Lucília Gago, a procuradora-geral da República, já deveria ter sido chamada ao Parlamento. Não agora, mas há muito tempo. A divulgação das escutas é o copo que transborda, mas muito antes disso, e sempre pelos mesmos motivos, ela deveria esclarecer os deputados e os portugueses sobre a atuação do Ministério Público.
A PGR irá dizer três coisas, nada difíceis de antecipar: que não pode falar sobre processos específicos, que o auto de notícia precisa sempre de ser investigado e que a quebra do segredo de Justiça está a ser escrutinada. Ou seja, sairá como entrou, sem nada dizer.
Sendo o topo da hierarquia do MP, parece evidente que ela não gosta especialmente dessa função. Não está disposta a envolver-se em confusões internas, e muito menos em exercer seu poder. Semelhante a uma área fortemente hierarquizada, seria o mesmo que um general não quisesse comandar. Não seria inédito, mas certamente que não duraria seis anos.
Existem sérias interrogações sobre a atuação do MP em casos propositadamente mediatizados e politizados, que resultaram num fracasso público humilhante. Por essas razões e muitas outras, ela já deveria ter sido chamada à Assembleia da República. É imperioso preservar a dignidade institucional e constitucional desta área decisiva da Justiça. Ninguém questionará sua autonomia, mas a escolha da PGR é estritamente política – Governo e Presidente da República – e o Parlamento é o local adequado para prestar contas.
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