A votação nas eleições americanas é um dos processos mais complicados, exaustivos e cansativos que existe no mundo. Temos a ideia, muito errada, de que está tudo centrado em Trump e Kamala Harris. Nada disso. É precisamente o contrário, e um eleitor comum demora entre cinco a dez minutos, ou mais, para conseguir votar em todas as opções que aparecem num boletim de voto, que varia em conteúdo de estado para estado.
Há estados onde surgem oito candidatos à presidência, enquanto noutros há muitos mais, incluindo alguns de quem os americanos, eventualmente, nunca ouviram falar. No dia 5, vota-se para presidente, vice-presidente, um terço do Senado, 435 membros da Câmara dos Representantes, em alguns governadores, membros dos Congressos estaduais, cargos locais e até juízes. Seriam necessárias cinco colunas como esta para elencar tudo o que vai a votos, sem esquecer as petições e os referendos.
Esta loucura eleitoral tem um resultado impressionante: em 2020, um boletim de voto da Califórnia tinha 12 páginas, ou seja, seis folhas frente e verso. Convém repetir: 12 páginas!!! Daí a necessidade de os eleitores «estudarem» com alguma antecedência o boletim. É um quebra-cabeças que leva muitos a não terem paciência para votar em tudo e em todos. Em alguns dos cargos há eleitos com uma meia dúzia de votos.
Para agravar tudo isto, o ciclo eleitoral nunca termina verdadeiramente nos Estados Unidos. De dois em dois anos, toda a Câmara dos Representantes vai a votos, a nível federal e estadual, mais o terço dos senadores, e o mesmo se aplica a milhares de outros cargos eletivos. Nos EUA, as eleições são um dos maiores negócios em atividade permanente, envolvendo milhares de empresas e milhões de pessoas. Todos os setores são mobilizados. Todos, mesmo.
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