquerda, que garanta a estruturação de um serviço público de difusão da prática das actividades físicas e desportivas, e conceba o desporto como um bem cultural colocado ao serviço da humanização do indivíduo e da sociedade.
Uma política que dinamize e apoie o movimento associativo popular, os muitos clubes e associações, de bairro ou maior dimensão, que apesar de todas as dificuldades garantem a muitos jovens o direito à prática desportiva.
Só assim é possível concretizar o direito à actividade física e ao desporto que com Abril se concretizou na consigna “desporto para todos”.