Putin é um gabarola que só mete medo aos que o rodeiam. É um assediador nato, valentão no Kremlin, presunçoso e pretensioso, mas que não assusta ninguém. Bazofiador, alterou a doutrina para o uso de armas nucleares, permitindo que possam ser disparadas por qualquer motivo e a qualquer momento, para mostrar que não brinca. Elevou o desafio, colocou meio mundo em alerta e sente-se profundamente orgulhoso do pavor que induz no seu país e nos países vizinhos.
O presidente russo sabe, como poucos, que não pode usar armas nucleares. Elas existem, mas não se utilizam. Servem apenas para dissuadir, gerar pânico e amedrontar o adversário. A última coisa que passa pela cabeça de Putin é ver o seu mundo destruído, arrasado e sem vida. Ou com uma réstea de vida que ninguém quer viver. Não sendo louco, nunca irá ordenar o disparo de uma ogiva nuclear, mesmo que tática e com poucas quilotoneladas.
O resultado seria a Destruição Mútua Assegurada (MAD). Este conceito, que se tornou válido e imperativo a partir dos anos 60 do século passado, resume, magistralmente, o apocalipse desencadeado pelas armas nucleares: quem as utilizar, mesmo que em primeiro lugar, inicia a sua própria destruição. Putin é muitas coisas, mas não idiota.
O síndrome MAD inibe, felizmente, todos os líderes de potências nucleares. Existe, contudo, um pequeno-grande problema: ao autorizar o seu uso de forma mais ou menos indiscriminada, apenas com autorizações dos comandos no terreno, pode desencadear-se a destruição maciça por um erro de avaliação, um disparo inadvertido ou uma insanidade momentânea. Há, porém, uma condicionante que joga a favor da humanidade: as ogivas nucleares nunca estão armadas ou prontas para serem disparadas. Nada disso. São necessários vários procedimentos técnicos e muitas pessoas envolvidas. Mesmo na Rússia de Putin, existem militares, oficiais e generais que não perdem a cabeça nem alinham na sua autodestruição.
E, a propósito, convém esclarecer que a pasta que acompanha sempre Putin, o presidente americano ou o primeiro-ministro britânico, não contém um botão que dispara mísseis nucleares. Isso é uma fantasia cinéfila. Na pasta, encontra-se um computador onde são inseridos os códigos de autorização presidencial, que depois passam por uma longa cadeia de comando até aos dois últimos oficiais, em terra, ar ou mar, que, em conjunto, carregam no botão.
Eventualmente — nunca se sabe — a pasta de Putin pode ter apenas uma sandes de chouriço e uma garrafa de tinto.