Ana Catarina Mendes pediu explicações ao MP. Com toda a razão. Mas não foi só ela. São todos os portugueses. Então, e agora? Ninguém se responsabiliza? Ninguém assume o abuso de poder?
O recurso do Ministério Público sobre as medidas de coação do Juiz de Instrução foi demolido, de cima a baixo, pelos juízes desembargadores do Tribunal da Relação. “Meras conjeturas e especulação”, disseram, “fatos apurados não são crime”, escreveram, “violação dos deveres de probidade e de boa-fé”, remataram.
Com isto, e tudo o resto que vem no acórdão, ninguém pede a demissão? Ninguém assume a responsabilidade. Ninguém é acusado de abuso?
A totalidade dos comentários sobre esta decisão centra-se nas consequências políticas da «Operação Influencer», e na inevitabilidade do ex-primeiro-ministro, António Costa, se demitir, caindo o Governo e a maioria absoluta, e com isso perdendo o poder. Tudo isso é de uma injustiça gritante e chocante, percebe-se agora, mas a verdadeira questão é outra, sobressai no acórdão da Relação, e é anterior às consequências políticas e pessoais.
Afinal, a aparatosa operação policial e judicial daquele dia não deveria ter ocorrido. Os fatos não comprovavam crimes. Eram meras especulações e conjeturas. Para não dizer fantasias. Assim sendo, nunca deveria ter sido aprovada e desencadeada, fazendo ruir o poder político eleito e legitimado.
É vital, no mínimo, apurar e responsabilizar quem atuou com base num delírio ficcional. António Costa, o ex-Governo, a ex-maioria absoluta, o PS e todos os portugueses, e por isso todos os partidos políticos, têm razões para estar indignados, revoltados e exasperados. Assim não pode ser!
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